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O tigre, o elefante, e a Cabalá da transformação

 

Por Shifra Hendrie

 

"O valor de um ser humano é determinado basicamente pela medida e
pelo senso no qual ele atingiu a libertação de si mesmo". (Albert Einstein)
Quem é você? Você é mãe, pai, filho, marido, esposa, amigo, médico, advogado, professor, homem de negócios?


A maneira pela qual reagimos às nossas crenças sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre outras pessoas, e aquilo que podemos e não podemos fazer não é diferente da reação do tigre aos seus meses na gaiola, ou dos elefantes à sua corda.

E que tipo de pessoa você é? Boa, ou talvez não tão boa? Inteligente ou estúpida, graciosa ou desajeitada? É alguém talentoso, atrevido, covarde, destemido, medroso, articulado ou tímido? Gosta de aceitar novos riscos, ou tem medo de tentar coisas novas? Gosta de botar tudo para fora, ou prefere se fechar como uma ostra?

Quaisquer que sejam suas respostas, certamente você tem um bom número de crenças e opiniões bem definidas sobre si mesmo. E essas crenças e opiniões, sejam ou não expressas, limitam e definem você tão seguramente como se fossem feitas de concreto e aço.

O tigre

Há alguns anos um magnífico tigre jovem foi importado da Índia e levado a um zoológico nos Estados Unidos. Um habitat dispendioso e belo foi construído para ele, completo com quedas-d'água, árvores, rochas, vales e cavernas. Enquanto o local estava sendo construído, o tigre ficou alojado numa pequena jaula temporária, medindo uns cinco metros por cinco. Ele passava os dias percorrendo a jaula de um canto a outro. Esta gaiola foi preparada originalmente para abrigar o animal somente por alguns dias ou semanas, mas as instalações definitivas demoraram mais que o esperado, e o tigre permaneceu ali confinado durante vários meses. Quando finalmente o habitat foi completado, a jaula foi levada até lá, aberta e removida. O tigre quase que imediatamente voltou a dar os passos que dava dentro da jaula, cinco para um lado e cinco de volta. Não precisava mais da jaula para limitá-lo e confiná-lo; porém esta jaula, que cercara o animal durante algum tempo, tinha sido transplantada para a mente do tigre.

O elefante

Um mecanismo semelhante é familiar às pessoas que treinam elefantes. Quando o elefante é jovem e pequeno, é acorrentado a algo grande e pesado; um tronco de árvore ou uma estaca forte. O elefante puxa e faz força, mas não consegue livrar-se, e termina por desistir, confinando seus movimentos ao comprimento da corda. Assim que isso acontece, a árvore pode ser substituída por uma pequena estaca. Agora o elefante pode puxá-la num instante, sem esforço. Mas não o faz. A estaca, a corda, o confinamento se tornaram indelevelmente associados na mente do elefante.
Isso lhe lembra alguma coisa?

Você já disse a si mesmo: "Não posso, simplesmente não sou desse tipo"? Se você respondeu "não", uma vez ou outra todos fazem isso. Algumas pessoas não conseguem pular de pára-quedas. Outras não conseguem manter a casa em ordem. Outras ainda não conseguem parar de comer ou beber demais. Algumas não conseguem falar sobre seus próprios sentimentos. Algumas não conseguem se pôr a trabalhar, e outras simplesmente não conseguem parar de trabalhar. E quase sempre pensamos saber, em qualquer determinada área, se temos ou não aquilo que é necessário.

Assim como nossos amigos do Zoológico, as amarras que nos prendem são quase sempre mais grossas, mais fortes e mais reais em nossa mente do que no mundo físico. A maneira pela qual reagimos às nossas crenças sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre outras pessoas, e aquilo que podemos e não podemos fazer não é diferente da reação do tigre aos seus meses na gaiola, ou dos elefantes à sua corda.

Não começamos nossa vida com idéias fixas sobre quem somos e o que podemos ou não fazer, mas começamos a desenvolvê-las logo, continuando a reforçá-las à medida que crescemos. Se você decide quando é criança que suas idéias não são importantes, provavelmente no decorrer da vida continuará a agir com esta crença, evitando partilhar suas idéias com outros, tendo assim pouca influência sobre as pessoas que o cercam. Este padrão de comportamento, é claro, continuará a assegurar que pouquíssimas pessoas irão procurar sua opinião ou conselho. reforçando ainda mais sua crença original.

Esta é uma definição de círculo vicioso. No entanto, lembre-se que isso não o torna incomum, Praticamente todo ser humano, não importa o quanto sua criação foi funcional, tem algumas idéias fixas sobre quem é – e quem não é.

A transformação

Porém a Cabalá explica esse fenômeno de uma maneira mais profunda.

Desde que fomos apanhados comendo da Árvore do Conhecimento no Jardim do Éden e exilados a um mundo de sofrimento, morte e luta pela sobrevivência, nós seres humanos fomos imbuídos com sentimentos de medo, insegurança, vergonha, culpa, timidez, fracasso e uma sensação de estarmos exilados de casa. Boa parte de nossa vida consiste em tentar negar, superar ou compensar aqueles sentimentos. À primeira vista, isso parece um problema enorme. Precisamos de muito tempo e esforço para lutar constantemente para superar nossas falhas e temores.
Porém na verdade, este evento importante, com todas suas conseqüências desafiadoras, não é um problema nem um engano, e tem realmente um propósito Divino.

A Cabalá explica que D'us primeiro olhou na Torá e somente então criou o mundo. Isso significa que antes mesmo de D'us criar o mundo, Ele previu todo o cenário no Jardim do Éden, incluindo o fruto proibido sendo comido e o exílio que se seguiria. Por mais paradoxal que isso possa parecer, este cenário é na verdade fundamental para a Criação em si.

Deixe-me explicar:

Parte da intenção na Criação é que não devemos permanecer como recipientes passivos da grandeza de D'us. Ao contrário, D'us nos deu o maior de todos os presentes – o potencial de nos tornarmos parceiros na Criação. Este é um dom que não foi concedido nem aos anjos mais sagrados, mas foi reservado para nós, especificamente porque somos almas em corpos físicos, encerrados em nosso senso fixo e limitado de quem somos e do que é possível para nós. Somente porque somos finitos e desconectados da verdade, temos a capacidade de exercer o libre arbítrio. E apenas aqueles que são dotados de livre arbítrio têm o poder de criar algo novo, de transformar a escuridão em luz.

A infância é intencionalmente projetada para reativar e dar um toque pessoal aos estados emocionais limitadores que foram gravados na psique humana durante o exílio do Jardim.

Sua experiência pessoal e predisposições se combinam para criar sua identidade baseada no ego; sua pessoa. Esta parte de você conta histórias, dá opiniões, faz julgamentos, tem reações, e está programada para reforçar e defender-se exatamente dessas maneiras. Por um lado, é parte daquilo que define você unicamente como você, mas de outro lado, uma estrutura altamente restritiva e limitadora, como um pedaço de vidro escuro e opaco superposto sobre uma janela transparente. É a camada mais externa, da superfície de quem você é, que oculta todas as camadas mais internas. Como é a mais visível, parece ser a mais real.

Porém há um você mais verdadeiro. E o propósito de todo e cada obstáculo em sua vida e de todas as suas reações àqueles obstáculos é permitir que o você mais verdadeiro brilhe e apareça. E nessa hora,. quando, como foi profetizado, a Divina sabedoria da Cabalá se torna acessível à pessoa comum; chegou a hora de acontecer exatamente aquilo.

Todo atleta olímpico passa milhares e milhares de horas testando e expandindo seus limites, saltando obstáculos – ou o equivalente – para acessar uma força latente que de outra forma jamais seria expressa e para quebrar as barreiras daquilo que se presume ser possível, muitas e muitas vezes.

Seja você ou não um atleta olímpico, tem o mesmo poder de romper barreiras em sua própria vida. No jogo da vida, enfrentamos obstáculos com freqüência. Muitas vezes estes obstáculos parecem altos demais. A cada vez que você passa por uma barreira que parece alta demais, tem de fazer uma opção. Pode apegar-se à velha história familiar de quem você é, recuar da barreira e resignar-se a uma vida menor. Ou pode chegar além do vidro que esconde todo o ilimitado potencial do seu verdadeiro ser. Ali, você já tem liberado o poder de saltar mais alto e mais longe que antes, e ao fazê-lo expande os próprios limites da pessoa que você presumia ser.

Toda vez que faz isso, você pegou um pedaço da escuridão – seja esta suas histórias limitadoras, o obstáculo no seu caminho, seu medo, resignação ou dúvida sobre si mesmo – e o usou como um impulso para atrair mais luz, poder e vitalidade da essência de quem você é. Este é um dos motivos pelos quais você está aqui.

Da próxima vez que você se ouvir dizendo ou pensando algo do tipo: "Não sou desse tipo", ou "Eu não posso", ou ainda "Eu tenho medo", pense no tigre e no elefante. Saber que você está criando sua própria jaula é o primeiro passo para se libertar. Então, como num experimento, pergunte-se o que faria se fosse do tipo, se pudesse fazê-lo, ou se não estivesse com medo. Se você fizer esta pergunta a si mesmo, pode ter uma surpresa ao ver como as respostas estão claras e disponíveis.
Então, como um bônus, embora "simplesmente não seja você", mesmo que esteja com medo, tente agir baseado nestas respostas e veja o que acontece.

Está na hora de transformar algumas trevas em luz!

       
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