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Todo
pequeno aluno no cheder conhece este nome. Todo menino judeu anseia pelo
dia feliz em que começará a estudar o Chumash com Rashi.
A própria escrita de Rashi é fascinante! Quando começa
o Chumash com comentários de Rashi, o menino sabe que atingiu um
novo marco em sua maravilhosa estrada rumo à sabedoria e ao conhecimento.
Quem foi Rashi? Quando e onde viveu? Como? Estas são algumas das
perguntas que muitas crianças fazem a si mesmas quando começam
a estudar Rashi, e algumas dessas questões serão respondidas
aqui.
“Rashi” não é o nome completo deste homem notável.
É meramente uma combinação de três letras hebraicas,
“Resh, Shin e Yud”, as iniciais de Rabenu Shlomo Yitschaki
– nosso Rabi Solomon, o filho de Yitschak.
Rabenu Solomon Yitschaki, ou Rashi como geralmente é chamado, nasceu
há quase 900 anos, em 4800, na cidade de Troyes na França;
algumas pessoas acreditam que nasceu em Worms. Viveu 65 anos. Acredita-se
que era descendente do Rei David. Seu pai Yitschaki era um grande erudito,
mas muito pobre. Ele ganhava seu magro sustento com a venda de vinho.
Conta-se uma linda história sobre o nascimento de Rashi. Seu pai
certa vez encontrou um diamante raro. “Agora, não haverá
mais pobreza,” pensou ele, e foi ao joalheiro vender a pedra preciosa.
O joalheiro não tinha dinheiro suficiente para adquirir um diamante
tão grande, e sugeriu que o bispo o comprasse. Ora, o bispo estava
procurando um diamante como aquele para colocá-lo em sua cruz.
Ele ofereceu uma grande quantia em dinheiro. Quando Rabi Yitschak soube
para qual finalidade o bispo desejava a pedra, recusou-se a vendê-la.
Ele sabia, no entanto, que se não vendesse a jóia, esta
poderia ser-lhe tirada à força, e portanto atirou-a ao mar.
Neste momento soou uma Voz Celestial: “Por este grande sacrifício
você será abençoado com um filho que brilhará
mais que todas as pedras preciosas do mundo, e a luz de sua Torá
reluzirá para sempre.”
No ano seguinte nasceu-lhe um filho, que ele chamou de Salomão,
dizendo: “Que D’us conceda a ele a mesma sabedoria do Rei
Salomão.”
Rashi ainda era jovem quando deixou sua terra e foi para Worms e outras
cidades que eram famosas por seus eruditos de Torá. Com muito zelo,
Rashi estudou Torá e Talmud, e após oito anos de ardorosos
estudos voltou à sua cidade de origem. Estava com 25 anos, mas
continuou a estudar por si mesmo. Logo se tornou conhecido como um grande
sábio, e milhares de estudantes e eruditos o procuravam para aprender
com ele. Rashi foi então nomeado Rabino de Troyes, mas não
aceitou salários, e sustentava-se com a venda de vinho, como seu
pai costumava fazer.Rashi começou a escrever seu famoso comentário
sobre o Tanach e Talmud ainda muito jovem. A Torá era muito difícil
de ser entendida corretamente, e o Talmud ainda mais complicado. Rashi
decidiu escrever um comentário em linguagem simples que tornaria
fácil para todos estudar e entender a Torá. Porém
Rashi era muito modesto, e mesmo depois de ficar famoso em toda parte,
hesitava em mostrar publicamente seus comentários. Ele queria ter
certeza de que seria recebido de maneira favorável. O que fez então?
Escreveu seus comentários em tiras de pergaminho e empreendeu uma
jornada de dois anos, visitando as várias academias de Torá
daqueles dias; incógnito, jamais revelando sua identidade.
Rashi chegou a uma yeshivá e sentou-se para escutar a palestra
do Rosh Yeshivá. Este chegou a uma passagem difícil no Talmud,
tentou explicá-la aos alunos, mas não foi muito bem-sucedido.
Quando Rashi ficou sozinho, tomou a tira de pergaminho onde escrevera
seu comentário, na qual aquela passagem estava explicada de maneira
simples e clara, e a colocou dentro da Guemará do Rosh Yeshivá.
Na manhã seguinte, quando este abriu a Guemará encontrou
um misterioso pedaço de pergaminho no qual a passagem do Talmud
estava explicada tão claramente que ele ficou atônito. Contou
o fato aos estudantes, e estes decidiram que deveria ter sido enviado
pelo Céu. Rashi escutou os elogios aos seus comentários
e ficou feliz por saber que fora útil aos estudantes, mas não
revelou o autor. E assim Rashi continuou a visitar várias academias
de Torá em muitas cidades e países, e em toda parte colocava
suas tirinhas secretamente.
Pela maneira que os pedaços de pergaminho eram recebidos, cada
vez mais Rashi percebia o quanto eram necessários, e continuou
a escrever seus comentários sobre o Chumash inteiro, os Profetas,
e todos os tratados do “vasto oceano do Talmud”. Estas misteriosas
“tiras” de pergaminho eram copiadas e circulavam em todas
as academias de Torá, porém ninguém sabia o nome
do autor.
Certa vez Rashi foi descoberto enquanto colocava seu comentário
da maneira usual, e o segredo foi revelado. Foi imediatamente aclamado
por todos como autor daquele maravilhoso comentário. O nome de
Rashi tornou-se conhecido em todo o mundo. Em toda yeshivá, em
toda escola de Torá, o comentário de Rashi era usado pelos
jovens e pelos idosos, e ele literalmente abriu os olhos de todos os eruditos
de Torá. Nenhum outro rabino ou comentarista ganhou tanta popularidade
como Rashi. Há pouquíssimos Chumash ou Guemarot impressos
sem Rashi, e o estudo de Torá e Talmud se tornou impensável
sem a ajuda das explicações de Rashi.
Rashi teve somente filhas, alguns dizem que duas, outros afirmam que foram
três. Seus genros e netos foram eruditos e famosos comentaristas
da Torá e Talmud. Um de seus netos foi Rabenu Tam, outro Rashbam
(Rabi Samuel ben Meir). Os netos e discípulos de Rashi foram os
autores do “Tosefot” – conhecido por todos os estudantes
do Talmud.
Em seus últimos anos de vida Rashi presenciou tempos difíceis.
Era a época dos cruzados, quando milhares de judeus foram massacrados
por multidões enfurecidas que eliminaram comunidades inteiras.
O coração de Rashi ficou partido e repleto de tristeza pelo
sofrimento de seus desafortunados irmãos, e ele escreveu “Piyutim”,
alguns dos quais se tornaram parte de nossas preces (especialmente na
Selichot).
A saúde de Rashi faltou-lhe na velhice. Ele ficou fraco e doente,
e não podia mais escrever. Sua filha agia como secretária;
ele ditava a ela suas respostas às muitas perguntas que lhe chegavam,
enviadas pelos maiores eruditos do seu tempo.
Em 29 de Tamuz de 4865, Rashi faleceu. Ele continua vivo, no entanto,
em suas obras que são estudadas por todos os meninos e jovens das
yeshivot e Escolas Talmud Torá, e também pelos mais velhos.
Durante centenas de anos o Bet Hamidrash em Worms onde Rashi estudava
ficou de pé. Nele havia a antiga cadeira de pedra onde ele costumava
sentar-se. Muitas pessoas iam visitar com reverência estas antigas
relíquias. Porém no início de Tevet de 5698 (por
volta de 1937) alguns vândalos a destruíram e incendiaram.
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