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  A fé após o Holocausto  
  Por Nissan David Dubov – Diretor de Chabad Lubavitch em Wimbledon, Reino Unido.
 

Há anos, as pessoas ainda fazem a mesma pergunta – Onde estava D’us durante o Holocausto? Como se pode acreditar em D’us depois do Holocausto? Se D’us é justo e bom, como pôde Ele permitir que o Holocausto acontecesse? Por que D’us não fez milagres durante o Holocausto?

Quem está fazendo a pergunta?

As perguntas em si somente podem ser feitas por alguém que acredita, pois se a resposta for que não há D’us (D’us não o permita), então não há perguntas. Sem um D’us, o mundo não tem destino ou propósito. Os seres humanos podem resolver agir como quiserem, pois não há contas a prestar. Super raças podem ser formadas e somente os mais aptos irão sobreviver. Num mundo sem D’us o Holocausto não é uma questão teológica, mas sim uma declaração de quão baixo o homem pode descer. A pergunta se torna retórica – não "Onde estava D’us durante o Holocausto?" mas sim, "Onde estava o homem durante o Holocausto?"


O mundo ficou em silêncio. Alguém poderia acrescentar, não apenas em silêncio, mas completamente passivo com o que estava acontecendo.

O próprio fato de que até aqueles que alegam não acreditar perguntarem incessantemente onde estava D’us, é na verdade a maior prova de que eles também, no fundo do coração, acreditam que há um D’us, apenas eles estão desesperados atrás de uma resposta. Para ser mais benevolente alguém poderia dizer que, de fato, eles querem acreditar em D’us, mas o Holocausto apresenta uma pergunta de proporções tão dramáticas que sentem não ser mais possível acreditar.

Para aquele que verdadeiramente acredita não deveria haver perguntas. Ele cita o versículo (Devarim 32:4-5): "A Rocha! – perfeita é Sua obra, pois todos os Seus caminhos são justiça; um D’us de fé sem iniqüidade, íntegro e justo Ele é." Sua fé não é desafiada pelo fato de ele não entender, pois qual ser mortal pode realmente compreender os caminhos do Todo Poderoso?
No entanto, o próprio fato de que ele é humano e mortal, e terrivelmente perturbado e triste, o faz questionar. Algumas respostas, mesmo que incompletas devem ser fornecidas, para que aquele que acredita possa continuar a servir ininterruptamente.

Fé versus tragédia


O conflito entre tragédia e fé não é novo. Qualquer pessoa versada em História Judaica perceberá que nosso povo passou pelas mais terríveis perseguições e genocídio nas mãos de muitos opressores. O judeu crente em 1940 sabia dos pogroms, das Cruzadas, da destruição dos Templos; ele lia em voz alta na noite do Sêder: "Em cada geração eles se erguem para nos destruir", e mesmo assim isso não abalava a sua fé. O anti-semitismo não era novo.

O mesmo método pelo qual o judeu de 1940 conhecia o passado e ainda mantinha sua fé pôde ser empregado depois do Holocausto. A questão filosófica de "O Juiz da terra não fará justiça?" aplica-se tanto ao sofrimento aparentemente sem sentido de um indivíduo quanto àquele de seis milhões de pessoas. Se isso pudesse ser tratado numa base individual antes do Holocausto, seria tratado da mesma maneira depois. A diferença está na quantidade, mas a qualidade da questão permanece a mesma.

Na verdade, porém, a Solução Final de Hitler era de certa forma novidade, no sentido em que poucas pessoas acreditavam que no século 20, quando a civilização tinha atingido seu ápice intelectual e ético, tal genocídio fosse concebível. O consenso público, apoiado pela mídia, reassegurou-nos que não poderíamos mais voltar à Idade Média. No entanto, os filósofos e poetas de Berlim, com sua fina educação e alta sociedade, se transformaram nos maiores assassinos do mundo. O Holocausto não foi perpetrado somente por monstros, foi uma conivência com uma nação inteira, chegando a quase cem milhões de indivíduos.

O mundo ficou em silêncio. Alguém poderia acrescentar, não apenas em silêncio, mas completamente passivo, às vezes se sentindo bem com o que estava acontecendo, e feliz por não serem eles, mas outros, que estavam cometendo aquelas atrocidades.

Pelo menos a história do Holocausto demonstra claramente que o homem não pode confiar em seu próprio intelecto e nos seus sentimentos para ter integridade e justiça. Aqueles com os diplomas mais altos e graus universitários freqüentemente foram cúmplices, se não diretamente perpetradores, de assassinato a sangue frio. O homem deve ser responsável. A ordem "Não matarás" deve ter primazia sobre "Eu sou o Eterno teu D’us".

Os grandes religiosos questionaram?

A questão "O Juiz de toda a terra não fará justiça?" (Bereshit 18:25) pode ser autêntica e ter seu peso apenas quando brota do coração dolorido de alguém que acredita profundamente. O primeiro a fazer esta pergunta foi nosso Patriarca Avraham, ele próprio um homem de grande fé e pai de todos os que crêem. Quando Avraham ouviu que deveria oferecer seu amado filho Yitschac em sacrifício, ele não questionou. "E Avraham se levantou cedo pela manhã" – ele levantou-se para fazer a vontade de D’us com entusiasmo.

O primeiro a fazer a pergunta "Por que os justos sofrem e os perversos prosperam?" foi ninguém menos que Moshê – o mesmo que nos tirou do Egito, abriu o mar, subiu ao Sinai, ouviu os mandamentos "Eu sou o Eterno teu D’us, Não terás outros deuses perante Mim" – também questionou. ("outros deuses também pode ser uma referência ao intelecto e entendimento humanos, quando são feitos de árbitros definitivos de assuntos éticos de um homem.)

O Talmud (Menachot 29b) relata que foi mostrado a Moshê como o grande Rabi Akiva sofreria uma morte tortuosa nas mãos dos Romanos. Quando Moshê os viu pentear a carne de Rabi Akiva com ancinhos de ferro ele exclamou: "Isso é Torá e esta é a recompensa?!" A resposta que veio do Alto foi: "Silêncio, assim desperta o pensamento (de D’us)".

O problema com a pergunta de Moshê não foi que ele verbalizou um pensamento e foi depois silenciado. Foi o conteúdo da pergunta de Moshê que foi silenciado. Isso é perturbador, pois a resposta a esta pergunta foi superficialmente nenhuma resposta. Moshê pediu uma racionalização e recebeu uma ordem. Porém de maneira alguma vemos que a questão enfraqueceu a fé de Moshê. Pelo contrário, é somente a fé que permitiu aos grandes superar suas tribulações e sofrimentos.

Yirmiyáhu, que perguntou: "Por que os perversos têm sucesso no que fazem?" exortava continuamente o povo a restaurar sua fé em D’us. Job sofreu horrivelmente e foi zombado pelos amigos. Ele questionou, mas jamais perdeu a fé.

Não é surpresa que todos os notáveis que questionaram tenham permanecido fiéis. A questão em si está baseada num desejo fundamental por justiça. A premissa da fé é que existe justiça e que no fim a justiça é feita. Esta idéia de justiça brota de uma fonte sobre-humana que se coloca acima do limitado intelecto e entendimento humanos. Portanto, quando a justiça não é vista sendo feita, a questão abala não somente o intelecto, mas o próprio âmago daquele que questiona. No entanto, após um breve instante de sofrimento e protesto, o questionador percebe que está tentando entender o que é impossível de entender, captar com o intelecto aquilo que é mais elevado que o intelecto. Ele logo percebe que esta reação não é cabível e, enquanto sofre, se recolhe ao conhecimento de que embora não possa compreender neste momento o que está acontecendo, em última análise o Supremo Juiz executará a justiça. Através do questionamento e expressão de sua dor, sua fé é restaurada e fortalecida.

O Juiz de Bilhões


Uma reflexão sobre o fato de que D’us julga todos os homens o tempo todo revela que o Juiz sobre Quem falamos é sobre-humano. O fato de não compreender os Seus caminhos não serve para desqualificá-Lo, mas sim surge de nossa incapacidade de entender a Sua infinita sabedoria.
Olhe, por exemplo, o que acontece nos tribunais atualmente. Quantas pessoas inocentes são encarceradas devido às falhas do sistema judicial e seus juízes. Quantos culpados caminham livremente pelas ruas. Os juízes e seus funcionários reclamam de excesso de trabalho e a legislação coloca restrições em suas horas de trabalho. Em contraste, o Juiz de toda a terra trabalha 24 horas por dia, lidando com mais de seis bilhões de pessoas na face da terra. O homem pode ter a ousadia de questionar ou sequer entender?

Um homem primitivo num teatro de operações


Em última análise, o ser humano entende que sua percepção é finita.
Imagine pegar um homem primitivo e de alguma forma transportá-lo a uma moderna sala de operações para ver uma cirurgia de coração. Primeiro ele vê homens com máscaras entrando na sala. Estão todos vestidos de verde e usando luvas. Em seguida uma pessoa adormecida numa cama rolante é levada até a sala e um dos homens vestidos de verde coloca uma máscara sobre seu rosto. Outro homem remove o lençol e pede um bisturi. O homem primitivo assiste horrorizado quando o cirurgião faz o corte.

Com seu conhecimento zero da medicina moderna, o homem chega à terrível conclusão de que está testemunhando um assassinato a sangue frio. De onde ele vem, não é assim que as pessoas são mortas. Elas morrem honrosamente em combate, não assassinadas enquanto dormem! Tudo parece errado para ele. Seu senso de justiça é despertado, e ele protesta.

Tente explicar àquele homem que a operação que ele vê é, na verdade, um salvamento, que dará nova vida ao paciente. Impossível – o homem não tem a menor idéia de higiene, que dirá das modernas técnicas de cirurgia. Levará meses, talvez anos, para que ele possa compreender.
Num certo nível, somos todos homens primitivos na sala de operações de D’us. Nosso entendimento da operação é limitado e com freqüência acusamos o Cirurgião Chefe sem compreender que todas as operações são feitas para o bem do paciente.

D’us é o supremo bem. Ele é bom e Sua natureza é fazer o bem. Mesmo dentro da dor e do sofrimento existe algo de bom, embora possa estar obscurecido para o sofredor. Nossa fé nos leva a crer que o Cirurgião sabe o que está fazendo.

O Holocausto foi um castigo?

Existem aqueles que desejam sugerir que o Holocausto foi uma punição pelos pecados daquela geração. O Rebe rejeita esta opinião. Ele declarou (Sefer HaSichot 5751 vol. 1 pág. 233): A destruição de seis milhões de judeus de maneira tão horrível que superou a crueldade de todas as gerações anteriores não poderia ser uma punição pelos pecados. Mesmo o próprio Satã não conseguiria encontrar pecados em número suficiente para garantir tamanho genocídio!

Não há absolutamente uma explicação racional para o Holocausto, exceto pelo fato de que foi um decreto Divino, pois o que aconteceu está acima do entendimento humano – mas definitivamente não foi por causa de punição pelo pecado.

Pelo contrário: todos aqueles que foram assassinados no Holocausto são chamados "Kedoshim" – sagrados – pois foram mortos em santificação do Nome de D’us. Como eram judeus, é somente D’us que irá vingar o seu sangue. Como dizemos no Shabat na prece Av Harachamim: "As sagradas comunidades que deram a vida pela santificação do Nome Divino… e vinga o sangue derramado de Teus servos, como está escrito na Torá de Moshê… pois ele vingará o sangue de Seus servos… E nas Sagradas Escrituras está escrito… Que seja conhecido entre as nações, perante os nossos olhos, a retribuição do sangue derramado de Teus servos." D’us descreve aqueles que foram santificados como Seus servos e promete vingar o sangue deles.

Tão alto é o grau espiritual dos Kedoshim – mesmo desconsiderando seu status em cumprimento de mitsvot – que os Rabis dizem sobre eles: "Nenhuma criação pode substituí-los." Muito mais, então, aqueles que morreram no Holocausto, dos quais muitos, como se sabe, estavam entre os mais ilustres eruditos de Torá e judeus religiosos.

É inconcebível que o Holocausto seja considerado como um exemplo de punição pelos pecados, especialmente quando endereçando esta geração, que como foi mencionado antes é "um facho arrancado do fogo" do Holocausto.

Em resumo, pode-se apenas aplicar as palavras de Yeshayáhu: "Meus pensamentos não são seus pensamentos e Meus caminhos não são os seus caminhos, diz o Eterno." (Yeshayáhu 55:8)

A dimensão da alma

O Judaísmo acredita na existência da alma. Esta alma desce dos reinos celestiais para habitar o corpo durante setenta ou oitenta anos, após os quais retorna ao seu Criador. A alma existe antes de entrar no corpo e existe depois de deixar o corpo. Rabi Shneur Zalman de Liadi, no Tanya, descreve a alma como "uma parte de D’us acima", uma centelha de Divindade que habita o corpo para criar uma morada para o Todo Poderoso no mundo. A filosofia chassídica explica longamente o propósito da descida da alma e o propósito da criação.

Deixando de lado qualquer filosofia profunda, até o ser mais simples entende que o corpo é corpóreo e físico, ao passo que a alma é etérea e espiritual. Ele entende ainda que a espada, fogo e água podem ter um efeito sobre o corpo, mas não sobre a alma. Lanças e pedras podem ferir os ossos físicos, mas não podem tocar a alma. Fica então óbvio que as câmaras de gás e crematórios afetaram somente os corpos daqueles mártires, mas não suas almas.

Além disso, é lógico considerar a alma como o principal componente do complexo corpo-e-alma.
Assim como todos concordam que a cabeça é mais importante que o pé, também os pensamentos e sentimentos são mais importantes que a carne.

Baseado nestas duas premissas, que são lógicas e podem ser facilmente entendidas, fica claro que o Holocausto somente conseguiu separar corpo e alma, mas não destruiu alma. Pelo contrário, a alma continua vivendo depois que o corpo foi destruído.

Imagine se alguém olhasse e visse alguém chorando no quarto. Seria lógico concluir que a pessoa no quarto tinha passado a vida toda chorando? De modo contrário, se alguém olhasse num quarto e visse alguém rindo, seria correto presumir que esta pessoa passou a vida toda rindo? Estas conclusões seriam ridículas. Todos sabemos que a vida de uma pessoa varia constantemente, com momentos de riso e lágrimas.

O mesmo se aplica àqueles no Holocausto. O número exato de anos que viveram neste mundo deve ser visualizado no contexto da continuidade da alma. Embora eles tenham vivido tantos anos fisicamente – alguns mais que os outros e, no caso das crianças e bebês, somente por um tempo muito breve – em termos da escala de tempo da alma, que vive por milhares de anos, isso é apenas um breve momento! Sim, quando olhamos para o Holocausto vemos um intenso momento de destruição, mas deveríamos concluir que este estado é aquele da alma?

Não temos relatos em primeira mão da situação sobre as almas do Holocausto no Mundo Vindouro, no entanto a Torá nos diz que a posição daqueles que morreram santificando o Nome de D’us é realmente grande. Isso podemos deduzir do seguinte episódio:

É mencionado no livro Maguid Meisharim (Parashat Tetsavê) que Rabi Yossef Caro, autor do Código da Lei Judaica, estava designado a dar sua vida pela santificação do Nome de D’us, mas por algum motivo isso foi comutado e ele não mereceu morrer dessa forma. Ele continuou vivendo para se tornar a autoridade haláchica principal de sua geração e escreveu o grande Código da Lei Judaica, que ainda seguimos atualmente. E mesmo assim esta imensa realização é considerada secundária ao martírio pela santificação do Nome de D’us. Vemos então que o martírio – e todos aqueles que pereceram no Holocausto foram mártires, pois morreram por serem judeus – tem méritos da mais alta ordem.

Não há dúvidas para o judeu que crê que embora o momento de Kidush Hashem (santificação do Nome de D’us) fosse horrível em termos de dor e sofrimento físico, isso não afetou a alma e, pelo contrário, foi apenas um breve momento na vida da alma, pelo qual ela atingiu eterna elevação. É freqüentemente explicado e enfatizado na Torá que a vida nessa terra é apenas uma preparação para a vida futura e duradoura no Mundo Vindouro. A Mishná (Avot 4:21) declara: "Este mundo é apenas um vestíbulo para o mundo futuro; prepare-se no vestíbulo para poder entrar no salão de banquete." Se, durante o tempo em que a pessoa está no vestíbulo houve um período de sofrimento por meio do qual haverá um ganho infinito no "salão de banquete", isso certamente valerá a pena. É impossível descrever as alegrias da vida da alma no Mundo Vindouro pois, mesmo neste mundo enquanto a alma está conectada ao corpo, sua vida está num plano infinitamente mais elevado; quanto mais então quando a alma não é mais distraída pelo corpo. O sofrimento no vestíbulo", que nada mais é que um corredor para o "salão de banquete", é afinal temporário, e o ganho é eterno.

Além disso, um dos fundamentos de nossa fé é a da ressurreição dos mortos. Não há qualquer dúvida que todos os Kedoshim do Holocausto se erguerão na ressurreição. Os muitos anos lindos e abundantes após a ressurreição certamente bastarão para lhes dar a plena recompensa neste mundo por tudo que realizaram e merecem.

Submissão ou prece


Se o Holocausto foi um decreto Divino, por que vemos os grandes líderes judeus nos exortando a rompermos os portões do Céu com prece para anular qualquer decreto mau? Certamente deveríamos apenas nos submeter à sabedoria Divina e não objetar?

O Rebe Anterior, que ele próprio viveu durante o Holocausto, proclamou que todos devem suplicar e chorar perante o Rei Todo Poderoso para anular o cruel decreto da destruição. Mas de que vale chorar se esta foi a Divina vontade?

Além disso, a Mishná em Avot (4:17) ensina: "Uma hora de arrependimento e boas ações neste mundo é melhor que toda a vida no Mundo Vindouro; e uma hora de felicidade no Mundo Vindouro é melhor que toda a vida neste mundo." Isso significa que se pudermos acrescentar a soma total de prazeres mundanos, isso não equivaleria a uma hora no Mundo Vindouro. A felicidade espiritual e as recompensas no Mundo Vindouro são incompreensíveis e superam qualquer prazer deste mundo. E mesmo assim, D’us criou este mundo como propósito da Criação, nas palavras do Tanya: "Para criar uma morada para D’us neste mundo." Conclui-se que uma hora de cumprimento de nosso propósito neste mundo – envolvidos em arrependimento e boas ações – é melhor que todas as recompensas espirituais no Mundo Vindouro.

Se este é o caso, o que justifica levar tantos judeus deste mundo, removendo sua oportunidade de levar uma vida de Torá e mitsvot? Que recompensa espiritual da alma iguala uma hora de arrependimento e boas ações neste mundo?

Além disso, há a lei de Pikuach Nefesh (salvar uma vida). Esta lei declara que deve ser feito tudo para salvar uma vida, mesmo que seja por mais um momento extra. O dia mais sagrado, Yom Kipur, pode ser profanado para salvar uma vida. A lei vai mais longe, declarando que até o Sumo Sacerdote, quando desempenhando o serviço no Santo dos Santos deve sair para salvar uma vida humana. Não apenas isso é permitido, como é obrigatório!

Se a vida humana é tão preciosa, tanto sob o ponto de vista haláchico quanto filosófico, por que D’us agiu assim? Por que o Holocausto aconteceu, varrendo seus milhões tão impiedosamente?
Mencionamos antes que até o maior dos crentes questionou. Podemos reapresentar suas dúvidas da seguinte maneira:

Eles acreditavam firmemente num D’us Infinito e Onipotente, e eles entenderam que tudo que D’us faz é para o bem, porém eles sentiram que como D’us não é limitado, e o Cirurgião Chefe pode tratar o paciente de diversas maneiras, por que a operação ocorreu de modo tão drástico? D’us não poderia ter encontrado outra maneira de tratar o paciente? Não havia como evitar todo aquele sofrimento? Sim, talvez precisamos da operação – por algum motivo que D’us entende melhor – mas por que Ele escolheu estas técnicas de cirurgia?

O rompimento dos Portais do Céu com prece foi para desviar o meio pelo qual o resultado da operação seria conseguido. A súplica era: por favor, consiga o resultado desejado usando um método mais agradável. Por que um remédio tão amargo?

Além disso, como foi mencionado acima, após o ataque inicial de dor, eles concluíram e pronunciaram: "O Eterno é justo em todos os Seus caminhos."

Memoriais ou ações


Jamais devemos nos esquecer do que aconteceu. Lembrar o que Amalek nos fez é um mandamento positivo. Nossa geração deve sempre ser lembrada e estar ciente dos eventos e conseqüências do Holocausto. Particularmente os grandes atos de Kidush Hashem, não apenas daqueles que se ergueram para lutar mas também os que perseveraram em manter a Torá sob circunstâncias impossíveis.

No entanto, além de lembrar, há uma reação ao Holocausto igual ou até mais importante. Quando o faraó do Egito tentou nos destruir, a Torá nos disse: "Mas na mesma proporção em que eles os afligiram, assim eles deveriam aumentar e se espalhar."

A verdadeira resposta para a Solução Final é construir uma verdadeira vida e lar judaicos. Hitler procurou nos aniquilar; devemos reagir construindo um mundo judeu mais comprometido e numeroso. De fato, ficar repisando demais um evento trágico, e especialmente os efeitos devastadores do Holocausto, pode esgotar a energia da pessoa e levar ao pessimismo. Estes podem afetar negativamente a reconstrução do Judaísmo e do povo judeu, o que exige elementos de Bitachon (confiança) e Simchá (júbilo).

Uma fascinante nota histórica

Três dos mais trágicos períodos do povo judeu foram: a destruição do Primeiro Templo, a destruição do Segundo Templo e na Idade Média, as Cruzadas. Logo após cada um destes três períodos testemunhamos um crescimento fenomenal no desenvolvimento da Tradição Oral.

Depois da destruição do Primeiro Templo, viveram os Homens da Grande Assembléia, que acrescentaram muitas injunções rabínicas e instituições. Após o Segundo Templo veio a escrita da Mishná e Talmud, e na Idade Média, o período dos Rishonim, que acrescentaram comentários detalhados aos textos antigos. Este mesmo padrão se repetiu na era pós-Holocausto, na qual houve um explosivo crescimento no estudo de Torá e em incontáveis obras judaicas.

Não devemos dar aos nossos inimigos a solução final.

Devemos intensificar nosso estudo de Torá e cumprimento das mitsvot, pois em última análise a ação é o principal.


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  Estes princípios estão baseados nos textos sagrados da Torá, do Talmud e da Lei Judaica, com os comentários dos Rebes de Chabad em referência ao Holocausto.
       
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