Por Rabino Simon Jacobson
 
  Terra em troca da paz?
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  Por Yanki Tauber
 

Uma vez que D'us nos deu cérebro, por que Ele precisou nos dar a Torá?

A Torá, afinal, é verdade. E o cérebro é um pedaço de massa cinzenta com a fantástica capacidade de definir verdades. Então por que um código de vida Divinamente ordenado? Não é para isso que temos um cérebro, para podermos entender tudo por nós mesmos?

Esta pergunta pode ser feita – e respondida – em muitos níveis. Porém a explicação mais simples é que embora o raciocínio seja uma ferramenta muito poderosa, existe alguma coisa no cérebro humano que é ainda mais poderoso – o desejo.

Quando queremos muito alguma coisa, desesperadamente, agarramos nosso cérebro, torcemos seu braço para trás, e o forçamos a fabricar tamanha baboseira, que qualquer pessoa que nos observe à distância de uma geração ou cultura exclamará: "O que aconteceu com aquele sujeito? O cérebro vazou para fora da cabeça?"

Obviamente, nosso cérebro está bem aqui, dentro da cabeça. Está até fazendo hora extra. É que simplesmente está funcionando ao contrário. Em vez de entender a verdade, está procurando uma maneira de construir um fundamento lógico para aquilo que queremos que seja verdade.

É por isso que D'us nos deu a Torá – um conjunto de verdades que não são produto do nosso cérebro, mas das verdades inerentes sobre as quais Ele baseou Sua criação da realidade e do universo. O propósito da Torá não é nos absolver da necessidade de usarmos nosso cérebro – pelo contrário, a Torá espera que o usemos ao máximo para compreender o quê, o porquê e o como das verdades que ela incorpora. Porém isso nos possibilita saber quando nosso cérebro está funcionando de trás para a frente. Se o resultado final de nosso raciocínio e argumentação não combina com as verdades Divinas contidas na Torá, estamos fazendo algo de errado.
O povo de Israel deseja desesperadamente a paz. E nós desejamos desesperadamente que nossos inimigos queiram isso tanto quanto nós. Simplesmente não estamos preparados para aceitar uma realidade que contradiz este desejo avassalador.

As pessoas que nos observam de fora coçam a cabeça, dizendo: "Qual é o problema com esse povo? O cérebro deles vazou para fora da cabeça? Não estão vendo que toda vez que fazem concessão aos seus inimigos, ou mesmo falam sobre fazer concessões – mais pessoas morrem?
Mais judeus morrem, mais árabes morrem, e aumenta o sofrimento de ambos os povos. Porém quando eles fazem pé firme, se recusam a ceder qualquer terra, e combatem os assassinos com inteligência e determinação, ocorrem menos baixas entre os judeus, menos mortes entre os árabes, e a vida dos dois povos melhora. Eles têm estado neste ciclo de vai-e-volta por quase 100 anos, e toda vez acontece a mesma coisa!

Mas mesmo quando perdemos a capacidade de pensar com coerência, ainda temos a Torá. Portanto, o que diz a Torá sobre a questão de "terra pela paz"?

Existe uma lei explícita, inequívoca, no Shulchan Aruch, o "Código de Lei" da Torá. É o primeiro volume, Orach Chayim, seção 329. Esta lei nem sequer fala sobre a terra de Israel – aplica-se igualmente a Jerusalém, ao Brooklyn em Nova York, e a Wellington na Nova Zelândia.

A lei descreve o seguinte cenário: Um exército hostil ataca você, ou ameaça atacar, e exige um pedaço de território. Eles dizem: "Dê-nos um pedaço de terra, e o deixaremos em paz." O tema em questão é picuach nefesh, salvar vidas, que suplanta toda a Torá. Vamos para a guerra para impedir a ocupação do território pelo inimigo, ou cedemos a terra em retorno por uma promessa de futura não-agressão?

A Torá decreta: Ceder território tornará você mais vulnerável ao ataque. Ceder território em troca de uma promessa de "paz" não é apenas uma aposta insensata com sua vida e a vida de seu povo – é uma aposta que você certamente perderá. Não ceda território que torna você mais vulnerável ao ataque, mesmo que você precise ir à guerra para impedir isso. É uma questão de picuach nefesh – impedir a perda de vida. A guerra é algo perigoso, mas a pessoa deve ir à guerra para salvar vidas.
Aqui não se trata da santidade da terra (embora a Torá tenha muito a dizer sobre isso). O fato de a terra de Israel ser a eterna possessão dos judeus de todas as gerações, e ninguém ter o direito de dá-la a mais ninguém, não é esta a questão (embora a Torá tenha muito, muito, a dizer sobre isso também). Trata-se de picuach nefesh, salvar vidas.

Proteger sua própria vida e a vida dos seus entes queridos geralmente é uma questão de bom senso. É também um ideal da Torá. O bom senso às vezes nos falha. É por isso que temos a Torá.

 
   
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