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  O Rabino e os Terroristas  
   
 

Dennis Prager
Dennis Prager
Dennis Prager é autor de livros, colunista nacionalmente reconhecido, e apresentador de um Talk Show em 60 estações de rádio nos Estados Unidos. Pode ser contatado através de seu website www.dennisprager.com.

Ficou óbvio para os observadores em todo o mundo que um dos alvos dos terroristas islâmicos paquistaneses era o Beit Chabad de Mumbai, o único centro judaico ali. Os 10 terroristas que foram do Paquistão para a India escolheram seus alvos com muito cuidado.

Se presumirmos que as metas fundamentais dos terroristas eram desestabilizar a India, enfraquecer a crescente cooperação indiano-paquistanesa na luta contra o terrorismo, e aumentar grandemente a tensão entre os dois países, esperando uma guerra militar entre eles, cada um dos alvos fez sentido estratégico. Matar o máximo possível de pessoas no maior centro econômico da India, incluindo o maior número de turistas estrangeiros nos melhores hotéis de Mumbai, também fazia sentido.

Porém um dos alvos não fazia sentido. Na verdade, até que o ataque terminasse as pessoas estavam incertas se o ataque terrorista no centro judaico conhecido como Beit Chabad era parte do plano original ou se fora escolhido aleatoriamente. Somente quando o único terrorista a ser capturado contou aos interrogadores que o Beit Chabad há um ano fazia parte dos planos, ficou evidente que matar o Rabino, sua esposa e filhos e quaisquer outros judeus presentes era parte do plano.

A pergunta é por quê?
Por que um grupo de terroristas islâmicos do Paquistão cujo alvo primário é que o Paquistão assuma o controle de um terço da Caxemira que pertence à India e portanto visava a desestabilizar a maior cidade indiana devota tantos esforços – 20% de sua força de 10 pistoleiros cuja meta declarada era matar 5.000 – para matar um rabino e quaisquer judeus que estivessem com ele?

A pergunta ecoa desde a Segunda Guerra: por que Hitler devotou tanto tempo, dinheiro e tropas para assassinar todo judeu, homem, mulher e criança em todos os países ocupados pelos nazistas? Por que Hitler – como foi documentado pela historiadora Lucy Dawidowicz em seu livro “A Guerra Contra os Judeus” – enfraqueceu o esforço de guerra desviando dinheiro, tropas e veículos militares de lutar contra os Aliados para perseguir judeus e embarcá-los para os campos de morte?

Sob a perspectiva de cientistas políticos, historiadores e jornalistas contemporâneos, a resposta a estas questões não é racional. Porém a não-racionalidade de uma resposta não é sinônimo de sua não-validade.

Para os islâmicos, como para os nazistas, a destruição dos judeus – e desde 1948 – do estado judaico – é vital para a sua visão do mundo.

Se alguém tiver uma explicação melhor sobre por que terroristas paquistaneses, preocupados em desestabilizar a India, fariam tantos esforços para encontrar o único centro judaico num país que é essencialmente vazio de judeus, eu gostaria de ouvi-la.

Com todo o ódio que os paquistaneses islâmicos têm dos hindus, eles não atacaram um templo hindu sequer na maior cidade da India.

Com todo o ódio que eles têm dos cristãos infiéis, os terroristas não procuram um só dos 700.000 cristãos em Mumbai.

Para reforçar meu argumento, imagine uma organização separatista basca atacando Madri. Os terroristas perderiam tempo paraa assassinar todos aqueles no Beit Chabad de Madri? A idéia é risível. Porém ninguém parece achar estranho que terroristas islâmicos paquistaneses que odeiam a India e querem que os indianos abram mão do controle sobre a Caxemira envie dois de seus 10 terroristas para matar talvez o único rabino em Mumbai. Como relatou a revista Newsweek durante o cerco, como judeus ortodoxos estavam sob a mira de revólveres pelos mujahedin, parecia improvável que houvesse sobreviventes. A Newsweek, assim como quase todos, simplesmente presumiu que os islâmicos assassinarão judeus sempre e onde for possível.

Eles estão certos.
Durante anos tenho advertido que os maiores males começam muitas vezes com o assassinato de judeus, e portanto os não-judeus que descartam o ódio aos judeus (também chamado de anti-semitismo, ou anti-sionismo), aprenderão tarde demais que aqueles que odeiam judeus e israelenses somente começam com os judeus, mas nunca terminam com eles. Quando os judeus israelenses eram quase que o único alvo dos terroristas islâmicos, o mundo tratou este como um problema judaico ou israelense. Então tornou-se um problema americano ou europeu, filipino ou tailandês, ou indonésio ou hindu.

Dois pontos finais:
Um é que é estranhamente apropriado que na mesma semana em que os assassinatos em Mumbai estavam ocorrendo, a Assembléia Geral das Nações Unidas tenha passado mais seis resoluções anti-israel. Como tem feito há décadas, a ONU mais uma vez sancionou o ódio contra um país decente e bom, tão pequeno no mapa do mundo quanto o Beit Chabad no mapa de Mumbai.

Dois: Declarações de Chabad em reação ao assassinato e tortura do rabino de 28 anos e sua esposa conclamaram a humanidade a reagir a esta maldade com atos aleatórios de bondade. O mal odeia a bondade. É por isso que os terroristas atacaram um rabino de Chabad e sua esposa.

Abrindo as Portas

Rabino Chefe da inglaterra, Professor Jonathan Sacks
Pelo Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks
Thought For The Day – 5 de dezembro de 2008
Quarta-feira a noite a comunidade judaica londrina realizou uma homenagem às vítimas do terrorismo em Mumbai. E em meio a lembrança de todos, com suas inúmeras e distintas crenças, falamos de duas pessoas em particular: o jovem rabino Gavriel e sua esposa Rivkah Holzberg, pois sentimos uma conexão especial.

Da mesma forma que agiam Avraham e Sara épocas atrás, eles também deixaram sua casa, seu local de nascimento e suas famílias para irem a uma terra distante, oferecer hospitalidade a estrangeiros, comida aos famintos e uma cama àqueles que não tinham mais nenhum lugar para onde ir.

Nunca conheci pessoalmente os Holtzbergs, mas sabia que eu e eles fomos inspirados pelo mesmo homem: Rabi Menachem Mendel Schneersohn, o Rebe, um dos grandes líderes judaicos do século vinte. Ele fez o que nenhum judeu havia feito antes; enviou emissários a todas as partes do mundo para fazer o que os Holtzbergs haviam feito: abrir suas portas e corações a estrangeiros.
Por anos me questionei o por quê. O que o fez embarcar nesta missão extraordinária? E então compreendi. Rebe Schneersohn, um judeu místico, acreditava na idéia de tikun [conserto], que através de nossos atos somos capazes de redimir um mundo fraturado, e resgatar fragmentos da luz divina do coração da escuridão humana.
Mas ele vivenciou o Holocausto, no qual o mundo judaico da Europa Ocidental foi dizimado. Como é possível redimir um mal desta magnitude?
Foi então que consegui vislumbrar uma ínfima parte de sua ampla visão, do que acredito que ele tinha em mente. Se os nazistas haviam perseguido todo e cada judeu com tanto ódio, ele enviaria seus emissários a procura de cada judeu, com amor.
A tragédia de Mumbai nos mostra quanto trabalho ainda temos pela frente.

Quase exatamente há um ano, minha esposa Elaine e eu participamos pela primeira vez de um encontro com Dalai Lama e outros líderes religiosos, hindus, kikhs, cristãos, muçulmanos entre outros, a fim de compartilhar a sabedoria de nossas variadas tradições, e provar o custume tão lindo dos Sikhs, semelhante ao dos Holtzbergs, de promover a hospitalidade a estrangeiros. E lá em Amritsar, a cidade cujo coração é um templo dourado, encontrei outras pessoas fazendo dentro de suas religiões, algo semelhante ao que o Rebe realizou na sua: propagar o amor.

Estaremos todos nós errados? O terror mostra que a abertura significa vulnerabilidade? Não. O amor ainda cura, a bondade ainda redime, e o terror, que destrói outros, acaba destruindo a si próprio, enquanto a memória daqueles que ofereceram bondade a estrangeiros permanece viva para sempre.
       
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