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Certo dia, o açougueiro
do bairro foi ao escritório de Rabino Pinchas Horowitz (1730-1805),
o famoso rabino de Frankfurt, com uma dúvida haláchica (Lei
da Torá). Um defeito fora descoberto no pulmão de um boi
abatido, levantando a possibilidade de que pudesse ser treif, proibido
de ser comido, segundo a lei da Torá.
Era um caso complexo e duvidoso, e o rabino passou muitas horas estudando
as regras das mais notáveis autoridades haláchicas das gerações
anteriores, das quais várias estavam inclinadas a proibir a carne
sob tais circunstâncias.
Finalmente, Rabino Pinchas emitiu seu parecer: o boi estava casher.
Depois, um dos discípulos lhe perguntou: “Rabino, por que
estudou tão longamente para decretar o boi casher? Afinal, o Shach
[Rabino Shabtai HaKohen, o grande halachista do século 17], considerou-o
treif. Não teria sido mais aconselhável simplesmente jogar
fora a carne em vez de se arriscar a transgredir uma proibição
tão séria?”
Rabino Pinchas sorriu e respondeu: “Sabe, para todo homem chega
o dia em que ele deve ficar perante a Corte Celestial e prestar contas
da sua vida. Eu imagino que, quando este dia chegar para mim, eu terei
de defender a decisão que tomei hoje. A ‘acusação’
sem dúvida convocará uma testemunha prodigiosa para testemunhar
contra mim: o próprio ‘Shach’ explicará como
eu permiti o consumo da carne cuja cashrut está em sério
questionamento. Eu terei de responder citando as opiniões de seus
colegas menos importantes que decretaram o boi como de fato casher, e
explicando por que preferi as leis deles sobre a dele. Você pode
estar certo de que essa possibilidade me enche de ansiedade.
“Mas e se eu tivesse decretado que a carne está treif? Então
eu teria de debater com um outro acusador – o boi. Ele testemunhará
contra mim e gritará sua fúria: ‘Quantas bocas famintas
eu poderia ter alimentado!’ ele vai gritar. ‘Quantas horas
de estudo de Torá e prece eu poderia ter sustentado! Quantas boas
ações eu poderia ter energizado! E este homem destinou-me
à lata de lixo, embora houvesse base para considerar-me casher.’
“Para me garantir, eu poderia convocar o grande Shach para me defender.
Mas, considerando tudo, eu teria preferido apostar contra o Shach que
enfrentar um boi furioso no tribunal…”
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