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  Sonhos e profecias   
 
 

A era da profecia terminou com nossos três últimos profetas, Zechariah, Haggai e Malachi. Depois deles vieram os Homens da Grande Assembléia (Anshei Knesset Hagdola), que deram continuidade à cadeia de Tradição iniciada com Moshê Rabeinu quando recebeu a Torá no Monte Sinai. A partir daí (desde o tempo em que o Segundo Bet Hamicdash foi reconstruído no ano 3408), a Tradição foi continuada por Nossos Sábios, os Tannaim. Eles tomaram o lugar dos Profetas como os verdadeiros mestres de nosso povo. Tinham todas as qualificações mencionadas previamente, necessárias para qualificar alguém como profeta. Eram homens notáveis e santos, repletos com o conhecimento de D'us, perfeito em seu caráter e conduta, afastados das preocupações com os assuntos mundanos, e serviram a D'us com júbilo e inspiração. Mesmo assim, por razões somente conhecidas por D'us, o espírito da verdadeira profecia não lhes foi concedido, pois não deveria haver mais profetas após aqueles que aparecem no Tanach.

Cada geração que se sucedia considerava-se num nível espiritual inferior que a precedente. "Se nossos predecessores foram como anjos, nós somos apenas homens".

No entanto, se o espírito da verdadeira profecia não foi mais concedido a nossos gigantes espirituais, algo parecido ocorreu. Foi uma "sagrada inspiração" (ruach hakôdesh) que preencheu todos seus escritos e ensinamentos, da Mishná e Guemara dos Tannaim e Amoraim até seus sucessores, o Rabanan Seburai, seguido pelos Gueonim e as autoridades de Torá que os sucederam, tais como o Rif, Rashi, Rambam e outros.

No entanto, cada geração que se sucedia considerava-se num nível espiritual inferior que a precedente. "Se nossos predecessores foram como anjos, nós somos apenas homens" - era uma expressão favorita.

Com o fim da profecia, Nossos Sábios não confiariam mais em profecias para receber a revelação Divina e inspiração. Agora era tarefa dos Sábios preservar toda a sabedoria da Torá que já fora revelada, explicá-la de modo mais completo e com riqueza de detalhes, e transmiti-la às futuras gerações. Eles tinham de explicar e interpretar esta sabedoria Divina, pois grande parte vinha na forma de princípios gerais e declarações concisas, encerrando muito em poucas palavras. De fato, esta tem sido a tarefa de nossos grandes Rabinos, as verdadeiras autoridades de Torá, no decorrer das gerações até o dia de hoje.

Qual era, então, a atitude dos Sábios do Talmud quanto aos sonhos?

A opinião deles geralmente refletia a opinião da Torá, como destramente expressa pelo Profeta Jeremiah: "O que tem a palha a ver com o trigo?" (Jeremiah 23:28).

Em outras palavras, podia haver sonhos significativos, mas a maioria não tem significado. De fato, eles ecoavam as palavras de Jeremiah ao declarar: "Assim como não há grão sem palha, não há sonhos sem coisas vãs" (Ber, 55a). Isso se refere até mesmo a sonhos significativos mas, geralmente, os sonhos apenas refletem os pensamentos e ansiedades da pessoa durante o dia (ibid. 55b). A recomendação geral dos Sábios era não prestar atenção a sonhos, nem mesmo repeti-los, ou buscar uma interpretação. "Um sonho não interpretado é como uma carta não lida" - diziam eles (ibid. 55a), e "sonhos não têm conseqüência" (Gittin 52a). Assim, não faria sentido falar sobre sonhos "maus" e sonhos "bons".

Na verdade, a opinião geral é que um sonho "mau" é melhor que um sonho "bom" (Ber. 55a), pois um sonho "mau" pode encorajar a pessoa a pôr mais fé e confiança em D'us, pois afinal, Ele é o Senhor do Mundo.

No entanto, embora os Sábios minimizem a importância dos sonhos em termos de transmissão de mensagens ou revelações dos mundos superiores, eles indicam que há uma diferença quanto a quem o sonhador é.

Uma pessoa que durante o dia está preocupada com assuntos mundanos e ansiedades está propensa, como notamos, a sonhar com elas também durante o sono, e eles certamente não podem ser mais significativos que aqueles que a pessoa "sonha" durante suas horas de vigília. Mas alguém que está totalmente imerso em assuntos e pensamentos sagrados, envolvido com Torá e mitsvot durante todo o dia, é uma categoria totalmente diferente. Para uma pessoa assim, um sonho bem poderia transmitir algo que seja significativo. É principalmente a respeito disso que foi declarado: "Um sonho é um sessenta avos de profecia" (Ber. 57b).

Está também declarado no Zohar que agora que não existe profecia, nem Voz Celestial, um sonho pode às vezes transmitir uma mensagem do Céu (Zohar 1:238). Há exemplos no Talmud onde certos assuntos foram mostrados, ou revelados, em sonhos. Os Sábios chegam a mencionar um Anjo, ou Mestre, dos Sonhos (ba'al chalomot), que está encarregado de transmitir mensagens em sonhos (Sanhedrin 3a). São mencionados exemplos no Talmud onde disputas foram resolvidas através de sonhos, ou que questões difíceis foram explicadas (Men. 67a). Foi-nos relatado também sobre Sábios que se comunicaram com Sábios de gerações anteriores em sonhos (B.M. 85b). Comunicações similares foram também relatadas em tempos pós-talmúdicos, tais como Rashi comunicando-se com seu neto Rabi Shmuel (Rashbam) e Rabi Meir de Rothenberg revelando a um discípulo a correta leitura de uma passagem talmúdica. Um famoso Rabino do século treze, Rabi Yaakov Halevi de Marverge, também conhecido como Rabi Yaakov o Piedoso, escreveu responsa sobre assuntos da Halachá e Dinim que não tinham sido resolvidos, com base em revelações feitas a ele em sonhos (Shem Hagedolim, por Rabi Chaim Yosef David Azulay, Chida). No entanto, como já mencionamos, os sonhos dos Sábios são de uma categoria totalmente diferente. Um significado como esse não pode ser atribuído a sonhos dos seres humanos comuns.

Os sonhos de Sábios são de uma categoria totalmente diferente. Um significado que não pode ser atribuído a sonhos dos seres humanos comuns.

Apesar disso, levando-se em conta a natureza humana, especialmente daqueles indivíduos que dão importância a seus sonhos, os Sábios sugeriram (Ber. 55b) uma prece especial a ser recitada durante Duchenen, quando os Cohanim erguem as mãos e abençoam a congregação. A prece começa com as palavras "Mestre do Mundo... tive um sonho, e não sei o que significa..." Assim rezamos para que seja a vontade de D'us que todos nossos sonhos, sejam sobre nós ou sobre outras pessoas, ou que os outros sonhem sobre nós, se forem bons, que se cumpram como os sonhos de Yossef, e se eles precisam ser mudados para bons, que D'us os transforme em bons.

Assim jamais devemos ser amedrontados pelos sonhos, nem nos preocupar a esse respeito, pois colocamos nossa confiança em D'us para nos proteger e ser misericordioso conosco.

Além da prece mencionada, que recitamos durante os Três Dias Festivos, incluímos também em nossas preces noturnas as palavras: "Que seja Tua vontade, ó Senhor meu D'us e D'us de meus antepassados, fazer-me deitar em paz, e faz-me acordar para uma boa vida e paz, e que eu não seja incomodado por maus pensamentos e sonhos..."

Ao nos prepararmos para dormir com uma prece assim nos lábios e com completa fé em D'us no coração, podemos ter certeza de que todos nossos sonhos serão bons.

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