Por Rabino Tzvi Freeman  
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  Existe uma prova absoluta da existência de D'us?  
   
 

Não. Não há prova absoluta de coisa alguma. Uma das condições do intelecto é que qualquer coisa que possa ser provada intelectualmente também pode ser questionada. Explicando de outra forma, se algo não pode ser não-provado, não pode ser um argumento intelectual.

Este "Princípio de Falsificação" foi demonstrado pelo notável filósofo inglês Karl Popper, e é geralmente aceito nos círculos científicos e filosóficos do presente. Também está em consonância com a posição talmúdica.

Além disso, cada argumento intelectual requer axiomas, que por sua vez não podem ser provados. Isso foi demonstrado no século dezenove por Karl F. Gauss, chamado por alguns de "o maior matemático que jamais viveu", que começou a questionar a positividade do axioma de Euclides. Mais tarde, no século vinte, o matemático americano Kurt Gödel demonstrou logicamente que nenhum sistema pode ser provado sem evidência que esteja além daquele sistema. Sua obra foi aclamada universalmente como uma das contribuições mais importantes de todos os tempos à matemática e filosofia.

Em suma: A lógica humana nada pode provar de maneira absoluta. Para o conhecimento absoluto, você terá de encontrar outro instrumento.

Apesar disso, a mente humana pode chegar a conclusões bastante elaboradas. Tais como concluir que lá fora está chovendo ao sair e ficar molhado pela chuva. Resta a possibilidade de que nossos sentidos estejam nos enganando, mas sempre precisaremos fazer algumas suposições, nem que seja para sobreviver.

Freqüentemente podemos nos assegurar de algo com certeza quase absoluta sem ao menos presenciar o fato por nós mesmos. Por exemplo, ao olhar pela janela e ver as árvores balançando, podemos pressupor que está ventando. Ao observarmos as luzes acesas, podemos supor que há eletricidade nos fios. Ou então agitando elétrons de objetos sub-microscópicos, podemos construir um modelo funcional de sua forma.

Assim também, o fato de que há uma Fonte Primordial para tudo é um dos fatos mais evidentes que existem. Assim também é o fato de que esta Fonte Primordial gerou este mundo com design e inteligência.

O conceito de uma Fonte Primordial apóia-se em um axioma em que todas as ciências confiam: o Princípio da Explicação. Este princípio simplesmente afirma que todos os fenômenos devem ter uma explicação. A ciência é o esforço de descobrir aquelas explicações. As moléculas são explicadas pela dinâmica dos átomos. Os átomos são explicados pela dinâmica de suas sub-partículas. As sub-partículas são explicadas pelos fótons. Finalmente, deve existir uma explicação pela existência da matéria e energia.

Sem este princípio, não apenas não haveria ciência, como também não existiria o esforço humano de espécie alguma. Em tudo que fazemos, confiamos na suposição de que cada coisa tem uma explicação, fornecendo-nos assim um universo consistente para estudarmos. Imagine a confusão se todas as coisas simplesmente aparecessem como se tivessem chegado subitamente do nada. A Fonte Primordial, então, nada mais é que a explicação definitiva para tudo que existe, o elo final da cadeia.

Qual então, pergunta você, é a explicação para esta Fonte Primordial? Mas este é exatamente o conceito de uma Fonte Primordial: Que há alguma coisa (se é que pode ser chamada de "coisa") que não precisa de explicação. Porque de outra forma estamos realmente num beco sem saída: Ou nos rendemos e dizemos que existem coisas que não precisam de explicação. Ou então simplesmente dizemos que as explicações são infinitas - o que na verdade equivale a dizer que o cosmos como um todo não tem explicação.

Em vez disso, nossa alternativa é afirmar que existe um Estado Primordial de algum tipo, que explica tudo, inclusive a si mesmo. Como explica a si mesmo? Porque é infinito. Isso significa que não tem limites ou definição, nenhum começo ou fim.

Não podemos imaginar tal coisa - ou não-coisa. Como podemos imaginar algo sem limites definidos? Mas isso não o torna ilógico. Afinal, você consegue imaginar a gravidade? Ou a eletricidade? Tudo que sabemos dessas coisas é o efeito delas, que podemos observar. Mas nenhum ser humano pode dizer-lhe que sabe o que são. Similarmente, conhecemos a Causa Primordial por seus efeitos - a existência do Universo - porém não podemos dizer que sabemos o que é.

Quanto ao fato de que esta Fonte Primordial se preocupa com o que estamos fazendo aqui e deu-nos a Torá, etc. - por tudo isso nós confiamos na revelação no Monte Sinai. Isso é tratado em outros ensaios. Para resumir, foi uma experiência em massa, não apenas uma revelação pessoal transmitida por um indivíduo ou por um punhado deles. Uma experiência de massa é aceita como fato histórico.

Podemos também mostrar a sobrevivência do povo judeu, que de outra forma seria inexplicável. Várias outras provas são fornecidas por vários autores.

Todos os argumentos mencionados acima são baseados na lógica padrão. Entretanto, o verdadeiro motivo pelo qual os judeus acreditam não é por nenhuma destas razões. É simplesmente porque sabem inerentemente que estas coisas são verdadeiras em seu íntimo, uma característica que herdaram de seus ancestrais por 3700 anos. É esta convicção íntima, não o peso da prova intelectual, que fez os judeus serem mártires por sua fé, e enfrentarem todo tipo de desafio por todos estes milênios.

Na verdade, os filósofos judeus clássicos explicam que quando a Torá nos ordena ter fé em D'us, não está discutindo este conhecimento de que existe uma Causa Primordial. Isso, dizem eles, nada tem a ver com fé, mas conhecimento. Por exemplo, não se ordena a alguém que acredite que à noite fica escuro lá fora. Eles saem à noite e sabem que está escuro. Da mesma forma, saber que existe uma Causa Primordial é uma conclusão óbvia da experiência humana compartilhada. Ao contrário, quando a Torá nos diz para acreditar em D'us, como no primeiro dos Dez Mandamentos, está nos dizendo para nos conectar com um D'us que está muito além até mesmo de ser uma Causa Primordial.

Sim, mesmo a idéia de uma Causa Primordial tem suas limitações. Sei que dissemos que é infinita e indefinível, mas isso é relativo. Afinal, como chegamos à conclusão de que existe uma Causa Primordial? Através de nosso conhecimento deste mundo. Portanto, já existe uma limitação: a Causa Primordial é a Causa Primordial de nosso mundo - e só sabemos até aí. Além disso, é uma causa. E ela teima em ser primária. Poderíamos nos aprofundar nisso, mas acho que fica para outro ensaio. O assunto é discutido longamente no clássico Derech Mitsvotecha, começando na página 88.

O importante aqui é que o D'us no qual os judeus acreditam e com quem nos conectamos é muito mais transcendente que qualquer razão humana poderia penetrar. Porque a alma humana contém faculdades que vão além da razão. Existe um lugar dentro da alma humana para o conhecimento absoluto, para uma visão da realidade que suplanta todos os assuntos e percepções da vida. E este é o âmago do judeu.

 
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