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É definitivamente estranho. Quanto mais altas as
conquistas científicas humanas, mais baixo cai a autoestima humana.
Posso encontrar apenas uma explicação. Quando as pessoas
perdem a fé em D'us, perdem a fé na humanidade também.
Considere os últimos cinco séculos. Primeiro vieram Copérnico,
Kepler e Galileu, e nos ensinaram que a terra, nossa habitação,
não está no centro do universo. Não é sequer
o centro do sistema solar.
Então ficou ainda pior. O sistema solar é apenas uma minúscula
parte de uma galáxia com talvez cem bilhões de estrelas.
A galáxia é somente uma parte pequena do universo, com cem
milhões de outras galáxias. O planeta que certa vez consideramos
tão vasto é um mero grão de poeira na superfície
do infinito.
Então veio Spinoza e nos disse que o livre arbítrio é
uma ilusão. Somos fisicos. Todas as coisas fisicas estão
sujeitas a causas naturais. A conexão ente causa e efeito é
necessária. Portanto não há liberdade, exceto a consciência
da necessidade.
Então veio Marx e nos disse que a mais sagrada das atividades humanas,
a religião, foi um instrumento planejado pelos ricos para manter
os pobres em seu lugar, dizendo-lhes que seu sofrimento é a vontade
de D'us.
Então veio Darwin e disse que não há nada diferente
em ser humano, afinal. Não somos a imagem de D'us. Somos primos
próximos dos macacos.
Daí veio Freud e disse que nossos instintos mais elevados são
na verdade os mais baixos. Há muito tempo os filhos da tribo se
juntaram para matar seu pai, o macho alfa, para poderem tomar seu lugar.
Por fim eles foram assombrados pela culpa – ele chamou isso de retorno
dos reprimidos – e é isso que é a religião.
Ele a chamou de neurose obsessiva da humanidade.
Veio então os neo-darwinianos do nosso tempo para nos dizer que
somos genes egoístas e tudo aquilo que parece idealismo, virtude
e nobreza de caráter está na verdade apenas a um gene de
distância de reproduzir-se na próxima geração.
“Arranhe um altruísta”, disse Michael Ghiselin, “e
veja um hipócrita sangrar.”
Nossa própria existência, dizem eles, é um mero acidente.
Nossa evolucão foi ao acaso. A natureza que nos originou é
cega. Se tivéssemos de voltar no tempo e reviver o processo evolutivo
não há garantia, nem sequer uma probabilidade, de que o
Homo sapiens fosse emergir.
Tudo isso estava sendo dito e pensado enquanto os seres humanos estavam
realizando aquilo que nenhuma outra forma de vida jamais realizou, o que
nenhuma geração anterior de seres humanos sequer pensou
ser possível.
Portanto, quanto mais elevada é a nossa conquista científica,
mais baixa é a nossa auto-avaliação. Agimos como
anjos; nos vemos como vermes. Às vezes você tem de ser muito
inteligente de fato para acreditar numa proposição tão
tola.
Sim, somos parte da natureza, mas também temos cultura. Sim, nossas
ações têm causas, mas também têm propósitos,
aqueles que imaginamos livremente e escolhemos livremente fazer acontecer.
Sim, a religião nos consola pelo nosso destino, mas também
nos impele a acreditar que com a ajuda de D'us podemos mudá-lo.
Daí os cristãos, judeus e outros que lutaram para abolir
a escravidão naquela época, a pobreza global atualmente.
Sim, somos parte da família darwiniana da vida. Assim disse Cohêlet:
“Um homem não tinha preeminência sobre um animal; pois
tudo é vaidade.”
Podemos todos nos sentir assim numa tarde chuvosa de quinta-feira. Porém
um estado de espírito não é uma verdade.
Nenhum animal pintou uma caverna equivalente ao teto da Capela Sistina.
Nenhum animal disse: “Ser ou não ser.” Nenhum animal
filosofou dizendo que ele ou ela poderia ser mais que um humano peludo.
Nenhum animal jamais foi ateu, pelo que eu saiba. Podemos compartilhar
muitos dos nossos genes com os primatas, como fazemos com as moscas das
frutas e com o fermento, mas ainda não consigo ver a semelhança
familiar.
Chego à conclusão oposta. Enquanto os judeus se preparam
para Yom Kipur, o mais sagrado dos dias, quando ficamos perante D'us em
julgamento e pedimos perdão a Ele, eu sei que podemos fazer o que
nenhuma outra forma de vida pode. Podemos dizer: “Eu errei.”
Tudo que vive, age. Somente nós podemos expressar remorso pelos
nossos atos. Somente nós podemos tomar a resolução
de mudar.
Somos pequenos, mas somos capazes de grandeza, egoístas mas muitas
vezes altruístas, pó da terra mas também a imagem
de D'us. Quando eu tenho fé em D'us descubro que recupero também
a minha fé na humanidade.
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