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Bom dia. E que
manhã incomum é esta, porque deve ser a primeira vez na
história em que um rabino foi convidado a fazer o Pensamento do
Dia por um Arcebispo de Canterbury, o editor convidado de hoje. E há
uma história por trás dessa história.
Tudo começou nas noites mais sombrias da História, quando
estava ocorrendo o Holocausto. Foi então que o grande Arcebispo
de Canterbuty, William Temple, e um grande rabino-chefe, J. H. Hertz,
se reuniram para criar o Concílio de Cristãos e Judeus,
empenhado a lutar contra o anti-semitismo e outras formas de ódio
religioso ou racial.
Acho difícil descrever a transformação que ocorreu.
Durante quase 2.000 anos judeus e cristãos ficaram divididos por
uma barreira de hostilidade e suspeita. Veja só as palavras que
isso acrescentou ao vocabulário da Europa: expulsão, inquisição,
auto de fé, gueto, pogrom. Quem, conhecendo aquela história,
poderia prever que ela seria revertida? E apesar de tudo, foi. Hoje judeus
e cristãos podem se encontrar em amizade e respeito, sabendo que,
sim, nossas crenças são diferentes, mas ficamos maiores,
não ameaçados, por essa diferença. Creio que este
é um dos maiores sinais de esperança num mundo ameaçado
pela ira e pelo desespero. E agora podemos pegar esta amizade e aumentá-la,
para que envolva hindus, sikhs, muçulmanos, budistas e todas as
outras fés que formam esta nação, este planeta.
Este ano, 2006, tem sido difícil para a religião. Com muita
freqüência a face que temos visto no Iraque, Afeganistão,
Cashemira, Somália, Sudão, no Oriente Médio e às
vezes mais perto de casa, tem sido violenta, de confrontos – lembrando-nos
das famosas palavras de Jonathan Swift, que "temos religião
suficiente para nos fazer odiar uns aos outros, e não o suficiente
para nos fazer amar uns aos outros." Amar uns aos outros além
das fronteiras da fé tem sido o grande desafio da vida religiosa.
E atualmente a humanidade está enfrentando seu maior teste desde
o Século Dezessete, quando guerras religiosas mancharam a face
da Europa. Foi então que nasceu o secularismo – não
porque as pessoas deixaram de acreditar em D'us, mas porque pararam de
acreditar na capacidade do povo de D'us de viver pacificamente uns com
os outros.
Porém judeus e cristãos têm demonstrado que isso pode
ser feito; se pode ser feito com uma fronteira, pode ser feito com outras.
Podemos realmente escrever um novo capítulo na conturbada história
entre as fés, um capítulo que termine em amizade, o maior
e mais notável antídoto contra o medo. |