Rabino Professor Moshe D. Tendler - B'Or HaTorah  
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  Transplante de células-tronco: a perspectiva da Torá
   
  Apresentado na Terceira Conferência Internacional de Torá e Ciência em Miami, a 16 de dezembro de 1999.
   
  O que são células-tronco?
   
 

Depois que um óvulo é fertilizado, começa a se dividir. Quando chega ao estágio de ter 140 células, há umas poucas células no meio da bola que ficam penduradas, como um pequeno candelabro. Estas são as células-tronco. São pluripotenciais. Pegue uma célula-tronco e implante-a num coração, e ela se tornará uma célula de coração. Coloque-a em um fígado, e se transformará em uma célula de fígado. Ponha-a em um cérebro, e ela se torna uma célula cerebral.

Há dois tipos de células-tronco: HESC e HEGC. As células-tronco embriônicas humanas originam-se do estágio de 140 células. Células germinais embriônicas humanas vêm da crista germinal do embrião em crescimento, do qual se desenvolvem as gônadas, os órgãos masculino-feminino. Estas células também são pluripotenciais. Também podem ser implantadas em um órgão, e amadurecer como células do órgão hospedeiro.

É entusiasmante registrar a velocidade com a qual esta pesquisa tem progredido. As células-tronco foram primeiro descobertas em novembro de 1997. Até então, ninguém sabia o que eram estas células; ninguém as tinha estudado antes. Pesquisa e tratamento neste campo têm decolado a tal ponto que agora temos relatórios surpreendentes como esses:

Célula-tronco faz potencial terapia do nervo. [1]

Células-tronco mostram seu potencial. Uma célula-tronco cerebral pode tornar-se uma célula do sangue para alguém que tenha um problema na medula óssea. [2]

Células-tronco da córnea podem fazer crescer novas córneas em pessoas que não puderam receber um transplante de córnea com sucesso. [3]

Células-tronco podem tornar-se células musculares, portanto a nova terapia oferece esperança para o tratamento de distrofia muscular. [4]

As datas destes anúncios são: julho de 1999, setembro de 1999. Os milagres continuam a se desdobrar perante nossos olhos.

Condenada pela Igreja

A Igreja empregou todo seu poder e forçou o governo americano a proibir o uso de células-tronco de embrião no estágio de 140 células. A Halachá (Lei Judaica) não faz objeção ao uso de um embrião em estágio tão primário. Mas como este estágio possui o potencial de tornar-se um embrião, a Igreja forçou o governo a emitir uma liminar que proíbe o uso de fundos governamentais para esta finalidade. Na revista Ciência de 10 de dezembro de 1999, a decisão final do governo americano, baseado na orientação do Serviço Nacional de Saúde, foi publicada: "Derivar novas células de embriões será proibido."

[Em 09 de agosto de 2001 o presidente norte-americano George W. Bush finalmente autorizou o financiamento federal para pesquisas com células-tronco embrionárias, mas restringiu-as a 60 linhagens já existentes.]

Sendo uma democracia, entretanto, o governo americano não pode controlar pesquisa privada e desenvolvimento de linhas de células-tronco de embriões derivadas privadamente. Portanto, o que está acontecendo? Dinheiro particular está sendo investido - e é grande o potencial de ganhar dinheiro com isso. Não em pegar uma célula e com ela fazer um ser humano. Não há dinheiro investido nisso. Mas para implantar uma célula-tronco em um coração doente e curar este coração porque células novas estão agora se contraindo. Ou curar um fígado doente implantando algumas células-tronco e deixando que aquele fígado agora gere novas células de fígado. É aí que o dinheiro está sendo aplicado!

O uso de células-tronco para clonagem reprodutiva está proibido, embora não seja possível pegar uma célula-tronco e a partir dela, fazer um ser humano.

A Igreja conseguiu até mesmo condenar o uso de óvulos fertilizados não usados, criados pela fertilização in vitro. Quando uma mulher passa por tratamento para fertilização artificial, geralmente há mais óvulos fertilizados do que os necessários. Agora é proibido usá-los para pesquisa e tratamento de células-tronco, porque a Igreja veio com uma "cerca ao redor da lei". Se isso fosse permitido, temia-se que as pessoas fariam aquilo. Portanto, proibiram qualquer uso de embriões, mesmo se o embrião for jogado fora. Você pode jogá-lo fora, mas não pode usá-lo para conseguir uma célula-tronco para curar um paciente que está morrendo.

A Halachá é bem clara. Este tipo de pesquisa deve ser encorajado. Um óvulo fertilizado numa placa de Petri não tem "humanidade". Sem a implantação em um útero, permanece um "zigoto", ou pré-embrião, e não é visto como um "aborto", como a Igreja considera.

O papel de Dolly

A disponibilidade de dinheiro de investidores tem incrementado a pesquisa de células-tronco visando a terapia. Geron Corporation apoiou a primeira pesquisa feita em células-tronco embriônicas humanas. Uma equipe da Universidade Johns Hopkins em Baltimore trabalhou com uma contribuição privada de Geron.

Aqueles que possuem ações de Geron Corporation ficaram muito ricos. As ações valem mil vezes mais que o preço original, devido à descoberta bem-sucedida da célula fonte embriônica humana.

Segundo o New York Times de 5 de maio de 1999, a Geron Corporation doou 20 milhões de dólares ao Laboratório Roslin na Escócia, que clonou a ovelha Dolly, e ninguém entende o porquê. O que querem eles daqueles que clonaram a ovelha Dolly? Eles têm células embriônicas humanas.

A associação destes dois laboratórios revela o plano de pesquisa dos cientistas do Laboratório Geron. Eles desejam fazer crescer um fígado em um frasco. Desejam ser capazes de fazer crescer um coração ou um músculo do coração. Como se faz isso? Pegue uma célula-tronco e coloque-a perto de células do coração, e ela se tornará célula do coração. Há apenas um problema. Se eu a pusesse em um ser humano, aquela célula-tronco veio de um outro ser humano. A menos que seja tratado com drogas imunosupressoras, como em qualquer transplante, o corpo do receptor o rejeitará. Sim, não preciso encontrar um doador de órgão, mas o paciente terá de passar pelos mesmos problemas de rejeição que todo transplantado passa.

Portanto, Geron Corporation decidiu-se por uma nova abordagem. Pegue uma célula somática (por exemplo, da pele) do receptor enfermo, usando a técnica da ovelha Dolly, e insira o núcleo daquela célula em um óvulo sem núcleo, para fazer um embrião. Quando ele chega ao estágio de 140 células, tire a célula-tronco e injete-a no coração doente, onde a célula-tronco se transformará em células cardíacas novas, rejuvenescidas. Mas para fazer isso, precisam de alguém que saiba como tirar uma célula de um adulto e fazê-la fertilizar um óvulo, ou fazê-la agir como um óvulo fertilizado. Onde isso tem sido feito? O Laboratório Roslin fizeram isso com Dolly. Eles têm a técnica para fazer uma célula madura não reprodutiva comportar-se como um espermatozóide ou um óvulo.

Mas Roslin não foi muito bem sucedido. Conseguiram fazer Dolly após 276 tentativas. As outras Dollies tinham quatro cabeças, seis pernas, apenas metade de um corpo. Formaram-se monstruosidades. Conseguiram apenas uma boa. Não se pode fazer isso com humanos, mas quem liga para isso? Não quero fazer Dollies. Preciso apenas de um pedacinho de Dolly. Um coração, ou pulmão. E é aí que está o dinheiro.

Geron Corporation deu 20 milhões a Roslin somente pelo know-how de como clonar uma célula adulta. Geron deseja oferecer esta terapia: Um paciente tem um coração doente. Tiro uma célula de sua pele, coloco-a em um óvulo do qual foi removido o núcleo, portanto agora tenho o começo de um clone. Este clone receberá as condições para se desenvolver até o estágio das 140 células. Extraio as células-tronco, e as implanto onde quer que o paciente as necessite. Se o paciente precisa de um coração, injeto algumas células-tronco em seu coração. Por ter feito uma célula-tronco a partir de uma das células da pele do paciente, posso oferecer um transplante sem medo de rejeição.

Uma célula-tronco é imortal. Exceto por dois tipos de células, todas as células humanas morrem após cinqüenta divisões. As células do câncer e as células-tronco não morrem. Portanto, se eu tiver uma linha de células-tronco, posso fornecer células-tronco para o mundo inteiro. O problema é: qualquer outra pessoa rejeitará as células-tronco porque são de um outro organismo. Eis porque uma célula somática do receptor tem de ser clonada para tornar-se uma célula-tronco antes de ser transplantada em um órgão doente.

É uma notável pesquisa que salva vidas! Eis porque a revista Science votou na pesquisa da célula-tronco como a mais importante pesquisa biológica feita neste milênio. Ninguém duvida do potencial sucesso deste esforço. Em outras palavras, ninguém vê como pode dar errado. Deveriam estar certos, e que D'us ajude a guiar as mãos deles.

Esperança na pesquisa do câncer

No processo de conduzir a pesquisa da célula-tronco, estamos também aprendendo como as células formam órgãos. Aprender como as células formam órgãos - organogênese - dá uma grande, grande percepção sobre como as células se diferenciam. Também nos ensinará por que algumas células recusam-se a diferenciar e tornam-se células cancerosas. Poderei então descobrir por que algumas células não se diferenciam.

Portanto, olharemos para a pesquisa da célula-tronco como a única estrada aberta para a pesquisa do câncer atualmente.


[1] - Science, vol. 285 (30 de julho de 1999)

[2] - Science, vol. 283 (22 de janeiro de 1999)

[3] - New England Journal of Medicine, vol. 340 (3 junho de 1999)

[4] - Lancet (25 de setembro de 1999).

Biografia

Rabino Professor Moshe D. Tendler, famosa autoridade em Ética Médica e relacionamento entre a medicina e a ciência com a lei judaica, é o rosh yeshivá (reitor) da Yeshivá University - afiliada do Seminário teológico de Rabi Isaac Elchanan (RIETS), professor de biologia em Yeshivá College, e Rabi Isaac e Bella Tendler na cátedra de Ética Médica Judaica na Yeshivá University.

Rabi Tendler foi ordenado em RIETS em 1949, e recebeu um título de Doutor em biologia na Universidade de Colúmbia em 1957. Desde 1969, faz parte da Força Tarefa de Ética Médica da Federação de Filantropias Judaicas, para a qual publica Ética Médica e Halachá, da qual foi presidente por seis anos. É também presidente da Comissão Bioética do Conselho Rabínico da América. Tem sido membro da Junta de Diretores de Americanos para o progresso Médico. É membro das seguintes comissões de ética: Sociedade de Medicina Intensiva; Comissão de Neonatologia Ética, Hospital Beth Israel, Cidade de Nova York; Hospital Bom Samaritano em Suffern, NY; e Associação nacional de Pesquisa Bioética em Reprodução, originalmente fundada pelo Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia, e agora a liderança ética no campo da tecnologia da reprodução.

De 1970 a 1074, Rabi Tendler foi presidente e diretor da Associação de Cientistas Judeus Ortodoxos. De 1965 a 1995 foi membro da Junta Consultiva de Cashrut do Departamento de Agricultura do Estado de Nova York. Autor de Pardes Rimonim (um texto sobre vida familiar judaica); Prática Médica Halachá; Cuidados com os Seriamente Enfermos III - Responsa de Rabino Moshe Feinstein; bem como vários artigos sobre ciência e religião em publicações de renome, é freqüentemente consultado pela mídia e órgãos oficiais sobre assuntos éticos. Moshe Tendler vive com a esposa (nascida Sifra Feinstein, filha do renomado halachista Rabino Moshe Feinstein, de abençoada memória), em Monsey, New York, onde ele trabalha como Rabino na Sinagoga de sua Comunidade. Têm oito filhos.

Links:

Serviço Nacional de Saúde

 

 

 
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