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  Torá: A Primeira Legislação Ecológica do Mundo  
 
Pelo Rabino Chefe da Inglaterra, Professor e Sir Jonathan Sacks
 

Precedendo a Conferência Internacional sobre mudança no clima em Copenhagen, pedi a todas as sinagogas sob minha direção que façam amanhã um Shabat ambiental especial em cujas preces nos comprometeremos a ter hábitos sustentáveis de consumo e uso de energia.

Sabemos que há uma profunda discordância sobre mudanças no clima: é real, e se deve ao que nós estamos fazendo ao planeta? Porém me parece que há alguns riscos que você não assume, mesmo sob condições de incerteza, e um deles é o risco de colocar em perigo a própria viabilidade da vida na terra. Queremos jogar roleta russa com o futuro de nossos filhos? Sei que não queremos.

A preocupação geral sobre o meio ambiente é relativamente recente. Os primeiros dois livros sobre o tema foram o Almanac County de Aldo Leopold Sand, em 1949, e Silent Spring em 1962, de Rachel Carson. Porém tudo remonta religiosamente à Torá que contém a primeira legislação ecológica do mundo.

A cada sétimo e quinquagésimo ano a terra deve descansar. Não faça destruição desnecessária em tempos de guerra. Até mesmo aquelas ordens estranhas em Vayicrá e Devarim contra misturar plantações e fazer cruzamentos de animais diferentes foram entendidas pelos comentaristas judeus de séculos atrás como sendo maneiras de inculcar respeito pela integridade da natureza.

Porém a forma mais poderosa de conscientização sobre o meio ambiente é o próprio Shabat, no qual nós judeus renunciamos ao nosso poder sobre a natureza. O que isso significa atualmente é que um dia em cada sete não trabalhamos ou compramos, não usamos carros nem viajamos de avião. Não fazemos negócios. Caminhamos até a sinagoga, não dirigimos.

As pessoas costumavam ridicularizar estas leis mas agora podemos entendê-las melhor. O Shabat nos diz que não somos donos da natureza. “A terra é do Eterno e a plenitude que vem dela” e somos meramente seus guardiões, em nome de D'us e das futuras gerações. E trata dos limites, dos limites à nossa exploração dos recursos da terra. O princípio de que nem tudo que podemos fazer, devemos fazer.

Lembro-me de quando a Grã-Bretanha costumava ter um Shabat. Aos domingos as ruas ficavam quietas e as lojas estavam fechadas. Porém a ética consumista venceu. O problema é que se a ética consumista continuar vencendo, nossos netos serão os perdedores. Se há um ponto com o qual cientistas e religiosos atualmente concordam, é a necessidade de vivermos dentro dos limites da ecologia da terra. Um dia por semana sem carros ou compras poderia simplesmente ser uma maneira de começar a fazê-lo.

 

 

 
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