Dois judeus idosos, que não se viam há
50 anos, se encontraram, aos poucos reconheceram um ao outro e se abraçaram.
Foram ao apartamento de um deles para conversar sobre os tempos passados.
A conversa durou horas. Cai a noite. Um pergunta ao outro. “Olhe
para o seu relógio. Que horas são?”
O Judaísmo é a tentativa corajosa
de criar aquele beijo romântico entre céu e terra, revelar
a verdade que o D'us dos céus e a realidade da terra são
realmente um.“Não tenho relógio,” diz
o dono da casa.
“Então olhe para o relógio de parede.”
“Não tenho relógio de parede.”
“Então como sabe que horas são?”
“Está vendo aquela trombeta no canto?
É como sei que horas são,” disse o homem.
“Está louco,” disse o visitante. “Como pode
saber as horas com uma trombeta?”
“Vou lhe mostrar.” O dono da casa pega a trombeta e sopra
até produzir um barulho ensurdecedor para fora da janela aberta.
Trinta segundos depois, um vizinho furioso grita: “Duas e meia
da manhã e você está tocando trombeta?”
O homem volta-se para o amigo e diz: “Viu só? É
assim que se sabe as horas com uma trombeta!”
Discurso Confiante
Há uma adorável prece recitada cinco vezes em Yom Kipur.
O texto diz: “E assim, Eterno nosso D'us, concede honra ao Teu
povo, glória àqueles que estão em reverência
perante Ti, boa esperança para aqueles que Te procuram, discurso
confiante para aqueles que anseiam por Ti, júbilo à Tua
terra, e alegria à Tua cidade…”
Qual o significado dessas palavras, “Discurso confiante àqueles
que anseiam por Ti?”
A Obsessão
Um dos grandes enigmas da história é a obsessão
do mundo pelo povo judeu.
Desde o nosso início há 3.700 anos, e no decorrer da nossa
longa história até o dia de hoje, o povo judeu tem evocado
uma reação apaixonada. Os judeus, assim parece, jamais
souberam como jogar na “liga menor”, ficando fora dos holofotes
do mundo. Temos sempre jogado na “grande liga”, apanhados
no centro dos eventos mundiais. Nos últimos quatro milênios,
quase toda cultura ou civilização notável tem ficado
obcecada pelos judeus, seja para o melhor ou para o pior.
Não apenas o mundo cristão
e o islâmico. Até o mundo secular parece respeitar os judeus
que respeitam a si mesmos e à sua fé.Quando
um guru se senta no topo de uma montanha – quem pisca um olho?
Quando os xamãs indianos fumam peiote e entram em transe, quem
presta atenção? Quando um monge se isola num mosteiro,
quem percebe? Mas quando o mundo vê um judeu, mesmo que seja um
judeu assimilado e que se odeie, passa por uma reação
alérgica. De repente, todo mundo começa a espirrar.
A Indonésia tem uma população de 300 milhões
de habitantes. Com que frequência você ouve falar neles?
Israel tem sete milhões de habitantes, porém mal se passa
um dia sem notícias de primeira página sobre este pequeno
país do tamanho do estado de New Jersey. Os muçulmanos
põem a culpa de todos os seus infortúnios em Israel. Muitos
cristãos acusam judeus de deicídio, e muitos liberais
extremos e ateus culpam os judeus pelo irromper do terrorismo. Nações
que não concordam a respeito de nada, muitas das quais têm
populações que jamais encontraram um judeu, concordam
com unanimidade que Israel é culpado de muitos pecados. A única
coisa que se pode conseguir que as Nações Unidas concordem
é em condenar Israel. O judeu parece ser o grande unificador,
possuindo a capacidade de unir o mundo de maneira profunda e única.
Por que a obsessão com um povo que jamais constituiu mais de
1% da população mundial? Por que o mundo não pode
se esquecer da gente? Por que geramos tanto interesse sem querer fazê-lo
intencionalmente?
A História como uma Progressão de Sermões
O primeiro Rabino-Chefe de Israel, Abraham Isaac Kook (1865-1935), foi
um erudito brilhante, místico e poeta. Ele certa vez formulou
sua própria resposta ousada a esta pergunta tão antiga
quanto o tempo. Se alguém concorda ou não com suas conclusões,
é algo sobre o qual vale a pena refletir. Todas as culturas,
civilizações e povos, sugeriu Rabino Kook, surgiram na
arena do mundo para conceder uma contribuição singular
à humanidade: uma perspectiva filosófica, uma verdade
científica, uma expressão artística, um princípio
político, um avanço tecnológico e outras mais.
Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Grécia,
Roma, Bizâncio e muitas outras culturas e estados deixaram sua
marca individual – grande ou pequena, positiva ou negativa –
sobre a civilização. Uma vez que o povo ou civilização
tenha dado ao mundo o presente de seu gênio, sai do palco principal;
as civilizações apresentaram seu “sermao”
com “patologia” e então seguiram em frente para dar
lugar ao próximo “orador” surgir e passar sua mensagem
subsequente à humanidade.
E quanto aos judeus? A partir do momento em que ascenderam ao palco
central da história para entregar sua mensagem ao mundo, jamais
desceram de novo. Nem sequer se moveram um pouquinho para fora do palco.
O povo judeu permaneceu no centro de toda era e época na história.
Enquanto os gregos e os romanos de antigamente desapareceram, os judeus
ainda conseguem constituir o assunto do momento nos jantares, festas
e convenções políticas em todo o mundo.
Por quê?
Porque, diz Rabino Kook, após 4.000 anos de existência,
eles ainda estão gaguejando. Os judeus ainda têm de transmitir
sua mensagem ao mundo com firme dignidade e clareza sem ambiguidade.
Ficamos ali, no centro do palco, os olhos do mundo sobre nós
praticamente numa base diária, mas falamos em meias frases e
em tom de desculpa, o tempo todo olhando em volta para ver se não
ofendemos ninguém. Não tendo a coragem de nos apresentar
como realmente somos e mostrar aquilo que realmente temos a partilhar
com o mundo, a humanidade espera com a respiração suspensa
que o verdadeiro judeu se levante e fale.
Alguns judeus se recolhem à religião, desprezando o mundo
e ignorando a realidade. Outros viajam na outra direção,
tentando desesperadamente acomodar a modernidade e não parecer
“judeu demais”. Porém o Judaísmo em seu sentido
mais puro é a tentativa corajosa de criar aquele beijo romântico
entre céu e terra, revelar a verdade que o D'us dos céus
e a realidade da terra são realmente um.
Nossa ambivalência muitas vezes surge da nossa própria
confusão sobre se podemos colocar nossa sincera confiança
em nossa tradição, em nossa Torá, em nossa fé.
Muitos de nós sentimos que abraçar a Torá num mundo
moderno é fundamentalista e não sofisticado. Até
os judeus que aderem a um estilo de vida governado pela Torá
sentem que a Torá é boa para suas famílias e comunidades,
mas não pode servir para a realidade pragmática sobre
a terra. Washington e as Nações Unidas são de estilo
“goy” demais para a Torá. Eles jamais aceitarão
a Torá. Portanto nossos líderes, rabinos, políticos,
jornalistas e oradores ficam de pé durante as entrevistas coletivas
e gaguejam.
Deveríamos ter Vergonha do Judaísmo?
Às vezes, ouvir isto vindo da boca dos próprios não-judeus
pode ajudar.
O presidente americano do Século Dezenove, John Adams, escreveu:
“Vou insistir que os hebreus fizeram mais para civilizar o homem
que qualquer outra nação. Se eu fosse um ateu que acreditasse
ou fingisse acreditar que tudo ocorre por acaso, deveria crer que o
acaso ordenou que os judeus nos preservem e propaguem a toda a humanidade
a doutrina de um supremo, inteligente, sábio, todo poderoso soberano
do universo, o que acredito seja o grande princípio essencial
de toda a moralidade, e consequentemente, de toda a civilização.”
Outro filósofo não-judeu, Peter Kreeft, escreveu essas
palavras: “O espírito profético do judeu encontra
um significado e propósito na história, transformando
assim a compreensão da história pela humanidade. A genialidade
deles para encontrar significado em toda parte – por exemplo,
na ciência e no mundo da natureza – pode ser explicado somente
de duas maneiras: ou eles simplesmente eram mais inteligentes que quaisquer
outros, ou foi um ato de D'us, não deles. A noção
do povo escolhido é realmente a interpretação mais
humilde possível da história deles.”
A Torá é a única coisa que jamais nos desapontou
e jamais nos deu falsas esperanças. A Torá previu há
milhares de anos que se abandonássemos nossa identidade como
um “reino de príncipes e uma nação sagrada”,
falharíamos miseravelmente. A mesma Torá também
previu que não importa o que aconteça a nós, sobreviveremos
a todos os nossos inimigos e jamais desapareceremos. A Torá possui
as verdades mais duradouras, poderosas e relevantes disponíveis
à humanidade.
Dizendo a Verdade
O Estado de Israel é um exemplo crítico. O mundo árabe
tem trovejado durante 60 anos que somos ladrões; que roubamos
a terra deles e construímos um estado em solo islâmico.
Apesar disso, em nossa reação às acusações
árabes, estamos sempre gaguejando. Nossos líderes falam
sobre as Declarações Balfour e as resoluções
das Nações Unidas; nós falamos sobre autodefesa
e nossa prontidão pela paz. Porém não temos resposta
ao ruidoso grito do mundo árabe: A “Entidade Sionista”
foi construída em território ocupado.
Os árabes apresentam claramente sua mensagem: toda a Palestina
pertence a eles. O Estado de Israel inteiro é um grande assentamento.
É por isso que não houve paz antes da guerra de 1967,
uma época sem assentamentos judaicos e sem colonos. Gaza pertencia
ao Egito, a Margem Ocidental e a Jerusalém do Leste à
Jordânia, e as Colinas do Golan à Síria. Por que
seis países árabes decidiram invadir e exterminar Israel
naquele ano? Porque segundo a crença deles, Israel inteiro ocupa
terra árabe. Segundo o Corão, os judeus não têm
direito a estabelecer um país auto-governado em solo islâmico.
Para um muçulmano que acredita que o Corão é a
palavra de Alá (D'us), mesmo se Israel concedesse 95% de seu
solo aos árabes, os restantes 5% precisariam ser tirados deles.
Os não-muçulmanos são proibidos de governar qualquer
terra que já tenha pertencido aos muçulmanos.
Embora Israel já tenha sido respeitado antes, atualmente, quase
seis décadas após sua miraculosa fundação,
atingiu seu ponto mais baixo. Jamais antes esteve tão isolado,
sozinho, abandonado e mal-falado, tornando-se hoje o saco de pancadas
favorito do mundo. Até nos Estados Unidos, o verdadeiro amigo
de Israel, a inteligentsia nos campus das universidades em todo o país
continuam a denegrir, humilhar e maltratar judeu pressionando as universidades
a criticar Israel. Desde Hitler, desde os anos 1930, não temos
visto antissemitismo tão às claras erguendo sua feia cabeça
mundo afora.
Está mais do que na hora de sairmos da defensiva e informar ao
mundo o nosso maior segredo. O único motivo pelo qual os judeus
vieram de Odessa, Vilna e Varsóvia para a Terra de Israel é
porque D'us a deu a eles; porque o Criador do céu e da terra
escolheu dar a Terra Santa aos filhos de Avraham, Yitschac e Yaacov
como está claramente exposto na Torá. Há três
bilhões de pessoas no mundo que acreditam na Bíblia, que
vivem com a Bíblia e que citam a Bíblia. Mas você
jamais verá qualquer judeu que se auto-respeite, o povo que deu
a Bíblia ao mundo, ousar sequer sussurrar em público a
verdade óbvia, simples e justa de que nosssa única conexão
com a Terra de Israel é a Torá.
A História já provou incontáveis vezes que a aquiescência
dos judeus jamais conseguiu conquistar a afeição de nossos
vizinhos não-judeus. O mundo respeita judeus que respeitam a
si mesmos e à sua tradição; o mundo não
gosta de judeus que não gostam de si mesmos nem do seu Judaísmo.
O que precisamos desesperadamente hoje são judeus que não
gaguejem, que estejam saturados com a mensagem quintessencial do Judaísmo,
que o D'us do céu e a realidade da terra são uma. Esta
é a estrada da paz e da reconciliação entre o mundo
judeu e o não-judeu.
Paradoxalmente, parece que o mundo está esperando por isso. Não
apenas o mundo cristão e o islâmico. Até o mundo
secular parece respeitar os judeus que respeitam a si mesmos e à
sua fé. O mundo está esperando que Israel trate a terra
da maneira que Israel deve ser tratado, como o presente pessoal de D'us
ao povo judeu.
A contínua obsessão do mundo com o judeu, segundo Rabino
Abraham Kook, é a súplica subconsciente da sociedade ao
judeu para que deixe de gaguejar e compartilhe com o mundo aquilo que
ouviu no Sinai; que a humanidade é capaz de construir um mundo
que irá refletir a unidade e a harmonia de seu Divino Criador,
e que todo e cada um de nós possa transformar nosso canto do
universo num palácio Divino.
“Concede discurso confiante àqueles que anseiam por Ti,”
rezamos cinco vezes em Yom Kipur. Que nosso povo que no fundo acredita
em Ti e anseia por Ti tenha a confiança de partilhar com o mundo
a visão revolucionária do Judaísmo de que o espiritual
e o físico podem ser vistos como um só. E que D'us, Israel
e Torá são inseparáveis.