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*Uma abordagem para
pais e educadores sobre as caraterísticas da fase, acompanhada
de orientações gerais
Conta-se que um adolescente fez o seguinte comentário: “Em
casa discordo dos meus pais para defender minha geração;
na escola defendo meus pais. – Estou sempre em oposição.”
Quando se fala em adolescência, a primeira idéia que surge,
em geral, é a imagem de um jovem excêntrico, em oposição
ou ao contrário, em retraimento.
Vamos entender um pouco mais sobre este período de desenvolvimento.
A adolescência pode ser classificada em Puberdade, Fase intermediária
e Final, e é um processo que se estende em torno dos doze aos vinte
e dois anos de idade, coincidindo com o cessar do crescimento físico.
1ª
adolescência (Puberdade) |
– |
entre
11 e 14 an os (meninas) – entre 12 e meio e 16 anos (meninos) |
Intermedíária |
– |
15 aos 18 anos |
Final |
– |
19 a 22 anos |
O
período de adolescência é caracterizado por um conjunto
de transformações biopsicosociais (mudanças físicas,
hormonais, emocionais e cognitivas).*
Através da história podemos constatar como nossos sábios
demonstravam consideração às características
de cada faixa etária, seja orientando (ver Ética dos Pais
– “Pirkei Avot”) nos conteúdos a serem estudados,
na responsabilidade frente ao cumprimento da Halachá (Lei Judaica),
etc.
O histórico anterior do adolescente, sua infância, determinam
basicamente o que vai ocorrer nesta fase da vida. O adolescente que durante
a infância manteve um vínculo e relacionamento adequado com
os pais (afeto, segurança, limites e valores) tende a apresentar
uma adolescência mais tranquila.
É importante destacar como é beneficiado o menino que na
sua infância vive e continua mantendo uma intimidade respeitosa
com seu pai (sentimento de respeito e aceitação incondicional
– sentimento de conforto para dividir os próprios problemas
e dificuldades com os pais).
Um adesivo muito expressivo nos ajuda a entender este processo: “Adote
seu filho antes que um marginal o faça”.
Durante a transição da adolescência o jovem é
vulnerável às influências internas e externas: sociais,
éticas, morais, etc. e é de grande valor o vínculo
com o próprio lar, o que evita maiores riscos, além de favorecer
a segurança emocional.
O desenvolvimento da adolescência é fascinante: concomitante
com a maturação corporal e sexual, percebe-se uma maior
auto-consciência e reorganização da personalidade.
Percebe-se nesta fase um interesse e ênfase nos processos de amizade.
O jovem se prepara também para a vida adulta assumindo muitas vezes
responsabilidades sociais e até econômicas.
A sociedade americana considera a adolescência um período
difícil, de busca do grupo, da busca pela própria identidade
(Quem sou? Quem quero ser?).
O adolescente demonstra instabilidade; de um lado volta-se de maneira
infantii para si e de outro mostra-se altruísta fazendo questionamentos
sobre o comportamento dos outros.
O jovem demonstra maior sensibilidade e irritabilidade, e Dr. Benjamin
Spock aponta como características presentes durante a adolescência
a rivalidade com pais (de intensidade variada); problemas de disciplina
e contestação.
Diversas tarefas de desenvolvimento pertencem principalmente às
fases intermediária e final da adolescência:
Aceitar
o físico adulto e suas características pessoais;
Desenvolver independência emocional dos pais e figuras de autoridade;
Desenvolver perícia na comunicação inter-pessoal;
Realizar relacionamento com colegas e outras pessoas, tanto individualmente
como no grupo;
Aceitar-se e confiar nas próprias habilidades e possibilidades;
Fortalecer o auto-controle em base de uma escala de valores e princípios;
Ter modelos humanos para identificação.**
Neste
processo de reorganização de personalidade e ajustamento,
torna-se muito difícil para o jovem o fracasso, a crítica,
a falta de reconhecimento e aceitação (real ou imaginária).
O jovem busca emancipação ao mesmo tempo em que necessita
de apoio.
O adolescente tem necessidade de novas experiências e atividades
e se bem direcionadas acrescentam ao jovem vontade de viver (escolas e
yeshivot devem favorecer jogos, esportes e programas selecionados para
o bem estar dos jovens e também no sentido de prevenir “outras”
buscas por parte dos alunos e alunas).
Como mencionado anteriormente, o jovem tem necessidade de se sentir seguro
e isto varia com a própria auto-confiança. Em geral, sente-se
seguro quando tem a afeição dos pais e a a ceitação
do grupo e/ou do amigo mais próximo.
É importante para o adolescente participar do grupo, “vestir
a camisa”, sentir “status”, sentir-se
adequado na sociedade. A falta de segurança, rejeição
pelo grupo e a auto-imagem negativa levam o jovem a tensão, podendo
gerar ansiedade, retraimento, tendência à hostilidade, desafio
e destruição.
Não podemos deixar de mencionar que períodos difíceis
e situações de grande impacto em crianças e jovens
(devido a grande sensibilidade), causam por vezes situações
de isolamento e sentimentos depressivos.
Educadores devem estar atentos ao “Bullying” (crianças
ou jovens visados e perseguidos por colegas) e trabalhar no sentido de
sanar a situação.
Crianças e jovens quando incomodados continuamente por colegas
necessitam da intervenção e proteção dos educadores.
Durante a infância a fonte principal na formação de
valores é a família, embora o ambiente social também
tenha seu papel.
Já os adolescents mesmo trazendo a bagagem familiar são
mais vulneráveis às influências externas como mídia,
ambientes que frequentam, figuras carismáticas e colegas.
Daí a importância na escolha criteriosa que os responsáveis
devem ter no sentido de favorecer aos jovens, ambiente e companhias selecionadas,
Por vezes com a boa intenção de educar, pais e professors
se tornam muito rígidos e exigentes com os jovens que então
se afastam pela própria característica da idade de não
tolerar a sensação de serem dominados.
Como prevenção, vale a pena lembrar que a disciplina e os
limites, embora necessários também para os jovens, são
basicamente tarefas a serem desenvolvidas por pais e educadores com maior
ênfase na infância.
A atitude frente aos adolescentes deve ser segura, mas com cautela no
sentido de que o jovem não se sinta rebaixado ou desconsiderado.
Recomenda-se o diálogo amistoso, o reconhecimento dos seus desejos
e reivindicações, mas não necessariamente precisamos
do seu consentimento para disciplinar ou impôr algum limite importante.
Como ilustração, citamos o pedido de uma jovem solicitando
chegar em casa num horário que para os pais significa “muito
tarde”.
Os pais devem validar os sentimentos (ex.: eu sei que você gosta
muito de ficar mais tempo com suas amigas, mas queremos o seu bem e por
tais e tais motives você deve chegar tal hora), eventualmente negociar
algum tempo extra, mas manter sua posição caso estejam seguros
das suas exigências.
No processo de auto-reorganização da personalidade, o jovem
precisa provar a si mesmo que não é mais criança.
Podemos observar como na sabedoria do judaísmo este processo é
favorecido ao jovem menino: aos treze anos torna-se bar-mitsvá
e isso faz com que lhe deleguem responsabildades reais: tem a maioridade
religiosa e participa na vida judaica como adulto, tem papel a desempenhar
na sinagoga, a vestimenta em geral sofre transformaões, é
“pra-valer”.
Em outras palavras: mesmo antes de reivindicar a maioridade, esta lhe
é assegurada e se bem direcionado, o processo de transição
para a vida adulta lhe é favorecido.
O adolescente que numa fase anterior já tem uma moral estabelecida
pela Torá, não precisa se auto-afirmar desafiando os pais:
os valores não são uma invenção dos pais,
são uma criação Divina.
Os educadores, de maneira geral, mostram a necessidade de instrução
e vivencia religiosa para aauxiliar o jovem no processo de humanização
nesta fase crítica de reorganização dos valores.
Regras claras tanto em casa como nas escolas auxiliam a convivência,
não tornando as exigências pessoais.
Faz-se necessário dar ênfase ao assunto da função
paterna e função materna quando tratamos de adolescência.
Os jovens devem sentir o apoio dos pais nos seus momentos de iniciativa
e emancipação (coisas simples como a mudança do penteado
da menina ou a troca de livros na estante, mesmo que aos olhos dos pais
não parecem ideais, mas não implicam em valores ou prejuízos,
devem ser motivo de apoio e não conflito).
Aquele menino que na infância teve seu pai e continua o tendo afetivamente
presente e participante no seu dia-a-dia terá provavelmente desenvolvido
uma saudável identificação e um sentimento de segurança
maior para viver esta fase da vida.
A menina que estabeleceu um vínculo afetivo e de identificação
com sua mãe terá possibilidades de um bom ajuste emocional.
Embora tanto para meninos como para meninas a função paterna
e materna na família são vitais para a saúde emocional,
destacamos acima especificamente as funções paternas vinculadas
aos meninos e a materna às meninas, pois são aspectos concernentes
ao equilíbrio nos processos de adolescência.
É de grande importância à orientação
segura e serena para meninos e meninas sobre as mudanças que vão
ocorrendo no corpo e a prontidão para responder as suas dúvidas
e perguntas.
Ambos meninos e meninas devem ser alertados no sentido de proteger a privacidade
do corpo.
Os jovens diferem uns dos outros: alguns podem passar mais calmamente
pela puberdade e adolescência, enquanto outros vivem grandes conflitos.
Se os pais sentem que não estão podendo lidar satisfatoriamente
com a situação, por vezes, outros adultos próximos
dos jovens conseguem bons resultados se o jovem se sentir a vontade para
estar dividindo com eles seus estados de espírito.
Em alguns casos, a ajuda de um profissional se faz necessária.
Para finalizar, vale a pena reforçar algumas características
do adolescente e a attitude preferencial a ser mantida por pais e educadores.
1)
A tarefa principal do adolescente é encontrar a IDENTIDADE –
daí a importância de estar envolvido num ambiente social
apropriado com líderes positivos e afetivos e com um critério
de valores.
2) O jovem tem grande preocupação com sua IMAGEM (não
só aparência, mas a idéia que fazem dele). Muita
cautela deve ser tomada para que não se sinta inadequado. Deve-se
investir e incentivar suas habilidades e em demonstrar aprovação
e aceitação genuínas. Pais e educadores devem estar
atentos a oportunidades para demonstrar admiração e attitudes
positivas, a iniciativas válidas e manter uma postura respeitosa
e afável para com os jovens.
3) Durante este processo de reorganização de personalidade
o jovem precisa provar a si mesmo e para os outros que não é
mais criança. Pais e educadores devem continuar guiando, mas
segundo padrões já abordados acima. É a busca da
AUTONOMIA.
4) Os adolescentes, principalmente em função da grande
sensibilidade tendem a olhar para as suas questões “com
lente de aumento”: uma palavra mais dura, uma espinha na testa,
uma atitude criticada, um cumprimento menos efusivo, uma nota mais baixa,
são razões para que se sintam desconfortáveis.
O
oposto é extremamente gratificante; uma mnao no ombro, um agradecimento
caloroso, um “como vai” com interesse podem colocar o jovem
num estado de verdadeiro bem-estar, crescimento e “ABERTURA”
para aquele que lhe demonstra consideração.
“A
juventude é um dos períodos mais preciosos da vida
de uma pessoa e, entretanto, um dos mais difíceis.”*** |
“
A pior coisa que podemos fazer com a energia espiritual ou psicológica
de um jovem é refreá-la; de fato, devemos fazer tudo
o que pudermos para extrair esta energia, concentrá-la e
canalizá-la de forma apropriada.”**** |
***Bibliografia
para Tabela e tarefas da Juventude: Desenvolvimento Humano – J.
Pikunas – Ed. MC Graw – Hill do Brail.
****Rebe de Lubavitch – Rumo a uma Vida Significativa – Adaptação
do Rabino Simon Jacobson – Ed. Domínio Público. |