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Ramsgate é
uma bela cidade costeira no sul da Inglaterra, a duas horas de distância
de Londres. Ali pode-se visitar o famoso Museu Montefiore, que guarda
muitos documentos e artigos interessantes, conectados com a vida e atividades
do famoso judeu Moses Montefiore. Perto dali fica a sinagoga que ele construiu,
e próximo à sinagoga há um túmulo, uma cópia
exata da Tumba da Mãe Rachel, contendo os túmulos de Moses
e sua esposa Judith. Na propriedade há uma yeshivá, onde
estudam muitos alunos de ascendência sefaradita.
Estes são os memoriais que Moses Montefiore deixou após
sua morte. Mas o maior memorial que ele deixou é seu bom nome,
que ele conquistou a serviço dos seus irmãos judeus.
Moses Montefiore foi um trabalhador dedicado ao bem-estar público,
mediador e intercessor em prol de seus irmãos, homem de estado
e diplomata. Príncipes e reis o recebiam cordialmente em toda parte,
e ele sempre defendeu a posição judaica com orgulho e vigor,
fazendo o máximo possível para seus correligionários
em vários países europeus.
Moses Montefiore nasceu em 13 de Cheshvan na cidade italiana de Livorno.
Seu avô, Moses Chaim Montefiore, era um judeu sefaradita daquela
cidade, e mais tarde se estabeleceu em Londres. Teve 17 filhos, um dos
quais, Joseph Elijah, foi o pai de Moses. Quando Joseph Elijah, junto
com sua esposa, viajou para Livorno a negócios, Moses nasceu ali.
Moses Montefiore foi criado na Inglaterra, numa atmosfera de Torá
e mitsvot, e permaneceu um judeu devoto durante toda a sua vida. Em Londres
ele estabeleceu uma grande empresa com seu irmão Abraham. Eles
faziam negócios com os Rothschild: estabelecimentos industriais,
comerciais e financeiros. Formaram uma companhia de seguros; uma companhia
de gás, que introduziu a iluminação a gás
em muitas cidades importantes da Europa. Também estavam ligados
à construção de ferrovias, e muitas outras empresas
industriais e financeiras.
Moses Montefiore acumulou grande fortuna e ficou famoso. Em 1837 foi nomeado
"Xerife" de Londres. Foi o segundo judeu a ocupar este importante
cargo. No mesmo ano, a Rainha Vitória, que tinha acabado de subir
ao trono britânico, concedeu-lhe o título honorário
de "Cavaleiro", com o título Sir e em 1846 foi elevado
ao título de Barão. Ocupou diversos cargos importantes,
tanto nos círculos judaicos quanto nos sociais.
Moses Montefiore diferia de outros judeus que, ao acumularem fortuna e
honrarias, infelizmente, afastam-se da religião. Montefiore, como
já foi mencionado, permaneceu judeu religioso durante toda a vida.
Ainda muito jovem, começou a interessar-se pelo destino dos seus
irmãos judeus. Mais tarde, usou sua influência para obter
direitos iguais para os judeus na Inglaterra. Foi Gabbai (depositário)
da Congregação Sefaradita de Londres, sendo eleito seis
vezes como Rosh HaKahal (líder da comunidade). Por um período
de 3 a 6 anos, foi líder da "Junta Judaica de Deputados"
– a organização das Congregações Unidas
e dos funcionários judeus, que representavam o Judaísmo
britânico. Quando, aos 90 anos, abdicou de seu cargo, as Congregações
Unidas da Inglaterra lhe deram um presente de despedida – 12.000
libras esterlinas. Ele doou toda a soma para a construção
de casas para os pobres em Jerusalém. Como judeu ortodoxo, obviamente
ele amava a Terra Santa, e apoiava com generosidades muitas instituições.
Ele visitou Erets Yisrael sete vezes – a última em 1875,
aos 91 anos. Se considerarmos que naquela época uma viagem dessas
acarretava grandes dificuldades, podemos entender o que significava para
uma pessoa daquela idade empreender esta viagem. Ele distribui grande
quantidade de dinheiro em Erets Yisrael; construiu sinagogas, financiou
yeshivot e fundou diversas instituições de vários
tipos.
Anteriormente tinha construído uma tumba sobre o túmulo
da Matriarca Rachel, em 1866, a magnífica tumba que é tão
conhecida. Os judeus em Erets Yisrael o consideravam como um mensageiro
de D'us, enviado para ajudá-los em sua grande necessidade.
Quando surgiu o infame libelo de sangue em Damasco em 1840, Sir Moses
Montefiore foi lá pessoalmente para defender os judeus falsamente
acusados. O ultrajante e falso libelo (de que os judeus usam sangue cristão
na matsá para Pêssach) que custara a vida de tantos judeus
na Idade Média, e agora estava ressurgindo em Damasco, não
apenas ameaçava a vida dos acusados, como também toda a
comunidade. Sir Moses Montefiore (com a ajuda de outros judeus proeminentes
e líderes não-judeus) conseguiu persuadir o Sultão
a emitir um "firman" (decreto) no qual declarava que os libelos
de sangue eram falsos e proibindo sua continuação.
Em 1846 o governo russo convidou Sir Moses Montefiore para uma visita
oficial à Rússia, em conexão com a situação
judaica naquele país. O governo czarista, auxiliado por alguns
líderes do Movimento Haskalah (Iluminismo), tentaram "russificar",
i.e., assimilar os judeus russos. O governo esperava que, com o apoio
de uma personalidade tão importante como Sir Moses, certamente
venceria sua luta contra os líderes religiosos judeus na Rússia,
que se recusavam a cooperar com o governo neste aspecto, e que impediam
todos os esforços para obrigar os judeus russos à assimilação.
O então Lubavitcher Rebe, o Tsemach Tsedec, opunha-se especialmente
a todos os esforços que pudessem levar à assimilação,
e trabalhava de corpo e alma para impedir que isso ocorresse.
Sir Moses Montefiore aceitou o convite, mas não com a intenção
de servir como instrumento nas mãos dos assimilacionistas, mas
sim para travar conhecimento com a situação dos judeus na
Rússia, onde vivia a maior parte dos judeus do mundo. Além
disso, ele desejava ver o que poderia fazer sobre as perseguições
e pogroms que tão freqüentemente afetavam os judeus ali.
Quando Sir Moses Montefiore chegou a St. Petersburgo (agora chamada Leningrado),
o ministro czarista, Conde Kissilev, o Ministro do Interior e Uvarov,
Ministro da Educação, o receberam com uma longa lista de
"acusações" contra os judeus russos e seus líderes
religiosos.
Sir Montefiore não confiou no testemunho daqueles ministros anti-semitas
e dos equivocados Maskilim. Viajou às cidades e aldeias onde viviam
os judeus e ao voltar para Londres, compilou dois memorandos do material
que reunira durante a viagem. Um memorando ele enviou para o Ministro
Russo do Interior, e o outro ao Ministro da Educação. Sir
Montefiore escreveu a eles num tom educado mas firme, de maneira a não
provocá-los, que o problema dos judeus na Rússia nada tinha
a ver com a educação judaica, que era de alto nível.
Ele negou as falsas acusações feitas contra os judeus e,
por sua vez, acusou o governo de tratar mal os judeus; ele descreveu a
terrível situação econômica dos judeus devido
aos decretos do governo, expulsões, pogroms e sanções
econômicas. Exigiu direitos iguais para os judeus, enfatizando que
isso também seria bom para o país.
Graças ao grande auto-sacrifício dos judeus russos, que
foram fortalecidos e encorajados pelos esforços de Sir Moses em
prol deles, o governo finalmente abriu mão de muitos de seus planos
para forçar a conversão e a assimilação dos
judeus russos. Sua situação econômica também
melhorou com as recomendações feitas por Sir Montefiore.
Em 1872 Montefiore visitou a Rússia mais uma vez, e foi recebido
pelo Czar Alexandre II.
Montefiore ficou contente ao notar o crescimento de uma nova classe de
empresários e profissionais judeus desde sua primeira visita, mas
não percebeu a assimilação que tinha se apossado
destas classes "superiores".
Sir Moses Montefiore também foi recebido em audiência pelo
Papa em Roma (em 1858), quando ali esteve para interceder pelo menino
italiano convertido à força ainda pequeno, quando estava
doente. A empregada não-judia "borrifou água nele"
e a Igreja o declarou cristão. O menino fora arrancado à
força dos seus pais e criado como cristão. O caso do menino
Murtara provocou grande indignação, mas nenhuma intercessão
pôde devolver a criança aos pais judeus.
Quando foi à Romênia visitar seus irmãos judeus, Sir
Moses Montefiore certa vez passou por um grande perigo, quando uma multidão
enfurecida o atacou. Ele quase perdeu a vida, escapando por pouco. Nada
o detinha, porém, quando se tratava de ajudar seus irmãos
pobres e perseguidos.
Sir Moses faleceu a 13 de Av de 5645 (1885), com a avançada idade
de 100 anos.
O Museu Montefiore contém uma vasta coleção de artigos
artísticos em prata e ouro que Sir Moses recebeu como presentes
de reis e governantes, bem como documentos de grande importância
histórica. Seu yahrtzeit (aniversário de falecimento) é
observado anualmente pelas instituições que ainda são
mantidas com os fundos que ele deixou com essa finalidade.
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