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2 de dezembro
de 2010
Enquanto crescia, Rabino Zev Johnson escutava as histórias
pungentes narradas por sua avó, Leah Bedzovski Johnson, sobre os
dois anos passados se escondendo na floresta bielorussa como lutadora
da resistência ao Nazismo durante a Segunda Guerra.
“Sempre admirei minha Bubba,” diz Johnson – o último
nome é uma versão anglicizada do sobrenome original, Yonson
– usando carinhosamente o termo yidish para ‘avó’.
Ela se manteve firme contra todas as probabilidades. O motivo para eu
estar vivo hoje é por causa dela.”
Em 16 de novembro, Johnson, rabino do campus no Centro de Estudantes judeus
Chabad-Lubavitch na Universidade do Texas, recebeu sua avó como
palestrante convidada no Centro Austin. Perante uma plateia estimada em
cem pessoas, a animada sobrevivente relatou sua experiência como
membro da famosa Brigada Bielski, um grupo de partisan judeus responsável
por salvar a vida de 1.200 homens, mulheres e crianças, considerado
o maior resgate de judeus feito por judeus durante o Holocausto.
“Ela inspirou a muitos de nós,” diz Aliz Schliker,
estudante na UT [Universidadede do texas]. ‘Saiba quem você
é,’ ela nos disse. ‘Não tenha medo de ser judeu.’
Foi uma mensagem universal para lutar por aquilo em que você acredita.”
“Ela continuava dizendo: ‘Sobrevivemos por vocês,’
repete a estudante da UT Dahlia Hellman. “Sempre achei fascinante
que as pessoas pudessem ter passado por isso e ainda ser tão positivas.”
Durante décadas uma história não relatada, a Brigada
Bielski, liderada pelos irmãos Tuvia, Zus e Asael, foi mostrada
no filme “Desafio”, feito em 2009 pelo diretor Ed Zwick e
mostrado no documentário do History Channel “Os Irmãos
Bielski”. Mas foi somente no ano passado que Bedzowski Johnson levou
sua história pessoal a público.
“Todo o meu grupo está morrendo,” ela explicou sobre
a sua decisão de fazer o circuito de palestras. “Logo o grupo
de resistência Bielski será esquecido. Estou fazendo isso
para que o mundo saiba, porque até agora ninguém sabia.
Estávamos lutando pelas nossas vidas. Estávamos salvando
outros judeus.”
Contrariando a ideia equivocada de que todas as vítimas do Holocausto
marchavam como gado para as câmaras de gás, houve 20.000
a 30.000 judeus lutadores da resistência durante a Segunda Guerra.
O que diferenciava a Brigada Bielski dos outros grupos era sua meta de
salvar todos os judeus, não apenas os saudáveis que pudessem
entrar na batalha. A meta era salvar o maior número possível
de pessoas.
“Havia um menino de três anos,” lembra-se Bedzowski.
“Havia um menino de dois anos.”
Rabino Zev Johnson, rabino do campus do Centro Chabad-Lubavitch, aplaude
o discurso de sua avó.
Ela tinha 16 anos em 1939, o ano em que os alemães irromperam em
Lida, a cidade bielorrussa onde ela vivia com sua família. Eles
estavam sentados de shiva, o período de sete dias de luto ritual,
pelo pai de Bedzowski Johnson – “Foi o último funeral
judaico em Lida”, ela relata – quando a cidade começou
a pegar fogo.
Inicialmente, eles fugiram para as aldeias nos arredores da cidade, sendo
abrigados por uma série de fazendeiros bondosos. Mas quando os
alemães emitiram um decreto forçando todos os judeus a voltarem
para Lida, a família Bedzowski Johnson viu-se isolada num barracão
em ruínas à beira do gueto empobrecido e cercado de arame
farpado.
“Não tínhamos comida,” relembra ela sombriamente
sobre o período de oito meses. “Não tínhamos
nada.”
Eles logo foram informados sobre o plano mestre de Hitler de aniquilar
o povo judeu. “Não sabíamos o que fazer,” diz
Bedzowski Johnson. “Então um dia, um não-judeu que
estava com Tuvia Bielski trouxe um bilhete aconselhando minha mãe
a ir até a floresta.”
Com a fuga facilitada por aquele mesmo homem, Bedzowski Johnson, seus
dois irmãos e uma irmã – foram para a floresta. (A
mãe deles foi logo depois). Eles correram durante dois dias inteiros,
embrenhando-se cada vez mais nas matas.
“O que fizemos não teria sido possível sem o nosso
comandante, Tuvia Bielski,” afirma Bedsowski Johnson. “Ele
foi nosso rei. Ele era tudo para nós. Com ele, sabíamos
que tudo daria certo.”
Ela tinha 20 anos quando encontrou Wolf Yonson, conhecido pelos partisans
pelo seu apelido, “Wolf, a metralhadora”. Eles se casaram
na floresta no início de 1943.
Bedzowski Johnson e seus dois irmãos sobreviveram à guerra.
Sonia, sua irmã, foi capturada pelos nazistas. (Mais tarde souberam
que ela fora enviada para Majdanek, um campo de morte na Polônia.)
Após passar algum tempo num campo de refugiados em Turim, na Itália,
Bedzowski Johnson e Yonson por fim se instalaram em Montreal, onde criaram
três filhos.
“Há sobreviventes que preferem ficar em silêncio,”
diz Murray Johnson, filho deles. “E há aqueles que escolhem
contar suas histórias. Meus pais falavam abertamente sobre suas
experiências criando uma conscientização para que
isso jamais aconteça novamente.”
Para Bedzowski Johnson, indicada para aparecer em locais judaicos em todos
os Estados Unidos, o silêncio contínuo não é
uma opção.
“Estou fazendo isso pelos meus filhos e pelos filhos deles,”
ela declara, com a voz ligeiramente embargada. “Eles não
deveriam ter vergonha de dizer: ‘Eu sou judeu’. Eles deveriam
lutar pelos seus direitos. Deveriam saber quem são. Essa é
a nossa história. E muitas pessoas não a conhecem. Perguntam:
‘É possível o que aconteceu?’ É possível.
Às vezes fico me olhando no espelho e até mesmo eu não
acredito.” |