Por Dr. Hillel Laks    
  Medicina e Milagres  
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Um médico contempla o lugar de D'us na sala de operações

Uma vibrante mãe de três filhos, aos trinta e cinco anos, sofre uma maciça hemorragia intracraniana que resulta em morte cerebral. Seu coração fica disponível e é usado para salvar a vida de uma mulher de 65 anos morrendo de insuficiência cardíaca. Um moderno "milagre da medicina."

Foi a Providência de D'us que fez aparecer o coração bem a tempo de salvar o receptor? Onde estava a Providência de D'us, muito atrasada para salvar o doador dos efeitos da hipertensão não diagnosticada? E qual foi o papel da equipe cirúrgica que realizou o transplante? Deveriam eles receber os louros por salvar a vida do receptor? E quando o receptor inesperadamente apresentou uma infecção fatal devido ao uso de drogas imuno-supressoras, deve-se culpar a equipe médica? E se eles a tivessem tratado apropriadamente, seria isso um "ato de D'us" - um termo freqüentemente usado pelos médicos quando tudo foi feito da forma correta, mas o paciente morreu?

Portanto, qual o papel da Providência Divina no contexto da medicina moderna e qual o papel desempenhado pelos médicos? Há lugar para a prece e a fé, tanto para o paciente como para o médico?

O paradigma para a vida, desde que fomos banidos do Jardim do Éden, é o conflito e a necessidade de prover as necessidades da vida através do suor do rosto. Somos portanto obrigados a entrar em ação, não apenas para nos alimentar, mas para manter nossa saúde. Maimônides declarou que curar os doentes não era diferente das ações do homem que tenta curar a fome procurando pão para se alimentar. Os médicos não estão interferindo com a vontade Divina mais que a pessoa que dá esmola aos pobres. A Torá e as fontes talmúdicas sancionam o papel do médico. "A Torá deu permissão ao médico para curar; acima de tudo este é um preceito religioso, e está incluído na categoria de salvar vidas." O código da lei judaica declara "o direito do médico de curar é um dever religioso e aquele que foge a esta responsabilidade é considerado como tendo derramado sangue."

Qual o papel da Providência Divina no contexto da medicina moderna? Há lugar para a prece e a fé, tanto para o paciente como para o médico?

O médico, portanto, está autorizado a desempenhar seu papel no processo de cura, mas, "o médico é o mensageiro de D'us ao curar as pessoas que precisam. Portanto, a motivação de um médico é voltada para um maior e melhor conhecimento, a fim de glorificar a D'us neste mundo; desta forma, um médico pode melhor cumprir suas obrigações aos necessitados." (Yad Avraham 4, pág. 21) Ele está portanto obrigado a ser tão bom como médico quanto lhe for possível, através do estudo e do trabalho. E todas suas vitórias são atribuídas aos poderes curativos de D'us. Ele não pode culpar a mão de D'us quando os esforços médicos falham, pois D'us concedeu ao homem desempenhar um papel poderoso no tratamento da doença. Ele deveria rezar para que D'us lhe dê a percepção e a criatividade de encontrar soluções para os problemas médicos onde até então nenhuma cura era possível.

Como prova disso, os pacientes deveriam honrar a D'us cumprindo a mitsvá da responsabilidade por sua própria saúde, antes de apontarem para a "vontade de D'us" quando a doença acontece. Como declara a Torá: "Cuide de sua saúde e guarde sua vida." (Devarim 4:9) Os pacientes devem olhar para o papel que desempenharam - ou então não desempenharam - em assegurar sua própria saúde.

Por exemplo, o peso excessivo resulta em hipertensão, doenças coronarianas, derrames e diabetes, entre outros problemas. E mesmo assim 40% das pessoas acima de 50 anos estão 30% acima do peso ideal. Deveria a Divina Providência assistir-nos e prevenir doenças quando descuidadamente ignoramos nossa responsabilidade divinamente ordenada de cuidar de nós mesmos? Isaac Arama declara que "o homem não deve confiar apenas em milagres ou na providência; deve porém fazer tudo ao seu alcance para manter a vida e a saúde."

Todas as pessoas, e particularmente os médicos, vivem em um mundo de conflito entre nossa responsabilidade de prover para nós mesmos e nossa crença e confiança na Providência Divina. É inaceitável que o médico seja mal preparado, ou que aplique-se inadequadamente, esperando pela ajuda Divina para compensar suas deficiências. Da mesma forma, toda pessoa deveria observar as próprias ações para preservar sua saúde e evitar moléstias, de forma direta por meios preventivos e de forma indireta apoiando pesquisa médica, e procurando o cuidado dos melhores médicos.

Porém podemos e devemos rezar por maior habilidade, maior sabedoria e maior tolerância para cumprir nossos respectivos papéis. A Providência Divina é visível em cada milagre da medicina. Não podemos entender a natureza desta Providência, e por que as pessoas sofrem doenças e morte. Nosso próprio papel foi bem explicado. As atividades de cada pessoa deveriam ser guiadas por um propósito para o qual há autoridade Divina. Devemos também aceitar a obrigação de cuidar de nossa saúde e longevidade com todas suas ramificações. E o médico tem a obrigação de usar a prática e o progresso médico para prevenir e curar as doenças. Como um filho ou filha "quase independente", espera-se de nós que façamos o melhor possível para cuidar de nós mesmos, mas podemos olhar para nosso "Pai nos Céus" para pedir ajuda.

   
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