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Em 1879, o socialista
alemão Wilhelm Marr criou um partido político baseado numa
plataforma peculiar: o ódio aos judeus. Embora não fosse
original – os judeus tinham sido o alvo de ódio durante dois
milênios – Marr oferecia ao mundo um novo termo para esta
antiga intolerância. A Antisemiten-Liga (Liga Antissemita) de Marr
nos deu o “antissemitismo”.
Durante 2.000 anos, os descendentes de Avraham, Yitschac e Yaacov têm
sido bodes expiatórios, forçados em guetos, expulsos de
países inteiros, restritos de algumas profissões, espancados
e mortos. À medida que o mundo evolui, movimentos políticos
surgem e desaparecem, a humanidade viaja de culturas agrárias ao
pós-industrialismo, o ódio aos judeus continua sendo uma
constante.
Mais recentemente, o Terceiro Reich tentou aniquilar todos os judeus.
O esforço falhou, mas a metade dos judeus do mundo foi dizimada,
incluindo 1.5 milhão de crianças.
Essa escuridão não ficou restrita à Europa. Atualmente,
é difícil imaginar que em 1942, o Congresso dos Estados
Unidos recusou-se a abrir uma exceção na sua política
de imigração que teria deixado 25.000 crianças judias
entrarem no país. Muitas, se não a maioria dessas crianças,
morreram em campos de concentração. Durante o debate sobre
a lei, a prima do Presidente Franklin Delano Roosevelt, Sarah Delano,
avisou que “25.000 crianças engraçadinhas logo se
tornarão 25.000 adultos feios.”
Naqueles dias, ainda era moda manifestar estes pensamentos em público.
Após a Segunda Guerra Mundial, e tendo enfrentado as chocantes
imagens da Solução Final de Hitler, o mundo parecia declarar
uma moratória ao antissemitismo. Em 1948, a nascente Nações
Unidas ajudou a criar o Estado de Israel. Os judeus se tornaram aceitos
na sociedade, bem como nas profissões e universidades das quais
tinham sido restringidos anteriormente.
Apenas leves lembranças do passado remanesceram: o antissemistismo
de países comunistas patrocinado pelo estado; os pequenos e isolados
grupos de ódio aqui nos Estados Unidos; e o crescente ódio
aos judeus no mundo islâmico.
Infelizmente, a Grande Remissão não durou; a meia-vida de
tolerância para com os judeus parece ter terminado.
Atualmente, uma virulenta corrente nova de antissemistismo tem surgido.
É global, irrompendo das ruas de Paris (onde judeus têm sido
espancados) à América do Sul (onde o bombardeio ao Centro
Judaico de Buenos Aires em 1994 ceifou 86 vidas) à Turquia (onde
a sinagoga de Istambul foi bombardeada em 2003) e até em locais
como Malásia e Paquistão, onde não existe nenhum
judeu.
Enquanto isso, a revolução high-tech tem nos dado feroz
antissemitismo na Internet e na TV via satélite. Veja a mini-série
“Protocolos dos Sábios de Sion”, recentemente transmitida
a dezenas de milhões de muçulmanos. Livros escolares nas
nações islâmicas ensinam o ódio aos judeus
aos muito jovens. Mais uma vez, os judeus são vistos como diferentes
e estranhos, possuindo poderes além daqueles das pessoas normais.
Uma pesquisa feita após o Onze de Setembro mostrou que a grande
maioria dos sauditas acredita que os ataques às Torres Gêmeas
somente poderia ter sido feito por judeus.
Ao contrário do antissemitismo dos tempos antigos, quando o ódio
aos judeus com frequência emanava de movimentos nacionalistas de
direita, o ódio de hoje brota da esquerda. Veja os desenhos nas
revistas e jornais da esquerda, que rivalizam com as obras do editor nazista
Julius Streicher; boicotes acadêmicos de eruditos judeus nas universidades;
e o contínuo vitríolo vindo da ONU, que, na sua conferência
de 2001 em Durban, promoveu a mais antissemítica assembleia política
de planejamento econômico desde a de Nuremberg 60 anos antes. O
novo antissemitismo cruza o espectro político, as fronteiras nacionais
e as linhas econômicas.
Existem maneiras de se combater esta nova onda de ódio, mas deixe-me
sugerir algo incomum. Creio que o local para começar a combater
o antissemitismo é dentro de nossas próprias comunidades.
Devemos reunir forças numa voz clara e forte. As organizações
judaicas, como as conheço muito bem, podem atolar-se em lutas internas.
Vamos olhar a longo prazo, reconhecer onde realmente está o perigo,
e trabalhar juntos para detê-lo.
Rabi Akiva disse: “Ama teu próximo como a ti mesmo. Esta
é uma das maiores lições da Torá.” Com
uma voz unificada, o povo judeu pode conseguir milagres. Já fizemos
isso antes. Devemos trabalhar juntos agora, porque a alternativa é
dolorosa demais para ser contemplada.
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