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  MP3: Já Basta Dessa Revolução
 

Por Arnie Gotfryd

 

“Uma pessoa é obrigada a dar para outra, pois o dinheiro não é seu. D'us lhe deu o dinheiro em confiança, com o objetivo de dá-lo a outros. “

O Rebe – Licutê Sichot, vol. 2, pág. 411

Caçadores asiáticos têm um truque esperto para apanhar macacos. Esvaziam um coco através de um buraco pequeno, enchem-no com grãos de bico, e o colocam firmemente entre pedras ou o prendem numa árvore. Farejando os grãos de bico, o macaco vai até a arca do tesouro, enfia a mão dentro do buraco, agarra um punhado de grãos, e… opa… fica preso – preso entre duas opções… ou deixa os grãos caírem e retira a mão vazia, ou segura os grãos e fica preso. Os macacos são espertos, mas os grãos acabam vencendo.

A arte de abrir mão é muito mais que uma ferramenta de auto-ajuda.

Todos nós temos nossas armadilhas de grãos de bico – obsessões grandes ou pequenas que nos custam a liberdade – sejam os negócios que devoram nossas famílias, caixa de e-mails que engolem os nossos dias, diversões que nos distraem de nossos objetivos maiores. A lição é óbvia. Às vezes você tem de simplesmente abrir mão.

Também é integrante de uma megatendência invasiva que está invadindo a cultura mundial e os mercados mundiais. Os analistas a chamam de “Já Basta Dessa Revolução”, e ela se apoia em três fatores – simplicidade, conveniência e baixo custo. Até recentemente, a tecnologia tem feito ofertas de produtos com qualidade cada vez maior, com mais e mais recursos. Porém tudo isso agora está mudando.

Veja, por exemplo, o MP3. Estes arquivos de áudio altamente comprimidos em pouco tempo se tornaram o padrão da indústria, embora sejam de baixa qualidade. A explicação é que também são simples de usar, fáceis de armazenar e bastante baratos.

O mesmo aconteceu com o mercado de gravação de vídeo. Os donos do Pure Digital, Jonathan Kaplan e Ariel Braunstein, lançaram a câmera de vídeo com flip num mundo onde o preço médio da câmera Sony era $800. Como o MP3, eles atingiram o mercado e dois anos depois são as câmeras mais vendidas nos Estados Unidos. Sim, as imagens são granulosas, a tela é pequena, não há ajuste de cor e nem zoom óptico. Porém leva 10 segundos para entender como usar, cabe no bolso da camisa e custa muito pouco.

A lista de “já-bastas” continua: recebemos fatos da Wikipedia, notícias de blogs, telecomunicações via Skype, e anúncios do Google. O exército americano hoje confia no novo MQ1 Predator, não manejado, que não pode voar tão rápido nem ser tão pesadamente armado quanto a maioria das naves. Porém é simples, portátil e relativamente barato – o Efeito MP3.

E quanto aos perfeccionistas deste mundo?

Um perfeccionista certamente vai se preocupar porque a Wikipedia não é tão confiável quanto a Enciclopédia Britânica, que os blogadores não usem conferidores de fatos, que o Skype deixa as chamadas caírem, e que os anúncios no Google não chamam a atenção.

Mas quando se trata de mostrar coisas, precisamos realmente de perfeição? Você está investindo as economias de sua vida baseado em wiki-informação? Está tratando uma doença fatal baseado num blog sobre saúde que descobriu? Está ligando para um contato comercial super-importante numa linha VOIP?

Certamente esses são os tempos de aumentar a barra – de pagar mais pela qualidade – mas estes tempos são raros. Na maior parte do tempo, basta ser suficientemente bom e já está bom.

Um cara suficientemente bom trabalha para viver, não vive para trabalhar. Bom o suficiente significa deixar um ente querido estar certo mesmo quando está errado. Ganhos suficientemente bons deixam você aceitar trabalhos mais significativos. Dependendo do dia, pais suficientemetne bons podem deixar a louça de lado para jogar bola ou deixar a bola cair para lavar os pratos. Uma atitude suficientemente boa é você saber quando deixar cair os grãos de bico pelas coisas que são mais importantes.

Mas como sabemos quanto é suficientemente bom? Existe uma maneira de quantificar nossas prioridades?

Analistas e gerentes têm uma ferramenta para fazer exatamente isto. Chama-se o Princípio Pareto ou Lei 80/20 e recebeu o nome de um economista italiano da virada do século que percebeu que 20% dos homens de seu país possuíam 80% da riqueza da nação. Desde então, uma maré de observações de todos os tipos tem apoiado essa ideia geral.

O analista comercial John Reh diz que: “Gerentes de projetos sabem que 20% do trabalho (os primeiros 10% e os últimos 10% - consomem 80% de seu tempo e recursos. Você pode aplicar a Lei 80/20 a quase tudo; da ciência do gerenciamento ao mundo físico. Você sabe que 20% de seu estoque ocupa 80% do espaço de seu depósito e que 80% de seu estoque vem de 20% dos seus fornecedores. Também 80% de suas vendas vêm de 20% da sua equipe de vendas. Vinte por cento de sua equipe causará 80% de seus problemas, mas outros 20% de sua equipe proverão 80% de sua produção. Funciona dos dois lados.

“O valor do Princípio Pareto para um gerente é que o lembra para se concentrar nos 20% que importam. Das coisas que você faz durante o dia, somente 20% realmente importam. Aqueles 20% produzem 80 % dos seus resultados.

Identifique e se concentre nessas coisas. Quando os treinamentos de incêndio do dia começarem a exaurir seu tempo, lembre-se dos 20% nos quais precisa se concentrar. Se algo na programação tem de cair fora, se algo não vai ser feito, assegure que não seja parte daqueles 20%.”

Na Lei 80/20, marqueteiros suficientemente bons de produtos suficientemente bons veem uma maneira de terem lucros suficientemente bons. Judeus praticantes veem uma maneira de gastar aqueles lucros – em tsedacá, ou caridade.

Desde o Sinai, os judeus têm separado o dízimo de sua produção e de sua renda para ser doada. Na época do Templo, 10% ia para os levitas (daí o termo levy, em inglês, para taxa), e outros 10% iam para as celebrações das festas e presentes aos pobres – cerca de 20% no total. Hoje, os judeus são obrigados a dar pelo menos 1/10 de seus ganhos para caridade e os virtuosos ainda dão 1/5. Segundo o Tanya, a quinta parte que doamos traz propósito e elevada significância ao restante.

Talvez as leis 80/20 estejam intrinsecamente relacionadas, imbuídas na natureza e na sociedade como as proporções divinas do retângulo de ouro.

Seja como for, há algo mais na lei da caridade. Enquanto empresários inteligentes negociam seus 20 contra seus 80 para maximizar seus ganhos, o judeu simples tem tudo – os 20% que doa é uma mitsvá e esta é sua para sempre, enquanto os 80% que ele guarda se torna exaltado ao longo do caminho.

Assim você consegue ter seus grãos de bico e comê-los, também.

E como a tsedacá traz Mashiach, haverá grãos de bico suficientes para todos, macacos e caçadores incluídos. E naquele dia o mundo inteiro saberá que dar os 20% foi a maneira de fazer um mundo suficientemente bom tornar-se realmente maravilhoso.


Dr. Arnie Gotfryd, PhD, é judeu chassídico e cientista ambiental, tendo recebido o primeiro doutorado do Canadá em Ecologia Aplicada. Ele projetou e lecionou um curso renomado e premiado, pré-graduação, chamado Fé e Ciência, que tem sido o mais popular no New College da Universidade de Toronto por muitos anos. Escreve e discursa extensivamente no âmbito da ciência e fé, e naquilo que significam para o indivíduo e para o mundo em geral.

 
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