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A força de um povo é testada em tempos difíceis.
Estes são tempos difíceis. Os eventos se sucedem a passos
largos: a ameaça iraniana de varrer Israel do mapa; a eleição
pelos palestinos do Hamas, um grupo empenhado na destruição
de Israel; a violência que se seguiu à publicação
das caricaturas dinamarquesas; e o julgamento de Abu Hamza.
Esses
políticos sabem que as investidas contra Israel são
um ataque mal disfarçado contra o Ocidente e sua liberdade.
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Em nível local, houve a votação do
Sínodo da Igreja da Inglaterra para considerar um pedido de destituir
as empresas associadas a Israel; a pesquisa Populus dos muçulmanos
britânicos; e os artigos do Guardian acusando Israel de ser um Estado
apartheid. Estes de maneira geral têm menores conseqüências,
mas aumentaram nosso senso de vulnerabilidade. Como devemos reagir?
Primeiro, vamos reconhecer nossa ira e sofrimento. Israel
tem assumido grandes riscos pela paz, porém parece que a cada etapa
é recompensado com mais hostilidade. A comunidade judaica na Grã-Bretanha
tem contribuído imensamente para a vida nacional, porém
após 350 anos ainda nos sentimos ameaçados. Nossos temores
não são infundados. Temos lembranças longas e amargas.
Reconhecemos o perigo quando o avistamos.
Sentir raiva e sofrimento é natural. Agir baseado
nisso, porém, é algo bem diferente. É isso que nossos
inimigos previram. Muitas vezes, é isso que eles pretendem. Agir
no calor da emoção pode ser duro e sofrer um mau julgamento.
Pode piorar as coisas. Pode levar as pessoas a se concentrarem no momento,
em vez de pensarem a longo prazo. Principalmente se um grupo é
pequeno, deve escolher com cuidado seus campos de batalha. Sempre que
possível, não deveria lutar sozinho. Deve conquistar amigos,
e basear seu caso em elevados padrões morais. Isso não é
fraqueza, mas sabedoria. Seja deliberado no julgamento, dizem os Sábios.
Eles poderiam ter acrescentado: especialmente quando há muito em
jogo.
Carregamos conosco elementos decisivos para a coragem. O povo judeu tem
sobrevivido por mais tempo que qualquer outra religião ou civilização
conhecida pelo Ocidente. Foi ameaçado pelos egípcios, assírios,
babilônios, Grécia e Roma antigas, impérios medievais
do Cristianismo e Islã, e no Século Vinte pelo Terceiro
Reich e União Soviética. Cada um deles certa vez passou
por cima do mundo como um colosso, mas todos terminaram sendo relegados
às páginas da História.
O povo judeu – aparentemente fraco, pequeno, indefeso – ainda
vive. Estes embates não ocorreram sem custo humano, às vezes
imenso. Porém após cada um deles, o povo judeu reconstruiu-se,
nunca de maneira tão grande como depois do Holocausto. Se a força
do povo é testada em tempos difíceis, o nosso é um
povo com uma força que inspira respeito.
Devemos agora trabalhar como uma comunidade, desenvolvendo estratégias,
reunindo nossa sabedoria, cultivando nossos aliados, partilhando nossos
pontos fortes.
A
crise que a humanidade enfrenta no Século Vinte e Um não
é apenas política ou econômica, militar ou
diplomática. É moral e espiritual.
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Numerosos encontros com esta finalidade já ocorreram
nos últimos dias, e o trabalho deverá continuar nos próximos
meses. Devemos reagir com dignidade e calma, pensando a longo prazo, evitando
reações previsíveis, jamais nos rebaixando ao nível
de nossos oponentes. Em épocas tensas, a vantagem vai para o grupo
que tem nervos mais fortes. Depois de tudo que tem se abatido sobre o
nosso povo, nós temos nervos de aço. O fato mais importante
sobre a situação atual é que nos assuntos importantes,
nem Israel nem o povo judeu estão sozinhos. Um Irã com capacidade
nuclear não é uma ameaça somente para Israel, mas
para o mundo todo.
Condoleezza Rice e Tony Blair viram isso claramente. O mesmo ocorreu com
Jacques Chirac e Angela Merkel. A declaração de Chirac em
19 de janeiro, de que a França estava preparada para lançar
um ataque nuclear contra qualquer país que patrocinasse um ataque
terrorista contra os interesses franceses, e a comparação
de Ahmadinejad a Hitler feita por Angela Merkel foram sinais muito significativos.
Esses políticos sabem que as investidas contra Israel são
um ataque mal disfarçado contra o Ocidente e sua liberdade.
Quanto à eleição do Hamas, isso foi inevitável
por causa da corrupção do regime anterior. Todo palestino
sabia disso, o principal, porém, é que o mesmo ocorria com
os principais políticos europeus, que mesmo assim continuaram a
apoiar a administração de Arafat. A política de "jante
com o diabo, desde que seja um diabo que você conhece" funciona
a curto prazo, mas nunca a longo. Os Estados Unidos descobriram isso após
terem patrocinado os radicais mujahedin – os primeiros associados
de Osama bin Laden – em 1980 no Afeganistão. A Europa não
deve cometer este erro novamente.
A violência que se seguiu às caricaturas na
Dinamarca excederam todos os limites. Justiça seja feita, os representantes
da comunidade islâmica britânica se dissociaram disso. As
caricaturas não deveriam ter sido publicadas. Mas se a liberdade
de expressão tem limites para a impressa dinamarquesa, tem limites
para aqueles que protestam contra a imprensa dinamarquesa. Como disse
John Locke, o arquiteto da tolerância, há mais de três
séculos: "É irracional que qualquer um que tenha liberdade
de religião não reconheça como um princípio
que ninguém deve ser perseguido ou molestado porque discorda dele
na religião."
Em todos estes problemas apoiamos aqueles que estão preparados
para lutar pela tolerância, pela resolução não
violenta dos conflitos, pela moderação, respeito mútuo,
auto-restrição e pelas civilidades de uma sociedade livre.
Esta não é uma luta judaica mas humana, e trabalharemos
com pessoas de boa vontade, qualquer que seja sua fé ou ausência
dela.
O voto do Sínodo da Igreja da Inglaterra para "considerar"
uma chamada para destituir determinadas empresas associadas com Israel
foi equivocada até em seus próprios termos. O resultado
imediato será a redução da habilidade da Igreja para
agir como força de paz entre Israel e os palestinos pelo tempo
em que a decisão permanecer válida. A essência da
mediação é a disposição em ouvir ambos
os lados.
A ocasião não poderia ter sido mais imprópria. Israel
arriscou-se à guerra civil para cumprir a retirada de Gaza, a primeira
vez na história do Oriente Médio que um país cedeu
território conquistado numa guerra defensiva sem uma única
concessão, nem sequer a mais nominal, por parte do outro lado.
Israel enfrenta dois inimigos, Irã e Hamas, declarados em sua ameaça
de eliminá-lo. Precisa de apoio, não de ser transformado
em vilão.
Durante anos eu tenho conclamado grupos religiosos na Grã-Bretanha
para enviarem uma mensagem de amizade e coexistência a zonas de
conflito em todo o mundo, em vez de importarem os conflitos para a própria
Grã-Bretanha. O efeito da eleição do Sínodo
será o oposto. A Igreja preferiu apoiar a política do Oriente
Médio sobre a qual não tem influência, sabendo que
haverá as repercussões mais adversas numa situação
sobre a qual ela tem enorme influência, ou seja, as relações
cristãs-judaicas na Grã-Bretanha.
É por isso que não podemos deixar o problema de lado. Se
havia uma vela de esperança acima de todas as outras após
o Holocauto, era que judeus e cristãos pelo menos aprenderam a
conversar entre si após dezessete séculos de hostilidades,
que levaram a exílios, expulsões, guetos, conversões
forçadas, disputas, libelos, inquisições, morte nas
fogueiras, massacres e pogroms. Não podemos deixar que essa vela
seja extinta.
A Igreja poderia ter escolhido, em vez de penalizar Israel, investir na
economia palestina. Isso teria ajudado os palestinos. Teria tido o apoio
da maioria dos israelenses e da maioria dos judeus. Na verdade é
um judeu australiano, Sir James Wolfensohn, antigo líder do Banco
Mundial, que está supervisionando a reconstrução
da economia palestina em nome do Grupo dos Quatro, e que pessoalmente
angariou fundos para adquirir para os palestinos as instalações
agrícolas israelenses em Gaza. O gesto da Igreja incomodará
israelenses e judeus sem ajudar os palestinos.
Como uma comunidade, devemos nos engajar mais ativamente na promoção
das boas relações da comunidade, especialmente em nível
local. Devemos ensinar a nós mesmos e aos outros a história
do vínculo de quatro mil anos do nosso povo com a Terra de Israel;
como fomos expulsos por um império após o outro, mas sempre
retornamos; como Israel nos dias dos Profetas e hoje buscou incansavelmente
a paz, somente para ser recompensado com a guerra. Devemos trabalhar com
jornalistas que sabem que a verdade nunca é partidária.
Devemos buscar o apoio de políticos que apelem aos instintos mais
elevados, não aos mais baixos, do povo. Temos inimigos, mas temos
muitos amigos.
Acima de tudo, devemos ficar firmes no sistema de valores que Avraham
e o Judaísmo legaram ao mundo. A crise que a humanidade enfrenta
no Século Vinte e Um não é apenas política
ou econômica, militar ou diplomática. É moral e espiritual.
Podemos ser verdadeiros com a nossa fé enquanto somos uma bênção
a outros, independentemente de sua fé? Podemos considerar um chamado
de D'us para consertar, não para destruir? A agressão é
filha do medo, e o único antídoto duradouro é a fé
que declara: "Embora eu caminhe pelo vale da sombra da morte não
temerei mal algum, pois Tu estás comigo."
Jamais deixaremos de amar Israel, rezar pela paz, e trabalhar pelo bem
da humanidade. Nossos nervos devem continuar fortes, nosso julgamento
calmo e nossa linguagem pacífica. E venceremos. Pois se a História
Judaica tem uma mensagem para o mundo, é que existe algo no espírito
humano que não pode ser derrotado – algo que deu e ainda
dá ao nosso povo pequeno aflito, lançado pela tempestade,
a força de sobreviver a todos os seus inimigos, enquanto amplia
a imaginação moral da humanidade.
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