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Havia um ventinho
gelado quando eu entrei no taxi rumo ao Aeroporto Reno/Tahoe, para começar
minha viagem de um dia até a sede central de minha empresa em McLain,
Virgínia.
O avião deveria sair às 6 da manhã, portanto cedo
demais para começar minhas preces matinais. Como eu teria de rezar
num avião na frente de estranhos, decidi esperar até chegarmos
em Washington para começar a rezar.
Antes de embarcar, coloquei minha kipá, peguei o livro de orações
e li a prece para viajantes, pedindo a bênção de D’us
durante a viagem. Ao terminar, notei um camarada bem vestido passar por
mim, usando uma boina colorida. À medida que ele se dirigia para
o terminal, notei como estava orgulhoso de sua boina e como parecia apreciar
exibi-la.
Quando
estiquei a mão para pegar a kipá e guardá-la,
o sujeito com a boina colorida passou por ali.
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Ao pegar minha kipá
para guardá-la, senti-me compelido a deixá-la no lugar.
Eu já tivera uma porção de "primeiras vezes"
desde que descobrira Chabad, mas posso dizer sinceramente que nunca antes
tinha usado minha kipá fora de casa ou da sinagoga, por qualquer
período maior.
Observando o sujeito usar orgulhosamente sua boina fez-me pensar. "Este
é o dia de usar minha kipá em público." Entusiasmado
com o quê pensariam meus colegas passageiros, empurrei a kipá
para o alto da cabeça como um cowboy confuso, e entrei no avião.
Meu plano era usá-la até chegar em Denver e então
tirá-la enquanto me encaminhava para a conexão.
A viagem até Denver levou duas longas horas. Senti-me bastante
inibido. Achava que todos estavam me olhando, julgando-me, rindo de mim!
Na verdade, os passageiros estavam mais interessados no jornal da manhã
que no judeu com a kipá, mas nem sempre você percebe a verdade
quando está ansioso.
Ao nos aproximarmos do Aeroporto de Denver uma comissária informou
que o vôo de Denver para Washington estava com duas horas de atraso.
De repente, eu tinha tempo suficiente para minhas preces matinais. Depois
de desembarcar, fiquei andando pelo aeroporto até encontrar um
lugar calmo e afastado para rezar.
Quando terminei, enrolei cuidadosamente meu tefilin, dobrei meu talit
e guardei-os na bolsa. Quando estiquei a mão para pegar a kipá
e guardá-la, o sujeito com a boina colorida passou por ali.
Deixei a kipá na cabeça. Andando até o portão,
decidi usá-la até chegar ao hotel, mais tarde. "Faça
isso por Shlomo Yakov" – disse para mim mesmo – "deixe
seu querido e falecido bisavô Charlie orgulhoso de você."
Quando encontrei meu assento no vôo de conexão, havia uma
mulher de aspecto um tanto triste sentada perto de mim. Trocamos um "Bom
Dia" e nos ajeitamos para a decolagem. Enquanto a comissária
nos mostrava como afivelar os cintos, perguntei-me baixinho se havia alguém
que não soubesse como afivelar um cinto de segurança.
Pela primeira vez desde que eu me sentara, a mulher sorriu. Tendo quebrado
o gelo, começamos a conversar.
Com o passar do tempo, ela contou uma história triste sobre o filho,
com problemas mentais devido a uma cirurgia que dera terrivelmente errado.
Com lágrimas nos olhos, ela me disse que ele estava num centro
de reabilitação especial, e precisaria de cuidados para
o resto da vida. Contou-me que estava furiosa com o médico e que
não sabia mais se acreditava em D’us.
Perguntei se ela tinha rezado a D’us enquanto o filho estava na
sala de operações. Sim, ela rezara. "Então a
senhora acredita em D’us" – disse eu. "Mas está
furiosa com Ele."
"Acho que tem razão"– respondeu ela. "É
que não entendo como isso pôde acontecer, ou como D’us
deixou que acontecesse." Lembrando-me das muitas lições
que meu bom amigo Rabi Chuni Vogel do Chabad de Delaware tem partilhado
comigo todos estes anos, conversei com ela por mais de quatro horas. Falamos
sobre seus sentimentos para com o cirurgião que operara seu filho,
o marido que, para começar, jamais quisera a cirurgia, e sua incapacidade
de fazer algo de construtivo para o filho ou para melhorar a situação.
Discutimos como demora a reconhecermos que podemos aprender com uma experiência
"negativa". Concordamos também que é impossível
entender por que acontecem coisas más para pessoas boas, porque
como seres humanos, é impossível entender realmente os desígnios
de D’us.
Com o passar das horas, minha nova amiga começou a parecer mais
animada e literalmente com mais energia. Quando já estávamos
a ponto de pousar, ela começou a chorar. Disse que NUNCA falava
com estranhos enquanto viajava, mas dessa vez sentiu que não havia
problemas nisso.
Perguntei por que e ela disse que nascera numa família de judeus
religiosos, mas tinha se casado com um não-judeu e perdera sua
identidade judaica. Porém ao ver a kipá na minha cabeça,
ela percebera que eu era um judeu observante e sentiu-se compelida a conversar
comigo.
Sorri, e ela perguntou por quê. Disse-lhe que tenho estado numa
jornada espiritual há vários anos, mas esta era a primeira
vez que tinha colocado minha kipá em público.
"Por que, de todos os dias, você decidiu colocar sua kipá
justo hoje?" perguntou ela. Contei-lhe sobre o homem com a boina
e ela riu. Prossegui dizendo que devido a milhões de problemas,
meu assento tinha sido trocado pelo menos quatro vezes. "Creio que
isso tinha de acontecer" – sussurrou ela. "Acho que sim"
– sussurrei de volta.
Ao nos levantarmos para deixar o avião, ela disse: "Steve,
esta foi uma experiência esclarecedora. Todo o sofrimento e a culpa
que tenho carregado durante os últimos seis meses foram embora.
Quando sair daqui, pretendo canalizar minhas energias em esforços
positivos. Vou para casa e serei uma advogada para pacientes com problemas
mentais como meu filho. Da próxima vez que você me encontrar,
será numa plataforma, falando aos congressistas sobre benefícios
para os deficientes mentais."
E com isso ela se despediu. Não pude deixar de maravilhar-me ante
os muitos eventos separados que tinham transpirado naquele dia, resultando
nesse encontro memorável. Nunca mais vi o cara de boina!
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