Intolerância Religiosa  
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  Rabino Chefe da Inglaterra, Professor Jonathan Sacks
 

Bom dia. E que manhã incomum é esta, porque deve ser a primeira vez na história em que um rabino foi convidado a fazer o Pensamento do Dia por um Arcebispo de Canterbury, o editor convidado de hoje. E há uma história por trás dessa história.

Tudo começou nas noites mais sombrias da História, quando estava ocorrendo o Holocausto. Foi então que o grande Arcebispo de Canterbuty, William Temple, e um grande rabino-chefe, J. H. Hertz, se reuniram para criar o Concílio de Cristãos e Judeus, empenhado a lutar contra o anti-semitismo e outras formas de ódio religioso ou racial.

Acho difícil descrever a transformação que ocorreu. Durante quase 2.000 anos judeus e cristãos ficaram divididos por uma barreira de hostilidade e suspeita. Veja só as palavras que isso acrescentou ao vocabulário da Europa: expulsão, inquisição, auto de fé, gueto, pogrom. Quem, conhecendo aquela história, poderia prever que ela seria revertida? E apesar de tudo, foi. Hoje judeus e cristãos podem se encontrar em amizade e respeito, sabendo que, sim, nossas crenças são diferentes, mas ficamos maiores, não ameaçados, por essa diferença. Creio que este é um dos maiores sinais de esperança num mundo ameaçado pela ira e pelo desespero. E agora podemos pegar esta amizade e aumentá-la, para que envolva hindus, sikhs, muçulmanos, budistas e todas as outras fés que formam esta nação, este planeta.

Este ano, 2006, tem sido difícil para a religião. Com muita freqüência a face que temos visto no Iraque, Afeganistão, Cashemira, Somália, Sudão, no Oriente Médio e às vezes mais perto de casa, tem sido violenta, de confrontos – lembrando-nos das famosas palavras de Jonathan Swift, que "temos religião suficiente para nos fazer odiar uns aos outros, e não o suficiente para nos fazer amar uns aos outros." Amar uns aos outros além das fronteiras da fé tem sido o grande desafio da vida religiosa.

E atualmente a humanidade está enfrentando seu maior teste desde o Século Dezessete, quando guerras religiosas mancharam a face da Europa. Foi então que nasceu o secularismo – não porque as pessoas deixaram de acreditar em D'us, mas porque pararam de acreditar na capacidade do povo de D'us de viver pacificamente uns com os outros.

Porém judeus e cristãos têm demonstrado que isso pode ser feito; se pode ser feito com uma fronteira, pode ser feito com outras. Podemos realmente escrever um novo capítulo na conturbada história entre as fés, um capítulo que termine em amizade, o maior e mais notável antídoto contra o medo.

       
   
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