Recompensa e Punição  
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Para início de conversa, o homem tem livre arbítrio — nenhuma outra criatura o tem. Nenhum cão, golfinho ou gorila possui a capacidade de avaliar o bem e o mal e escolher um em detrimento do outro, nem entende os conceitos de bem e ma. Ninguém exceto o homem. Portanto, o entendimento judaico sobre recompensa e punição começa com os entendimentos judaicos sobre o livre arbítrio, e a escolha entre o bem e mal.

D’us não fará chover maná dos Céus sobre você caso faça algo que Ele considera bom, nem vai fulminá-lo com raios se fizer algo que Ele considera mau — você teria Livre Arbítrio se Ele o fizesse?

O Homem tem livre arbítrio. Você pode optar por fazer o bem. Pode escolher fazer o mal. Você pode. Você. D’us não fez você de uma maneira ou de outra. Ele não o força àquilo que é reto e restrito. Ele não o pré-programou a ser de uma determinada maneira. O homem pode fazer seja o que for que deseje. Pode mudar aquilo que é para tornar-se o que deseja ser. Liberdade total.

Ora, D’us não fará chover maná dos Céus sobre você caso faça algo que Ele considera bom, nem vai fulminá-lo com raios se fizer algo que Ele considera mau — você teria Livre Arbítrio se Ele o fizesse? De forma alguma — você não conseguiria descer a rua pela ânsia por maná, ou medo dos raios. Você se tornaria um vegetal. E D’us não deseja vegetais — Ele deseja Livre Arbítrio. Então, o que vai acontecer se você comer não-casher? Nada. Nenhum raio. Porque se D’us o fulminasse a cada vez que você comesse um alimento não-casher, você não teria outra alternativa a não ser comer casher. Você seria forçado a isso — a menos que goste de raios. Agora, vejamos o que diz o Judaísmo sobre recompensa e punição.

Definindo Bem, Mal, Recompensa e Punição

A Torá é o manual de moralidade da raça humana. A Torá define o que é bom e o que é mau. Quando você faz aquilo que a Torá diz, está fazendo o bem. Quando não faz o que diz a Torá — ou quando faz o que a Torá manda não fazer — está fazendo o mal. (Mas isso somente se você está familiarizado com a Torá, e age propositadamente contra ela — como veremos mais tarde.) Quando você faz o bem, é recompensado, e quando pratica o mal, é castigado. Parece simples? É exatamente o contrário. Não existe um Catálogo de Recompensa e Punição no judaísmo, relacionando pecados específicos ou boas ações e suas conseqüências específicas, e portanto, não sabemos quais ações provocarão quais reações por parte de D’us. A menos que você seja um profeta — e não existem profetas atualmente — não pode concluir que o filho do Sr. Fulano morreu porque não comeu alimentos casher ou que o Sr. Sicrano contraiu a Doença de Lou Gehrig porque é um trapaceiro. De modo inverso, não se pode concluir que Bill Gates é rico porque é uma boa pessoa (o que não equivale a dizer que ele é mau!): inúmeras variáveis, conhecidas apenas por D’us, ocorrem em todo exemplo de recompensa e punição. Somente D’us pode realmente discernir e decidir em assuntos de bem e mal, e as recompensas e punições relativas. Nós simplesmente não sabemos. Sendo principiantes, não sabemos o que é realmente bom, o que é realmente mau, ou quem é verdadeiramente bom ou mal. Assim, o sofrimento nem sempre é castigo, o castigo nem sempre é sofrimento, o bem nem sempre é uma recompensa, e o mal não é sempre uma punição. Somente D’us pode dizer.

A Torá não é toda sobre Recompensa e Punição?

Bem, você encontrará muitas pequenas recompensas na Torá por fazer o bem. Encontrará também diversas pequenas punições na Torá por fazer o mal. Por quê? D’us não nos concede o Livre Arbítrio? Sim, Ele o faz, e o que a Torá menciona não são "recompensas" e "punições" da maneira que entendemos estas expressões: eventos sobrenaturais. Pois se D’us cobrisse os bons com uma chuva de doces e fulminasse com raios os bandidos, jamais veríamos o fim disso. Portanto, D’us não recompensa ou pune da maneira que entendemos "recompensa" e "punição". Geralmente, nem uma das "recompensas" ou "punições" na Torá é sobrenatural. Geralmente, D’us não "recompensa" ou "pune" — Ele age por meio da Natureza. Quando você faz o bem, D’us reage acelerando os processos naturais das coisas boas. Quando você pratica o mal, Ele reage desacelerando os processos naturais das coisas boas. Esta é a maneira de D’us atingir um equilíbrio entre fazer de mais, e fazer de menos. Atingir com raios seria demais. Deixar as coisas como estão seria de menos. Porém, como um príncipe fugitivo admoestado por seu real pai, este mecanismo espiritual aplica-se apenas àqueles que sabem em primeira mão o que D’us deseja que eles façam.

O Mundo Vindouro

No Judaísmo, existe recompensa e punição — mas, como já foi mencionado, geralmente está além de nossa compreensão saber como isso funciona. Às vezes, pode parecer óbvio, mas à vezes não. E no Judaísmo, há dois planos de existência: o físico e o espiritual. A existência física é este universo. E a existência espiritual é chamada de Mundo Vindouro. O Mundo Vindouro é onde você está antes de nascer, e para onde vai depois que morre. Se você é bom ou mal, D’us pode recompensá-lo ou puni-lo aqui, ou Ele pode fazê-lo lá — no Mundo Vindouro.

O que é o Mundo Vindouro?

Indescritível. Além do tempo. Além do espaço. Além da dimensão. Esqueça Céu e Inferno e planetas e ficção científica — são falsos. O Mundo Vindouro não é físico ou dimensional. O Mundo Vindouro está completamente além de nossa imaginação. E também não é emprestado de outra religião. Os profetas abstêm-se de descrições porque palavras não conseguiriam dar uma idéia de tudo aquilo. Mas é um local, e pode ser chamado como tal, uma forma de existência, onde você é lavado em uma "máquina de lavar cósmica" antes que possa absorver o bem incomparavelmente além dos maiores prazeres da existência física. A lavagem apaga todos os traços da existência física e devolve você a seu estado puro, à existência espiritual anterior ao nascimento. Uma vez restaurado, você se reconecta com D’us ao nível de espiritualidade atingido durante sua existência física. A lavagem é sua "punição," e a reconexão é sua "recompensa." Ambas são boas — nada de "Inferno"! Não importa o quão maravilhoso possa ser o Mundo Vindouro, não deveria ser a meta da pessoa.

Maimônides descreve isso como servir a D’us por temor das conseqüências ou antecipação dos benefícios, portanto, em última análise, auto-interesse. Ao contrário, explicam os grandes sábios, o relacionamento de alguém com D’us deveria ser construído sobre o amor — e amor é doar, não tirar; abnegação, não egoísmo.

 

 

 
   
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