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Ensinando responsabilidade aos nossos filhos

 
 
por Shea Hecht
 

Aprendi que existe uma diferença entre ensinar responsabilidade aos nossos filhos e fazer deles nossos servos. Certa noite, quando eu estava na casa de alguém para uma reunião, percebi a filha deles, de doze anos, dando um telefonema que claramente era para a mãe. Quando ela terminou aquela chamada, a mãe pediu que fizesse outro telefonema. Quando terminei minha reunião, perguntei à mãe por que a filha estava fazendo aquelas chamadas. Ela respondeu que achava que isso ajudava a filha a adquirir responsabilidade. Eu disse à mãe que pelo que pude ver, a menos que ela sofra de um problema para falar e portanto seja incapaz de dar o telefonema, se ela pedir a uma criança para fazer uma chamada que evidentemente é sua, o que ela está ensinando é como transferir responsabilidades.

Depois desse encontro eu fiz um estudo não-oficial, perguntando às crianças que vêm ao meu consultório para aconselhamento como elas se sentem quando seus pais lhes dão responsabilidades. O resultado de meu "estudo científico" foi que, para a maioria das crianças, a maneira de se sentirem depende das circunstâncias. Elas me disseram que quando os pais lhes pedem para fazer diferentes tarefas – um telefonema, ir a uma loja, etc. – e o serviço era em prol da criança ou para a família como um todo, isso ensinava responsabilidade à criança. Quando a tarefa era claramente para a conveniência do pai ou da mãe, a criança se sentia usada e isso ensinava transferência de responsabilidade. No futuro, estas crianças simplesmente pedirão aos irmãos mais novos para fazer as tarefas por elas. A experiência lhes tinha ensinado que os mais velhos e mais fortes têm permissão para explorar os mais jovens e mais fracos.


Um pai pode dizer ao filho: "Eu sei que isso não é sua responsabilidade, mas esta é a ajuda que precisamos agora." É um chessed – um ato de bondade – o filho ajudar o pai.

Pelas minhas conversas com estas crianças eu pude desmembrar o tema "responsabilidade versus escravidão" em três partes. Primeiro, quando uma criança é solicitada a fazer alguma coisa pela família, por exemplo, se todos tomam parte, então ela não se sente usada. Por exemplo, se há uma festa e você pede a cada filho para dedicar algum tempo e fazer algo, então isso é considerado como esforço em comum. Mesmo quando há tarefas domésticas, se elas forem divididas com alguma justiça a criança geralmente as fará sem ressentimento. Se meninos e meninas na família estão em escolas com horários diferentes, e os meninos ajudam quando estão em casa e as meninas fazem sua parte quando estão disponíveis, então as crianças sentem que isso é justo e não reclamam.

Em segundo lugar, é importante fazer as crianças sentirem que não são apenas doadores, mas também receptores da ajuda com a qual espera-se que contribuam. Por exemplo, quando você pede a uma criança maior para ajudar a mais nova nas tarefas escolares, você pode também prometer à criança mais velha que a ajudará com o dever quando a criança menor estiver na cama e a casa estiver mais quieta. Isso ensina à criança que o mais forte ajuda o mais fraco, e os maiores ajudam os menores.

Em terceiro lugar, os pais precisam tratar os filhos como filhos – não como substitutos dos cônjuges. Uma mulher não pode dizer: "Meu marido chega em casa tarde e não pode me ajudar, então meus adolescentes me ajudarão no lugar dele." Há muitos anos, quando os pais saíam para a guerra ou para trabalhar distante de casa, eles diziam aos filhos pequenos que "agora você é o homem da casa" ou "tome conta de sua mãe". Uma criança de seis anos não consegue lidar com esta responsabilidade, e hoje nem uma de 16 anos consegue fazer isso. Um pai que pede e espera que um filho faça o trabalho de um adulto está se aproveitando.

Nada disso nega o fato de que podemos esperar que nossos filhos ajudem em tempos de crise – em caso de doença, gravidez ou tragédia, D’us não o permita. Mas mesmo em tempos como esses, quando um pai sente a necessidade de dar responsabilidade adicional a uma criança, isso não deve ser feito de maneira ditatorial, mas sim como um pedido com uma explicação. Um pai pode dizer ao filho: "Eu sei que isso não é sua responsabilidade, mas esta é a ajuda que precisamos agora." É um chessed – um ato de bondade – o filho ajudar o pai.

Em conclusão, quando pedimos aos nossos filhos para ajudarem, devemos nos perguntar:
1) De quem é o trabalho que estou pedindo à criança para fazer?

2) Estou dando esta tarefa à criança para ensinar responsabilidade ou estou me esquivando à minha própria responsabilidade?

Um pai que pode responder estas perguntas sinceramente dizendo que está fazendo isso pelo bem da criança, estará de fato ensinando responsabilidade a seus filhos.


Rabi Shea Hecht é diretor de NCFJE (Nacional Committee for the Furtherance os Jewish Education), a organização de serviços sociais e divulgação dirigida por seu falecido pai, o famoso Rabi J. J. Hecht. Rabi Shea Hecht também participa no programa matinal WWRL 1600, sendo um líder e ativista na Comunidade Judaica Crown Heights.  
   
       
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