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  O nível de perfeição
 
Por David Sacks
 

O esporte nos Estados Unidos não é apenas uma indústria multibilionária. Rara é a criança que cresceu nos Estados Unidos que não haja participado de algum esporte de competição, seja basquete, handball, futebol ou baseball. Apesar de o baseball ser um esporte típico americano, a mensagem desta história tem seu apelo universal, pois trata de valores de sensibilidade, auto- estima e aceitação.

No Brooklin, Nova York, existe uma escola chamada Hush, que cuida de crianças com problemas motores e de aprendizado. Algumas crianças permanecem em Hush por toda sua carreira escolar. Outras freqüentam Hush durante a maior parte da semana e vão a uma escola convencional nos demais dias.

Durante um jantar para coleta de fundos na escola, o pai de um dos alunos fez um discurso que nunca se apagará da mente de todos que lá estavam. Após elogiar a escola e seu dedicado corpo de funcionários, ele exclamou com angústia na voz: “Onde está a perfeição em meu filho Shaya? Tudo que D'us faz, Ele o faz com perfeição. Mas meu filho não consegue entender as coisas como as demais crianças. Meu filho não consegue lembrar-se de fatos e figuras como as outras crianças o fazem. Onde está a perfeição de D'us?” A audiência ficou chocada com a questão e triste com a angústia do pai.

“Eu acredito”, respondeu o pai, “que quando D'us traz uma criança como esta para o mundo, a perfeição que Ele procura está na maneira como as pessoas reagirão a esta criança”.

Então ele contou a história sobre seu filho Shaya.

Shaya freqüentava Hush durante a semana e a Yeshivá Darchei Torá aos domingos. Numa tarde de domingo, Shaya e seu pai vieram à Yeshivá quando seus colegas de classe jogavam beiseball. Ele adorava beiseball, mas devido à sua falta de coordenação, nem sempre era escolhido para jogar. O jogo estava em andamento, quando Shaya e seu pai se aproximaram do campo. Shaya então falou: “Pai, você acha que consegue que me deixem jogar?”
O pai de Shaya sabia que seu filho não era do tipo ‘atlético’ e que muitos dos meninos não iriam querer ele no time. Mas ele sabia também que se seu filho pudesse jogar, isto lhe daria um confortável sentimento de auto-estima.

O pai aproximou-se de um dos garotos no campo e perguntou: “Vocês acham que meu Shaya poderia entrar no jogo?” O garoto olhou em volta para seus colegas de time e como ninguém mais se manifestasse, e o time estava perdendo e o jogo quase no final, ele falou: “Por que não?” e Shaya entrou.

O pai de Shaya estava muito feliz e o garoto com um largo sorriso. Shaya vestiu uma luva e foi para o centro do campo. Não houve protestos do outro time, que estaria agora enfrentando um time com um jogador a mais.

No final daquela etapa, o time de Shaya conseguiu marcar alguns pontos, mas ainda estavam três pontos atrás do outro time. No final da nona etapa conseguiram empatar e Shaya era o próximo a rebater. Será que o time deixaria Shaya como rebatedor a esta altura do jogo, talvez perdendo a chance de ganhá-lo?

Mas, para surpresa geral, falaram para Shaya pegar o taco e tentar rebater, marcando o ponto derradeiro. Todos sabiam que era impossível, pois Shaya nem sabia como segurar o taco corretamente, muito menos rebater com ele. Entretanto, Shaya se dirigiu até a sua base. O arremessador veio alguns passos para frente, para poder lançar a bola com menos força, para que Shaya pudesse ao menos ter contato com ela.

O primeiro arremesso veio e Shaya rodou com o taco, errando a bola. Um dos colegas do time veio até Shaya e juntos seguraram o taco, se viraram na direção do arremessador e aguardaram o próximo arremesso. O arremessador novamente veio mais para frente, para poder mandar uma bola mais ‘suave’ para Shaya.

Quando a bola estava chegando, Shaya e seu colega giraram o taco e juntos rebateram a bola de volta para o arremessador, uma bola lenta e rente ao chão. O arremessador pegou a bola e poderia facilmente tê-la jogado para seu colega da próxima base. Teriam ganhado o ponto e acabado com o jogo.

Ao invés disto, o arremessador pegou a bola e lançou-a bem para o alto e para a direita, muito longe do alcance do rapaz da primeira base. Todos começaram a gritar: “Shaya, corra para a primeira base! Corra para a primeira!” Nunca em sua vida Shaya havia corrido para a primeira base.
Ele correu com toda sua força até a primeira base, com os olhos arregalados, um pouco assustado e surpreso. Quando atingiu a base, o rapaz desta base já estava com a bola na mão. Ele poderia tê-la jogado para a segunda base, fechando o ponto enquanto Shaya ainda estava correndo. Mas havia entendido qual era a intenção do arremessador, e arremessou a bola bem para o alto e longe do rapaz da segunda base, enquanto todos gritavam: “Shaya, corra para a segunda! Corra para a segunda!”

Shaya correu para a segunda base. Quando chegou lá, o rapaz do outro time virou-o em direção à terceira base e gritou: “Corra para a terceira!”

Quando Shaya contornou a terceira base, os garotos de ambos os times corriam atrás dele, gritando: “Shaya, corra para ‘casa’ (a quarta e última base do campo)! Para ‘casa’!”
Shaya correu para ‘casa’, pisou na quarta base e todos os 18 garotos que estavam jogando levantaram-no sobre os ombros e o carregaram como a um herói, que conseguiu marcar o ponto derradeiro e ganhar o jogo para seu time.

“Naquele dia”, falou o pai, que agora tinha lágrimas escorrendo por sua face, “aqueles dezoito garotos chegaram a um nível de perfeição. Eles demonstraram que não são apenas aqueles agraciados com talento que devem ser reconhecidos, mas também os que têm menos talentos. Eles também são seres humanos, também têm emoções e sentimentos e querem se sentir importantes!”

Esta é a excepcional lição deste episódio: “Freqüentemente procuramos favorecer e honrar aqueles que têm mais que nós. Mas existem pessoas que têm menos amigos que nós, menos dinheiro e menos prestígio. Estas pessoas especialmente precisam de nossa atenção e reconhecimento. Devemos tentar atingir o nível de perfeição nos relacionamentos humanos que os garotos da Yeshivá Darchei Torá conseguiram.

     
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