Maria Nunez (cerca de 1391)  
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  Por Nissan Mindel
 

Há cerca de 400 anos viveu uma heróica judia chamada Maria Nunez. Sua família estava entre as melhores da Espanha e, durante a terrível Inquisição, tinha sido forçada a aceitar a fé católica. No entanto, como muitos outros judeus daquele período na Espanha, eles viveram secretamente como judeus e somente fingiam ser cristãos. Estes judeus, como você talvez saiba, eram chamados de "marranos".

Os marranos ensinavam secretamente aos seus filhos tudo que pudessem sobre o Judaísmo. Tinham esperança de escapar logo que fosse possível, e ir para um país onde pudessem viver livremente como judeus. Dentre os judeus que escaparam para Portugal estavam os pais de Maria Nunez, e ela nasceu em Portugal, tendo recebido um nome que "não soasse" como judaico.

Porém o braço longo e assustador da Inquisição finalmente chegou também a Portugal, e assim Maria, seu irmão Manuel e seu tio Miguel Lopez, decidiram arriscar a vida em busca da liberdade. Naqueles dias a Holanda era o país de refúgio para os perseguidos, e assim muitos marranos foram para lá.

Viajar naqueles dias não era algo simples, nem seguro. O barco no qual Maria, seu irmão e tio viajaram era um tanto precário, e o capitão se aproveitou do sofrimento dos marranos. Além de cobrar um preço absurdo, tratava-os como animais. E, como se isso não bastasse, o barco foi capturado por um navio pirata inglês, cujo capitão os levou para a Inglaterra. Porém, como naquela época os judeus não eram admitidos na Inglaterra, foram feitos prisioneiros e maltratados.

A pobre Maria Nunez, seu irmão e tio pareciam fadados a passar o resto da vida como prisioneiros, sem qualquer esperança de chegar à Holanda e à liberdade; liberdade de viverem como judeus, algo pelo qual tinham rezado durante tanto tempo, e arriscado tanto.

Porém Maria Nunez, como já dissemos, tinha muito encanto pessoal e coragem, algo que mal parecia se dar conta. E foi este presente de D'us que a ajudou naquele dilema. Mesmo no barco Maria tinha desprezado todos os tipos de ofertas tentadoras, que a teriam ajudado pessoalmente, mas não era isso que ela procurava. E então, quando o capitão do navio pirata colocou olhos nela, ficou completamente encantado. Pediu-a em casamento, algo que significava liberdade para ela e seus irmãos de infortúnio. Porém ela recusou, pois tudo que queria era um lugar onde pudesse viver livre para continuar leal ao Judaísmo.

A fama da sabedoria e beleza de Maria chegou à corte real em Londres, e a soberana, Rainha Elizabeth, mandou chamá-la. Ficou tão impressionada com Maria que levou a moça com ela para um passeio na carruagem real.

Choveram ofertas de casamento da mais alta nobreza, porém tudo que Maria pediu foi o favor de ter permissão de deixar a Inglaterra e partir para a Holanda. Esta permissão finalmente foi concedida, e assim Maria, seu irmão e seu tio finalmente chegaram ao seu destino, a terra de suas esperanças e sonhos. Ali, Maria casou-se com seu primo Francisco Nunez Pereira. Puderam voltar abertamente à sua fé judaica e ficaram felizes em assumir o nome judeu de Abendana.

Ali viveram em paz e contentamento, felizes por saber que podiam servir livremente a D'us como judeus. E somente aqueles infelizes judeus que tenham vivido na opressão, proibidos de praticar o Judaísmo, podem avaliar a bênção desta "liberdade religiosa".

Durante muitos séculos os descendentes da heróica e bela Maria estiveram dentre os membros mais cultos e religiosos da comunidade portuguesa na Holanda, até os dias de hoje.

 

 

     
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