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3
de fevereiro de 2006
Estes são tempos nervosos. Os protestos contra a publicação
na Dinamarca e outros lugares das charges do Profeta Maomé se espalharam
no mundo inteiro e haverá mais hoje. Enquanto isso, na Inglaterra
o governo foi derrotado em partes da sua lei para banir o ódio
religioso, pois aquela linguagem ameaçadora será ilegal,
mas palavras insultantes e abusivas não serão. Nada disso
poderia ter sido previsto há meros vinte anos. A maioria das pessoas
pensavam que a Europa se tornaria quase que completamente secular. Em
vez disso, a religião voltou para o centro do palco.
Como devemos
reagir? Falando por mim mesmo, minha mente volta à infância.
Freqüentei escolas cristãs. Eu era, como sou agora, um judeu
engajado. Você poderia ter pensado que eu me sentia pouco à
vontade, constrangido, isolado ou era objeto de zombaria porque eu era
diferente. Nada disso aconteceu. Não fui insultado sequer uma vez,
nem me fizeram sentir que eu era menos que as crianças cristãs.
Anos depois, pensando em retrospecto, eu entendi o porquê.
A escola levava sua fé muito a sério, e por causa disso,
também levavam minha fé a sério. Sabendo o que a
fé significava para eles, podiam entender o que a minha fé
significava para mim.
Este, me parece, é o desafio no coração de nossas
sociedades com muitas fés. Nunca antes vivemos tão perto
de pessoas cuja cultura e sensibilidade são tão diferentes
das nossas. É como se todo o léxico da antropologia tenha
ganhado vida e estivéssemos vivendo no meio dele. Muitas escolas
que eu visito têm crianças de quarenta ou cinqüenta
países diferentes. E as crianças que conheço têm
uma sabedoria que às vezes falta a nós, adultos. Elas se
sentem engrandecidas, não ameaçadas, pela diversidade. Sabem
como não atacar as convicções mais profundas das
outras pessoas. Como os cristãos da minha infância, elas
sabem que cada um de nós gosta de alguma coisa mas não da
mesma coisa; e tentam respeitar este fato.
A
civilização precisa de civilidade. O Judaísmo
diz que envergonhar alguém é o mesmo que derramar
sangue.
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A civilização
precisa de civilidade. O Judaísmo diz que envergonhar alguém
é o mesmo que derramar sangue. Ao final de cada prece que recitamos,
pedimos a D'us para guardar nossa língua do mal. A única
maneira de ter tanto a liberdade de expressão como ficar livre
do ódio religioso é exercendo a moderação.
Sem isso, podemos ter uma liberdade ou a outra, mas não ambas.
Somente a lei não resolverá o problema. A verdadeira questão
é: Podemos aprender a respeitar aquilo que os outros consideram
sagrado? Você pode respeitar minha fé? Eu posso respeitar
a sua? Estas coisas não podem ser legisladas, mas podem ser ensinadas.
Liberdade de expressão é uma coisa; expressão responsável
outra; e uma sociedade livre e bondosa precisa de ambas.
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