Sir Moses Montefiore  
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  (5545-5645; 1784-1885)
 

Ramsgate é uma bela cidade costeira no sul da Inglaterra, a duas horas de distância de Londres. Ali pode-se visitar o famoso Museu Montefiore, que guarda muitos documentos e artigos interessantes, conectados com a vida e atividades do famoso judeu Moses Montefiore. Perto dali fica a sinagoga que ele construiu, e próximo à sinagoga há um túmulo, uma cópia exata da Tumba da Mãe Rachel, contendo os túmulos de Moses e sua esposa Judith. Na propriedade há uma yeshivá, onde estudam muitos alunos de ascendência sefaradita.

Estes são os memoriais que Moses Montefiore deixou após sua morte. Mas o maior memorial que ele deixou é seu bom nome, que ele conquistou a serviço dos seus irmãos judeus.

Moses Montefiore foi um trabalhador dedicado ao bem-estar público, mediador e intercessor em prol de seus irmãos, homem de estado e diplomata. Príncipes e reis o recebiam cordialmente em toda parte, e ele sempre defendeu a posição judaica com orgulho e vigor, fazendo o máximo possível para seus correligionários em vários países europeus.

Moses Montefiore nasceu em 13 de Cheshvan na cidade italiana de Livorno. Seu avô, Moses Chaim Montefiore, era um judeu sefaradita daquela cidade, e mais tarde se estabeleceu em Londres. Teve 17 filhos, um dos quais, Joseph Elijah, foi o pai de Moses. Quando Joseph Elijah, junto com sua esposa, viajou para Livorno a negócios, Moses nasceu ali.

Moses Montefiore foi criado na Inglaterra, numa atmosfera de Torá e mitsvot, e permaneceu um judeu devoto durante toda a sua vida. Em Londres ele estabeleceu uma grande empresa com seu irmão Abraham. Eles faziam negócios com os Rothschild: estabelecimentos industriais, comerciais e financeiros. Formaram uma companhia de seguros; uma companhia de gás, que introduziu a iluminação a gás em muitas cidades importantes da Europa. Também estavam ligados à construção de ferrovias, e muitas outras empresas industriais e financeiras.

Moses Montefiore acumulou grande fortuna e ficou famoso. Em 1837 foi nomeado "Xerife" de Londres. Foi o segundo judeu a ocupar este importante cargo. No mesmo ano, a Rainha Vitória, que tinha acabado de subir ao trono britânico, concedeu-lhe o título honorário de "Cavaleiro", com o título Sir e em 1846 foi elevado ao título de Barão. Ocupou diversos cargos importantes, tanto nos círculos judaicos quanto nos sociais.

Moses Montefiore diferia de outros judeus que, ao acumularem fortuna e honrarias, infelizmente, afastam-se da religião. Montefiore, como já foi mencionado, permaneceu judeu religioso durante toda a vida. Ainda muito jovem, começou a interessar-se pelo destino dos seus irmãos judeus. Mais tarde, usou sua influência para obter direitos iguais para os judeus na Inglaterra. Foi Gabbai (depositário) da Congregação Sefaradita de Londres, sendo eleito seis vezes como Rosh HaKahal (líder da comunidade). Por um período de 3 a 6 anos, foi líder da "Junta Judaica de Deputados" – a organização das Congregações Unidas e dos funcionários judeus, que representavam o Judaísmo britânico. Quando, aos 90 anos, abdicou de seu cargo, as Congregações Unidas da Inglaterra lhe deram um presente de despedida – 12.000 libras esterlinas. Ele doou toda a soma para a construção de casas para os pobres em Jerusalém. Como judeu ortodoxo, obviamente ele amava a Terra Santa, e apoiava com generosidades muitas instituições. Ele visitou Erets Yisrael sete vezes – a última em 1875, aos 91 anos. Se considerarmos que naquela época uma viagem dessas acarretava grandes dificuldades, podemos entender o que significava para uma pessoa daquela idade empreender esta viagem. Ele distribui grande quantidade de dinheiro em Erets Yisrael; construiu sinagogas, financiou yeshivot e fundou diversas instituições de vários tipos.
Anteriormente tinha construído uma tumba sobre o túmulo da Matriarca Rachel, em 1866, a magnífica tumba que é tão conhecida. Os judeus em Erets Yisrael o consideravam como um mensageiro de D'us, enviado para ajudá-los em sua grande necessidade.

Quando surgiu o infame libelo de sangue em Damasco em 1840, Sir Moses Montefiore foi lá pessoalmente para defender os judeus falsamente acusados. O ultrajante e falso libelo (de que os judeus usam sangue cristão na matsá para Pêssach) que custara a vida de tantos judeus na Idade Média, e agora estava ressurgindo em Damasco, não apenas ameaçava a vida dos acusados, como também toda a comunidade. Sir Moses Montefiore (com a ajuda de outros judeus proeminentes e líderes não-judeus) conseguiu persuadir o Sultão a emitir um "firman" (decreto) no qual declarava que os libelos de sangue eram falsos e proibindo sua continuação.

Em 1846 o governo russo convidou Sir Moses Montefiore para uma visita oficial à Rússia, em conexão com a situação judaica naquele país. O governo czarista, auxiliado por alguns líderes do Movimento Haskalah (Iluminismo), tentaram "russificar", i.e., assimilar os judeus russos. O governo esperava que, com o apoio de uma personalidade tão importante como Sir Moses, certamente venceria sua luta contra os líderes religiosos judeus na Rússia, que se recusavam a cooperar com o governo neste aspecto, e que impediam todos os esforços para obrigar os judeus russos à assimilação. O então Lubavitcher Rebe, o Tsemach Tsedec, opunha-se especialmente a todos os esforços que pudessem levar à assimilação, e trabalhava de corpo e alma para impedir que isso ocorresse.

Sir Moses Montefiore aceitou o convite, mas não com a intenção de servir como instrumento nas mãos dos assimilacionistas, mas sim para travar conhecimento com a situação dos judeus na Rússia, onde vivia a maior parte dos judeus do mundo. Além disso, ele desejava ver o que poderia fazer sobre as perseguições e pogroms que tão freqüentemente afetavam os judeus ali.
Quando Sir Moses Montefiore chegou a St. Petersburgo (agora chamada Leningrado), o ministro czarista, Conde Kissilev, o Ministro do Interior e Uvarov, Ministro da Educação, o receberam com uma longa lista de "acusações" contra os judeus russos e seus líderes religiosos.

Sir Montefiore não confiou no testemunho daqueles ministros anti-semitas e dos equivocados Maskilim. Viajou às cidades e aldeias onde viviam os judeus e ao voltar para Londres, compilou dois memorandos do material que reunira durante a viagem. Um memorando ele enviou para o Ministro Russo do Interior, e o outro ao Ministro da Educação. Sir Montefiore escreveu a eles num tom educado mas firme, de maneira a não provocá-los, que o problema dos judeus na Rússia nada tinha a ver com a educação judaica, que era de alto nível. Ele negou as falsas acusações feitas contra os judeus e, por sua vez, acusou o governo de tratar mal os judeus; ele descreveu a terrível situação econômica dos judeus devido aos decretos do governo, expulsões, pogroms e sanções econômicas. Exigiu direitos iguais para os judeus, enfatizando que isso também seria bom para o país.

Graças ao grande auto-sacrifício dos judeus russos, que foram fortalecidos e encorajados pelos esforços de Sir Moses em prol deles, o governo finalmente abriu mão de muitos de seus planos para forçar a conversão e a assimilação dos judeus russos. Sua situação econômica também melhorou com as recomendações feitas por Sir Montefiore.

Em 1872 Montefiore visitou a Rússia mais uma vez, e foi recebido pelo Czar Alexandre II.
Montefiore ficou contente ao notar o crescimento de uma nova classe de empresários e profissionais judeus desde sua primeira visita, mas não percebeu a assimilação que tinha se apossado destas classes "superiores".

Sir Moses Montefiore também foi recebido em audiência pelo Papa em Roma (em 1858), quando ali esteve para interceder pelo menino italiano convertido à força ainda pequeno, quando estava doente. A empregada não-judia "borrifou água nele" e a Igreja o declarou cristão. O menino fora arrancado à força dos seus pais e criado como cristão. O caso do menino Murtara provocou grande indignação, mas nenhuma intercessão pôde devolver a criança aos pais judeus.

Quando foi à Romênia visitar seus irmãos judeus, Sir Moses Montefiore certa vez passou por um grande perigo, quando uma multidão enfurecida o atacou. Ele quase perdeu a vida, escapando por pouco. Nada o detinha, porém, quando se tratava de ajudar seus irmãos pobres e perseguidos.
Sir Moses faleceu a 13 de Av de 5645 (1885), com a avançada idade de 100 anos.

O Museu Montefiore contém uma vasta coleção de artigos artísticos em prata e ouro que Sir Moses recebeu como presentes de reis e governantes, bem como documentos de grande importância histórica. Seu yahrtzeit (aniversário de falecimento) é observado anualmente pelas instituições que ainda são mantidas com os fundos que ele deixou com essa finalidade.

 

 

     
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