Impacto  
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Por Sara Esther Crispe – Escritora, conferencista e faz parte da equipe editorial de chabad.org
 

Muitas vezes nos perguntamos se aquilo que fazemos no decorrer do dia faz alguma diferença. Não importa se é relevante, mas se realmente muda alguma coisa, se causa um impacto na vida das pessoas. Ora, se eu fosse um médico fazendo uma cirurgia, ou um juiz decidindo um caso importante, minhas ações literalmente poderiam determinar a diferença entre a vida e a morte para outra pessoa, e afetar para sempre sua vida e a vida da sua família e amigos. Mas e se eu não fizer nada de tão "importante"?

Muitos sentem que as coisas que fazem no decorrer de um dia normal são basicamente irrelevantes; nossas ações não tem muito impacto sobre o mundo ao nosso redor, e se deixarmos de fazê-las, outra pessoa poderia facilmente tomar nosso lugar.

Porém um dos ensinamentos mais famosos do Báal Shem Tov é que uma folha não cai ao solo se não estiver destinada a fazê-lo, e isso não tem um profundo efeito sobre o mundo à nossa volta. O Báal Shem Tov ensinou que somos trazidos a este mundo, todo e cada um de nós, por um período específico de tempo e com uma missão específica a cumprir; às vezes, vivemos uma vida plena de setenta ou oitenta anos com o único propósito de realizar um ato de bondade para uma outra pessoa.

Há alguns dias, lendo as manchetes da CNN, encontrei um exemplo poderoso dos ensinamentos do Báal Shem Tov. Era uma notícia sobre um evento histórico – algo que nunca tinha acontecido antes – e que não teria ocorrido a menos que algo aparentemente insignificante tivesse sido feito há cinquenta anos.

Há cinqüenta anos, uma mulher negra chamada Rosa Parks decidiu que não daria seu lugar na frente do ônibus a um homem branco. Embora hoje isso possa parecer corriqueiro e ridículo, na época, na América segregada, foi o suficiente para que ela fosse presa. E sua prisão por este tipo de recusa desencadeou o início do Movimento pelos Direitos Civis.

Rosa Parks não tinha intenção de se tornar líder, ou símbolo, ou uma figura histórica. Ela simplesmente achou que não estava correto um homem lhe pedir para ceder seu assento. Tudo que ela fez, basicamente, foi apegar-se às suas crenças e fazer aquilo que sentia estar certo. Porém ao fazê-lo, ela literalmente mudou o mundo à sua volta.

Quando Rosa Parks faleceu em 24 de outubro, o Presidente mandou hastear as bandeiras a meio-pau. Na semana passada, ela se tornou a primeira mulher a ser velada na Rotunda do Capitólio. O que ela fez de tão extraordinário para merecer honras nacionais? Poderia ela ter imaginado que sua pequena recusa faria tamanha diferença no processo da conquista de direitos iguais para os afro-americanos? Em última análise, isso não importa.

O que importa é que esta mulher mostrou ao mundo que saber quem você é, saber o que precisa fazer e fazê-lo – é assim que mudamos o mundo, tenhamos ou não essa intenção.


Tudo que ela fez, basicamente, foi apegar-se às suas crenças e fazer aquilo que sentia estar certo. Porém ao fazê-lo, ela literalmente mudou o mundo à sua volta.

Outro dia minha filha de quatro anos chegou da escola e começou a correr pela casa ajudando em tudo que podia. Primeiro ela guardou seus brinquedos, depois ajudou o irmãozinho, depois comeu com boas maneiras, e assim por diante. Para uma criança precoce, isso era bem diferente do seu comportamento usual, Fiquei um tanto surpresa pela sua mudança de atitude, mas feliz com isso, portanto não a questionei.

Quando passei pelo seu quarto naquela noite, percebi que ela estava de pé com os braços abertos como se fossem os pratos de uma balança. Enquanto fingia ser uma balança, ela se movia para a frente e para trás. Estava falando consigo mesma, mas alto o suficiente para eu ouvir. Ela estava mencionando todas as coisas boas que tinha feito naquele dia. Quando terminou a lista, inclinou o corpo para um lado e gritou: "O lado da mitsvá ganhou! Mashiach, você precisa vir agora!"

Ocorre que naquele dia na escola, as crianças tinham aprendido que tudo que precisamos fazer para trazer Mashiach é acrescentar mais algumas mitsvot, pois a "balança" universal está perto de se inclinar. Além disso, elas aprenderam que as preces e atos das crianças são maiores e mais importantes que os dos adultos, pois elas são puras e inocentes. Portanto, cada boa ação que uma criança faz provoca uma enorme diferença.

Quando percebi o que ela estava fazendo e por quê, comecei a rir e chorar ao mesmo tempo. Eu ri, porque jamais tinha visto algo tão bonito como ela inclinando o corpo e gritando a D'us que já estava na hora de Ele trazer Mashiach. Mas chorei, porque percebi que ela tinha uma fé que excedia muito a minha. Ela realmente acreditava que suas ações e seu comportamento podiam fazer uma enorme diferença, capaz de mudar o mundo. E ela está certa.

Rosa Parks não está recebendo homenagens do mundo inteiro hoje simplesmente porque ela não cedeu seu assento no ônibus. Está sendo homenageada por causa do enorme impacto que a sua opção de fazer o que é certo quando outros achavam que ela estava errada provocou, nos anos e décadas que viriam, sobre todos os Estados Unidos e ao redor do globo. Sua escolha naquele dia pode ter sido apenas uma das milhares de folhas que caem da árvore; porém Rosa Parks é a prova de que embora às vezes nossa missão possa estar oculta, e talvez jamais seja revelada, algo tão comum quanto uma simples ação – ou a falta de ação – tem o poder de mudar o mundo.

     
     
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