índice
  Mashiach: na visão do Céptico e do Convicto  
 
Por Yanki Tauber
 

"Mabul," dilúvio é uma metáfora para exílio. A etimologia da palavra “mabul” é “bilbul” – confusão. O exílio é um estado de confusão, onde tudo no mundo não é visto como realmente é, mas sim como uma distorção. Contudo, assim como as àguas do dilúvio tinham a finalidade de purificar a Terra, assim também é o propósito do exílio de purificar o mundo, e levá-lo a um estado de refinamento, onde não haverá potencial para um outro exílio – mas sim para a verdadeira e completa Redenção. Esta é a discussão que segue abaixo, entre aquele que acredita e o céptico.

Parte I

Céptico: Não vai acontecer.

Convicto: Por que não?

Céptico:
Fraternidade universal, espadas transformadas em arados, erradicação do mal… ora, dá um tempo!

Convicto:
Mais uma vez, por que não?

Céptico: A Humanidade, eis por que não. Olhe para a história manchada de sangue, veja o que está acontecendo hoje. Vamos encarar, o homem é um animal egoísta. Sua única meta verdadeira na vida é a auto-realização, e ele atropelará e destruirá tudo que se atravessar em seu caminho para conseguir o que deseja.

Convicto: E esta, na sua opinião, é a natureza básica de todo ser humano? Incluindo você, por exemplo?

Céptico: Claro que sim! Sou tão egoísta quanto qualquer outra pessoa. Tento ser decente, mas sei muito bem que magoei e prejudiquei outras pessoas durante a minha vida.

Convicto: Então é assim que você vê a si mesmo – como um monstro malvado…

Céptico:Não, não foi isso que eu disse. Tento fazer o que é certo. Mas meus instintos egoístas muitas vezes levam a melhor sobre mim…

Convicto: Mas lá dentro, no fundo do seu coração, você sabe que pode sair-se melhor…

Céptico:Tudo bem. Digamos que se eu colocar minha mente e vontade nisso, consigo tornar meu comportamento consistente com aquilo que sei ser o certo. De que maneira isso mudaria alguma coisa? Existem outros seis bilhões de pessoas no planeta!

Convicto: Você não está usando um padrão duplo aqui? “Sou basicamente bom, mas todos os outros são maus.”

Céptico: E se a maioria das pessoas é boa, aonde isso tem nos levado nos últimos milhares de anos? Até um único ato de maldade pode provocar bastante dano. Um único sujeito mau pode desfazer as realizações positivas de muitos indivíduos bem-intencionados.

Convicto: Por que não o contrário? Por que não um único ato positivo tendo uma influência de longo alcance? Se um Hitler pode matar milhões e destruir a vida de centenas de outros milhões, por que não um Mashiach que desperte o bem latente em todo ser humano? Basicamente, o que você está dizendo é que o mal é mais poderoso que o bem.

Céptico: Provavelmente é assim. Eu gostaria que fosse o contrário. Deveria ser o contrário. Mas não é assim.

Convicto: Mas você mesmo disse sentir que o bem dentro de você é mais poderoso que seus desejos egoístas – que se você acreditasse, isso faria muita diferença, você poderia dominá-los. Se uma pessoa pode fazer isso, todos podem.

Céptico: Teoricamente, você está certo, mas eu não vejo isso acontecendo. Simplesmente não é realista.

Convicto: Você sabe, o bem e o mal muitas vezes são chamados de “luz” e “trevas”. Pense dessa maneira: a escuridão, não importa o quanto seja assustadora, não é uma coisa ou uma força. É apenas a ausência de luz. Portanto, a luz precisa não combater e sobrepujar a escuridão para desalojá-la – onde entra a luz, sai a escuridão. Da mesma forma, o mal não é páreo para o bem. O bem é o estado básico da natureza humana… você, eu, e todos sentimos que isso é verdadeiro em nós mesmos – ao passo que o “mal” em nós é meramente o obscurecer e a distorção da verdade. No momento em que o seu verdadeiro ser vier à luz, a escuridão se dissolve.

Céptico: É uma bela maneira de dizer isso, e eu concordo que quase todos nós pensamos assim. Mas dizer que virá um dia em que todo ser humano agirá dessa maneira… Como eu disse, simplesmente não é realista.

Convicto: Creio que o seu problema com o Mashiach não é racional, ou de preconceito pessoal. Você parece concordar que meu ponto de vista faz sentido. E você certamente não tem nada a perder e tem tudo a ganhar com um mundo harmonioso e perfeito. É apenas um certo bloqueio interno, uma desconfiança habitual sobre as outras pessoas…

Céptico: Bem, eu moro na cidade de Nova York…

Convicto: Você concorda com tudo que eu digo, exceto pela conclusão.

Céptico: Você está certo. Simplesmente não posso engolir isso.

Parte II

Céptico: Quanto mais conversamos sobre Mashiach, mais me parece que tudo se resume a uma questão de perspectiva.

Convicto: O que quer dizer?

Céptico: O convicto vê o mundo como uma criação organizada e objetiva. A vida é um processo com uma meta final, a história é uma jornada com um destino. O mal, o caos e o sofrimento não se encaixam nela – então deve haver um terrível engano, ou obstáculos a serem superados como parte do plano Divino. Uma comunidade mundial unida para servir ao bem comum – ou, como você poderia chamá-la, Mashiach – é a coisa mais natural no mundo. O mundo de hoje é surrealista, o mundo de Mashiach é a realidade sã. Se esta é a maneira que você a enxerga, então obviamente tudo aponta para aquela direção. Todo o progresso e o aperfeiçoamento que testemunhamos em nosso mundo é parte desta progressão cósmica até uma utopia messiânica. Todo o mal que acontece é apenas uma regressão temporária e superficial em nossa escalada rumo à redenção, ou talvez os arquejos finais das infortunadas forças do mal.

Convicto: E o céptico?

Céptico: O céptico vê o mundo como uma selva hostil na qual o direito sucumbe ao poder e o bom morre jovem. Ele sempre pensa em si mesmo como “o número 1” e espera o mesmo das outras pessoas. Se ele encontrar um indivíduo altruísta, fica impressionado, e o coloca num pedestal ou num museu. Ele não acha que o mundo está indo para algum lugar em específico.

Convicto: E que cenário, a seu ver, é mais consistente com os fatos objetivos?

Céptico: Eles são ambos consistentes com os fatos objetivos! É aí que quero chegar. Dependendo de onde você está, ou daquilo que sente dentro de si, você interpretará a história e suas experiências pessoais por este padrão.

Convicto: O céptico não se comove pela revolução de veludo na Europa Oriental? Pelo surgimento da liberdade e democracia em todo o mundo? Pelo desmantelar das armas nucleares, os tanques sendo convertidos em tratores, e as aeronaves militares transportando alimentos para os famintos?

Céptico: O convicto não fica desanimado pela matança em Israel? Pela taxa de crime em Detroit? Pela porcentagem de maridos que traem as esposas? Mais uma vez: se você enxerga o mundo como um empreendimento que tem um propósito, os noticiários e os livros de história falam sobre progresso e aperfeiçoamento, de correntes de progressões rumo ao ideal messiânico sob a superfície de um mundo ainda imperfeito. Mas se você enxerga a vida como uma série de eventos desconexos, arbitrários, os mesmos fatos descrevem uma selva na qual as coisas boas também acontecem... às vezes.

Convicto: Mas eu acho que você está deixando de lado um ponto fundamental. Há uma grande diferença entre as duas perspectivas que você descreve. Um confia nos dados, nos “fatos crus”. O outro prova seu caso examinando a psico-história da humanidade, as mudanças mais profundas na maneira de pensarmos e sentirmos que têm ocorrido desde o alvorecer da experiência humana.

Céptico: O que quer dizer?

Convicto: O crime violento não tem ideologia – é cometido, na maior parte, por indivíduos que cresceram em desespero e estão a fim de arrumar uns trocados ou mais uma dose. Não existe a Associação Nacional de Abusadores de Crianças. Não há um Prêmio Nobel para o assassino mais corajoso do ano.

As coisas nem sempre foram assim. Há quatro mil anos, sacrificar uma jovem virgem era uma prática consagrada pelas religiões dominantes do mundo. O incesto não somente era permitido pela lei – era um sinal de sangue real. Há poucos séculos, destruir uma cidade para saquear seu ouro era um ato de heroísmo a ser cinzelado em mármore para a posteridade. Mais próximo de nosso tempo, a escravidão era comum, assaltantes de trem eram heróis populares, a tortura era um meio de investigação criminal, as mulheres eram propriedades dos maridos – tudo isso no mundo mais romantizado por escritores e artistas importantes.

A raça humana está amadurecendo moralmente. Nada enfatiza mais isso que a queda do totalitarismo no antigo bloco comunista: a pura força moral das idéias provou ser mais forte que os tanques e o gulag, levando a liberdade a centenas de milhões. Mais uma vez, não estou falando da maneira que as pessoas agem, mas sobre a maneira pela qual elas pensam e sentem – como era o consenso global antes sobre estes temas e como é agora. As atrocidades que ainda são cometidas em algumas partes do mundo são tão perversas quanto o saque e o estupro nas guerras da Grécia antiga, mas hoje o mundo está unido em sua indignação.

Céptico: Isso faz alguma diferença, na verdade? Se uma pessoa morre violentamente, D’us não o permita, é melhor que ele seja morto por um drogado enlouquecido do que por um “nobre” soldado na sublime glória da guerra? Ele não está menos morto nem é menos pranteado por seus entes queridos. Se desejamos um mundo melhor, os “fatos crus” (como você os chama) precisam mudar, não apenas algum tipo de “consciente coletivo” abstrato da humanidade.

Convicto: Você está absolutamente certo. Em última análise, o que importa é a maneira de as pessoas agirem. Para o mundo de Mashiach se tornar realidade, todo o mal deve ser subjugado, tanto o mal comportamental quanto o mal “ideológico”. Porém se queremos extrair algum sentido (ou falta dele) da história, devemos contemplar as causas subjacentes para o comportamento humano: as atitudes da sociedade como um todo. Quando isso muda, o caminho está aberto para que ocorram as verdadeiras mudanças.

Veja o que é preciso para ser “politicamente correto” atualmente. Em mais e mais partes do mundo, qualquer pessoa que deseja se eleger deve apoiar os valores familiares, a democracia, os direitos humanos, a justiça social…

Céptico: Sim, e se você quer ser considerado inteligente, simplesmente concorde com todo mundo. Você leva estes políticos a sério?

Convicto: E isso prova meu ponto de vista, mais que qualquer outra coisa! Se eles fossem sinceros mas impopulares, isso significaria que eles são homens íntegros, mas que a sociedade está num estado deplorável. Mas quando os políticos parecem muito bons para serem verdadeiros, você sabe que o homem na rua está pronto e receptivo para algumas verdadeiras mudanças em sua vida.

Parte III


Céptico: Mas por que colocar D’us nessa história? O que há de errado com um “Mashiach” secular? Se, como você alega, podemos melhorar, então vamos apenas fazer isso. Vamos trabalhar pela paz no mundo, pelos direitos humanos, para alfabetização universal, pela cura do câncer, soluções tecnológicas para a fome na África…

Convicto: Você acha que o homem pode fazer isso por si mesmo?

Céptico: Dificilmente, com ou sem a ajuda de D’us. É você que está dizendo que o homem é essencialmente bom, que se todos acordarmos uma manhã com a determinação de melhorar, teremos um mundo perfeito em nossas mãos…

Convicto: Vamos trocar um pouco de lados neste debate. Permita-me seguir a sua linha de raciocínio por alguns momentos. Quantas pessoas você conhece que podem trabalhar juntas por uma boa causa? Quanto tempo leva para que um esforço “unido” se separe em doze facções diferentes? Às vezes parece que o problema é que existem pessoas bem-intencionadas demais por aí, cada qual com seu “Mashaich” – sua própria visão subjetiva do ideal e de como chegar lá…

Céptico: Mesmo assim você diz que a história é um processo levando à perfeita existência de Mashiach…

Convicto: Sim. Mas quem vai definir este processo e os passos necessários para levá-lo em frente?

Céptico: E evocar D’us resolve o problema? Aha! Se você olhar para a história, a religião tem sido a causa de pelo menos tanto mal quanto bem. Pense em quantas pessoas foram mortas e torturadas “em nome de D’us” e numa variedade de “Mashiachs!”

Convicto: Este, exatamente, é o meu ponto. Enquanto o homem definir “bem” e “mal” – quaisquer que sejam suas intenções – eles está provocando o surgimento de conflitos com aqueles que não concordam com sua definição. Se ele ou sua platéia em potencial são do tipo “religioso”, sem dúvida ele atribuirá sua idéia de moralidade a D’us e sairá numa cruzada para destruir o mundo para poder salvá-lo.

Céptico: Então, o verdadeiro D’us, queira por favor levantar-se!

Convicto: Isso é exatamente o que D’us faz quando envia Mashiach: Ele Se mostra numa maneira que não deixa espaço para a dúvida. Mashiach, em termos simples, é um indivíduo que faz surgir um reconhecimento unânime do verdadeiro D’us, unindo assim toda a humanidade para trabalhar em prol do bem comum – um bem que todos aceitem como sendo o ideal verdadeiro, como tendo sido definido pelo Próprio Supremo Arquiteto da Existência.

Céptico: Você está presumindo que esta verdade absoluta existe. Eu questiono esta própria premissa.

Convicto: Se não existe, então todo o conceito de um propósito para a vida não tem um significado objetivo – “Mashiach” se torna bilhões de fantasias individuais diferentes. Se alguém sente que a existência tem um significado (e estou convencido que, lá no fundo, todo ser humano se sente dessa forma), então deve haver uma realidade transcendente que define este propósito e o implanta na alma humana. Em outras palavras, um criador, um autor da história, D’us. Um D’us que criou o homem à Sua imagem, em oposição aos deuses criados pelo homem segundo suas imagens.

Céptico: Acreditar num propósito é uma coisa. Há uma parte em todo indivíduo que insiste que sua existência é significativa, e que nosso mundo irá (ou pelo menos deveria) significar algo que valha a pena. Porém acreditar em um D’us que entregou um conjunto de instruções específicas – aí já é um tremendo salto de fé.

Convicto: Um propósito não pode surgir por um “bang” espontâneo e uma reorganização de átomos…

Céptico: Como você sabe? Muitos físicos acreditam que a vida, em toda a sua complexidade, pode ter resultado exatamente dessa confluência de eventos aleatórios na eternidade do tempo…

Convicto: Sem querer entrar numa discussão semântica sobre as probabilidades de um “acidente” desse tipo, deixe-me dizer isso: presumindo que tal coisa pudesse acontecer, você pode chamar o resultado de um propósito? Por que eu deveria me preocupar com tal “propósito”? Por que eu deveria me esforçar para manter algum “padrão” que tenha emergido espontaneamente por bobagens sem sentido?

Céptico: Porque estas são as leis que asseguram a continuação de nossa sobrevivência e bem-estar. Estamos todos no mesmo barco. Então, a sociedade como um todo surge com determinadas instituições – família, educação, leis, tribunais, lei internacional – para promover o bem comum.

Convicto: Mas por que eu deveria me importar com este barco? Por que não fazer o que eu quero, desde que me saia bem com isso?

Céptico: Não há maneira de se sair bem com isso. Tudo que você faz afeta todos nós e, em última análise, você mesmo.

Convicto: Quando chegar a hora desta “em última análise”, eu já terei ido embora há muito tempo. Digamos que eu descubro que posso levar uma vida luxuosa e realizada como chefão das drogas. Obviamente, meu produto destrói a vida de jovens e faz com que senhoras idosas sejam assaltadas à luz do dia! Porém estou vivendo numa propriedade rodeada por uma cerca elétrica e patrulhada pela minha segurança particular. Tenho um exército de advogados para me manter fora da cadeia e uma fundação beneficente para me manter respeitável. Quando chegar a hora de a sociedade ruir, estarei descansando confortavelmente sob a minha lápide refinada…

Céptico: E quanto aos seus filhos?

Convicto: Filhos? Por que cargas d’água eu teria filhos? Para manter a “sociedade” continuando por mais um milhão de anos?

Como eu disse, se sentimos que há um significado em nossa vida, é porque um Criador significativo o gravou no próprio DNA de nossas almas.

Céptico: E daí? Por que eu deveria me preocupar com aquilo que “foi colocado na minha alma” por um “Criador significativo?”

Convicto: Se você não se importa, nenhum “motivo” jamais o fará se importar. O mais frustrante sobre ser um céptico é tentar entender porque você se importa. Bem, o motivo por que você se importa é porque você está inexoravelmente atado à sua missão na vida. Porque seu papel individual dentro do propósito geral de D’us é a sua própria essência.

Céptico: Isso nunca falha. Sempre que eu inicio uma conversa com um convicto, o que ocorre é que ele não somente tem todas as respostas para tudo, como também me conhece melhor que eu próprio…

Parte IV

Céptico: Responda-me isso: se o que você diz é verdadeiro, se, sob tudo isso, o animal egoísta que chamamos de “homem” possui uma alma que é essencial e inerentemente boa, por que todas as tentativas de descobri-la falharam tão tristemente? Cristianismo, Islamismo, Comunismo, Humanismo – tantas religiões e ideologias apelam todas exatamente a um “ego mais elevado”. E mesmo assim, aqui estamos nós, no século 21, de volta ao nosso bom, velho e verdadeiro ego egoísta…

Convicto: Mas a própria existência desses “ismos” não indica que, por sua própria natureza, o homem está para sempre buscando transcender seu próprio ser material? Se não há nada mais no homem que esta ânsia pela gratificação material, por que bilhões de pessoas aceitaram – em maior ou menor grau – as exigências morais destes credos? Isso em si não indica que há algo mais profundamente enraizado na alma humana que o desejo pelos prazeres da vida temporal?

Obviamente, no fundo de seu coração, o homem anseia por uma liberdade e transcendência que não podem ser satisfeitas meramente pela “liberdade” da restrição; ele está convencido que há um propósito mais elevado na vida, e está propenso a aprendê-lo e aplicar-se à sua concretização.

Céptico: E mesmo assim, eles falharam! Das centenas de milhões de “devotos” a estas fés e causas, somente uma minúscula fração é realmente fiel a elas. A esmagadora maioria é composta de hipócritas que se auto-iludem: eles extraem da ideologia aquilo que precisam para satisfazer suas pretensões espirituais e sua vaidade moral, e então basicamente fazem o que lhes agrada (tomando cuidado, obviamente, para não minar sua posição na comunidade de fiéis). E com grande freqüência, estes códigos morais têm conseguido exatamente o oposto daquilo que tentaram ensinar. Em vez de domar os instintos animalescos do homem, eles serviram como instrumentos para exploração e opressão. Em vez de fraternidade universal, trouxeram guerra e devastação…

Convicto: Antes de mais nada, as diversas religiões e ideologias que o homem criou são, na melhor das hipóteses, somente fracas aproximações dos verdadeiros impulsos interiores da alma humana. Elas convocam o homem a desistir de seus desejos pessoais, não em favor de sua própria vontade quintessencial, mas a uma idéia subjetiva de perfeição de algum filósofo ou asceta. E o homem, como todos sabem, não gosta que lhe digam o que fazer.

Uma certa parte dele é de fato atraída a um plano mais alto que as promessas da ideologia, mas o ser egoísta se rebela. Mesmo no melhor dos casos, a vida é um conflito entre a natureza animal do homem e seus instintos mais elevados; quando todo o motivo que alguém tem para lutar é um quadro distorcido das verdadeiras prioridades de sua alma, o conflito é imensuravelmente mais difícil.

Céptico: E em segundo lugar?

Convicto: Em segundo lugar, eles conseguiram – na medida que coincidem na essência do homem e da criação. O Comunismo, apesar de suas falhas e corrupção, teve um profundo efeito sobre nosso senso de justiça social. O Cristianismo, apesar das horrendas atrocidades que perpetrou e justificou, desempenhou um papel importante na introdução, para um mundo pagão em grande parte, de um conceito de D’us, onipotente e não-corpóreo, e de uma meta messiânica para a existência.

O mesmo pode ser afirmado sobre muitas das religiões e movimentos sociais do mundo: embora produto da mente finita e propensa a erros do homem, estas formulações subjetivas de um propósito na vida também encerram algo da visão da realidade do Criador. Aí jaz o segredo de seu poder para motivar tantas pessoas a sacrificar tanto em seu nome.

Céptico: Em outras palavras, é como a história do estudante em vias de se formar. Após muitos meses de esforços, o aluno submete tremulamente um rascunho de sua tese ao professor orientador. O jovem passa uma noite sem dormir, e espera à porta da sala de seu mentor na manhã seguinte. “E então, o que me diz?” pergunta ele. “Bem” – começa o professor – “seu trabalho é não somente bom como também original…”

“Oba…” responde o estudante animado.

“Porém a parte que é original não está boa, e a parte que está boa não é original…”

Convicto: Esta é boa. Pretendo usá-la qualquer hora…

Céptico: Tudo bem. Você já tem tudo resolvido. Existe apenas uma verdade outorgada por D’us, que (para sua sorte!) ocorre de ser a própria religião na qual você nasceu. PARTE V

Céptico: Tudo bem então você está dizendo que hoje, após milhares de anos andando às cegas, a mente e o coração da humanidade finalmente são solo fértil para uma verdadeira Nova Ordem Mundial, não somente aquela que se une contra a “agressão nua” quando se trata do preço do petróleo. Sua teoria parece ótima, mas da maneira que eu a entendo, Mashiach é muito mais que uma excelente teoria – espera-se realmente que aconteça. Então para onde vamos agora? O que acontece em seguida?

Convicto: Diga-me você: o que tem de acontecer?

Céptico: Bem, antes de mais nada, todo mundo tem de engolir a sua história.

Convicto: Você engole?

Céptico: Se eu acredito ou não é irrelevante – para que isso aconteça, todo mundo tem de acreditar. Como você enfatizou, Mashiach teria muitos votos numa pesquisa do Gallup – qualquer um que não queira um mundo livre de ignorância, ódio e conflitos é louco. Mas qualquer pessoa que começa a agir como se o mundo tivesse conseguido isso é ainda mais louca – tente deixar seu carro destrancado no centro da cidade por cinco minutos. Você precisa encontrar uma forma de convencer todo mundo ao mesmo tempo.

Convicto: É exatamente isso quem e o quê Mashiach é. Uma pessoa com a visão e mensagem para inspirar toda a humanidade.

Céptico: O vendedor Número Um, não é? Ele bate à sua porta com um cartaz de “Vamos Todos Ser Bons” em sua maleta e o convence em cinco minutos de conversa. Você acha que o melhor vendedor do mundo pode vender seu produto a todo ser humano na face da terra?

Convicto: Ele não tem de nos vender nada que já não entendamos e que não queiramos. Quando muito, ele é como a criança que grita: “O imperador está nu!”, fazendo com que todos saiam de seu comportamento artificial e abracem a verdade de suas próprias convicções.

Céptico: Parece que no nosso caso o assunto é bem mais complexo que o simples fato de um imperador sem roupas passeando pelas ruas. No decorrer das gerações, muitos “Mashiachs” fizeram soar seus chamados (ou tiveram um bom Relações Públicas para fazê-lo), mesmo assim a humanidade não viu a luz instantaneamente.

Convicto: Você está certo quando diz que é mais complexo em nosso caso, mas o problema é, na verdade, o mesmo que na história. A mensagem de Mashiach, em poucas palavras, é que de fato “O imperador está nu”.

Céptico: Então o cara que escreveu aquela estava realmente falando sobre Mashiach?

Convicto: O imperador, obviamente, é D’us: as roupas são aquilo que Ele veste quando deseja Se disfarçar.

Céptico: Bem, Ele tem ou não tem roupas?

Convicto: Ele tem e não tem. Bem como na história: o imperador está vestido – pelo menos todos se comportam como se ele estivesse vestido – desde que escolhamos ver as coisas daquela maneira.

Céptico: Como D’us Se veste – ou parece Se vestir?

Convicto: Ele tem todos os tipos de roupas ilusórias: sorte, destino, a sobrevivência do mais apto, a Lei de Murphy, Bolsa de Valores – todas estas coisas que nos dão a impressão de que o mundo está indo a todos os lugares ao mesmo tempo e a lugar nenhum. D’us Se “veste” naquelas roupas. Seu envolvimento na história está velado por elas – porém o significado e o propósito disso tudo mal chegam a arranhar a superfície.

O mesmo é verdadeiro no nível individual: a vida é uma série de acontecimentos desconectados – até que a pessoa olha com mais atenção. No momento em que abrimos nossos olhos, as “roupas” se dissipam no ar…

Céptico: Então teremos todos esta grande visão profética de D’us sem Suas roupas, e isso nos transformará instantaneamente em bons meninos…?

Convicto: Perceber D’us como Ele é significa muitas coisas em vários níveis. A implicação mais básica é que o verdadeiro propósito de nossa vida se tornará tão óbvio quando o fato de existirmos. O animal mais idiota não salta dentro do fogo. Quando o homem perceber abertamente o propósito de sua existência, não estará mais inclinado a agir contra ela, assim como não deseja destruir a si mesmo.

     
top