índice
  A Moda Como Tema – Jewish Fashion Life  
 
Por Mushka Greenberg
 

Numa sociedade na qual a casa de adoração tem um tapete vermelho, luzes cegantes e fotógrafos vestidos com roupas de Armani, você se pergunta: Este santuario está abrigando os serviços do Shabat ou a Semana da Moda em Nova York? [ou a S. Paulo Fashion Week]

As frequentadoras dessa noite estão usando seus vestidos Dior mais finos em branco e preto, os saltos mais altos. Elas dizem que vieram para rezar. Mas estão aqui para rezar a D'us ou para se inclinar aos deuses da moda? Ou ambos?

Embora Moda e Judaísmo possam certa vez terem sido considerados desarmoniosos e jamais tenhamos misturado kipot com alta costura, creio que a moda e o Judaísmo têm mais em comum que jamais quisemos admitir.

A olho nu, os dois parecem ser uma chocante contradição. O Judaísmo é da mente; constante e fixo, e curiosamente atemporal. A moda é uma fixação do coração, e mesmo se estivéssemos certos de que aquilo que surge explodirá nossa mente, a indústria ainda é completamente imprevisível e portanto não confiável.

Existe então lugar para Tahari na Torá? Ou eles são dois inimigos que jamais devem se encontrar? A pergunta permanece: Moda e Judaísmo – combinam ou chocam-se?

Encontro-me na esquina da Rua 59 com a Lexington, outra casa de adoração, o lar de algumas das minhas amigas mais queridas, Diane von Furstenberg, Yves Saint Laurent, Michael Kors e Badgley Mischka, para citar apenas alguns. E enquanto vago pelas fileiras de alta costura e design na Barneys, totalmente enamorada pela arte dos deuses franceses e italianos, não posso deixar de me perguntar: O que há na moda que a torna tão deliciosa?

E então, olhando para mim na face da vitrina da nova Coleção de Outono, está minha resposta: ela vem na forma de uma jaqueta de couro gasta, pendurada sozinha num manequim que algumas semanas atrás estava exibindo um vestido de gala, de chiffon. É claro! É disso que trata a moda. É a variedade. A constante reinvenção. A terra da perpétua novidade, um colírio para os olhos...

Até o clássico Chanel é reinventado a toda estação, bem como o ultrajante Betsy Johson, Zac Posen, e o très chic Oscar de la Renta. Cada estação fica lotada com o crème de la crème da moda, para nos fazer pular de nossos assentos. Os estilistas estão continuamente transformando, os desenhos pululando com a imaginação, cada coleção mais chocante que a anterior. E o mais incrível sobre o mundo da moda é que nada continua igual.

Eu devia ter uns oito anos de idade quando descobri meu amor pelas roupas. Foi numa daquelas idas ao shopping center com minha irmã mais velha. Ela acidentalmete me deixou sozinha num dos departamentos da Loja Macy’s. Não me importei. Apenas me perdi em meio às cores e aos tecidos, olhando, tocando e imaginando como aqueles vestidos lindos ficariam em mim. E não me importei se estava na Bloomys ou na Abercrombie and Fitch. Fiquei apaixonada por aquilo. Por tudo. E me apaixonei ainda mais por uma religião que muda com meus estados de humor.

Camisas. Saias. Vestidos. Estes são os fundamentos da moda. Todas nós os usamos. Todo dia. Não importa o quê. Porém há dois tipos de pessoas. Há a Jane Comum que usa um vestido básico azul marinho, um cardigan simples e sapatos comuns. Ela se veste pela manhã porque tem de fazê-lo. Não pensa naquilo que está vestindo, e em vez de usar as roupas com confiança, deixa que as roupas a vistam. Jane é como o judeu sem inspiração. Ela guarda o Shabat porque lhe dizem para fazer isto. Ela não pensa naquilo. Não veste seu Judaísmo com orgulho; ela deixa que o Judaísmo a vista.

Temos a opção de ser judeus comuns ou judeus na moda. Podemos acender as velas do Shabat de maneira sombria ou podemos deixar que o nosso fogo acenda também junto com os pavios. Podemos nos antecipar para os preparativos dos feriados ou podemos esperar por cada um deles, assistindo-os passar pela janela até o dia em que tenhamos economizado dinheiro suficiente para torná-los nossos. Podemos usar acessórios como écharpes e chapéus, adornados com diamantes e pérolas. Nossa paixão pode variar a cada estação. Podemos conseguir assentos na primeira fila da sinagoga, rezar com uma voz diferente a cada dia, estudar com uma fome renovada. A cada vez que balançamos o lulav e o etrog, podemos nos mover num ritmo diferente. Podemos trazer a Torá para casa todo ano, como se estivéssemos trazendo para casa um novo vestido de casamento da Vera Wang.

Ora, não sei se você está ciente disso, mas Nordstrom tem uma lista em ordem alfabética de cerca de um milhão de estilistas diferentes no seu site. E francamente, se não existissem todos os estilistas diferentes, eu não ligaria muito para a moda. Não posso imaginar uma estrada percorrida apenas por Chanel. Sim, eu sei, Chanel é chic, clássico da alta moda, mas um só estilista é uma piada. Ficaríamos entediadas limpando as lágrimas de Sephora.

A monogamia Vogue não é simplesmente algo pelo qual caímos de ponta cabeça. É o nosso romance com a novidade que nos mantém na ponta dos pés.

Ora, imagine que houvesse apenas um tipo de judeu. Que tédio! Felizmente para nós, há muitas espécies de judeus, muitas nuanças e tradições diferentes. Alguns acreditam que nossas diferenças nos separam. Eles temem que se parecermos diferentes ou se tivermos diferentes opiniões políticas, não nos relacionaremos como irmãos e irmãs. Creio que deveríamos celebrar nossa diversidade, nossas flagrantes diferenças, e nossa capacidade de nos unirmos apesar delas. Não, por causa delas. Não temos de ser exatamente o mesmo, nem sequer ter a mesma opinião para sermos conectados e fazermos uma sublime obra de arte. É isso que nos torna tão diferentes e únicos.

Depois do show, dê uma boa olhada na nossa casa de orações. Se estiver como deve ser, você encontrará judeus, observantes ou não. Americanos, brasileiros, e europeus, elegantes ou não, mas apesar de tudo, todos balançando em um ritmo vibrante e coordenado.

Talvez eles não estarão vestindo talits (xales de oração) confeccionados pelos mesmos estilistas, mas estarão todos unidos sob uma força que transcende os costumes, vestes e opiniões religiosas – um passado em comum, um destino comum… e um amor comum por Jerry Seinfeld.

 

 

 
top