|  | Há quase quinhentos anos, a pequena cidade de Tsfat, aninhada 
        nas majestosas colinas da Galiléia ao norte de Israel, fervilhava 
        com a Torá. Eruditos talmúdicos, cabalistas, poetas e haláchicos 
        estavam aprendendo, ensinando, louvando e explicando.
 Dentre os habitantes de Tsfat incluíam-se ilustres personalidades 
        como Rav Moshe Cordevero, o grande cabalista, Rav Yosef Caro, autor do 
        Shulchan Aruch, e Rav Shlomo Alkabetz, compositor de Lecha Dodi.
 
 Neste cenário apareceu o notável "Ari" (o leão), 
        Rav Yitschac Luria. O Arizal nascera em Jerusalém e ainda muito 
        pequeno adquiriu profundo conhecimento da Torá, tanto revelada 
        quanto oculta. Tornou-se um mestre em misticismo, ensinando Cabalá 
        a um seleto círculo de discípulos, e iniciou uma escola/pensamento 
        modificada de Cabalá que é estudada até os dias de 
        hoje.
 Foi abençoado com a habilidade de ler a alma dos homens e a perceber 
        suas origens espirituais. Muitos de seus contemporâneos que procuraram 
        seus conselhos tiveram o privilégio de receber sugestões 
        para o crescimento espiritual que poderia proporcionar-lhes Ticun – 
        reparação para sua alma.
 
 
  O Ari redescobriu 
        os túmulos de muitos judeus no vale ao pé de Tsfat, incluindo 
        o de personalidades bíblicas e talmúdicas. E no topo daquele 
        vale, ao pé de Tsfat, descobriu uma fonte de água fresca 
        com os poderes purificadores de um micvê (banho ritual).O Ari mergulhava 
        todos os dias neste micvê, fosse verão ou inverno, purificando-se 
        antes da prece e do estudo. Hoje em dia, no mesmo vale, assim como se 
        pode visitar os túmulos daqueles santos tsadikim, pode-se também 
        visitar o próprio micvê do Ari. A água fresca não 
        cessou de brotar de uma fenda nas pedras, ao longo de um fundo rochoso 
        que forma uma piscina, grande apenas o suficiente para que dois ou três 
        homens possam banhar-se ao mesmo tempo. A água é fria, fresca 
        e limpa. 
 Para usar o micvê, o visitante deve descer as trilhas serpenteantes 
        e depois os muitos degraus aninhados entre as luxuriantes colinas verdes 
        que dominam este vale sagrado e imponente. As águas são 
        energéticas e muito refrescantes num dia quente de verão. 
        Os mais devotos podem ser vistos desafiando o micvê nos dias gelados 
        do inverno de Tsfat. Todos os tipos de judeus podem ser encontrados descendo 
        a trilha que leva a este incrível micvê. Alguns vêm 
        de terras distantes, absorvendo o bálsamo das frescas águas 
        da fonte pela primeira vez na vida. Alguns são moradores, mergulhando 
        diariamente – chassidim, sefaraditas, ashkenazitas. Alguns saem 
        de Jerusalém e viajam rumo norte a cada Erev Rosh Chôdesh 
        para imergir no mesmo micvê fundado e usado pelo Santo Ari, antes 
        de rezarem nos túmulos dos tsadikim no cemitério adjacente.
 Rav Chaim Vital, principal discípulo e escriba do Ari, relata um 
        miraculoso incidente que ocorreu a 5 de Av de 1572, há quase 420 
        anos.
 
 "Meu mestre ordenou que, após seu falecimento, seu corpo deveria 
        ser imerso (no micvê) uma última vez antes do sepultamento. 
        No dia em que morreu, carregamos seu corpo até o micvê. Quando 
        estávamos a ponto de imergi-lo, dissemos: "Mestre, perdoe-nos, 
        por favor," e então começamos a escorregar seu corpo 
        dentro da água. Para nosso espanto, ele curvou-se e imergiu por 
        si mesmo." (Anaf Etz Avot, pág. 78).
 
 O micvê é usado apenas por homens, e por razões de 
        recato, as mulheres permanecem no topo da trilha que desce até 
        o micvê, enquanto seus parentes homens descem até este local 
        sagrado. Embora o micvê esteja encerrado em uma grande estrutura 
        de pedra, está aberto para o uso o tempo todo.
 
 Mas seja qual for a época do ano e a hora do dia, a imersão 
        neste incomparável micvê é terapêutico no sentido 
        mais profundo. Ao emergir desta fonte especial, pode-se virtualmente sentir 
        o efeito espiritual das águas santas sobre o corpo e a alma.
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