O particular não é público
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  Por Rachel Davids
 

Às vezes me pergunto se as pessoas percebem que um comentário ligeiro pode causar tanto sofrimento. Apenas porque sua provação é bem conhecida, as pessoas presumem que podem lhe perguntar qualquer coisa sobre isso, em público? Casais sem filhos, pessoas que são doentes ou desfiguradas, alguém que está enfrentando problemas nos negócios ou passando por um divórcio; a lista não tem fim. Ser solteiro num mundo voltado para o casamento é minha experiência pública de sofrimento.

Encolho-me ao pensar que tantas pessoas sabem do meu desafio (na comunidade em que vivo, ser solteira é visto como o maior desafio da vida). Sou forçada a falar sobre coisas muito particulares e responder perguntas que eu jamais faria a alguém. A facilidade com que as pessoas falam comigo sobre namorar e sobre minha vida pessoal é tão dolorida que me tira do sério.

Comecei a dar notas para as palavras ferinas numa escala de 1 a 10; isso faz com que eu me sinta melhor e ajuda-me a reenquadrar a idiotice das pessoas em “o que elas estão pensando?” para que eu possa rir. Sim, todos têm boa intenção, mas se eu ouvir novamente mais uma dessas expressões … “Cada encontro está deixando você mais próxima do Sr. Certo.”; “Este será ‘o’ ano” ou “Em breve para você...”, “Apenas não conheço ninguém bom o suficiente para você.”

Numa mesa do Shabat, crianças pequenas olham para mim e perguntam se tenho marido, e por que não. A semana passada numa loja casher fui abordada por uma mulher nada discreta que ouvira falar sobre um cara da minha idade nesse bairro. Eu ia perguntar para ela se ele tinha uma vibração especial... ou se eu deveria apenas “agarrar a chance” porque nesse mercado uma moça não deve “ser seletiva”.

O cientista japonês Masaru Emoto publicou um livro com suas descobertas sobre pesquisas mundiais a respeito dos efeitos da água, provas de que pensamentos, palavras, ideias e música afetam a estrutura molecular da água. Ele alega que se a fala ou os pensamentos humanos forem dirigidos às gotas de água antes que elas congelem, as imagem dos cristais de água resultantes serão bonitos ou feios, dependendo de quão positivas ou negativas foram as palavras ou pensamentos. Imagine como as palavras são poderosas se podem afetar a estrutura molecular da água!

“O que devo dizer?” A resposta na maioria das vezes é: “Nada.” As pessoas não têm a intenção de atirar pedras e causar sofrimento; na verdade elas podem realmente ser preocupadas e carinhosas. As pessoas querem saber: “O que devemos dizer?” e a resposta com frequência é “Nada”. A chave é pensar antes de falar. Avalie se aquilo poderia causar algum sofrimento. Se a resposta for sim, então não diga.

Gostamos de saber todas as notícias e de estar envolvidos, mas isso não deveria ser às custas de outra pessoa. Se um assunto delicado vem à baila, talvez reconhecer que você não tem nada a dizer e admitir isto é uma maneira de apoiar. Você não precisa ter todas as respostas.

Ninguém pretende dizer coisas que partem o seu coração. As pessoas apenas não percebem que quando você diz adeus a elas você quer ficar na cama e chorar. Passei muito tempo me perguntando por que eu era o recipiente de tantos desses “comentários preocupados”. Acredito realmente que D'us está me ensinando a ser mais sensível. Quando vejo alguém numa situação que não entendo ou que não posso sentir, tenho de fazer uma pausa antes de falar. Não sei como a pessoa se sente. Não sei o que a fará encolher-se e desejar se esconder. Talvez aquilo que eu esteja a ponto de dizer possa realmente ofendê-la.

Talvez D'us tenha me feito uma receptora de situações constrangedoras, muitas vezes, para que eu pudesse ser mais cuidadosa com os outros. Quando quero fazer uma pergunta inadequada sem um motivo real, penso duas vezes. A sensibilidade parece ser um exercício real que exige muito treinamento.

D'us me deu a oportunidade de ter bastante treinamento, e se isso quer dizer que posso impedir que alguém fique magoado, isso não é uma bênção?

 

 

 
   
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