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  Por que não sou Rabino
 
Por Stacey Goldman
  As mulheres agarraram minhas mãos e alegremente me levaram para dentro do círculo. Em vez de dançar rodopiando, isso parecia dança em espiral – cada volta me impelia cada vez mais alto, rumo ao infinito céu da noite de Jerusalém. Era tarde na noite de sexta-feira, os costumeiros serviços de preces no Muro Ocidental tinham terminado há muito. Fazíamos parte de um grupo improvisado liderado por um rabino carismático que se sentava numa divisória que separava homens de mulheres para liderar as preces recepcionando o Shabat. A energia espiritual era palpável. Com cada movimento feito sob a saia colorida criávamos nossa própria conexão com os Céus.

Era um dos meus últimos Shabatot em Israel após passar meu primeiro ano na Universidade Hebraica em Jerusalém. Eu tinha decidido tornar-me rabina, e achei que aquela seria uma boa oportunidade para mergulhar no Judaísmo Ortodoxo – eu poderia então saber o que estava rejeitando.

Até aquele dia, as divisórias sempre tinham incomodado minha prece – por que eu tinha de ficar no outro lado, separada dos homens? Eu conhecia as preces: eu possuía o tefilin do meu bat mitsvá! Eu sabia até ler a Torá – por que eu precisava ficar atrás de uma parede? Homens e mulheres são iguais, assim fui criada, e qualquer coisa que sugerisse o contrário era uma heresia às minhas raízes igualitárias.

Quando entrei na Faculdade feminina como caloura, considerava-me uma humanista – o feminismo parecia um termo criado antes que as pessoas esclarecidas percebessem que homens e mulheres eram iguais. Pouco a pouco, minha faculdade secular para mulheres começou a desgastar minhas noções preconcebidas de feminilidade. Através das professoras e colegas de classe, juntamente com as leituras recomendadas em muitas das aulas, comecei a avaliar os presentes históricos distintos das mulheres à sociedade.

Embora eu estivesse apreciando o papel diferente das mulheres na sociedade, ainda não conseguia reconciliar estas idéias com o papel diferente da mulher no Judaísmo. Meu estudo acadêmico da história judaica tinha me deixado a impressão de que os antigos rabinos eram megalomaníacos, criando leis para complicar a vida dos judeus ignorantes, e para manter o status das mulheres abaixo daquele dos homens. Na Universidade Hebraica tive a oportunidade de assistir a uma aula com um rabino ortodoxo. Sua abordagem aos antigos textos judaicos foi novidade para mim. Seu óbvio amor e respeito pelas palavras dos rabinos, totalmente destituídos de cinismo ou sarcasmo, eram impressionantes! Isso para não mencionar sua capacidade de manter elevados padrões acadêmicos ao abordar o texto.

Na metade do semestre senti uma mudança vinda de dentro da minha alma. Os rabinos não desejavam controlar o povo judeu; eles estavam numa nobre busca da verdade para descobrir o que D'us realmente desejava para Seu povo escolhido. Em vez de tentar impor leis em prol da opressão, os rabinos estavam tentando decifrar as prescrições de D'us para a vida mais significativa possível. Com este novo entendimento sobre os rabinos, eu estava pronta para abordar meu Judaísmo, como mulher, sob uma perspectiva totalmente nova. Tornar-me rabino não me parecia mais a maneira ideal de concretizar minha identidade judaica. No entanto, por algum tempo eu tinha pensado que esta era a única maneira para eu aprofundar e manifestar espiritualmente meu Judaísmo.

Quando pela primeira vez decidi tornar-me rabino, eu sabia que teria de aceitar muitas obrigações. A escola rabínica que escolhi ordenava que todos os alunos (homem e mulher) aceitassem a obrigação de rezar três vezes ao dia com um talit e tefilin. Embora este fosse um compromisso sério, eu não estava preocupada: tinha passado por diversos estágios de uso consistente do tefilin desde meu bat mitsvá, e não estava assustada com a quantidade de preces.

Eu tinha uma dúvida, porém. Como mulheres que tinham acabado de dar à luz se ajustavam a esta situação? A resposta que recebi foi o início de um caminho muito longo que me levou a rejeitar o rabinato como carreira, e aquela corrente específica do Judaísmo como meu movimento. O rabino disse-me que uma mãe recente seria considerada como qualquer outra pessoa doente; isenta das preces diárias até se recuperar. Uma mulher grávida era "doente"? Ela precisaria se "recuperar"? Dar à luz de repente passava a ser uma doença? Fiquei chocada por algo que eu ansiava fazer ser considerada uma interferência, um problema a ser resolvido.

Sentada aqui, muitos anos depois, cercada por vários filhos, eu tenho de rir. Exatamente quando eu teria de me "recuperar" da maternidade? Estou grata pela sabedoria da nossa Torá, que reconhece que a obrigação da mulher com os filhos é da maior importância. É por isso que as mulheres estão isentas da maioria dos mandamentos regulados por tempo, incluindo a necessidade de rezar a horários específicos ou com um quorum de dez. Forçar mulheres a ser como homens, sem qualquer avaliação de seus dons exclusivos, é a verdadeira discriminação. Colocar os homens como o ideal a que as mulheres devem se ajustar é realmente ver as mulheres como cidadãs de segunda classe. O homem talvez faça isso, mas a Torá não faz.

Naquele Shabat em Jerusalém senti-me como uma das mulheres que tinham atravessado o Mar Vermelho até a terra firme. Viajando naquela trilha, da escravidão à liberdade, essas mulheres que dançavam e rezavam tinham libertado alguma coisa em minha alma. A energia espiritual dessas mulheres fizeram-me sentir completa. Eu não estava mais limitada pelas restrições da prece masculina, podia finalmente rezar como mulher, cercada por outras mulheres.

Miriam, a irmã de Moshê, foi a primeira mulher a liderar outras mulheres em prece. Após cruzar o Mar Vermelho e conquistar a vitória, a primeira coisa que o povo judeu fez foi cantar a D'us em louvor e agradecimento. A Torá nos diz que Moshê liderou os homens, e Miriam as mulheres. O que havia de diferente nas preces das mulheres? Elas não foram meramente uma reação espontânea à fuga miraculosa, mas algo planejado e esperado. Até mesmo na pressa para deixar o Egito quando sabiam que somente poderiam levar os artigos mais necessários para aquela que sabiam que seria uma jornada árdua, as mulheres se certificaram de levar tambores e tamborins. Para que precisariam disso no deserto? As mulheres sabiam, devido à sua fé total, que D'us as salvaria e que haveria música e agradecimentos depois. As mulheres celebraram sua liberdade sua liberdade dançando e cantando, tocando os tambores, assim como sabiam que iriam fazer.

Naquela noite no Muro Ocidental, enquanto eu rezava e dançava, senti que finalmente era digna de homenagear Miriam e todas aquelas mulheres pela sua completa dedicação e fé. Elas se dedicavam de corpo e alma em agradecimento ao Criador, Aquelas mulheres podiam me ensinar o real significado da feminilidade e o verdadeiro significado da prece. E assim como os Sábios ensinam que foi pelo mérito de Miriam e das mulheres justas que fomos redimidos do Egito, assim também, seremos nós, as mulheres judias de hoje, que levarão o mundo à Redenção Final.

Carta do Rebe sobre este assunto

Sra...
Manitoba, Canadá

Bênção e saudações:

Recebi sua recente carta. Surpreendeu-me você pedir minha opinião sobre uma questão à qual já respondi algum tempo atrás. No entanto, como você retorna ao assunto, darei novamente minha opinião inequívoca. É a seguinte:
A função fundamental da mulher judia é ser a akeret habayit (alicerce do lar judaico), ou seja, estabelecer e conduzir seu lar de acordo com a Torat Chaim e as mitsvot, pelas quais o judeu vive. E quando isso não entra em conflito com o senso judaico de tseniut (recato), a mulher judia também deve participar em atividades sociais e de caridade, em apoio a instituições dignas, e coisas afins. Não está dentro da sua esfera, nem deveria aspirar (D'us não o permita) ao rabinato. Isso foi firmemente estabelecido por várias autoridades e fontes judaicas. Na verdade, quanto mais a mulher judia está familiarizada com a opinião da Torá, e quanto maior for seu conhecimento da Torá nessa área, mais deveria ela ser capaz de entender o fato de que não é de sua alçada ser rabino. A própria aspiração é por si mesma uma prova da falta de conhecimento adequado da verdadeira opinião do Judaísmo sobre a vida.

Como mencionado acima, já indiquei a você minhas opiniões sobre o assunto, embora talvez em outras palavras. Repito-as aqui somente devido a sua insistência. Da mesma forma, quero reiterar que esta posição não é um reflexo (D'us não o permita) da opinião sobre o valor ou inteligência de uma mulher. Isso tem a ver somente com a função específica que coisas específicas no mundo foram divinamente designadas a elas, e a função de uma mulher é ser akeret habayit e fazer sua contribuição nas áreas de filantropia e serviço social, pois isso não é menos importante que as funções de um rabino.

Confio que o acima exposto irá resolver de uma vez por todas sua dúvida, para que não haja mais discussão sobre este assunto.
Com bênção,
[assinatura]
     
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