Redenção: Concretizando o sonho  
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Nos dias de semana, a Amidá consiste de dezenove bênçãos, das quais nada menos que sete são explicitamente relacionadas à Redenção messiânica.

Esta preocupação com Mashiach não está limitada somente a místicos ou chassidim, mas faz parte do Judaísmo há muito tempo. É um dos 13 Princípios de Fé de Maimônides, o Rambam, dirigido a todos os judeus, em todas as partes do mundo.

Mas o que pessoas bem-sucedidas, que levam vidas realizadas, seguras e confortáveis têm a ver com Mashiach? Por que deveria um cirurgião, um produtor de cinema, ou um astro do basquete ansiar pela Redenção? A obsessão por Mashiach era compreensível na Europa. Quem, ou o quê mais poderia livrar o povo judeu da incessante opressão, pobreza, humilhação e perigo físico que fizeram parte da vida diária do Judaísmo europeu pelos últimos mil anos?

Porém os tempos mudaram. Estamos, na grande maioria, a salvo, livres para levar o estilo de vida e perseguir as metas que desejarmos. Podemos chamar isto de exílio? Por que, então, precisamos de Mashiach? Do que ele deverá nos salvar? Além disso, qualquer pessoa que anseie por Israel pode satisfazer seu desejo simplesmente comprando uma passagem aérea, ir se deliciar com um shwarma ou falafel na Dizengof, escalar Massada, chegar em Jerusalém e depositar seus pedidos em mensagem no Cotel. O aspecto mais perturbador desta amarga galut é que estamos alegremente inconscientes de estar num amargo exílio. Não reconhecemos onde realmente estamos, ou em que tipo de condição nos encontramos.

Embora a galut esteja freqüentemente associada ao sofrimento físico, esta não é a sua principal característica. O aspecto definitivo da galut é, ao contrário, a falta de um propósito unificador central para a existência. A vida das pessoas parece ser determinada por forças aleatórias: econômicas, políticas, físicas, etc.

Numa escala mais ampla, tentativas de definir e resolver os problemas do mundo estão fadados ao insucesso, pois não há um padrão consistente na história e nenhuma estrutura racional estável subjacente aos eventos mundiais. A solução do dia de hoje evolui na crise de amanhã transportada para as manchetes dos jornais do "dia seguinte". A única presunção confiável na vida é que as coisas mudarão de forma imprevisível. As pessoas podem tentar desesperadamente impor algum significado na vida, mas como não há qualquer propósito intrínseco ou absoluto, estes esforços simplesmente refletem os caprichos subjetivos do momento.

Surpreendentemente, do ponto de vista do sonhador, o mundo dos sonhos parece bastante real. A distorção surrealista que fica tão aparente ao despertar é totalmente aceitável e natural no contexto do sonho. O sonhador considera futilidades como sendo importantes, ao passo que verdadeiros lampejos de criatividade ou gênio podem ser ignorados. Sua visão, sentimentos, prioridades e planos são todos adaptados às circunstâncias no mundo dos sonhos, no qual ele acredita realmente estar vivendo.

Assim, um componente indispensável do mundo do exílio semelhante ao sonho é a ilusão da realidade. As pessoas sentem-se à vontade e bem familiarizadas com a loucura que descreve a vida moderna. É considerado normal e saudável para milhares de pessoas empurrar e abrir caminho aos gritos num estádio de futebol descarregar a fúria na torcida do time adversário ou sair pichando ruas e residências, extravasando sonhos frustrados no final do placar. Revistas de notícias discutem os efeitos especiais de um filme popular, cujo tema é o canibalismo e sadismo.
Isso é diversão normal para muitos seres humanos. Ninguém vê nada de anormal ou perturbador no fato de milhões de pessoas se sentarem horas a fio na frente dos aparelhos de TV, apreciando assassinatos, rebeliões em prisões, falsidades e perversão. Assassinos são vistos como vítimas da sociedade, e devem ser entendidos em vez de castigados. A lista vai por aí afora. Perceber isso é um sonho.

A metáfora do sonho é intrigante… se somos todos produtos do sonho da Galut, como podemos avaliar objetivamente nossas circunstâncias de forma a ficarmos conscientes do pavoroso estado em que estamos? Como podemos esperar que um mundo que está cego à sua própria loucura anseie pela redenção?

A resposta é que a escuridão da Galut não é absoluta. Os esforços periódicos e mal dirigidos de muitos judeus para aliviar a angústia da Galut por meio da acomodação e assimilação não fazem mais sentido do que faria para um psiquiatra aceitar as perspectivas e opiniões de seus pacientes e assumir seus padrões de comportamento simplesmente porque eles o superam em número.
Mas existem aqueles para quem a densa escuridão do exílio é apenas parcial. Eles são como sonhadores que sabem que estão sonhando, e assim são capazes de ficar de certa forma distantes do sonho e perceber a verdade. Possuem a percepção da alma Divina que habita dentro deles. Da mesma forma que seus antepassados preservaram seus nomes, hábitos e vestimentas no Egito (galut), continuam preservando suas convicções, não pensamentos, mas ações, ao longo de todo o tempo transcorrido desde lá e levando esta mesma bagagem a todos os exílios onde hoje, temporariamente, se encontram.

Como judeus somos responsáveis por trazer a Redenção não como sonhadores, ou conformistas, mas como personagens reais vivendo objetivamente o esforço em concretizar as mesmas metas e objetivos que nos foram confiados há mais de três mil anos. Não apenas a nós, mas também a todos os povos que testemunharam a Presença Divina na Terra e que anseiam pela Sua volta, em nossos dias.

Que possamos juntos atingir a meta suprema trazendo a paz e união em todos os cantos do mundo.

     
     
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