por Jay Litvin - chabadonline.com    
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Quem és Tu? Quero dizer, exatamente quem és Tu?

Tu és grande? Onde moras?

Sim, sim, já sei. Tu és onipresente e onipotente. Mas isso não me ajuda, não responde a minha pergunta.

Quem és Tu?

Quero dizer, quem és Tu quando rezo a Ti? Qual é Teu tamanho; quanto espaço ocupas? Onde posso encontrar-Te? Onde imagino que estás quando Te ofereço minhas preces?

Sim, sim, eu sei que Tu cercas e permeias todas as coisas. Sei que Tu preenches todos os espaços e envolves tudo que há. Sei que não tens forma ou rosto. Mas eu já Te disse: isso não me ajuda. Estes conceitos tornaram-se abstratos, palavras vazias, exercícios intelectuais. E quando eu preciso de Ti (e eu preciso de Ti), preciso saber quem és Tu, onde posso encontrar-Te, o local exato para onde voltar-me para oferecer-Te minhas preces.

Tu.

Por que estou perguntando? Tu perguntas: isso não é muita ousadia? Tu desafias.

Não me importo. Preciso das respostas. Em nosso relacionamento contínuo, chegou a um ponto onde preciso saber.

Tudo bem, falando com franqueza, aqui. Quero dizer, deixa-me ser perfeitamente franco. Tu és sempre franco. Pelo menos isso é o que dizem a Teu respeito.

Tu.

Tu não respondeste todas as minhas preces. Mais importante, não Te saíste bem em algumas das áreas mais importantes de minha vida. Não me entendas mal. Não foste tão mal assim. Muitas coisas boas estão acontecendo em minha vida, e como uma pessoa que presta atenção aos milagres, posso ver Tua mão em muito, senão tudo, de bom que aparece em minha vida. Portanto, não desejo tirar isso de Ti. Na verdade, deixa-me fazer uma pausa aqui e dizer "Obrigado." De coração, "Obrigado." Estou muito grato.

Porém há algumas coisinhas pendentes onde não posso, mas preciso ver Tua bondade. Preciso de alguma coisa palpável - um pouco de misericórdia, bondade, salvação, tudo aquilo que tiveres. E logo.

Sim, eu sei que muitas vezes Tu ages de formas misteriosas. Sei que Tua bondade, como Tu, está em toda parte, mas muitas vezes não podemos vê-la. Pelo menos é isso que dizem a Teu respeito.

Mas, Tu me perdoarás (espero): quero ver isso. Quero a bondade bem aqui em minha vida, na vida de minha família, e quero vê-la e senti-la e saber que é boa.

Desejo a bondade revelada em meu próprio nível.

Em palavras bem simples, quero que respondas às minhas preces.

Tu.

E assim, certa noite, na cama, neste estado de espírito, comecei a indagar: Quem és Tu? Para quem, exatamente, estou rezando? Quem não está respondendo às minhas preces?

À vezes eu rezo, e é como se Tu estivesses sentado à mesa, à minha frente. Só Tu e eu. Eu pergunto. Tu escutas. Estás concordando, mas não Te comprometes. Mesmo assim, sinto que se eu mostrar urgência, se for convincente, Tu responderás às minhas orações. Talvez não agora. Mas logo. Amanhã, talvez, quando eu acordar. Talvez no dia seguinte. Mas logo.

Às vezes, fecho os olhos e imagino um ponto dentro de minha cabeça, e coloco toda minha concentração e prece neste ponto. Minha atenção é como o lado mais largo de um cone, e tento concentrar e comprimir tudo aquilo que sou em direção ao ponto estreito, onde aparentemente eu imagino que Tu moras.

Estás lá?

Na verdade, não é que eu pense que estás lá, mas sim que se eu puder concentrar meu ser neste ponto, sem digressões, minhas preces Te atingirão melhor, e escutarás mais atentamente por causa da sinceridade e pureza de meus pensamentos.

(Dizem que Tu és um D'us ciumento, que se eu oferecer a Ti toda a pureza daquilo que sou com concentração total, Tu gostarás mais. Pelo menos é isso que penso a respeito daquilo que falam de Ti.)

Mas ainda não acho que moras neste ponto. Todavia, eu Te reduzi a um tamanho apropriado, a um ponto focal, a um indivíduo, um "ser" isolado existente em algum lugar, escutando, afetado pela minha concentração, meu desespero, meu desejo, minha paixão.

Isso é verdade?

Não rezo assim por causa destas razões. Ao contrário, descobri que rezo desta forma depois que comecei a perguntar: Quem és Tu? Onde moras? Qual é Seu tamanho? Para onde vou, para encontrar-Te?

Tu.

No início, não descobri a resposta à minha pergunta. De qualquer forma, não imediatamente. Mas entendi meu modo de rezar. Descobri algumas presunções inconscientes por trás de minhas preces. Mas não, minha dúvida ainda permanece. Quem és Tu? Parece que ao perguntar, aprendi mais sobre mim mesmo que sobre Ti.

Tu. Bendito sejas. (ou pelo menos é isso que dizem). Rei do Universo.

Estas indagações continuaram por muitas noites. Em vez de pedir aquilo que desejava, em vez de fazer meus agradecimentos ou minhas reclamações, simplesmente continuei a perguntar: Quem és Tu? Onde moras? Qual é Teu tamanho e quanto espaço ocupas?

Não sei como isso foi para Ti. Sentiste falta de minhas antigas preces? Achaste-me absurdo? Ou apenas sentiste curiosidade, imaginando onde isso tudo levaria, ou esperando que eu retornasse ao meu juízo?

Às vezes eu apenas repetia a palavra Tu, de novo e de novo. Tu. Tu. Tu. E às vezes, isso despertava profundas emoções. Não apenas boas, mas profundas. Às vezes eu nem ao menos perguntava mais quem Tu eras, mas simplesmente Te chamava: Tu! Tu! Tu!

E às vezes eu apenas diria: Tu, bendito sejas. E me perguntava o que isso significa. E me perguntava como, por que eu poderia abençoar a Ti, quando tudo que eu queria era que Tu me abençoasses.

Bendito sejas, Rei do Universo. (ou assim dizem).

Ou eu deveria dizer: Bendito seja este ponto de concentração. Bendito seja este Ser do outro lado da mesa, o quarto, a cama, escutando.

Bendito sejas, abençoa-me, por favor!

E de repente, certa noite não me perguntes como ou quando, o ponto se alargou. Tu não estavas do outro lado da mesa, do quarto, da cama. Não era minha concentração. Tu buscavas. Nem minha paixão nem meu desespero. Nem minhas súplicas ou reclamações.

De repente, Tu estavas em toda parte, lugares demais para eu atingir de uma só vez, para eu conter. De repente, eu era a ponta do cone e Tu o espaço largo cuja largura não tem fim (ou assim parecia).

E nesta percepção, alucinação, descoberta, em vez de focalizar meus pensamentos com concentração e desespero, abri meus braços, pois não havia lugar onde Tu não estivesses, e apenas abrindo meus braços, oferecendo-me enquanto rodopiava, lentamente, uma volta, devagar, de lado a lado, de trás para a frente, eu podia esperar encontrar a Ti.

Ou assim parecia, ou assim eu sonhei.

E entendi por que árvores têm tantos ramos, e desejei ter mais braços para elevar e abrir. Entendi por que as flores têm pétalas macias que as cercam, subindo e se expandindo em Teu louvor, e desejei tal capacidade de ir acima e além, dentro, para encontrar a Ti, para louvar-Te. Para ser uma parte de Ti.

Tu. Bendito sejas.

Rei, que governa com uma lei implantada em cada coisa viva. Para quem a lealdade é o simples ato de ser o "eu" mais profundo de alguém em contato com a lei que guia a nós e ao mundo.

Tu. Bendito sejas Tu que é todas as coisas que são abençoadas a cada vez que digo: Bendito sejas, Criador desta árvore. Bendito sejas, Criador desta fruta. Bendito sejas Tu, que afasta o sono de minhas pálpebras. Bendito sejas Tu, que criaste e Te colocaste dentro de cada criatura, para ser sempre encontrado por aqueles que buscam e sim, questionam.

E neste momento, quando eu mesmo e todos os pedidos e necessidades, reclamações e louvores, dissolveram-se na vastidão de quem Tu és, eu volto a deitar na minha cama, rezando pela minha saúde e de minha família, pelo bem estar e paz de espírito, por todas as coisas grandes e pequenas. E não desejava menos que minhas preces fossem atendidas que antes.

Mas eu vi, esta noite, que aquela era a resposta a minhas preces: Ser uma parte disso Tudo, ser um Deste. Que o próprio ato de rezar poderia ser a resposta à prece. E que a única verdadeira pergunta é: Quem és Tu?

Tu.

Tu.

Tu.

Bendito sejas.

 

 

   
   
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