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Há
pouco tempo, participei de um telefonema-conferência envolvendo
29 pessoas. Não era um assunto comercial, mas pessoal. Linhas da
Ucrânia, França, Alasca, Texas, Nova York, e Solon,
Ohio, chamaram Israel para desejar à minha mãe um feliz
aniversário de 60 anos.
O que tornou esta chamada tão especial foi que ela simbolizava
as profundas bênçãos de uma enorme família.
Todos que chamaram eram filhos de minha mãe ou seus cônjuges:
dezessete filhos e filhas, e doze genros e noras (b’li ayin hará).
Todos tiveram a chance de desejar felicidades e fazer bons votos.
Após esta chamada
coletiva, que durou vinte e cinco minutos, uma de minhas irmãs
perguntou: "Qual é o segredo do seu sucesso? Como conseguiu
sobreviver não apenas criando uma família grande, mas também
criando filhos tão estáveis, felizes, realizados e autoconfiantes
como nós?" Minha mãe riu ao ouvir a parte do "autoconfiantes",
e em sua maneira prática insistiu que não foi um grande
feito. "Você apenas cuida de um dia por vez" – insistiu
ela – "e de um filho por vez, e faz aquilo que precisa ser
feito…" A esta altura meu pai entrou na conversa. "Você
está esquecendo o quadro geral" – disse ele, fazendo
uma sinopse da história de sua vida.
"Depois
de todos estes milagres" – concluiu meu pai –
"eu deveria me preocupar por uns poucos pedaços de
pão? …"
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Quando ele tinha
doze anos, estava fugindo de Hitler na Romênia e chegou à
Rússia Comunista. Ali sofreu constante perseguição
por suas crenças religiosas, ao mesmo tempo em que lhe era negado
um visto para deixar o país.
Aos dezenove anos, finalmente tentou cruzar a fronteira para a Polônia.
Foi traído, quando seu "guia" o entregou diretamente
às mãos da polícia. Foi sentenciado a 25 anos de
trabalhos forçados num campo de prisioneiros na Sibéria.
Quando Stalin misericordiosamente morreu sete anos depois, meu pai foi
libertado com todos os prisioneiros políticos.
Ele jamais imaginou que sobreviveria a todos estes acontecimentos. Também
jamais sonhou que encontraria uma mulher que partilhasse sua dedicação
ao Judaísmo e estivesse preparada para o auto-sacrifício
necessário para criar uma família observante de Torá
na Rússia Comunista. Porém ele encontrou minha mãe.
Em 1967, muito antes de a Cortina de Ferro cair, minha família,
eu incluído, recebeu permissão para deixar a URSS. Viajamos
para nos estabelecer em Israel.
"Depois de todos estes milagres" – concluiu meu pai –
"eu deveria me preocupar por uns poucos pedaços de pão?
D’us deu-me forças para sobreviver a todas as provações,
certamente Ele poderia me dar a força para prover as necessidades
de minha família." Todos ficamos em silêncio e pensamos
sobre a sua filosofia.
O Judaísmo
ensina que os filhos são a bênção Divina mais
valiosa que o ser humano pode ter. Não somente são uma bênção,
como a tradição nos ensina que cada filho adicional traz
um novo fluxo de bênçãos a uma família. Cada
criança que vem não diminui a estabilidade material, financeira
e espiritual do lar; pelo contrário, a família inteira se
beneficia das bênçãos Divinas que cada filho traz
consigo.
O
Rebe disse certa vez que é desnecessário para nós
assumir a contabilidade de D’us para descobrir quantos filhos
Ele pode cuidar. "Aquele que alimenta e sustenta o mundo
inteiro" – disse o Rebe – "é capaz
de cuidar dos filhos, bem como dos pais."
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O Rebe disse certa
vez que é desnecessário para nós assumir a contabilidade
de D’us para descobrir quantos filhos Ele pode cuidar. "Aquele
que alimenta e sustenta o mundo inteiro" – disse o Rebe –
"é capaz de cuidar dos filhos, bem como dos pais."
Agora que minha mulher e eu temos nossos próprios filhos, posso
realmente avaliar a dedicação e sacrifício de meus
pais, bem como daqueles que são abençoados com famílias
grandes. Sei que é preciso um estoque interminável de risos,
lágrimas e longas noites em claro para criar cada um dos filhos;
conheço também o nachas, o orgulho, a alegria e a felicidade
que cada filho traz.
Admiro realmente aqueles que põem de lado os melhores anos de sua
vida e os dedicam a criar uma geração de adultos íntegros
e equilibrados. Cada um desses futuros adultos fará sua própria
contribuição ao povo judeu e a toda a humanidade. Cada filho
representa um potencial infinito, totalmente além de qualquer previsão.
Cada criança tem seu próprio dom único para apresentar
ao mundo, e aqueles que o trazem à existência estão
enriquecendo a humanidade.
Se tudo isso foi verdadeiro em todas as gerações, muito
mais em nossa época, quando nosso povo foi cruelmente dizimado
nos fornos de Auschwitz.
Eu sempre conto a história de uma mulher judia, esperando seu quinto
filho, que estava trabalhando no jardim quando o vizinho olhou pela cerca
e falou:
"O quê? Outro? Quantos filhos você está planejando
ter?"
Ela tinha ouvido esta pergunta muitas vezes antes. Sorriu e imediatamente
respondeu: "Seis milhões!"
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