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Aparentemente
o artista de Judaica Avraham Hersh Borshevsky, 33, tem a maior mezuzá
do mundo. A mezuzá foi apresentada numa Feira Internacional em
2004 e foi registrada pelo "Livro Guinness de Recordes Mundiais."
O rolo de pergaminho da mezuzá mede 94 cm/76 cm e pesa três
quilos. Está colocada num estojo de madeira, ouro e vidro, ficando,
dizem alguns, com uma aparência de um aquário vertical.
Mas há uma história por trás da maior mezuzá
já feita.
Querem saber o que levou Avraham Borshevsky a tentar esta incrível
façanha?
Vejam no artigo publico em 2004 por
Benzion Sklar
"Por que os artistas sempre trabalham perto do telhado?" –
eu me perguntava enquanto, há alguns meses, subia exausto até
o quinto andar de um antigo edifício na Rua King George em Jerusalém,
onde Borshevsky trabalha. Somente quando eu já estava tocando a
campainha da porta de Borshevsky foi que notei um pequeno elevador à
minha direita, que eu poderia ter usado.
Borshevsky levou-me a uma passagem comprida, forrada de quadros, até
o seu estúdio que ele, com muita propriedade, chamava de "Ot
Hazahá". A luz do sol vinda do leste iluminava o local com
um brilho dourado, lançando sua luz sobre uma massa de pincéis,
prateleiras atulhadas com livros de arte, quadros e gravuras, e toda a
parafernália que faz de Borshevsky um dos artistas de Judaica mais
procurados em todo o mundo. Embora ele seja um dos sofrim mais destacados
do mundo, pratica sofrut mais por amor que como vocação.
Havia um sofá espremido na sala, e sentei-me enquanto Borshevsky
me falava sobre sua odisséia espiritual e artística.
Da Escola
de Artes à Yeshivá
O
Rabino Chefe da Rússia A. Shayevish inaugura a exposição
Judaica de A. Borshevsky em Moscou, 2003.
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Borshevsky nasceu
em Korosten, Ucrânia, perto de Berdichev, um dos berços do
Chassidismo.
Até hoje, mesmo gentios ucranianos vão regularmente rezar
no túmulo de Rav Yisrael DovBer de Velednick, que está situado
na região.
Na época em que Borshevsky nasceu, três gerações
tinham passado desde a Revolução Bolchevique em 5687/1917.
Seus bisavós tinham sido shomrei mitsvot e seus avós tradicionais,
mas quando Borshevsky surgiu, as coisas tinham descido a um nível
espiritual tão baixo que ele nem sequer fez o brit.
Após estudar na escola de artes, Borshevsky continuou sua educação
na Academia de Arquitetura em Leningrado. Logo depois houve uma explosão
em sua casa quando ele anunciou que estava deixando os estudos.
Sentindo que nada sabia sobre o Judaísmo, Borshevsky caminhou até
a Sinagoga de Leningrado. Isso foi no fim dos anos 80, antes da Glasnost
e não levou muito tempo para que os judeus locais ficassem convencidos
de que ele não era um espião, mas logo foi iniciado no círculo
de shiurim secretos da sinagoga, e após vários meses ele
finalmente teve o seu brit há tanto adiado.
Quando ele anunciou abruptamente aos seus chocados pais que estava deixando
seus estudos de arte e entrando numa yeshivá, eles protestaram
que ele estava jogando fora qualquer perspectiva de ganhar um sustento
decente. O tempo provaria que as preocupações dos pais eram
fúteis.
Em 5750/1990 sua família mudou-se para Erets Yisrael, onde ele
continuou seus estudos em Shvut Ami, uma yeshivá especialmente
criada para baalei teshuvá russos. Por volta de 5754/1994 ele tinha
se tornado um sofer habilitado, com uma escrita que estava entre as mais
belas do mundo, mas a repetição interminável de letras
idênticas frustrava suas energias criativas. Então, ele começou
a criar ketubot iluminadas e desde então suas obras se destinam
a lares, sinagogas e colecionadores de todo o mundo.
Família e background
Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de milhares de russos em pânico
fugiram do Leste antes do avanço do exército alemão.
Entre eles estava a família de Borshevsky, que chegou até
o longínquo Usbequistão. Eles fizeram amizade com dois refugiados
da yeshivá que tinham fugido de Telshe e os ajudaram a sobreviver.
Cinqüenta anos depois, chegou uma carta na caixa de correspondência
do avô de Avraham Borshevsky em Jerusalém. Os dois bachurim
que a sua família tinha conhecido há tanto tempo eram ninguém
menos que Harav Chaim Stein e Harav Meir Zelig Mann, e ambos dedicaram
o resto de sua vida a construir a Yeshivá Telshe em Cleveland,
uma missão à qual eles permaneceram fiéis até
hoje.
Rav Stein conheceu a família Borshevsky em Erets Yisrael e disse-lhes
que se lembrava bem da sucá montada por seu bisavô há
tantos anos. Ele contou-lhes também que ele e Rav Meir Zelig não
conseguiram pensar numa maneira melhor de expressar sua gratidão
que rezar para que pelo menos um membro daquela generosa família
voltasse ao legado de seus antepassados. Como sabemos, suas preces deram
resultado.
Eu O Glorificarei
Desde o início,
Borshevsky estava determinado a não fazer de sua arte um mero esforço
para ganhar dinheiro, ou simplesmente arte pela arte em si. "Desejo
que as pessoas enfeitem suas casas com minha arte caligráfica"
– insiste ele – "cumprindo a declaração
da Guemará, ‘Anvehu bemitsvot’, ‘Faça
beleza para Hashem em mitsvot’" (Shabat 133).
"A caligrafia simboliza a união e a unicidade dos judeus"
– ele declara. "Olhe para as letras hebraicas. Cada uma tem
uma vida toda sua, e um relacionamento interior as conecta todas juntas.
As letras são os meios para descobrir a essência da Torá.
Nenhuma de minhas obras funciona somente através da estética.
A letra judaica e a palavra estão no coração de cada
uma delas."
A obra de Borshevsky é a tal ponto uma mescla de arte com o espiritual
que o Vaad Mishmeres StaM o encarregou de escrever um folheto explicando
o conceito da mezuzá aos judeus russos não engajados.
Um dos pontos altos da carreira de Borshevsky foi sua exposição
em Moscou, a primeira exibição de arte judaica desde o levante
bolchevique. Intitulada "Renascimento da Arte Caligráfica
Judaica", foi visitada por centenas de judeus russos cultos, que
desconheciam totalmente a existência da arte judaica tradicional.
Para muitos deles, esta foi a primeira introdução ao verdadeiro
Judaísmo de Torá. Dentre as dezenas de figuras públicas
que chegaram para apreciar a exposição, estava Harav A.
S. Shayevich, Rabino Chefe da Rússia. 5.000 calendários
baseados nas obras de Avraham foram impressos para os judeus russos.
A Mezuzá Recordista Mundial
O
encontro, após 50 anos de Rav Chayim Stein e o avô
de Avraham Borshevsky's, Shmiel-Zaiwl Halevi Landman z"l (esquerda),
Jerusalem, Israel.
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Logo Borshevsky começou
a pensar numa maneira de divulgar o Judaísmo em escala ainda mais
ampla. Por que não utilizar a mídia global já existente
para nossos próprios fins? Mas como?
"Foi então que pensei em escrever uma mezuzá de tamanho
recorde" – disse-me Borshevsky. "O que poderia divulgar
mais a idéia da mezuzá que esta? Eu sabia que isso seria
um kidush Hashem e ensinaria aos judeus do mundo inteiro sobre eles mesmos
e sua religião. Minha meta era levar honra e prestígio a
Klal Yisrael, e isso de fato foi realizado. Além de estar listada
no Livro Guinness de Recordes, a história de minha mezuzá
foi publicada mundialmente."
Ela é Casher?
Algumas pessoas se preocuparam achando que talvez a mezuzá gigante
de Borshevsky não cumprisse as especificações haláchicas.
Borshevsky investigou este assunto antes de começar seu empreendimento,
e cartas como a seguinte, do prestigioso "Merchon Pe’er",
afirmam que de fato a mezuzá é casher lechatchila: "A
respeito da mezuzá gigante escrita em pergaminho, que foi aceita
pelo Livro Guinness de recordes Mundiais como a maior mezuzá do
mundo:
"Eu gostaria de declarar que o tópico foi esclarecido ao nível
do "StaM Beit Din Profissional" (Sifrei Torá, Tefilin
e Mezuzot) de ‘Machon Pe’er’, sob a liderança
de Harav Hagaon Rav Mordechai Klein, shlit’a. Segundo a Lei Judaica,
não há problema em escrever uma mezuzá de qualquer
tamanho, e é permitido lechatchilah escrever mezuzot extremamente
grandes.
Obviamente, uma mezuzá deste tipo somente pode ser afixada num
batente muito alto, porque a mezuzá deve ser colocada no terço
superior do batente, deixando pelo menos 8 a 9,6 cm a partir do topo.
Cordialmente, Yisrael Yud
Diretor do ‘Machon Pe’er’, Bnei Brak"
E quanto ao prisma ético?
"É eticamente correto utilizar uma mezuzá como uma
ferramenta para relações públicas"? perguntei
ao Rav Yirsael Yud.
"Aderaba" – ele insiste. "Pelo contrário –
esta mezuzá chegou na hora certa, porque estamos muito atrasados
quando se trata de relações públicas. Duas pesquisas
(em 1993 e 2002) demonstraram que 95% dos judeus israelenses colocam mezuzot
em suas portas, mas conhecem muito pouco o seu significado. Quem explica
o significado de Shemá Yisrael às crianças israelenses
seculares?"
"Falei com Avraham Borshevsky" – continuou Rav Yud –
"e quando ele me contou sobre o seu passado e seus objetivos, fiquei
convencido de seu sincero desejo de fazer algo por Klal Yisrael. Ele me
disse que sua meta era tornar especialmente os russos nos mais interessados
em mezuzot. Para a maioria deles, a mezuzá não é
diferente de um Birkat Habayit impresso."
Ele desejava transformar a mezuzá em um kidush Hashem de maneira
maciça.
"Eu vi com quem estava lidando" – concluiu ele. "Alguém
com um enorme coração e bastante instruído em halachot
e conceitos de StaM."
"Mas e quanto à cashrut da mezuzá?" perguntei.
"Conferi as proporções de sua mezuzá e as comparei
com mezuzot de tamanho normal" – respondeu Rav Yud. "Conferimos
cada letra e toda tag (coroa da letra). Toda halachá foi escrupulosamente
observada. Todos os sheimot (Nomes Sagrados) foram santificados. A escrita
de Borshevsky tem o padrão das melhores mehudar no mundo. Esta
mezuzá é um cumprimento literal do versículo‘Todas
as nações do mundo verão que o Nome de Hashem está
sobre ti.’ A mezuzá não é algo para ser escondido
na casa da pessoa, mas ao contrário, para usar como um veículo
lekadesh Shem Shamayim, santificar o Nome de Hashem."
Você tem alguma idéia sobre a continuação dessa
tendência?" eu perguntei a ele.
"Existem pessoas com visão" – ele respondeu –
"e há uma chance de que outras coisas virão depois
dessa."
O desafio de fato foi lançado, mas esta é uma outra história.
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Mezuzá:
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