Socorro! Meu Filho Odeia a Escola

 
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Por Nachum Kaplan
 

Dirigir uma classe com eficácia é um contínuo desafio em todas as escolas. Numerosas indústrias de fundo de quintal têm surgido para ajudar escolas e professores a gerenciar o comportamento e manter a disciplina. O que todas têm em comum é que cuidam quase que exclusivamente do ambiente escolar e da sala de aula. Existem, no entanto, aspectos comportamentais que transcendem os desafios comuns do professor e somente podem ser resolvidos eficazmente com um trabalho conjunto entre a escola e o lar.

Um dos assuntos que podem se beneficiar da cooperação escola/lar é aquele que está crescendo e se tornando invasivo; é o problema da criança que se sente massacrada pela escola. Odeia acordar cedo pela manhã e odeia ir à escola. Sente-se inadequado, indefeso ou pouco inteligente em comparação com os outros. É o aluno que às vezes age de maneira tão letárgica que parece indefeso; parece desejar nada mais que ser deixado em paz. Sua falta de auto-estima com freqüência motiva o comportamento contrário. Os professores gostariam de ajudá-lo, mas todos os esforços parecem baldados; eles estão conscientes de que se as coisas continuarem nesse ritmo aquele aluno será um desistente em potencial; os pais estão frustrados e não sabem o que fazer.

A mãe de um desses alunos, a quem chamarei de Danny, veio ver-me recentemente e perguntou se eu poderia sugerir uma escola especial para seu filho, que parecia ser incapaz e sem vontade de enfrentar as exigências da escola. Danny foi avaliado por uma equipe que fez uma bateria de testes e o classificou como “médio”, com um leve problema de compreensão. Danny odiou a avaliação e disse antecipadamente aos examinadores que ele simplesmente era idiota. Um psicólogo falou com os pais e professores de Danny e sugeriu modificarem o programa para ele, mas Danny continua a não cooperar. A escola, disse-me sua mãe, apóia a idéia de uma troca de escolas.

Repreendê-lo ajuda? Dizer que ele é preguiçoso e manipulador o ajuda? Danny já está sofrendo com a falta de auto-estima, portanto como recriminações poderiam ajudar? Esta atitude apenas reforçará aquilo que ele sente sobre si mesmo.Os professores de Danny dizem que tentaram seguir as sugestões do psicólogo e embora tenha havido uma pequena melhora no início, em pouco tempo Danny voltou ao seu comportamento letárgico e eles se sentiram de volta ao ponto de partida. O que parece ter acontecido no caso de Danny e com tantos outros como ele é que embora todos os envolvidos estejam fazendo o que é certo, a soma de todas estas partes não forma um todo.

O que eu gostaria de sugerir é que um relacionamento mais próximo entre lar e escola é essencial se pretendemos lidar eficazmentte com alguns desafios que nossos filhos nos apresentam. Nem a escola nem a família sozinhas podem colocar Danny num novo rumo, mas se trabalharem juntas isso é possível. Além disso, parece-me lógico que se Danny não for apenas um problema, mas objeto de um desafio aos pais e professores, ele precisa tomar parte ativa na resolução do problema. O todo neste caso acrescentará muito mais que a soma das partes.

Vamos tentar entender o que Danny está passando e como se sente. Certamente sabemos que quando as crianças se sentem inadequadas elas terminam desistindo de fazer o que lhes parece muito difícil de conseguir, e deixam de cooperar. Estas crianças com freqüência sentem que se não fizerem um esforço, pelo menos têm uma desculpa para não alcançarem o sucesso. Muitas vezes elas estabelecem metas arbitrárias que são inatingíveis, e não fazem qualquer tentativa porque as metas são muito difíceis e estão fora de alcance. “Veja, eu disse que não posso fazer isso, deixe-me em paz”, é um refrão freqüente. Com muita clareza, vemos que esta reação defensiva é a resposta de Danny ao problema que criou a confusão em que ele se encontra. Se quisermos ajudá-lo a sair da concha, ele deve ser o centro da nossa estratégia.

Em primeiro lugar, vejamos o que não funciona. Repreendê-lo ajuda? Dizer que ele é preguiçoso e manipulador o ajuda? Danny já está sofrendo com a falta de auto-estima, portanto como recriminações poderiam ajudar? Esta atitude apenas reforçará aquilo que ele sente sobre si mesmo. Ele sabe que é incapaz de produzir aquilo que esperamos; vamos ainda reforçar aquilo que ele sente? O mais provável é que ele se recolha ainda mais, e se recuse a desempenhar qualquer esforço.

Exigir que ele faça um sincero esforço e então ver até onde ele consegue ir, dará certo? O mais provável é ele sentir que será melhor não fazer esforço algum, porque pelo menos isso lhe dá uma desculpa para não ter sucesso. Crianças como Danny justificam sua falta de esforço dizendo a si mesmas que de qualquer maneira não conseguem atingir as metas, então por que tentar?

O que fazer? Precisamos consolar Danny, ajudando-o a entender os motivos do próprio comportamento, e que ele deve tomar parte ativa para que nossa ajuda seja bem-sucedida. Devemos assegurar a ele o nosso afeto e apoiá-lo. Danny precisa superar sua atitude de evitar o fracasso não fazendo qualquer esforço, e aprender que, na verdade, ele é capaz de ter sucesso.

É aqui que lar e escola têm um papel igualmente importante a desempenhar, precisando trabalhar em conjunto. A escola precisa mostrar a Danny como estabelecer metas realistas, e os professores precisam garantir a ele que o ajudarão a atingir essas metas. Devem ajudá-lo a sentir o gosto do sucesso e cumprimentá-lo por isso. Se por exemplo Danny tem conseguido acertar 60% nos testes, precisamos dizer-lhe que precisará responder apenas, digamos quinze das vinte perguntas do teste, e na primeira tentativa de ajudá-lo escolher perguntas que ele seja capaz de responder. Sua nota no teste, ou seu desempenho na classe, pode ser graduado apenas nas questões pelas quais ele foi responsável. Nesta primeira tentativa Danny pode responder corretamente 80% das questões que tenta, e receber cumprimentos e congratulações, tanto na escola quanto em casa.

Os pais devem usar a mesma abordagem em casa. Tudo que se espera que Danny faça deve ser discutido com ele, que deve aprender a estabelecer metas realistas para si mesmo. Quando fizer um esforço positivo, deve ser recompensado, um elogio ou, para uma criança pequena, algo tangível. Ele não deve receber nada por um meio esforço, ou por não tentar atingir a meta que ele mesmo estabeleceu. Isso deve ser feito com clareza na escola e a mesma política deve ser reforçada em casa. Pais e escola devem mostrar a ele como pode ser bem-sucedido, ajudando-o a estabelecer o tipo de metas passíveis de atingir, e depois assegurar que ele faz o tipo de esforço necessário para ser bem-sucedido. O sucesso trará mais sucesso. À medida que Danny começa a se sentir melhor sobre si mesmo, ele não precisará atormentar-se sobre sua incapacidade e a letargia vai se dissipar.

Lar e escola precisam se comunicar freqüentemente e trocar notas sobre o procedimento de Danny, e partilhar seu entendimento de como as coisas estão progredindo com ele. Isso se aplica tanto a um Danny de oito anos como ao Danny de dezoito. Obviamente a discussão varia com a idade, mas o estilo daquilo que precisa ser feito é o mesmo.

Espero ter contribuído para lançar alguma luz sobre uma abordagem cooperativa no sentido de mudar o comportamento das crianças.

       
   
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