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(Nota: Este artigo
contém críticas, não condenação. É
dirigido aos professores e pais de – por falta de uma palavra melhor
– crianças médias freqüentando escolas médias.
Não se destina àqueles que trabalham em salas de aulas superlotadas
com grande número de crianças com problemas de aprendizado
ou de comportamento, seja por motivos biológicos, neurológicos,
sociais, familiares ou ambientais. Este artigo deveria ser lido dentro
de um parênteses de admiração e gratidão por
todos os professores que têm dedicado sua vida à educação
de crianças – minhas e de outros. A todos eles, incluindo
aqueles aos quais endereço minhas críticas, os meus agradecimentos.)
Tenho comparecido a algumas reuniões com meus filhos nos últimos
vinte anos. Dentre os comentários mais comuns que ouço estão:
"Ele/ela não está correspondendo ao seu potencial."
"Se pelo menos ele tentasse mais, poderia melhorar."
"Ela não participa/escuta/presta atenção."
"Ele é inquieto e não pára no lugar."
"Apresento o material mas seu filho parece não entender, embora
os outros na classe o façam."
"Já pensou em contratar um professor particular?"
Raramente estes professores se vêem como tendo algo a ver com o
desempenho escolar de meus filhos. A responsabilidade pelo fraco desempenho
escolar (conforme a opinião do professor) recai basicamente em
meu filho e/ou na minha mulher e eu. Saímos da reunião sentindo
que não podemos fazer mais nada, exceto sentar com nossos filhos
e ajudá-los com a lição de casa em todo o tempo livre,
deles e nosso. Nós nos recriminamos por não sermos mais
bem-sucedidos com eles, mais exigentes, mais severos, mais concentrados
em seu futuro sucesso que na sua felicidade atual. De repente, seus passatempos
e lazer parecem perversos e se afiguram como uma digressão de sua
vida como estudantes, pela qual se preparam para serem membros úteis
da sociedade adulta.
Tenho a sensação, e às vezes isso é declarado
pelo professor, que se os dez por cento no topo da classe está
indo bem, então o professor vai bem. Obviamente estes professores
pensam que se alguns dos alunos estão entendendo a matéria,
é culpa dos outros não entenderem.
E se esta falha não é o resultado da falta de empenho de
meu filho, então deve ser falha de alguma deficiência no
ambiente familiar, que exige intervenção externa –
fora da sala de aula, fora do âmbito de responsabilidade do professor.
Como sou uma pessoa provocativa, pergunto a estes professores: "bem,
o que vocês poderiam fazer para ajudar meu filho a aprender melhor?"
Esta pergunta sempre desperta um certo grau de choque ou descrença.
Não sei ao certo se o choque é apenas por eu ter ousado
fazer a pergunta, ou pelo fato de qualquer um poder pensar que o professor,
e não o aluno ou sua família, é deficiente de alguma
forma. Afinal, ele ou ela tem ensinado por anos, e muitos de seus alunos
se saíram bem.
Mas, estou também preocupado com aqueles que não são
tão bem-sucedidos, os marginais. Não apenas porque um ou
mais de meus filhos se enquadram nessa categoria uma vez ou outra em suas
carreiras escolares, mas também porque conheço muitas crianças
– filhos de amigos ou colegas – que, pelos padrões
da escola ou do professor, parecem estar "indo mal".
E quanto a eles? Qual é seu destino? Estão fadados ao fracasso,
se os pais não puderem pagar professores particulares ou escolas
caras que atendam suas necessidades especiais? O que será deles
se os pais não conseguirem transformar o ambiente doméstico
em paraísos de erudição, de modo que seus filhos
entendam de imediato e respondam à importância de prestar
atenção e entender "a matéria", independentemente
de quão tediosa possa ser a matéria ou o professor, ou do
quanto a atmosfera da classe possa ser aborrecida ou repleta de distrações?
Faço esta pergunta porque, de forma geral, tenho filhos muito bons.
São motivados, bem comportados (dentro dos limites das crianças
normais), prestativos em casa, e em geral respondem a intervenção
e estímulos positivos. Relacionam-se bem com adultos, embora eles,
também, tenham seus padrões quando se trata de como reagem
àqueles com quem se relacionam.
E finalmente, faço esta pergunta porque parece-me que a responsabilidade
pela educação é do professor.
Minha filha falou-me recentemente sobre a diferença entre "educar"
e "ensinar". Perguntei a ela qual era a diferença, em
sua opinião, e ela disse: Um professor está interessado
naquilo que está ensinando; um educador está interessado
nos alunos.
Um professor, descreveu ela, é alguém que fica na frente
da classe e dá "a matéria". Um professor, disse
ela, espera que os alunos simplesmente "entendam". E se não
o fazem, a culpa é das crianças.
Um educador, disse ela, está olhando para o aluno, olhando para
ver se ele entende ou não e, caso não entenda, tenta encontrar
uma maneira de facilitar seu entendimento. Um educador, disse ela, entende
que todas as crianças são diferentes, aprendem a velocidades
diferentes e de maneiras diferentes, e então tenta encontrar uma
maneira de ensinar seus alunos de forma que consigam entender. É
como uma parceria, disse ela, não uma guerra ou competição.
Adorei esta última frase: como uma parceria, não uma guerra
ou competição.
E isso certamente combina com aquilo que sinto nas reuniões da
escola. Se meus filhos sentem algo parecido com o que minha mulher e eu
sentimos naqueles encontros, então eles estão passando o
dia sentindo-se culpados e envergonhados, criticados e deficientes. Isso
não conduz ao estudo, creio eu.
Outra coisa que sempre me mistificou e que me faz questionar estas reuniões
escolares é que meus filhos parecem "desempenhar" de
maneira diferente com professores diferentes. Um filho, por exemplo, estava
terminando o primeiro ano e na última reunião de pais e
mestres daquele semestre fui informado que ele simplesmente não
conseguiria acompanhar os outros alunos no ano seguinte. Estava tendo
muita dificuldade para aprender a ler e escrever. A professora não
tinha conselhos ou soluções a oferecer. Fizera todo o possível.
A falha estava no meu filho, no déficit de tempo passado com ele
em casa.
Um
educador entende que todas as crianças são diferentes,
aprendem a velocidades diferentes e de maneiras diferentes, e
então tenta encontrar uma maneira de ensinar seus alunos
de forma que consigam entender.
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Por causa dessa reunião
e da atitude crítica e desanimada que encontrei, tirei meu filho
daquela escola e o coloquei em outra. Eu não podia arriscar que
meu filho, quando chegasse aos sete anos, fosse rotulado como um "fracasso".
No ano seguinte ele
estava lendo e escrevendo como um danadinho e o professor tinha apenas
elogios para ele. Chegava a chamá-lo de "pequeno tsadic".
De repente, o garoto passara do fracasso ao sucesso, apenas trocando de
professor e de escola. Meu filho, que não conseguia aprender a
ler, agora passava seu tempo livre em casa lendo livros e revistas sem
esforço. Então no ano seguinte seu horário escolar
aumentou, e ele passou a ter um professor matinal e outro à tarde.
O professor da manhã considerava-o o melhor aluno: atento, participativo,
inteligente, bem comportado…
O professor da tarde achava-o preguiçoso, desatento, lento e desligado,
uma descrição que considerei apropriada ao professor quando
o conheci na reunião de pais e mestres. (desculpem-me, leitores,
mas alguém precisa dizer estas coisas).
Quando conversei com o professor sobre o relacionamento entre ele e meu
filho, ele não sabia do que eu estava falando, nem por que aquilo
faria qualquer diferença na capacidade de meu filho entender a
matéria. Percebi como ele quase não me olhava nos olhos
e perguntei-me se faria o mesmo com meu filho.
Hmmmm.
Um amigo meu disse-me
que seu filho está tendo um ano assim-assim. Com alguns professores
vai bem, com outros nem tanto. Após reunir-se com o professor e
com o diretor, ficou resolvido que aulas particulares seriam a única
solução para o menino. Seu pai, meu amigo, questionou a
necessidade de professor particular, pois são apenas dez crianças
na sala de aula. Era difícil para ele (e para mim) acreditar que
com tão poucos alunos o professor não conseguia adaptar
seu modo de ensinar às necessidades dos diferentes alunos. Mas,
em resposta a esta pergunta, o diretor disse ao meu amigo que este professor
era brilhante na matéria que estava ensinando, e a transmitia de
maneira muito clara e sucinta. Era irrealista, disse ele, esperar que
o professor adaptasse seu estilo para satisfazer as necessidades dos alunos
acima da média, medianos, e abaixo da média.
Perguntei ao meu filho que está na mesma classe (um filho diferente
daquele que mencionei acima) sobre o professor. Ele disse que o professor
passa uma vez a matéria, espera que todos entendam, não
revisa, e nunca altera seu tom ou ritmo de ensinar. Ele disse que os meninos
mais inteligentes da classe não têm problemas, mas dois terços
da turma estavam ficando para trás, incluindo ele.
Bem, pensei, isso é interessante. O professor está deixando
dois terços da classe para trás, e atingindo e ensinando
cerca de três alunos em dez. Alguma coisa não me parece certa
aqui, especialmente porque meu filho não estava entre aqueles três
do topo. Ele não estava tendo o mesmo grau de dificuldade que o
filho de meu amigo, mas estava tendo dificuldade suficiente para eu me
preocupar. Meu amigo e eu decidimos falar juntos com o diretor, mas nada
conseguimos. Nossas esposas convenceram-nos de que nenhuma intervenção
mudaria a maneira de ensinar do professor, e encorajaram-nos a encontrar
um professor particular para os meninos.
Entra em cena o professor particular.
Após algumas aulas, telefonei para perguntar como meu filho estava
se saindo. Maravilhosamente, disse ele. É muito inteligente e aprende
a matéria com facilidade. O que mais impressionou o professor particular
foi o nível das perguntas que meu filho fazia e seu desejo de aprender
e entender.
As
crianças precisam acreditar que são queridas por
aqueles que esperam seu bom desempenho. Este carinho deve ser
demonstrado pela atenção individual que recebem,
uma atenção que respeita seu nível de inteligência,
seus sentimentos e sua capacidade.
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Quando perguntei ao
meu filho sobre isso ele disse: "Sim, é bem diferente da minha
classe. Não consigo fazer muitas perguntas na sala de aula, e quando
as faço o professor é sempre impaciente e faz-me sentir
mal por ter perguntado, fica irritado porque o interrompi, então,
parei de fazer perguntas."
Hmmmm.
Devo reiterar que meus filhos em geral são crianças inteligentes
e bem sucedidas. Têm muitos interesses. Lêem constantemente.
São todos, à sua própria maneira, curiosos e adoram
aprender coisas novas. Saem-se bem à mesa do Shabat, lendo a porção
semanal da Torá ou falando sobre muitas coisas de modo a captar
o interesse dos pais, irmãos e convidados. São também
ousados, cheios de energia, e gostam muito de rir.
Porém, no decorrer de seus anos escolares cada um deles, uma vez
ou outra, provocou uma reunião escolar ou alguma experiência
como a que acabo de descrever. E sempre, nas horas de dificuldade, a culpa
recai sobre os ombros das crianças, enquanto os professores continuam
a ensinar a matéria e levar a classe da mesma maneira, cuidando
das dificuldades de meus filhos pelo método de destruir sua auto-estima
e auto-imagem com culpa, insulto e críticas.
Admito que tenho preconceitos.
Acredito que as crianças têm o desejo inato de serem bem
sucedidas. Acredito que as crianças são curiosas e querem
aprender. Acredito que desejam que sua experiência escolar seja
positiva e agradável. Acredito também que crianças
são crianças. Ficam inquietas quando estão entediadas
e às vezes mesmo quando não estão. Precisam se mexer
mais que os adultos gostariam. Não conseguem tolerar o tédio,
nem a injustiça ou hipocrisia. Estão dispostos a dar respeito,
mas também precisam receber algum e, como a maioria das pessoas,
reagem mal quando o respeito é exigido deles, e o dão de
boa vontade quando é conquistado e merecido.
Como a maioria das
pessoas, as crianças são gentis quando tratadas gentilmente,
e bem comportadas quando os outros se comportam bem com elas. Como a maioria
das pessoas, não reagem bem a críticas ou julgamento, especialmente
quando são injustos. Como a maioria das pessoas, reagem bem a elogios
e encorajamento, a pessoas que os ajudam a manter uma auto-estima positiva,
ao contrário daquelas que os fazem se sentir idiotas e fracassados.
E mais que a maioria das pessoas, a imaginação das crianças
deve ser capturada se queremos que prestem atenção e aprendam.
Elas precisam também acreditar que são queridas por aqueles
que esperam seu bom desempenho. Este carinho deve ser demonstrado pela
atenção individual que recebem, uma atenção
que respeita seu nível de inteligência, seus sentimentos
e sua capacidade, por causa de sua natureza inata de entender algumas
matérias e ter dificuldades com outras.
A
meta conjunta deles todos nós todos é encontrar
uma maneira que permita a cada criança ter sucesso na escola,
sendo que sucesso deve ser definido como aprender, sentir-se bem
consigo mesmo, comportar-se de maneira respeitosa e desfrutar
a infância.
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Não estou culpando
apenas os professores nem estou deixando de fora as crianças e
os pais. Sou severo com meus filhos quando se trata de respeitar os professores,
independentemente da opinião negativa que possam ter sobre eles.
E minha mulher e eu constantemente nos esforçamos para enfatizar
as melhores qualidades dos professores e a importância de aprender
as matérias que eles ensinam, e do bom comportamento na escola.
Acreditamos que há modelos de comportamento e decoro aos quais
nossos filhos devem aderir, não importa se gostam ou não
gostam, não importam suas opiniões ou o tédio. E
nossos filhos geralmente reagem bem a nossas admoestações
e conselhos.
Porém no fundo do meu coração, especialmente depois
dessas infames reuniões escolares, creio naquilo que minha filha
disse: que a escola deveria ser uma parceria, e numa parceria a responsabilidade
é compartilhada igualmente. A criança vê aquilo que
pode fazer melhor, os pais vêem aquilo que podem fazer melhor; e
o professor olha para aquilo que pode fazer melhor. E o diretor vê
o que todos podem fazer melhor juntos. Ele é o especialista e decide
como organizar melhor as classes, como ajudar um professor a se relacionar
com cada um dos alunos em sua sala. A meta conjunta deles todos –
nós todos – é encontrar uma maneira que permita a
cada criança ter sucesso na escola, sendo que sucesso deve ser
definido como aprender, sentir-se bem consigo mesmo, comportar-se de maneira
respeitosa e desfrutar a infância.
Neste ambiente, seja na sala de aula ou na reunião de pais e mestres,
um tipo diferente de diálogo aconteceria. Um diálogo não
concentrado em falhas, culpa e déficit, mas em melhoras, encorajamento
e vantagens. Neste ambiente – e eu estive neste tipo de ambiente
escolar, também – não somente os alunos são
elogiados e encorajados pelos professores, como também os professores
são louvados e encorajados pelos alunos e seus pais.
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