Por Heidi Hass  
  Uma profunda conexão  
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Meu marido e eu estamos casados por dez anos, e há seis fomos abençoados com um filho. Quando meu filho completou um ano, foi descoberto um câncer nos rins de meu marido e eles precisaram ser removidos. Desde o surgimento de sua doença, tenho assistido a sua lenta deterioração. Suas juntas e tendões se calcificaram a tal ponto que ele cambaleia como um velho. A neuropatia levou embora seus excelentes reflexos motores, portanto o homem que conquistou meu coração com alegres truques mágicos não consegue mais manipular as cartas e os dados.

Temos estado na fila de espera por um rim por quase seis anos, e sou forçada a encarar a possibilidade de tornar-me uma viúva com um filho pequeno.

Freqüentemente tenho de ser espiritual. Quando eu estava crescendo, minha família celebrava Pêssach e Chanucá, e minha mãe acendia as velas de Shabat. Em Rosh Hashaná, mergulhávamos maçãs no mel; em Yom Kipur, meu pai às vezes jejuava. Tive um bat mitsvá quando garota, mas logo depois meus pais deixaram de freqüentar a sinagoga e de acender velas de Shabat. Isso transmitiu-me a idéia que as preces judaicas e os rituais não eram uma parte necessária da vida.

Durante uma época, morei no Havaí e no Japão — dos quais não se pode dizer que sejam lugares transbordantes de judaísmo. Tentei várias vezes comparecer a Serviços Judaicos em bases militares, mas eram de difícil acesso. Agora, as circunstâncias da doença de meu marido aumentaram minha carência de espiritualidade.

Recentemente, acessei o website www.askmoses.com, onde "bati papo" com uma certa Sra. Bronya Shaffer em tempo real. Durante uma de nossas várias discussões online, ela recomendou-me ir até o micvê. Meu marido tinha suas dúvidas e eu estava céptica sobre a idéia, perguntando-me que bem poderia fazer se eu imergisse numa piscina de água. Já fui várias vezes à piscina da cidade, e não acreditava que pudesse fazer alguma diferença. Mas a Sra. Shaffer fez o micvê parecer tanto com um ato de santidade, que decidi fazer uma tentativa.

Eu estava nervosa sobre ir, mas ela prometeu encontrar-me lá. Durante meu banho, devo ter me lavado pelo menos cinco vezes e ao chegar lá, tomei outra chuveirada e chamei a atendente. Ela levou-me à piscina de água da chuva, o micvê, onde mergulhei nas águas e fui deixada sozinha para rezar.

Decidi pedir a D’us para ajudar minha família. E tive uma súbita compulsão de cobrir meus olhos durante a prece. Ainda não entendo por que senti tão fortemente esta necessidade; às vezes fecho meus olhos para rezar, mas jamais os cobrira. Terminei minha oração, e saí para enxugar-me.

Então caí em mim. Sarah, Rivca, Rachel, Leah, Miriam, Esther — todas estas mulheres no decorrer da nossa história tinham feito aquilo que eu acabara de fazer. Eu tinha feito uma conexão com todas as mulheres antes de mim, por milhares de anos, que rezavam no micvê. De repente percebi que eu rezara da mesma maneira. Todo aquele tempo, eu não sabia que cobrir os olhos para rezar era algo que o povo judeu sempre faz. Ao sair do micvê, senti uma conexão tão profunda com os judeus de todo o mundo — senti que tenho muitas pessoas para ajudar-me a passar por isso.

No dia seguinte, eu voltava para casa depois de uma ida ao dentista e encontrei meu marido brincando com meu filho, puxando-o no trólei. Foi apenas por um ou dois minutos, mas dado o estado de saúde de meu marido, foi como um milagre para mim. Não sei se isso foi o resultado de minhas preces mo micvê ou da espiritualidade intensificada em minha casa. Mas seja o que for, tem me dado esperança de que meu marido conseguirá o rim de que precisa e que tudo dará certo.

Meu marido aceita que eu use o micvê, e concordou em cumprir as leis da pureza familiar. Isso demonstra como a santidade desta mitsvá realmente o tocou. Ele ainda é francamente contra eu tornar-me "religiosa demais," mas com a ajuda da Sra. Shaffer, tenho conseguido elevar a espiritualidade de meu lar sem que isso o aborreça.

Desde então, ele e eu celebramos nosso décimo aniversário de casamento, e ele sentiu-se bem o suficiente para irmos a um restaurante de luxo para um jantar romântico. Há dias em que ele não consegue nem chegar até o carro, portanto foi muito bom ele ter tido a força não apenas para ir a um bom restaurante, como também fazê-lo elegantemente vestido.

É difícil saber que outras famílias podem ir até o shopping center, ao cinema ou parques de diversões num piscar de olhos, e que para nós uma ida ao restaurante seja tão problemática devido ao estado de meu marido. Mas mantenho as esperanças e, para minha própria surpresa, descobri que agir mais como uma "mulher judia" realmente ajuda.

Você não pensaria que usar o micvê, fazer um jantar especial uma vez por semana no Shabat ou acender velas poderia fazer você se sentir melhor, mas de alguma forma, isso realmente acontece.

Não sou completamente observante, mas espero ansiosamente a cada mês para ir ao micvê, para uma experiência profundamente comovente. Restaura minha espiritualidade, reconectando-me com os judeus de toda parte e de todos os tempos. Creio que o micvê é um dos maiores presentes que D’us concedeu ao povo judeu.

Heidi Hass vive com seu marido Ed e o filho Matthew em Valley Stream, New York. No momento está escrevendo um ensaio que explora a opinião judaica sobre doação de órgãos.

 

 

   
   
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