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Este
mês comemoramos 60 anos de libertação do judeus de
Auschwitz. Assistimos às imagens projetadas nas telas levadas em
tempo real serem derramadas brancas e vazias, sob o frio e a neve da Polônia,
para dentro de nossos lares aquecidos pelo verão neste lado do
hemisfério.
Sobreviventes, líderes mundiais, velas acessas em memória,
testemunhos eloquentemente levados aos microfones que reverberam em um
clima gélido e silencioso, de luto e tristeza, ampliado por ecos
de vozes do passado tudo vai sendo mostrado na rede.
Mas para que chorar? Devemos lembrar e certamente relatar os fatos históricos
aos nossos filhos, remontar nossas árvores da vida citando todos
nossos antepassados e fontes até onde conseguimos voltar e remontar
suas lutas, perdas e vitórias, no túnel do tempo. Não
chore: os judeus não morreram em Auschwitz.
Milhares foram exterminados, estrangulados pela máquina sangrenta
montada e colocada em ação, sem protestos das massas e de
outras nações. Houve heróis cuja coragem os inspirou
a salvar tantas vidas quanto lhes foi possível. Israel reconhece
cada um deles e presta sua eterna homenagem em Yad Vashem. Nós
jamais os esqueceremos.
Mas não chore: os judeus não morreram em Auschwitz.
Meu avô leva a marca do racismo e intolerância no braço.
Um número, uma marca, um brasão. Hoje os tatuados e piercinhados
talvez nem se interessem por isso. Lhes parece mais um modismo, um número
de loteria, quem sabe.
Resgatar a memória não é um direito, mas um dever
nosso em qualquer tempo e espaço. Mesmo com os mais absurdos modismos
que ainda virão, meu avô será para sempre um monumento
histórico. E o que mais admiro nele é que ele não
se deixou vencer, embora tivesse sido sacudido, abalado e seu mundo destruído
sob seus pés. Levantou-se das cinzas daquele inferno, com uma fé
redobrada e continuou sua missão na vida, transmitindo judaísmo
genuíno a seus filhos, que passaram para seus netos, que passarão
para seus bisnetos…
Portanto, é como eu disse: o extermínio de nosso povo independe
da vontade humana. O Dilúvio de Nôach e o recente Tsunami
fazem parte do plano Divino. O Dilúvio foi trazido e traduzido
em suas causas na Torá, o Tsunami não. Mas certamente D’us
mais do que ninguém que governa o mundo, entende as razões
e onde iremos chegar. O objetivo de nossas vidas é nos tornarmos
bons e derramarmos nossa bondade em ondas no mundo inteiro. A destruição
promoveu união e amor ao próximo. Mas o preço custou
absurdamente caro…e o estrago, irreparável. Qualquer tentativa
de explicação não justifica nenhuma tragédia
humana. D’us possuí as respostas, e espero não ter
que aguardar muito para compreendê-las e fazer uma cobrança
acumulada, imediata e urgente ainda nesta vida e neste mundo.
Mas não chore: os judeus não morreram em Auschwitz.
No mundo há ondas de bondade. O trabalhador guarda seus pertences
e passa por um hospital para visitar um parente doente. Nas transações
financeiras alguém acessa um site de ajuda humanitária pela
internet e envia uma doação para uma criança para
que possa ser amparada. O aposentado e o jovem universitário, ambos
aguardam na sala de espera para se alistarem ao grupo de voluntários
de uma causa social em ampla atividade. Na fisioterapia todos se empenham
e batem palmas a cada passo dado por um jovem atleta que sofreu um acidente
e recupera os movimentos.
Na rua um jovem aborda um velho e amarra fios pretos em seus braços.
Não está tirando sua pressão; coloca os tefilin enquanto
o ajuda a recitar a bênção apropriada. Crianças
barulhentas retornam às casas e se preparam com banho e roupas
limpas especiais marcando um dia diferente que está para iniciar.
O fim de uma sexta-feira qualquer se aproxima. Pode-se escutar o barulho
de moedas caindo e batendo umas ao encontro de outras dentro das caixinhas
de tsedacá depositadas em lares judaicos. O pai retorna do trabalho
beijando a mezuzá colocada estrategicamente no umbral da porta
enquanto um perfume delicioso saindo da cozinha vai de encontro às
narinas preenchendo a casa toda. É mais uma fornada de chalot (pão
trançado) ficando pronta. Mães e filhas se preparam para
acender as velas recebendo o Shabat. Do lar para o mundo, transpassando
as janelas, as grades foram rompidas, no lugar das trevas a luz ilumina.
O Guardião de Israel descança…mas não dorme
jamais.
Seus filhos vivem para sempre.
É esta a Sua resposta.
É esta a vontade do Rei.
Shabat Shalom!
Os judeus não morreram em Auschvitz. |