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"Mabul,"
dilúvio é uma metáfora para exílio. A etimologia
da palavra “mabul” é “bilbul” – confusão.
O exílio é um estado de confusão, onde tudo no mundo
não é visto como realmente é, mas sim como uma distorção.
Contudo, assim como as àguas do dilúvio tinham a finalidade
de purificar a Terra, assim também é o propósito
do exílio de purificar o mundo, e levá-lo a um estado de
refinamento, onde não haverá potencial para um outro exílio
– mas sim para a verdadeira e completa Redenção. Esta
é a discussão que segue abaixo, entre aquele que acredita
e o céptico.
Parte I
Céptico: Não vai acontecer.
Convicto: Por que não?
Céptico: Fraternidade universal, espadas transformadas
em arados, erradicação do mal… ora, dá um tempo!
Convicto: Mais uma vez, por que não?
Céptico: A Humanidade, eis por que não.
Olhe para a história manchada de sangue, veja o que está
acontecendo hoje. Vamos encarar, o homem é um animal egoísta.
Sua única meta verdadeira na vida é a auto-realização,
e ele atropelará e destruirá tudo que se atravessar em seu
caminho para conseguir o que deseja.
Convicto: E esta, na sua opinião, é a natureza
básica de todo ser humano? Incluindo você, por exemplo?
Céptico: Claro que sim! Sou tão egoísta
quanto qualquer outra pessoa. Tento ser decente, mas sei muito bem que
magoei e prejudiquei outras pessoas durante a minha vida.
Convicto: Então é assim que você vê a si mesmo
– como um monstro malvado…
Céptico:Não, não foi isso que eu disse. Tento fazer
o que é certo. Mas meus instintos egoístas muitas vezes
levam a melhor sobre mim…
Convicto: Mas lá dentro, no fundo do seu coração,
você sabe que pode sair-se melhor…
Céptico:Tudo bem. Digamos que se eu colocar minha mente e vontade
nisso, consigo tornar meu comportamento consistente com aquilo que sei
ser o certo. De que maneira isso mudaria alguma coisa? Existem outros
seis bilhões de pessoas no planeta!
Convicto: Você não está usando um padrão duplo
aqui? “Sou basicamente bom, mas todos os outros são maus.”
Céptico: E se a maioria das pessoas é boa,
aonde isso tem nos levado nos últimos milhares de anos? Até
um único ato de maldade pode provocar bastante dano. Um único
sujeito mau pode desfazer as realizações positivas de muitos
indivíduos bem-intencionados.
Convicto: Por que não o contrário? Por que não um
único ato positivo tendo uma influência de longo alcance?
Se um Hitler pode matar milhões e destruir a vida de centenas de
outros milhões, por que não um Mashiach que desperte o bem
latente em todo ser humano? Basicamente, o que você está
dizendo é que o mal é mais poderoso que o bem.
Céptico: Provavelmente é assim. Eu gostaria
que fosse o contrário. Deveria ser o contrário. Mas não
é assim.
Convicto: Mas você mesmo disse sentir que o bem dentro de você
é mais poderoso que seus desejos egoístas – que se
você acreditasse, isso faria muita diferença, você
poderia dominá-los. Se uma pessoa pode fazer isso, todos podem.
Céptico: Teoricamente, você está
certo, mas eu não vejo isso acontecendo. Simplesmente não
é realista.
Convicto: Você sabe, o bem e o mal muitas vezes são chamados
de “luz” e “trevas”. Pense dessa maneira: a escuridão,
não importa o quanto seja assustadora, não é uma
coisa ou uma força. É apenas a ausência de luz. Portanto,
a luz precisa não combater e sobrepujar a escuridão para
desalojá-la – onde entra a luz, sai a escuridão. Da
mesma forma, o mal não é páreo para o bem. O bem
é o estado básico da natureza humana… você,
eu, e todos sentimos que isso é verdadeiro em nós mesmos
– ao passo que o “mal” em nós é meramente
o obscurecer e a distorção da verdade. No momento em que
o seu verdadeiro ser vier à luz, a escuridão se dissolve.
Céptico: É uma bela maneira de dizer isso,
e eu concordo que quase todos nós pensamos assim. Mas dizer que
virá um dia em que todo ser humano agirá dessa maneira…
Como eu disse, simplesmente não é realista.
Convicto: Creio que o seu problema com o Mashiach não é
racional, ou de preconceito pessoal. Você parece concordar que meu
ponto de vista faz sentido. E você certamente não tem nada
a perder e tem tudo a ganhar com um mundo harmonioso e perfeito. É
apenas um certo bloqueio interno, uma desconfiança habitual sobre
as outras pessoas…
Céptico: Bem, eu moro na cidade de Nova York…
Convicto: Você concorda com tudo que eu digo, exceto pela conclusão.
Céptico: Você está certo. Simplesmente
não posso engolir isso.
Parte II
Céptico: Quanto mais conversamos sobre Mashiach,
mais me parece que tudo se resume a uma questão de perspectiva.
Convicto: O que quer dizer?
Céptico: O convicto vê o mundo como uma
criação organizada e objetiva. A vida é um processo
com uma meta final, a história é uma jornada com um destino.
O mal, o caos e o sofrimento não se encaixam nela – então
deve haver um terrível engano, ou obstáculos a serem superados
como parte do plano Divino. Uma comunidade mundial unida para servir ao
bem comum – ou, como você poderia chamá-la, Mashiach
– é a coisa mais natural no mundo. O mundo de hoje é
surrealista, o mundo de Mashiach é a realidade sã. Se esta
é a maneira que você a enxerga, então obviamente tudo
aponta para aquela direção. Todo o progresso e o aperfeiçoamento
que testemunhamos em nosso mundo é parte desta progressão
cósmica até uma utopia messiânica. Todo o mal que
acontece é apenas uma regressão temporária e superficial
em nossa escalada rumo à redenção, ou talvez os arquejos
finais das infortunadas forças do mal.
Convicto: E o céptico?
Céptico: O céptico vê o mundo como
uma selva hostil na qual o direito sucumbe ao poder e o bom morre jovem.
Ele sempre pensa em si mesmo como “o número 1” e espera
o mesmo das outras pessoas. Se ele encontrar um indivíduo altruísta,
fica impressionado, e o coloca num pedestal ou num museu. Ele não
acha que o mundo está indo para algum lugar em específico.
Convicto: E que cenário, a seu ver, é mais consistente com
os fatos objetivos?
Céptico: Eles são ambos consistentes com
os fatos objetivos! É aí que quero chegar. Dependendo de
onde você está, ou daquilo que sente dentro de si, você
interpretará a história e suas experiências pessoais
por este padrão.
Convicto: O céptico não se comove pela revolução
de veludo na Europa Oriental? Pelo surgimento da liberdade e democracia
em todo o mundo? Pelo desmantelar das armas nucleares, os tanques sendo
convertidos em tratores, e as aeronaves militares transportando alimentos
para os famintos?
Céptico: O convicto não fica desanimado
pela matança em Israel? Pela taxa de crime em Detroit? Pela porcentagem
de maridos que traem as esposas? Mais uma vez: se você enxerga o
mundo como um empreendimento que tem um propósito, os noticiários
e os livros de história falam sobre progresso e aperfeiçoamento,
de correntes de progressões rumo ao ideal messiânico sob
a superfície de um mundo ainda imperfeito. Mas se você enxerga
a vida como uma série de eventos desconexos, arbitrários,
os mesmos fatos descrevem uma selva na qual as coisas boas também
acontecem... às vezes.
Convicto: Mas eu acho que você está deixando de lado um ponto
fundamental. Há uma grande diferença entre as duas perspectivas
que você descreve. Um confia nos dados, nos “fatos crus”.
O outro prova seu caso examinando a psico-história da humanidade,
as mudanças mais profundas na maneira de pensarmos e sentirmos
que têm ocorrido desde o alvorecer da experiência humana.
Céptico: O que quer dizer?
Convicto: O crime violento não tem ideologia – é cometido,
na maior parte, por indivíduos que cresceram em desespero e estão
a fim de arrumar uns trocados ou mais uma dose. Não existe a Associação
Nacional de Abusadores de Crianças. Não há um Prêmio
Nobel para o assassino mais corajoso do ano.
As coisas nem sempre foram assim. Há quatro mil anos, sacrificar
uma jovem virgem era uma prática consagrada pelas religiões
dominantes do mundo. O incesto não somente era permitido pela lei
– era um sinal de sangue real. Há poucos séculos,
destruir uma cidade para saquear seu ouro era um ato de heroísmo
a ser cinzelado em mármore para a posteridade. Mais próximo
de nosso tempo, a escravidão era comum, assaltantes de trem eram
heróis populares, a tortura era um meio de investigação
criminal, as mulheres eram propriedades dos maridos – tudo isso
no mundo mais romantizado por escritores e artistas importantes.
A raça humana está amadurecendo moralmente. Nada enfatiza
mais isso que a queda do totalitarismo no antigo bloco comunista: a pura
força moral das idéias provou ser mais forte que os tanques
e o gulag, levando a liberdade a centenas de milhões. Mais uma
vez, não estou falando da maneira que as pessoas agem, mas sobre
a maneira pela qual elas pensam e sentem – como era o consenso global
antes sobre estes temas e como é agora. As atrocidades que ainda
são cometidas em algumas partes do mundo são tão
perversas quanto o saque e o estupro nas guerras da Grécia antiga,
mas hoje o mundo está unido em sua indignação.
Céptico: Isso faz alguma diferença, na
verdade? Se uma pessoa morre violentamente, D’us não o permita,
é melhor que ele seja morto por um drogado enlouquecido do que
por um “nobre” soldado na sublime glória da guerra?
Ele não está menos morto nem é menos pranteado por
seus entes queridos. Se desejamos um mundo melhor, os “fatos crus”
(como você os chama) precisam mudar, não apenas algum tipo
de “consciente coletivo” abstrato da humanidade.
Convicto: Você está absolutamente certo. Em última
análise, o que importa é a maneira de as pessoas agirem.
Para o mundo de Mashiach se tornar realidade, todo o mal deve ser subjugado,
tanto o mal comportamental quanto o mal “ideológico”.
Porém se queremos extrair algum sentido (ou falta dele) da história,
devemos contemplar as causas subjacentes para o comportamento humano:
as atitudes da sociedade como um todo. Quando isso muda, o caminho está
aberto para que ocorram as verdadeiras mudanças.
Veja o que é preciso para ser “politicamente correto”
atualmente. Em mais e mais partes do mundo, qualquer pessoa que deseja
se eleger deve apoiar os valores familiares, a democracia, os direitos
humanos, a justiça social…
Céptico: Sim, e se você quer ser considerado
inteligente, simplesmente concorde com todo mundo. Você leva estes
políticos a sério?
Convicto: E isso prova meu ponto de vista, mais que qualquer outra coisa!
Se eles fossem sinceros mas impopulares, isso significaria que eles são
homens íntegros, mas que a sociedade está num estado deplorável.
Mas quando os políticos parecem muito bons para serem verdadeiros,
você sabe que o homem na rua está pronto e receptivo para
algumas verdadeiras mudanças em sua vida.
Parte III
Céptico: Mas por que colocar D’us nessa
história? O que há de errado com um “Mashiach”
secular? Se, como você alega, podemos melhorar, então vamos
apenas fazer isso. Vamos trabalhar pela paz no mundo, pelos direitos humanos,
para alfabetização universal, pela cura do câncer,
soluções tecnológicas para a fome na África…
Convicto: Você acha que o homem pode fazer isso por si mesmo?
Céptico: Dificilmente, com ou sem a ajuda de D’us.
É você que está dizendo que o homem é essencialmente
bom, que se todos acordarmos uma manhã com a determinação
de melhorar, teremos um mundo perfeito em nossas mãos…
Convicto: Vamos trocar um pouco de lados neste debate. Permita-me seguir
a sua linha de raciocínio por alguns momentos. Quantas pessoas
você conhece que podem trabalhar juntas por uma boa causa? Quanto
tempo leva para que um esforço “unido” se separe em
doze facções diferentes? Às vezes parece que o problema
é que existem pessoas bem-intencionadas demais por aí, cada
qual com seu “Mashaich” – sua própria visão
subjetiva do ideal e de como chegar lá…
Céptico: Mesmo assim você diz que a história
é um processo levando à perfeita existência de Mashiach…
Convicto: Sim. Mas quem vai definir este processo e os passos necessários
para levá-lo em frente?
Céptico: E evocar D’us resolve o problema?
Aha! Se você olhar para a história, a religião tem
sido a causa de pelo menos tanto mal quanto bem. Pense em quantas pessoas
foram mortas e torturadas “em nome de D’us” e numa variedade
de “Mashiachs!”
Convicto: Este, exatamente, é o meu ponto. Enquanto o homem definir
“bem” e “mal” – quaisquer que sejam suas
intenções – eles está provocando o surgimento
de conflitos com aqueles que não concordam com sua definição.
Se ele ou sua platéia em potencial são do tipo “religioso”,
sem dúvida ele atribuirá sua idéia de moralidade
a D’us e sairá numa cruzada para destruir o mundo para poder
salvá-lo.
Céptico: Então, o verdadeiro D’us,
queira por favor levantar-se!
Convicto: Isso é exatamente o que D’us faz quando envia Mashiach:
Ele Se mostra numa maneira que não deixa espaço para a dúvida.
Mashiach, em termos simples, é um indivíduo que faz surgir
um reconhecimento unânime do verdadeiro D’us, unindo assim
toda a humanidade para trabalhar em prol do bem comum – um bem que
todos aceitem como sendo o ideal verdadeiro, como tendo sido definido
pelo Próprio Supremo Arquiteto da Existência.
Céptico: Você está presumindo que
esta verdade absoluta existe. Eu questiono esta própria premissa.
Convicto: Se não existe, então todo o conceito de um propósito
para a vida não tem um significado objetivo – “Mashiach”
se torna bilhões de fantasias individuais diferentes. Se alguém
sente que a existência tem um significado (e estou convencido que,
lá no fundo, todo ser humano se sente dessa forma), então
deve haver uma realidade transcendente que define este propósito
e o implanta na alma humana. Em outras palavras, um criador, um autor
da história, D’us. Um D’us que criou o homem à
Sua imagem, em oposição aos deuses criados pelo homem segundo
suas imagens.
Céptico: Acreditar num propósito é
uma coisa. Há uma parte em todo indivíduo que insiste que
sua existência é significativa, e que nosso mundo irá
(ou pelo menos deveria) significar algo que valha a pena. Porém
acreditar em um D’us que entregou um conjunto de instruções
específicas – aí já é um tremendo salto
de fé.
Convicto: Um propósito não pode surgir por um “bang”
espontâneo e uma reorganização de átomos…
Céptico: Como você sabe? Muitos físicos
acreditam que a vida, em toda a sua complexidade, pode ter resultado exatamente
dessa confluência de eventos aleatórios na eternidade do
tempo…
Convicto: Sem querer entrar numa discussão semântica sobre
as probabilidades de um “acidente” desse tipo, deixe-me dizer
isso: presumindo que tal coisa pudesse acontecer, você pode chamar
o resultado de um propósito? Por que eu deveria me preocupar com
tal “propósito”? Por que eu deveria me esforçar
para manter algum “padrão” que tenha emergido espontaneamente
por bobagens sem sentido?
Céptico: Porque estas são as leis que asseguram
a continuação de nossa sobrevivência e bem-estar.
Estamos todos no mesmo barco. Então, a sociedade como um todo surge
com determinadas instituições – família, educação,
leis, tribunais, lei internacional – para promover o bem comum.
Convicto: Mas por que eu deveria me importar com este barco? Por que não
fazer o que eu quero, desde que me saia bem com isso?
Céptico: Não há maneira de se sair
bem com isso. Tudo que você faz afeta todos nós e, em última
análise, você mesmo.
Convicto: Quando chegar a hora desta “em última análise”,
eu já terei ido embora há muito tempo. Digamos que eu descubro
que posso levar uma vida luxuosa e realizada como chefão das drogas.
Obviamente, meu produto destrói a vida de jovens e faz com que
senhoras idosas sejam assaltadas à luz do dia! Porém estou
vivendo numa propriedade rodeada por uma cerca elétrica e patrulhada
pela minha segurança particular. Tenho um exército de advogados
para me manter fora da cadeia e uma fundação beneficente
para me manter respeitável. Quando chegar a hora de a sociedade
ruir, estarei descansando confortavelmente sob a minha lápide refinada…
Céptico: E quanto aos seus filhos?
Convicto: Filhos? Por que cargas d’água eu teria filhos?
Para manter a “sociedade” continuando por mais um milhão
de anos?
Como eu disse, se sentimos que há um significado em nossa vida,
é porque um Criador significativo o gravou no próprio DNA
de nossas almas.
Céptico: E daí? Por que eu deveria me preocupar
com aquilo que “foi colocado na minha alma” por um “Criador
significativo?”
Convicto: Se você não se importa, nenhum “motivo”
jamais o fará se importar. O mais frustrante sobre ser um céptico
é tentar entender porque você se importa. Bem, o motivo por
que você se importa é porque você está inexoravelmente
atado à sua missão na vida. Porque seu papel individual
dentro do propósito geral de D’us é a sua própria
essência.
Céptico: Isso nunca falha. Sempre que eu inicio
uma conversa com um convicto, o que ocorre é que ele não
somente tem todas as respostas para tudo, como também me conhece
melhor que eu próprio…
Parte IV
Céptico: Responda-me isso: se o que você
diz é verdadeiro, se, sob tudo isso, o animal egoísta que
chamamos de “homem” possui uma alma que é essencial
e inerentemente boa, por que todas as tentativas de descobri-la falharam
tão tristemente? Cristianismo, Islamismo, Comunismo, Humanismo
– tantas religiões e ideologias apelam todas exatamente a
um “ego mais elevado”. E mesmo assim, aqui estamos nós,
no século 21, de volta ao nosso bom, velho e verdadeiro ego egoísta…
Convicto: Mas a própria existência desses “ismos”
não indica que, por sua própria natureza, o homem está
para sempre buscando transcender seu próprio ser material? Se não
há nada mais no homem que esta ânsia pela gratificação
material, por que bilhões de pessoas aceitaram – em maior
ou menor grau – as exigências morais destes credos? Isso em
si não indica que há algo mais profundamente enraizado na
alma humana que o desejo pelos prazeres da vida temporal?
Obviamente, no fundo de seu coração, o homem anseia por
uma liberdade e transcendência que não podem ser satisfeitas
meramente pela “liberdade” da restrição; ele
está convencido que há um propósito mais elevado
na vida, e está propenso a aprendê-lo e aplicar-se à
sua concretização.
Céptico: E mesmo assim, eles falharam! Das centenas
de milhões de “devotos” a estas fés e causas,
somente uma minúscula fração é realmente fiel
a elas. A esmagadora maioria é composta de hipócritas que
se auto-iludem: eles extraem da ideologia aquilo que precisam para satisfazer
suas pretensões espirituais e sua vaidade moral, e então
basicamente fazem o que lhes agrada (tomando cuidado, obviamente, para
não minar sua posição na comunidade de fiéis).
E com grande freqüência, estes códigos morais têm
conseguido exatamente o oposto daquilo que tentaram ensinar. Em vez de
domar os instintos animalescos do homem, eles serviram como instrumentos
para exploração e opressão. Em vez de fraternidade
universal, trouxeram guerra e devastação…
Convicto: Antes de mais nada, as diversas religiões e ideologias
que o homem criou são, na melhor das hipóteses, somente
fracas aproximações dos verdadeiros impulsos interiores
da alma humana. Elas convocam o homem a desistir de seus desejos pessoais,
não em favor de sua própria vontade quintessencial, mas
a uma idéia subjetiva de perfeição de algum filósofo
ou asceta. E o homem, como todos sabem, não gosta que lhe digam
o que fazer.
Uma certa parte dele é de fato atraída a um plano mais alto
que as promessas da ideologia, mas o ser egoísta se rebela. Mesmo
no melhor dos casos, a vida é um conflito entre a natureza animal
do homem e seus instintos mais elevados; quando todo o motivo que alguém
tem para lutar é um quadro distorcido das verdadeiras prioridades
de sua alma, o conflito é imensuravelmente mais difícil.
Céptico: E em segundo lugar?
Convicto: Em segundo lugar, eles conseguiram – na medida que coincidem
na essência do homem e da criação. O Comunismo, apesar
de suas falhas e corrupção, teve um profundo efeito sobre
nosso senso de justiça social. O Cristianismo, apesar das horrendas
atrocidades que perpetrou e justificou, desempenhou um papel importante
na introdução, para um mundo pagão em grande parte,
de um conceito de D’us, onipotente e não-corpóreo,
e de uma meta messiânica para a existência.
O mesmo pode ser afirmado sobre muitas das religiões e movimentos
sociais do mundo: embora produto da mente finita e propensa a erros do
homem, estas formulações subjetivas de um propósito
na vida também encerram algo da visão da realidade do Criador.
Aí jaz o segredo de seu poder para motivar tantas pessoas a sacrificar
tanto em seu nome.
Céptico: Em outras palavras, é como a história
do estudante em vias de se formar. Após muitos meses de esforços,
o aluno submete tremulamente um rascunho de sua tese ao professor orientador.
O jovem passa uma noite sem dormir, e espera à porta da sala de
seu mentor na manhã seguinte. “E então, o que me diz?”
pergunta ele. “Bem” – começa o professor –
“seu trabalho é não somente bom como também
original…”
“Oba…” responde o estudante animado.
“Porém a parte que é original não está
boa, e a parte que está boa não é original…”
Convicto: Esta é boa. Pretendo usá-la qualquer hora…
Céptico: Tudo bem. Você já tem tudo
resolvido. Existe apenas uma verdade outorgada por D’us, que (para
sua sorte!) ocorre de ser a própria religião na qual você
nasceu. PARTE V
Céptico: Tudo bem então você está
dizendo que hoje, após milhares de anos andando às cegas,
a mente e o coração da humanidade finalmente são
solo fértil para uma verdadeira Nova Ordem Mundial, não
somente aquela que se une contra a “agressão nua” quando
se trata do preço do petróleo. Sua teoria parece ótima,
mas da maneira que eu a entendo, Mashiach é muito mais que uma
excelente teoria – espera-se realmente que aconteça. Então
para onde vamos agora? O que acontece em seguida?
Convicto: Diga-me você: o que tem de acontecer?
Céptico: Bem, antes de mais nada, todo mundo tem
de engolir a sua história.
Convicto: Você engole?
Céptico: Se eu acredito ou não é
irrelevante – para que isso aconteça, todo mundo tem de acreditar.
Como você enfatizou, Mashiach teria muitos votos numa pesquisa do
Gallup – qualquer um que não queira um mundo livre de ignorância,
ódio e conflitos é louco. Mas qualquer pessoa que começa
a agir como se o mundo tivesse conseguido isso é ainda mais louca
– tente deixar seu carro destrancado no centro da cidade por cinco
minutos. Você precisa encontrar uma forma de convencer todo mundo
ao mesmo tempo.
Convicto: É exatamente isso quem e o quê Mashiach é.
Uma pessoa com a visão e mensagem para inspirar toda a humanidade.
Céptico: O vendedor Número Um, não
é? Ele bate à sua porta com um cartaz de “Vamos Todos
Ser Bons” em sua maleta e o convence em cinco minutos de conversa.
Você acha que o melhor vendedor do mundo pode vender seu produto
a todo ser humano na face da terra?
Convicto: Ele não tem de nos vender nada que já não
entendamos e que não queiramos. Quando muito, ele é como
a criança que grita: “O imperador está nu!”,
fazendo com que todos saiam de seu comportamento artificial e abracem
a verdade de suas próprias convicções.
Céptico: Parece que no nosso caso o assunto é
bem mais complexo que o simples fato de um imperador sem roupas passeando
pelas ruas. No decorrer das gerações, muitos “Mashiachs”
fizeram soar seus chamados (ou tiveram um bom Relações Públicas
para fazê-lo), mesmo assim a humanidade não viu a luz instantaneamente.
Convicto: Você está certo quando diz que é mais complexo
em nosso caso, mas o problema é, na verdade, o mesmo que na história.
A mensagem de Mashiach, em poucas palavras, é que de fato “O
imperador está nu”.
Céptico: Então o cara que escreveu aquela
estava realmente falando sobre Mashiach?
Convicto: O imperador, obviamente, é D’us: as roupas são
aquilo que Ele veste quando deseja Se disfarçar.
Céptico: Bem, Ele tem ou não tem roupas?
Convicto: Ele tem e não tem. Bem como na história:
o imperador está vestido – pelo menos todos se comportam
como se ele estivesse vestido – desde que escolhamos ver as coisas
daquela maneira.
Céptico: Como D’us Se veste – ou parece
Se vestir?
Convicto: Ele tem todos os tipos de roupas ilusórias:
sorte, destino, a sobrevivência do mais apto, a Lei de Murphy, Bolsa
de Valores – todas estas coisas que nos dão a impressão
de que o mundo está indo a todos os lugares ao mesmo tempo e a
lugar nenhum. D’us Se “veste” naquelas roupas. Seu envolvimento
na história está velado por elas – porém o
significado e o propósito disso tudo mal chegam a arranhar a superfície.
O mesmo é verdadeiro no nível individual: a vida é
uma série de acontecimentos desconectados – até que
a pessoa olha com mais atenção. No momento em que abrimos
nossos olhos, as “roupas” se dissipam no ar…
Céptico: Então teremos todos esta grande
visão profética de D’us sem Suas roupas, e isso nos
transformará instantaneamente em bons meninos…?
Convicto: Perceber D’us como Ele é significa muitas coisas
em vários níveis. A implicação mais básica
é que o verdadeiro propósito de nossa vida se tornará
tão óbvio quando o fato de existirmos. O animal mais idiota
não salta dentro do fogo. Quando o homem perceber abertamente o
propósito de sua existência, não estará mais
inclinado a agir contra ela, assim como não deseja destruir a si
mesmo.
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