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O Ramban (1195-1270), em sua
famosa carta intitulada Igeret HaRamban, implora ao seu filho para que
evite a raiva. A raiva, ele diz, é a raíz de muitas coisas
ruins e faz com que as pessoas venham a cometer muitas transgressões,
pois a pessoa fica mais apta a falar mal dos outros, a se tornar arrogante
e a julgar erroneamente as pessoas. Ao invés disto, diz o Ramban,
a pessoa deve pensar de onde veio e para onde irá no fim dos seus
dias. Estes pensamentos farão com que a pessoa se afaste da raiva
e aja com humildade.
Rabino Yissachar Frand descreveu um incidente ocorrido na época
do Rabino Chaim de Volozhin (1749-1821), que nos ilustra bem a futilidade
da raiva.
Duas pessoas tiveram uma calorosa discussão sobre um pedaço
de terra. A terra em questão era adjacente ao campo de ambos, e
cada um deles argumentava que ela fazia parte da sua propriedade. Nenhum
deles estava disposto a escutar os argumentos do outro.
Finalmente decidiram procurar o conselho do Rabino Chaim de Volozhin.
Ele escutou atentamente à explicação de ambas partes
e disse que gostaria de ir com eles observar a propriedade em questão
com seus próprios olhos, pois talvez isso o ajudasse a entender
o ponto de vista de cada um.
Juntamente com o Rabino, os dois senhores chegaram ao referido local.
Rabino Chaim estudou o terreno, observando onde ficava a propriedade de
cada um e suas fronteiras, e escutou mais uma vez os argumentos dos dois,
cada um dizendo enfaticamente que o pedaço de terra era seu.
De repente, Rabino Chaim abaixou-se colocando seu ouvido no solo. Os dois
senhores ficaram espantados. "O que você está fazendo
aí no solo?" perguntou um deles.
"Bom, eu escutei o ponto de vista de ambos a respeito deste pedaço
da propriedade," respondeu o Rabino Chaim, "porém agora
eu estava escutando o que a terra tinha a dizer a respeito disto."
Os dois homens pensaram que o Rabino Chaim estava brincando, e então
um deles perguntou em tom de brincadeira, "Ok, então nos diga
– o que a terra está dizendo?"
Rabino Chaim sorriu para eles e disse, "A terra não consegue
entender sua raiva e visão limitada. Ela diz, 'Este fala que eu
pertenço a ele, e o outro diz que não, que eu pertenço
a ele. A verdade, é que eventualmente ambos pertencerão
a mim!'" |