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  Manobras  
 
Por Chana Weisberg
 

Existem momentos na vida em que me sinto como… a migalha no chão da cozinha. Como a inútil migalha, minha vida parece insignificante, minha contribuição ao mundo totalmente nula. Caminho sem rumo, esperando que a vassoura me atire a um destino ignóbil. Como aquela migalha, sinto-me mais como um estorvo que uma contribuição. Deixo meu tempo passar, não assumindo responsabilidade para o futuro. Sou empurrada para cá e para lá, às vezes pisada, meramente sendo influenciada ou atropelada pelo meu ambiente, mas não estou em posição de exercer controle sobre ele.

Apenas fico sentada ali, assistindo a vida passar ao meu redor.

Então há momentos na vida em que me sinto como… um piloto de avião.

Estou no topo do mundo, literalmente. Nada impede ou força o meu rumo. Embriagada pela velocidade, intoxicada pelas distâncias que percorro, agarro o leme e sigo para os meus destinos – que são totalmente de minha escolha.

Sou o mestre de meu destino, decidindo aonde ir, como chegar lá, e o que fazer.

Quando tenho um dia bom – se fiz uma palestra interessante que agradou aos participantes, se recebi um elogio gentil pelo meu trabalho, ou se tive um excelente debate com um dos meus filhos ou meu marido – sinto-me como o piloto do avião.

Mas então, se tive um mau dia – alguma coisa que não foi bem no trabalho, se uma criança está doente, ou se tive uma discussão com meu marido, ou se meus fluxos criativos simplesmente não fluem – então eu me sinto como a migalha no chão da cozinha.

Dois sentimentos muito extremos – a migalha inútil, ou o piloto triunfante.

Qual deles é meu verdadeiro eu? É uma perspectiva ou é verdade? Ponderando sobre estes pensamentos e vacilando entre ambas as emoções, observo meu filho pequeno brincando certa tarde, interessado pelo seu jogo de corridas de carro no computador.

"Olha" – disse ele entusiasmado – "como sei dirigir rápido."

"Ótimo" – respondo. "Mas por que você não desvia o carro para lá?" Apontei para um atalho, que sai da trilha designada.

Ele dá uma pausa no jogo para explicar. "Não, mamãe. Veja, posso parar ou começar, ir depressa ou devagar. Posso manobrar." Ele demonstrou essas ações com seu carro. "Mas não posso sair da trilha." Girando o controle, ele me mostra sua tentativa vã de manobrar em excesso para fora das pistas marcadas na tela. "Olha, ele não me deixa sair da pista."

Ocorreu-me então o pensamento de que nossas vidas não podem realmente ser vistas a partir do topo do mundo, como um piloto na sua cabine, nem por debaixo, como uma migalha no chão. Creio que uma perspectiva mais verdadeira, mais correta, é aquela do pequeno "piloto de carro de corrida" no jogo de computador do meu filho.

À medida que o piloto do carro de corridas percorre a trilha da vida, seu caminho está claramente assinalado para ele. Os sinais de tráfego lhe mostram onde virar e como ir em frente. Há um início, um final, um itinerário a ser seguido, uma distância a ser coberta.

Da próxima vez que eu sentir a arrogância do piloto, tentarei me lembrar que meu destino, também, está traçado para mim. Você, D’us, planejou minha rota e escolheu meu curso, e está ao meu lado, vigiando e orientando constantemente.

Porém quando eu me sentir como a indefesa migalha no chão, tentarei lembrar-me de que Você me possibilitou manobrar meu caminho durante o itinerário; decidir se viajo rápido ou lentamente, se faço as curvas gentilmente ou de uma vez, quando parar e quando impelir o carro para a frente. Você confiou a mim a opção de parar, derrotada, e sucumbir aos obstáculos da vida, ou seguir em frente, inabalável perante as viradas e os tropeços da vida.

Você até embutiu amortecedores ao longo da trilha para ajudar-me nas curvas mais fechadas – e sobreviver aos acidentes. Você construiu acostamentos no caso de eu sair da pista e providenciou um sistema embutido para eu encontrar o caminho de volta à estrada.

Você fez tudo isso. Mas no fim, se eu consigo ou não ir até a linha de chegada com sucesso, isso cabe inteiramente a mim.

Chana Weisberg é autora de dois livros sobre a vida de mulheres bíblicas e sobre a alma feminina. É reitora do JRCC, Instituto de Estudo de Torá em Toronto e faz palestras em todo o mundo sobre assuntos relacionados às mulheres. Relacionamentos e misticismo.

     
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