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Em meio
àquele que parecia ser um dia muito longo, olhei na minha geladeira
e vi que não tinha opção – tinha de ir ao supermercado.
Empilhei meus dois filhos no carrinho de bebê e fomos até
o mercado naquele dia de calor escaldante. Chegamos e começamos
as nossas compras. Enquanto meu filho pedia uma ou outra guloseima, eu
tentava me concentrar na tarefa que tinha de cumprir.
Minha filha de um ano e meio tinha conseguido escapar do carrinho de compras
enquanto eu examinava os tomates. Eu a vi e tentei chamá-la enquanto
ela agarrava pacotes de cereais. Segurava um pacote de cuscus e ele rasgou.
“Oh, não!” pensei, enquanto via o cuscus (em outras
palavras, meu dinheiro) escorrendo para o chão. Naquele instante
meu celular tocou. Atendi, tentando ser agradável, mas enquanto
minha filha se contorcia tentando se livrar dos meus braços e meu
filho continuava falando sobre aquilo que ele queria, tive dificuldade
para me controlar e não gritar: “não posso falar agora;
telefono depois.” De que maneira eu consigo fazer isto?” pensei
comigo mesma.
Eu me senti como um malabarista, aqueles dos quais eu me lembrava de ter
visto na minha juventude: de pé num monociclo, os pés pedalando
rapidamente enquanto atiravam três, quatro ou cinco bastões
com fogo para cima. Apanhavam um bastão com a mão direita,
depois outro com a esquerda, então dois, e finalmente apanhavam
um com a boca inclinada para cima.
Sim, eu me sentia como um malabarista enquanto balançava uma criança
e segurava a outra, enquanto trabalhava e cuidava da nossa casa. E quer
saber a parte mais irônica disso tudo? Toda dia eu rezo para que
D’us me abençoe com mais filhos. Não, não sou
louca. Talvez você me pergunte (e com certeza eu pergunto a mim
mesma): “Onde você vai carregar um terceiro filho, na cabeça?”
Bem, se eu precisar, vou.
Veja, tudo começou há muitos anos quando me casei e um ciclo
menstrual que não ocorreu não obteve uma confirmação
de gravidez no teste. Mês após mês, ano após
ano, os testes continuavam negativos. Quase quatro anos de “não”
e então, de repente, um “sim”. Você pode imaginar,
um sim? Fiz três testes apenas para confirmar, porque não
podia acreditar. Durante a náusea, o vômito, as pernas inchadas,
tudo que eu conseguia pensar era naqueles testes negativos e na maldição
transformada numa linda bênção confirmada a cada sintoma.
Os desafios da maternidade nada são comparados aos desafios da
gravidez e do parto. Porém a vasilha quebrada no chão é
apenas isso, uma vasilha quebrada – e o leite derramado é
facilmente enxugado. As mulheres que me veem perguntam como tenho tanto
paciência. Outras perguntam se já tenho dois, para que ter
mais? A paciência vem com a perspectiva; quando você espera
e anseia por algo, sua apreciação da chegada é maior.
E por que ter mais? Cada filho traz sua própria bênção.
Agora eu não consigo imaginar minha vida sem o segundo filho, assim
como não poderia imaginar minha vida sem o primeiro.
Há algo de incrível que percebi quando me tornei mãe.
Na verdade começou antes mesmo que meu primeiro nascesse, quando
ele chutava e dançava na minha barriga e eu não era mais
a dona do meu próprio corpo. Há uma bênção
matinal que diz: “D’us, dá força para os fatigados.”
Os fatigados, os cansados, os exaustos: isso, na minha opinião,
sem dúvida é uma mãe. Ele fornece energia para os
cansados, ou seja, eu. Aquela que tem sono pesado acorda ao menor gemido,
aquela que não consegue funcionar sem oito horas de sono está
amamentando e preparando lanches e ajudando com o trabalho de quatro.
O mais incrível que descobri é que D’us dá
algo a você. Ele não dá apenas a você, mas dá
a você tudo de que precisa para cuidar de tudo. Os Sábios
dizem que ninguém recebe um teste pelo qual não possa passar
– seja um teste que consiste em não ter aquilo que deseja,
ou um teste que consiste em ter o que parece mais do que podemos suportar.Toda
pessoa tem uma missão especial a cumprir.
A palavra em hebraico para bebê é tinok, que tem as mesmas
letras e está relacionado com a palavra ticun, correção.
Toda pessoa que vem ao mundo tem sua missão especial para cumprir
na vida, e todo bebê traz um ticun, uma correção,
para o mundo e especificamente para os pais. O filho que é inteligente
ou bonito nos ajuda a trabalhar em nossos traços de orgulho ou
arrogância; o filho que é lento ou repetitivo nos ajuda a
trabalhar a paciência. Este filho vem para ensinar a você
como amar, aquele como dar. Este o ensina a ceder, e aquele o ensina a
jamais desistir.
Quando jovens noivas me procuram em busca de conselhos, frequentemente
me perguntam sobre adiar o nascimento dos filhos. Eu admito para elas:
não sou objetiva. Aqueles quatro anos ansiando por filhos, ansiando
quando eu não podia tê-los, me mudaram. Afetaram-me tanto
que depois de nove anos de casamento e dois filhos ainda não consigo
me livrar da ansiedade de não ser capaz de conceber e levar uma
gravidez a termo. Mesmo que eu tenha mais filhos, não sei se o
sofrimento vai desaparecer. Porém eu tento me colocar no lugar
delas e lembro-me como eu me sentia quando estava noiva e como era assustadora
a ideia de me tornar mãe. Digo a elas com um coração
repleto de empatia e sinceridade: quando se trata de bênção
– cada filho não apenas é uma bênção,
mas traz bênção e plenitude.
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