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Dirigir
uma classe com eficácia é um contínuo desafio em
todas as escolas. Numerosas indústrias de fundo de quintal têm
surgido para ajudar escolas e professores a gerenciar o comportamento
e manter a disciplina. O que todas têm em comum é que cuidam
quase que exclusivamente do ambiente escolar e da sala de aula. Existem,
no entanto, aspectos comportamentais que transcendem os desafios comuns
do professor e somente podem ser resolvidos eficazmente com um trabalho
conjunto entre a escola e o lar.
Um dos assuntos que podem se beneficiar da cooperação escola/lar
é aquele que está crescendo e se tornando invasivo; é
o problema da criança que se sente massacrada pela escola. Odeia
acordar cedo pela manhã e odeia ir à escola. Sente-se inadequado,
indefeso ou pouco inteligente em comparação com os outros.
É o aluno que às vezes age de maneira tão letárgica
que parece indefeso; parece desejar nada mais que ser deixado em paz.
Sua falta de auto-estima com freqüência motiva o comportamento
contrário. Os professores gostariam de ajudá-lo, mas todos
os esforços parecem baldados; eles estão conscientes de
que se as coisas continuarem nesse ritmo aquele aluno será um desistente
em potencial; os pais estão frustrados e não sabem o que
fazer.
A mãe de um desses alunos, a quem chamarei de Danny, veio ver-me
recentemente e perguntou se eu poderia sugerir uma escola especial para
seu filho, que parecia ser incapaz e sem vontade de enfrentar as exigências
da escola. Danny foi avaliado por uma equipe que fez uma bateria de testes
e o classificou como “médio”, com um leve problema
de compreensão. Danny odiou a avaliação e disse antecipadamente
aos examinadores que ele simplesmente era idiota. Um psicólogo
falou com os pais e professores de Danny e sugeriu modificarem o programa
para ele, mas Danny continua a não cooperar. A escola, disse-me
sua mãe, apóia a idéia de uma troca de escolas.
Repreendê-lo ajuda? Dizer que ele é
preguiçoso e manipulador o ajuda? Danny já está sofrendo
com a falta de auto-estima, portanto como recriminações
poderiam ajudar? Esta atitude apenas reforçará aquilo que
ele sente sobre si mesmo.Os professores de Danny dizem que tentaram
seguir as sugestões do psicólogo e embora tenha havido uma
pequena melhora no início, em pouco tempo Danny voltou ao seu comportamento
letárgico e eles se sentiram de volta ao ponto de partida. O que
parece ter acontecido no caso de Danny e com tantos outros como ele é
que embora todos os envolvidos estejam fazendo o que é certo, a
soma de todas estas partes não forma um todo.
O que eu gostaria de sugerir é que um relacionamento mais próximo
entre lar e escola é essencial se pretendemos lidar eficazmentte
com alguns desafios que nossos filhos nos apresentam. Nem a escola nem
a família sozinhas podem colocar Danny num novo rumo, mas se trabalharem
juntas isso é possível. Além disso, parece-me lógico
que se Danny não for apenas um problema, mas objeto de um desafio
aos pais e professores, ele precisa tomar parte ativa na resolução
do problema. O todo neste caso acrescentará muito mais que a soma
das partes.
Vamos tentar entender o que Danny está passando e como se sente.
Certamente sabemos que quando as crianças se sentem inadequadas
elas terminam desistindo de fazer o que lhes parece muito difícil
de conseguir, e deixam de cooperar. Estas crianças com freqüência
sentem que se não fizerem um esforço, pelo menos têm
uma desculpa para não alcançarem o sucesso. Muitas vezes
elas estabelecem metas arbitrárias que são inatingíveis,
e não fazem qualquer tentativa porque as metas são muito
difíceis e estão fora de alcance. “Veja, eu disse
que não posso fazer isso, deixe-me em paz”, é um refrão
freqüente. Com muita clareza, vemos que esta reação
defensiva é a resposta de Danny ao problema que criou a confusão
em que ele se encontra. Se quisermos ajudá-lo a sair da concha,
ele deve ser o centro da nossa estratégia.
Em primeiro lugar, vejamos o que não funciona. Repreendê-lo
ajuda? Dizer que ele é preguiçoso e manipulador o ajuda?
Danny já está sofrendo com a falta de auto-estima, portanto
como recriminações poderiam ajudar? Esta atitude apenas
reforçará aquilo que ele sente sobre si mesmo. Ele sabe
que é incapaz de produzir aquilo que esperamos; vamos ainda reforçar
aquilo que ele sente? O mais provável é que ele se recolha
ainda mais, e se recuse a desempenhar qualquer esforço.
Exigir que ele faça um sincero esforço e então ver
até onde ele consegue ir, dará certo? O mais provável
é ele sentir que será melhor não fazer esforço
algum, porque pelo menos isso lhe dá uma desculpa para não
ter sucesso. Crianças como Danny justificam sua falta de esforço
dizendo a si mesmas que de qualquer maneira não conseguem atingir
as metas, então por que tentar?
O que fazer? Precisamos consolar Danny, ajudando-o a entender os motivos
do próprio comportamento, e que ele deve tomar parte ativa para
que nossa ajuda seja bem-sucedida. Devemos assegurar a ele o nosso afeto
e apoiá-lo. Danny precisa superar sua atitude de evitar o fracasso
não fazendo qualquer esforço, e aprender que, na verdade,
ele é capaz de ter sucesso.
É aqui que lar e escola têm um papel igualmente importante
a desempenhar, precisando trabalhar em conjunto. A escola precisa mostrar
a Danny como estabelecer metas realistas, e os professores precisam garantir
a ele que o ajudarão a atingir essas metas. Devem ajudá-lo
a sentir o gosto do sucesso e cumprimentá-lo por isso. Se por exemplo
Danny tem conseguido acertar 60% nos testes, precisamos dizer-lhe que
precisará responder apenas, digamos quinze das vinte perguntas
do teste, e na primeira tentativa de ajudá-lo escolher perguntas
que ele seja capaz de responder. Sua nota no teste, ou seu desempenho
na classe, pode ser graduado apenas nas questões pelas quais ele
foi responsável. Nesta primeira tentativa Danny pode responder
corretamente 80% das questões que tenta, e receber cumprimentos
e congratulações, tanto na escola quanto em casa.
Os pais devem usar a mesma abordagem em casa. Tudo que se espera que Danny
faça deve ser discutido com ele, que deve aprender a estabelecer
metas realistas para si mesmo. Quando fizer um esforço positivo,
deve ser recompensado, um elogio ou, para uma criança pequena,
algo tangível. Ele não deve receber nada por um meio esforço,
ou por não tentar atingir a meta que ele mesmo estabeleceu. Isso
deve ser feito com clareza na escola e a mesma política deve ser
reforçada em casa. Pais e escola devem mostrar a ele como pode
ser bem-sucedido, ajudando-o a estabelecer o tipo de metas passíveis
de atingir, e depois assegurar que ele faz o tipo de esforço necessário
para ser bem-sucedido. O sucesso trará mais sucesso. À medida
que Danny começa a se sentir melhor sobre si mesmo, ele não
precisará atormentar-se sobre sua incapacidade e a letargia vai
se dissipar.
Lar e escola precisam se comunicar freqüentemente e trocar notas
sobre o procedimento de Danny, e partilhar seu entendimento de como as
coisas estão progredindo com ele. Isso se aplica tanto a um Danny
de oito anos como ao Danny de dezoito. Obviamente a discussão varia
com a idade, mas o estilo daquilo que precisa ser feito é o mesmo.
Espero ter contribuído para lançar alguma luz sobre uma
abordagem cooperativa no sentido de mudar o comportamento das crianças.
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