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  Liberdade de expressão  
  Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks
 

3 de fevereiro de 2006

Estes são tempos nervosos. Os protestos contra a publicação na Dinamarca e outros lugares das charges do Profeta Maomé se espalharam no mundo inteiro e haverá mais hoje. Enquanto isso, na Inglaterra o governo foi derrotado em partes da sua lei para banir o ódio religioso, pois aquela linguagem ameaçadora será ilegal, mas palavras insultantes e abusivas não serão. Nada disso poderia ter sido previsto há meros vinte anos. A maioria das pessoas pensavam que a Europa se tornaria quase que completamente secular. Em vez disso, a religião voltou para o centro do palco.

Como devemos reagir? Falando por mim mesmo, minha mente volta à infância. Freqüentei escolas cristãs. Eu era, como sou agora, um judeu engajado. Você poderia ter pensado que eu me sentia pouco à vontade, constrangido, isolado ou era objeto de zombaria porque eu era diferente. Nada disso aconteceu. Não fui insultado sequer uma vez, nem me fizeram sentir que eu era menos que as crianças cristãs. Anos depois, pensando em retrospecto, eu entendi o porquê.

A escola levava sua fé muito a sério, e por causa disso, também levavam minha fé a sério. Sabendo o que a fé significava para eles, podiam entender o que a minha fé significava para mim.

Este, me parece, é o desafio no coração de nossas sociedades com muitas fés. Nunca antes vivemos tão perto de pessoas cuja cultura e sensibilidade são tão diferentes das nossas. É como se todo o léxico da antropologia tenha ganhado vida e estivéssemos vivendo no meio dele. Muitas escolas que eu visito têm crianças de quarenta ou cinqüenta países diferentes. E as crianças que conheço têm uma sabedoria que às vezes falta a nós, adultos. Elas se sentem engrandecidas, não ameaçadas, pela diversidade. Sabem como não atacar as convicções mais profundas das outras pessoas. Como os cristãos da minha infância, elas sabem que cada um de nós gosta de alguma coisa mas não da mesma coisa; e tentam respeitar este fato.


A civilização precisa de civilidade. O Judaísmo diz que envergonhar alguém é o mesmo que derramar sangue.

A civilização precisa de civilidade. O Judaísmo diz que envergonhar alguém é o mesmo que derramar sangue. Ao final de cada prece que recitamos, pedimos a D'us para guardar nossa língua do mal. A única maneira de ter tanto a liberdade de expressão como ficar livre do ódio religioso é exercendo a moderação. Sem isso, podemos ter uma liberdade ou a outra, mas não ambas.

Somente a lei não resolverá o problema. A verdadeira questão é: Podemos aprender a respeitar aquilo que os outros consideram sagrado? Você pode respeitar minha fé? Eu posso respeitar a sua? Estas coisas não podem ser legisladas, mas podem ser ensinadas. Liberdade de expressão é uma coisa; expressão responsável outra; e uma sociedade livre e bondosa precisa de ambas.

 

 

 
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