A Haftará
de Côrach é extraída do Livro de Shmuel. A Haftará
sempre tem uma conexão com a Sidrá, e a Haftará de
Côrach tem uma conexão dupla. Primeiro, porque Samuel era
descendente de Côrach; e segundo, porque há uma semelhança
no conteúdo da Haftará. Explica como Côrach fez uma
rebelião contra Moshê e como Moshê defendeu-se modestamente,
argumentando que jamais usara sua autoridade em benefício próprio,
que nem sequer pedira emprestado o burro de alguém. O Profeta Samuel
usa quase as mesmas palavras. Para assegurar, não
houve uma verdadeira rebelião contra Samuel, mas o próprio
fato de que os judeus exigiam um rei, parecia ser um protesto contra o
grande juiz e profeta que os tinha servido tão fielmente. A conexão
entre a Haftará e a Sidrá da semana, portanto, é
bastante clara.
Samuel
era descendente de Côrach, e isso nos mostra o poder do arrependimento.
O próprio Côrach não se arrependeu, mas seus filhos
se arrependeram em tempo de se salvarem da morte horrível que se
abateu sobre seu pai e os seguidores dele. "E os filhos de Côrach
não morreram." Eles mereceram que o grande Profeta Samuel
fosse um dos seus descendentes. Os filhos de Côrach também
foram cantores e poetas famosos entre os levitas. São os autores
de diversos Salmos que permaneceram para sempre com o povo judeu, juntamente
com aqueles de Moshê e do Rei David, e os outros que juntos nos
deram o Livro de Tehilim.
Elkanah, pai de Samuel, foi um dos membros mais respeitados e ricos da
tribo dos levitas. A mãe de Samuel, Hannah, era uma mulher recatada
e temente a D'us; uma profetisa, que nos deu uma profecia maravilhosa
na forma de uma Canção de Louvor. Hannah era estéril.
Certa vez, quando rezava no Santuário em Shiloh, fez a seguinte
promessa: "Se D'us aceitar minha prece e me conceder um filho, eu
o criarei como um nazarita, cuja vida inteira será dedicada a D'us."
A prece sincera de Hannah foi aceita e ela teve um filho, a quem deu o
nome de Shmuel, Samuel ("D'us ouviu").
Quando Samuel ainda era pequeno Hannah, fiel à sua promessa, levou-o
ao Santuário em Shiloh, para que ali ele aprendesse Torá
sob os cuidados de Eli, o Sumo Sacerdote. Embora ela amasse o filho mais
que à própria vida, e lhe fosse difícil separar-se
dele, ela de boa vontade o levou à Casa de D'us.
D'us revelou-Se muito cedo ao jovem Samuel, e ele cresceu percebendo que
D'us tinha colocado uma grande responsabilidade sobre ele.
Samuel revelou-se ao povo num momento crítico. Ele encontrou-o
dividido entre doze tribos. Era uma nação apenas no nome.
Na verdade, havia doze tribos, doze territórios. A unidade que
Moshê tinha criado no povo e que Yehoshua tinha continuado, desaparecera
durante o governo dos Juizes. O povo estava muito influenciado pelos vizinhos
idólatras e seus padrões eram baixos, tanto moral quanto
politicamente. Até os professores do povo, os Sacerdotes, não
cumpriam os seus deveres. Os filhos de Eli, o Sumo Sacerdote eram mimados,
e suas ações não estavam de acordo com a Torá.
Os filisteus, inimigos dos judeus, se aproveitaram da situação
e atacaram os judeus. A cidade sagrada de Shiloh, onde ficava o Santuário,
foi destruída. O povo estava desesperado. Samuel tinha uma tarefa
difícil pela frente, mas com grande entusiasmo começou a
cumprir seu destino.
Ele percebeu que o povo precisava de professores sérios de Torá,
e portanto reuniu um grupo jovem de profetas. Na cidade de Ramah, terra
de Samuel, todos os profetas se reuniram e aprenderam Torá com
ele, preparando-se para o seu destino, ou seja, fazer o povo retornar
para D'us, e impedir que fosse atraídos pela idolatria das nações
que os cercavam.
Samuel foi logo reconhecido não apenas como profeta mas também
como juiz. Ele foi o último dos juizes; depois dele, o Rei Shaul
se tornou o líder da nação judaica.
Todo ano, Samuel visitava as cidades e aldeias judaicas. Ele não
esperava que o povo fosse até ele. Ele ia ao povo com palavras
bondosas e os encorajava. Explicava a eles que D'us exigia deles, principalmente,
que vivessem uma vida Divina, e cumprissem Seus mandamentos. Isso era
mais importante que meros sacrifícios. Samuel também podia
ser severo quando necessário, e quando um mandamento estava em
jogo ele não fazia concessões.
A influência de Samuel sobre o povo logo ficou evidente. As pessoas
jogaram fora todo tipo de ídolos e começaram a observar
os caminhos da Torá. As tribos, então separadas e distantes,
começaram a se aproximar e mais uma vez o povo se uniu. Com esforços
combinados, o povo começou a se libertar da opressão dos
filisteus. iniciaram uma batalha contra seus piores inimigos e os conquistaram.
Os judeus tomaram de volta dos filisteus todas as cidades que estes lhes
tinham tirado à força na época da destruição
de Shiloh.
Samuel era amado e respeitado pelo povo. Era seu juiz, profeta e pai.
Em seus anos de declínio, porém, Samuel ficou desapontado.
Os judeus tinham medo de ficar sem um líder político. Eles
desejavam um rei, como as outras nações. Samuel era da opinião
de que os judeus não precisavam um rei mortal; D'us era o rei deles,
e enquanto permanecessem reunidos ao redor da Torá, Ele os protegeria;
se eles não permanecessem leais a D'us, um rei não os ajudaria.
Samuel continuou sua sagrada obra como profeta de D'us. Ele não
aceitava pagamento pelo seu trabalho, vivendo da herança que recebera
dos pais.
Samuel viu com desgosto que Shaul falhara na hora de necessidade, quando
desobedeceu à ordem de D'us em conexão com a guerra contra
Amalek. Samuel repreendeu-o severamente, e sem medo, informou-o que D'us
tinha tirado dele o reino. Recaiu sobre Samuel a tarefa de ungir David,
filho de Jesse, como sucessor de Shaul.
David era discípulo e sucessor de Samuel na cadeia da tradição
que começara com Moshê. David recebeu dele tudo que Samuel
tinha aprendido com seus predecessores. Samuel transmitiu a ele tudo que
lhe fora transmitido de geração em geração,
desde a Outorga da Torá no Monte Sinai.
Samuel podia partir deste mundo com uma sensação de alegria,
sabendo que havia deixado um grande líder em seu lugar. Ele faleceu
em Ramah e foi enterrado ali. A nação inteira pranteou grandemente
a perda de seu amado líder Shmuel, o Levita, seu juiz e profeta.