|  | A mezuzá é uma das poucas mitsvot (Mandamentos 
        Divinos) para as quais a Torá declara a recompensa. Neste caso, 
        a recompensa é longa vida para a pessoa e seus filhos: "E 
        as inscreverá sobre os batentes (mezuzot) de sua casa e sobre os 
        seus portões, para que teus dias e os dias de teus filhos sejam 
        prolongados sobre a terra que o Eterno prometeu dar a teus pais enquanto 
        os céus estiverem acima da terra." (Devarim 11:20-21).
 Segundo as Tosafot e o Shulchan Aruch, a função principal 
        da mezuzá é proteger a casa do mal. Devido a este atributo, 
        a mezuzá tem sido chamada de "cota de armas na cavalaria de 
        D’us". Para começar a entender o mecanismo deste efeito 
        da mezuzá, devemos primeiro nos alongar sobre o conceito do mal 
        em si.
 
 O mal foi criado ex nihilo, assim como o restante da Criação. 
        Não foi criado em prol de si mesmo, mas apenas como um instrumento 
        de livre arbítrio. É tolerado até o ponto em que 
        serve a este propósito.
 
 Para permitir a existência de seres que não seriam absorvidos 
        e anulados na Fonte, D’us escolheu ocultar e retirar Sua luz para 
        criar, por assim dizer, um "vácuo" onde os seres criados 
        sentiriam sua existência independente. Isso, de maneira bastante 
        simplificada, é o conceito fundamental de tzimtzum (a ocultação 
        e contração da luz Divina primordial, que é a pedra 
        fundamental da Cabalá Luriânica). O conceito de tzimtzum 
        demonstra como uma criação monística pode levar a 
        um dualismo aparente.
 
         
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 A 
                ausência de luz, obviamente, abre uma possibilidade para 
                a escuridão – ou mal. Nossa tarefa é descobrir 
                o esconderijo de D’us, por trás de um véu 
                de escuridão. 
 |   A ausência de luz, obviamente, abre uma possibilidade 
        para a escuridão – ou mal. Nossa tarefa é descobrir 
        o esconderijo de D’us, por trás de um véu de escuridão. 
        O mestre chassídico Rabi DovBer de Mezeritch certa vez encontrou 
        seu filho pequeno chorando enquanto brincava de esconde-esconde. Ele tinha 
        se escondido, mas nenhuma das crianças o estava procurando. Rabi 
        DovBer começou a chorar também, e explicou ao filho que 
        nosso Pai Celestial também está Se escondendo de Seus filhos, 
        como está escrito: "Tu és um D’us que Se esconde" 
        (Yeshayáhu 45:15), para que eles possam procurá-Lo – 
        mas ninguém procura!
 O mal, por definição, é aquilo que oculta a verdadeira 
        fonte da existência, o Criador. O próprio termo para mal 
        na Cabalá, kelipá, significa "concha" ou "casca". 
        É algo que não tem valor independente, exceto servir como 
        uma cobertura para a fruta.
 
 O mal foi criado para nos proporcionar a liberdade de escolha, que somente 
        é possível onde há uma alternativa disponível 
        para o bem. Se não houvesse a concha externa ocultando a verdade, 
        seríamos obrigados a obedecer à vontade Divina. Se nos fosse 
        negado o livre arbítrio, também nos seria negada a recompensa.
 
 De modo contrário, sem livre arbítrio não existe 
        o mal. Um animal matando sua presa para se alimentar não pode ser 
        acusado de cometer uma maldade, porque ele não tem escolha a esse 
        respeito. Ele foi criado por D’us com um instinto predatório 
        e sem vontade própria. Da mesma forma, os anjos não podem 
        ser considerados bons, porque foram criados para assim proceder. Somente 
        os seres humanos possuem o livre arbítrio, e podem elevar-se acima 
        dos anjos ou cair abaixo dos animais, dependendo das opções 
        que fizerem.
 
 Assim, vemos que sem o mal não há o livre arbítrio, 
        e sem o livre arbítrio não há bem ou mal. O mal proporciona 
        a prática do bem, no mesmo sentido em que um raio de luz pode ser 
        visto somente num céu nublado.
 
 Uma vez que tenhamos entendido que o mal deve existir e que ele desempenha 
        um papel positivo no esquema da Criação, somos confrontados 
        com outro problema: se o mal é a casca ou a ocultação 
        da luz Divina, de onde vem sua energia? O que sustenta a sua existência? 
        A resposta é, obviamente, o mesmo Criador que dá vida a 
        tudo. Porém, enquanto o âmbito da santidade recebe o sustento 
        de D’us em abundância, o apenas tolerado âmbito do mal 
        está relegado a alimentar-se de "sobras".
 
 A Cabalá chama o mal, sitra achra, de "o outro lado". 
        D’us permite que uma quantidade mínima de energia vivificante 
        vaze para o "outro lado" para manter sua existência. Uma 
        grande quantidade dessa energia o mata completamente. Como dizem os Sábios 
        da Cabalá, "A luz brilhante cega os olhos das forças 
        do mal". O intelecto, especialmente a sabedoria (chamada chochmá 
        na Cabalá), é a luz brilhante que dispersa as trevas.
 
 É por isso que o mal deve sempre permanecer na escuridão, 
        alimentando-se daquilo que vaza pelos pequenos buracos no âmbito 
        da santidade. A Cabalá chama de buraco ou abertura de rá 
        (mal) porque permite que vestígios de santidade vazem, fornecendo 
        ao "outro lado" a sua força vital.
 
         
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 O 
                mal foi criado para nos proporcionar a liberdade de escolha, que 
                somente é possível onde há uma alternativa 
                disponível para o bem. 
 |  Agora podemos entender como a mezuzá protege a casa. 
        Um lar judaico, que é um Templo em miniatura, é um receptáculo 
        de santidade. Uma porta abrindo-se para um mundo estranho e muitas vezes 
        hostil, para o "outro lado", é portanto chamada de mal. 
        O Zôhar nos diz que as forças do mal pairam perto da porta, 
        porque é ali que recebem sua nutrição. Isso é 
        semelhante a bactérias e fungos patogênicos florescendo em 
        locais escuros. Contendo a sabedoria do monoteísmo absoluto, "Ouve, ó 
        Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um", 
        a mezuzá é o raio de luz brilhante que cega as forças 
        do mal, negando-lhes o direito de entrada e as dispersando.
 
 Nisso consiste o segredo da mezuzá.
 
 Tempo, Espaço e Alma
 
 Uma explicação adicional do porquê da mezuzá 
        ser afixada aos portões da casa pode ser encontrada em uma das 
        leis do Shabat.
 
 Os portões de uma casa separam reshut ha’ycahid (o domínio 
        privado) do reshut ha’rabim (domínio público). No 
        Shabat é proibido carregar qualquer objeto de um domínio 
        para outro. A Cabalá associa reshut ha’ycahid (literalmente, 
        "domínio do um") com o Único Mestre do Universo. 
        Reshut ha’rabim ("o domínio de muitos") representa 
        o domínio do mal – a multiplicidade do mundo físico 
        que disfarça e esconde a unidade subjacente da Criação.
 
 Durante os primeiros seis dias da semana, devemos lidar com o mundo multifacetado, 
        tentando refiná-lo e consertá-lo, para revelar sua unidade 
        interior. No sétimo dia, devemos nos abster de todas as atividades 
        criativas para observar a santidade do dia. A palavra hebraica para santidade, 
        Codesh, significa literalmente "separado". Portanto, observamos 
        a santidade do Shabat honrando aquela separação e não 
        carregando um objeto de um domínio para outro.
 
 A obra cabalista Sefer Yetzirá afirma que a Criação 
        inteira existe em três dimensões: tempo, espaço e 
        alma. A tarefa básica de um judeu é revelar a santidade 
        oculta em cada uma dessas dimensões. D’us tornou isso mais 
        fácil para nós dando início ao processo. Ele santificou 
        o sétimo dia, um ponto de santidade no tempo. Ele santificou a 
        Terra Santa de Israel, Jerusalém e o Monte do Templo como áreas 
        de santidade sempre crescentes no espaço. Ele nos deu uma centelha 
        sagrada, "uma parte do D’us acima" para nossa alma. Utilizando 
        todos os itens acima, devemos santificar o restante da Criação 
        revelando sua unidade oculta.
 
 A mezuzá combina a santidade de todas as três dimensões. 
        É afixada no espaço do batente, a entrada da casa. Como 
        a entrada marca a transição de um domínio para outro, 
        a mezuzá simboliza movimento. Zuz, o radical da palavra mezuzá, 
        significa "mover". O movimento é a essência do 
        tempo. As palavras shaná (ano) e shniyá (segundo) vêm 
        da palavra shinui (mudança). Todas estas palavras denotam mudança 
        ou movimento. Portanto, a mezuzá assinala a santidade no tempo.
 
 Por outro lado, a lei exige que a mezuzá seja afixada somente a 
        uma estrutura permanente. A essência do espaço, em oposição 
        ao tempo, é a imobilidade. A imobilidade da mezuzá a conecta 
        ao conceito de espaço. Além disso, muitas das leis da mezuzá 
        lidam com sua posição no espaço, i.e., onde ela deve 
        ser afixada, em qual lado do batente, a que altura e ângulo. Assim, 
        a mezuzá leva santidade ao conceito de espaço.
 
 Finalmente, a mezuzá, que protege as almas do povo judeu, está 
        conectada ao conceito de alma. No texto do rolo da mezuzá está 
        escrito: "Amarás ao Eterno teu D’us… com toda 
        tua alma."
 
 Portanto, vemos como a mezuzá une e santifica as três dimensões 
        de tempo, espaço e alma. A idéia da mezuzá unificando 
        e santificando o tempo, espaço e alma é expressa no último 
        versículo inscrito na própria mezuzá.
 
 "… que tua [alma] dias [tempo] e os dias [tempo] de teus filhos 
        [alma] sejam prolongados sobre a terra [espaço] que o Eterno prometeu 
        dar aos teus pais [alma] durante o [tempo] em que os céus [espaço] 
        estiverem acima da terra."
 
 D’us concedeu ao Seu povo escolhido sinais deste relacionamento 
        especial. O Shabat é um sinal no tempo. A mezuzá é 
        um sinal no espaço. O brit milá (circuncisão) é 
        um sinal do nível da alma. A conexão entre a mezuzá 
        e a circuncisão pode ser observada a partir do imperativo em Yechezkel 
        16:6 e recitada na cerimônia do brit milá: "em teu sangue, 
        vive." O sangue aparece na Torá em Shemot 12:22 onde a palavra 
        "mezuzá" é mencionada pela primeira vez. Isto 
        está no contexto do Mandamento de assinalar os batentes dos lares 
        judaicos com sangue do sacrifício de Pêssach na época 
        do Êxodus. Além disso, o Zôhar declara que "o 
        sangue era de dois tipos, aquele da circuncisão e o do cordeiro 
        de Pêsssach." O Zôhar compara o local da circuncisão 
        com a "porta do corpo". Os dois conceitos Também estão 
        justapostos em Bereshit 18:1, descrevendo Avraham: "… ele sentou-se 
        [abatido pela sua circuncisão] à porta de sua tenda."
 
 Assim, o Zôhar nos diz:
 
 Feliz é a porção de Israel para o povo judeu saber 
        que eles são os filhos do Sagrado Rei, pois todos levam Seu selo. 
        Eles estão marcados no corpo com o sinal sagrado [brit milá]; 
        suas vestes levam o sinal de uma mitsvá [do tsitsit – franjas]; 
        suas cabeças estão estampadas com os compartimentos de tefilin 
        [filactérios] com o nome do seu Amo; suas mãos estão 
        estampadas com as correias da santidade [correias do tefilin de mão]… 
        e em suas casas eles portam o sinal da mezuzá em seus batentes. 
        Assim, de todas as maneiras, eles estão marcados como os filhos 
        do Mais Alto dos Reis.
 
 O Talmud declara que a menorá de Chanucá deve ser colocada 
        num batente oposto à mezuzá. Na filosofia chassídica, 
        o azeite simboliza a nação judaica. Assim como o azeite 
        não se mistura com outros líquidos, também os judeus 
        não se misturam com as outras nações. Samuel Heilman 
        relata um discurso feito pelo Belzer Rebe sobre este tema:
 
 "O óleo não se mistura com qualquer outro líquido. 
        Não importa o quanto se tente misturar o óleo com outros 
        líquidos, ele sempre permanece separado.
 
 " O óleo", continua ele, "representa o povo judeu 
        que, não importa o quanto alguns se esforcem para misturá-lo 
        com outros, sempre permanecerá separado, como o óleo. A 
        luz… nos separa das trevas. Como a luz simbolicamente separa o sagrado 
        do profano, assim também a mezuzá sobre nossas portas nos 
        separa e protégé. As luzes de Chanucá e a mezuzá 
        simbolizam separação, e assim protegem o povo judeu de influências 
        estranhas e da assimilação "que ameaçam nos 
        fazer desaparecer". Ambos são "… uma lâmpada 
        sobre os meus pés e uma luz no meu caminho" (Tehilim 119:105).
 
 Conclusão
 
 Agora todas as peças do quebra-cabeças se encaixam. Na dimensão 
        do tempo, um judeu não pode carregar um objeto de um domínioo 
        para outro no Shabat porque isso profanaria a santidade – i.e., 
        linhas de separação – do dia. Ao nível da alma, 
        um judeu está proibido de contrair casamento misto, que cruzaria 
        a linha de separação entre o povo sagrado escolhido e o 
        restante da humanidade, entre "uma nação em D’us" 
        e muitas nações. Na dimensão do espaço, a 
        mezuzá simboliza a separação – tornar sagrado 
        – o domínio de um do domínio de muitos, e esta demarcação 
        não deve ser violada trazendo idéias, costumes e valores 
        diferentes a um lar judaico.
 Assim como o Shabat é um santuário no tempo e uma alma judaica 
        é um santuário em miniatura na dimensão da alma, 
        a mezuzá assinala o lar judaico como um santuário em miniatura 
        na dimensão do espaço. Ao fazer do lar um verdadeiro santuário 
        de Divindade, um judeu não apenas cumpre sua missão na vida, 
        mas também ajuda a realizar o propósito fundamental da Criação 
        – dar a D’us "uma morada nos mundos inferiores".
 
 A mezuzá não apenas fica na fronteira ente os domínios 
        do Um e de muitos, como também aponta para dentro, na direção 
        do domínio do Um. Isso é para nos ensinar que enquanto D’us 
        criou nosso mundo multifacetado de Um em muitos, nosso propósito 
        é elevar o mundo físico para trazê-lo de volta, por 
        assim dizer, à unidade do Criador. Este processo contrário 
        de levar muitos de volta a Um é a direção na qual 
        a seta da mezuzá nos aponta.
 
 Na dimensão do espaço, a mezuzá aponta para o domínio 
        do Único, singular, Mestre do Universo; na dimensão da alma 
        a mezuzá aponta para nossa singular centelha Divina; e na dimensão 
        do tempo, a mezuzá aponta para a era de Moshiach, quando a unidade 
        de D’us será revelada – que isso aconteça imediatamente!
 
 Nossos Sábios disseram: "Aquele que é observante [do 
        preceito da] mezuzá merecerá uma bela casa." Que possamos 
        logo ver pelo mérito desta grande mitsvá a reconstrução 
        da ‘Casa mais bela e sagrada" de todas, o Templo de Jerusalém, 
        como está escrito, "Eu morarei na Casa do Senhor todos os 
        dias da minha vida/Para contemplar a beleza de D’us e para meditar 
        em Seu Santuário" (Tehilim 27:4).
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