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O
judaísmo proíbe o sofrimento de animais. Podemos ver isto
refletido em vários
preceitos. Por exemplo, existe a proibição de "tsaar
baalei chaim" – provocar um animal, causando-lhe sofrimento.
Mas nossas leis vão além disto.
A Torá nos ensina que o dono de um animal deve alimentá-lo
e lhe dar de beber antes que o próprio dono tenha sua refeição.
As próprias leis de shechitá – o procedimento do abate
do animal, sem o qual estamos proibidos de comê-lo, visam causar
o mínimo de sofrimento para o animal.
Uma vez que deixamos claro este ponto, podemos partir para o ponto principal.
Tudo o que existe de material neste mundo pode ser elevado para um nível
espiritual. Quando recitamos a bênção sobre o alimento,
e usamos a energia que ele nos fornece para o trabalho divino em nosso
dia-a-dia, estamos o elevando para um nível espiritual. Quando
usamos um certo membro de nosso corpo para cumprir uma mitsvá,
estamos elevando-o para um nível espiritual.
Você não sabia que leões comem zebras, que leopardos
comem antílopes, tigres comem tudo que podem matar? E na maioria
das vezes, os mortos são os indefesos filhotes, os velhos e doentes.
Portanto, quem criou estas criaturas e esta ordem da natureza?
Se você estiver pensando nos sacrifícios no Templo Sagrado,
lhe pergunto: O que torna os sacrifícios do templo mais cruéis
que isso? Na verdade, a crueldade da selva é cruel apenas a nossos
olhos. Para os animais, ela não existe. Como disse o sapo ao Rei
David (Midrash, Perek Shira): "Eu tenho uma mitsvá maior que
qualquer uma sua. Pois existe um pássaro que vive no pântano
e tem fome. E eu me sacrifico para alimentá-lo."
Para os animais, ser comido é apenas ser transformado, de um ser
para outro, num ciclo interminável de metamorfoses. As folhas se
tornam um cervo, o cervo numa pantera, ou num ser humano. A pantera ou
o ser humano retorna à terra e alimenta as árvores que produzem
folhas. E esta é sua realização, sua mitsvá
da vida.
A Torá acrescenta outra dimensão, uma dimensão sobrenatural
à ordem da natureza. A grama se transforma em vaca, a vaca torna-se
parte do ser humano e o humano desempenha um ato Divino. Melhor ainda,
a vaca entra diretamente no mundo do Divino, engolida pelo fogo do altar
e consumida pelos anjos Acima que são alimentados, segundo a Cabalá,
pelos sacrifícios no Templo. E então aqueles seres angélicos
respondem, devolvendo vida e santidade a todas as vacas aqui embaixo neste
mundo.
Se até mesmo um pedaço de peixe que é consumido por
uma pessoa, que usara sua energia para fazer uma mitsvá, torna-se
elevado, imagine a elevação de um animal que é sacrificado
no Templo Sagrado, o local mais sagrado do mundo todo. E mais ainda no
caso da vaca vermelha, que é usada para a purificação
das pessoas!
A
grama se transforma em vaca, a vaca torna-se parte do ser humano
e o humano desempenha um ato Divino.
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O sacrifício
de um animal no Templo Sagrado não era um ato de crueldade, nem
um desprezo a um ser vivo, já que isto contradiz toda a essência
do local.
Quando um animal é sacrificado no Templo, contribuindo para a purificação
das pessoas, este recebe um significado eterno.
Isso pede uma história como explicação (Baba Metzia
85a):
Rabi Yehuda HaNassi era um perfeito tsadic, porém passou por grandes
sofrimentos. Como isso começou? Por intermédio de algo que
ele fez.
Ele estava caminhando pela praça quando um bezerro sendo levado
ao matadouro correu para ele e escondeu-se sob sua capa. Ele disse ao
animal: "Vá! Para isso você foi criado." E foi
aí que seu sofrimento começou.
E terminou com outra ação. Sua criada estava varrendo o
chão e encontrou os filhotes de uma fuinha aninhados entre as tábuas
do piso. Ela começou a varrê-los, quando ele a fez parar.
"Está escrito" – disse ele – "que Sua
compaixão está sobre todas as Suas obras." Foi então
que seu sofrimento cessou.
Não podemos
mesmo entender, porque o fato de não entendermos é que nos
permite ter compaixão.
O Báal Shem Tov, durante os anos em que era um místico oculto,
ganhava seu sustento abatendo galinhas e outros animais para as comunidades
judaicas antes das Festas. Quando deixou esta profissão, um novo
abatedor tomou seu lugar. Certo dia, o gentio ajudante de um dos aldeões
judeus levou uma galinha ao novo abatedor. Quando o homem começou
a afiar sua faca, o gentio olhou e começou a rir. "Você
molha sua faca com água antes de afiá-la!" exclamou
ele. "E então você simplesmente começa a cortar?"
"O que mais poderia ser?" perguntou o abatedor.
"Yisroelik (o Báal Shem Tov) chorava até que tivesse
lágrimas suficientes para molhar a faca. Depois chorava enquanto
afiava o instrumento. Somente então ele cortava!"
A Torá nos ordena não causar dor desnecessária a
qualquer ser vivo. Nenhuma distinção é feita se o
ser vivo é uma vaca, um lagarto ou uma mosca.
Rabi Sholom DovBer de Lubavitch certa vez repreendeu seu filho por ter
arrancado a folha de uma árvore, dizendo: "O que o faz pensar
que o "Eu" da árvore vale menos que o seu "Eu"?
Mesmo quando parece necessário consumir a vida de outro, existem
regras.
A
Torá nos ordena não causar dor desnecessária
a qualquer ser vivo. Nenhuma distinção é
feita se o ser vivo é uma vaca, um lagarto ou uma mosca.
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Uma pessoa com a mente
vazia, ensinaram os Sábios, não tem o direito de comer carne.
Eles disseram também para jamais comer carne com fome – primeiro
satisfaça a fome com pão. Uma pessoa que ingere carne somente
para agradar o paladar e seu estômago degrada tanto a si mesmo quanto
o animal. Mas se ele "come conscientemente" – para domar
aquelas energias animais a fazer o bem; comer para elevar o animal a um
novo reino da existência; comer para pelo menos dar ao animal aquilo
que ele nos dá – então isso se torna uma maneira de
conectar-se com o Divino e elevar nosso universo.
Quanto aos anjos e sua parte na história: "Uma vez que o Templo
foi destruído" – declara o Talmud – "a mesa
de todo homem expia por ele." Sua mesa é um altar. Os anjos
são convidados. Coma com humildade e com compaixão, e conscientemente.
Faça sua parte no Divino ciclo da vida.
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