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Há
anos, as pessoas ainda fazem a mesma pergunta – Onde estava D’us
durante o Holocausto? Como se pode acreditar em D’us depois do Holocausto?
Se D’us é justo e bom, como pôde Ele permitir que o
Holocausto acontecesse? Por que D’us não fez milagres durante
o Holocausto?
Quem está fazendo a pergunta?
As perguntas em si somente podem ser feitas por alguém que acredita,
pois se a resposta for que não há D’us (D’us
não o permita), então não há perguntas. Sem
um D’us, o mundo não tem destino ou propósito. Os
seres humanos podem resolver agir como quiserem, pois não há
contas a prestar. Super raças podem ser formadas e somente os mais
aptos irão sobreviver. Num mundo sem D’us o Holocausto não
é uma questão teológica, mas sim uma declaração
de quão baixo o homem pode descer. A pergunta se torna retórica
– não "Onde estava D’us durante o Holocausto?"
mas sim, "Onde estava o homem durante o Holocausto?"
O
mundo ficou em silêncio. Alguém poderia acrescentar,
não apenas em silêncio, mas completamente passivo
com o que estava acontecendo.
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O próprio fato
de que até aqueles que alegam não acreditar perguntarem
incessantemente onde estava D’us, é na verdade a maior prova
de que eles também, no fundo do coração, acreditam
que há um D’us, apenas eles estão desesperados atrás
de uma resposta. Para ser mais benevolente alguém poderia dizer
que, de fato, eles querem acreditar em D’us, mas o Holocausto apresenta
uma pergunta de proporções tão dramáticas
que sentem não ser mais possível acreditar.
Para aquele que verdadeiramente acredita não deveria haver perguntas.
Ele cita o versículo (Devarim 32:4-5): "A Rocha! – perfeita
é Sua obra, pois todos os Seus caminhos são justiça;
um D’us de fé sem iniqüidade, íntegro e justo
Ele é." Sua fé não é desafiada pelo fato
de ele não entender, pois qual ser mortal pode realmente compreender
os caminhos do Todo Poderoso?
No entanto, o próprio fato de que ele é humano e mortal,
e terrivelmente perturbado e triste, o faz questionar. Algumas respostas,
mesmo que incompletas devem ser fornecidas, para que aquele que acredita
possa continuar a servir ininterruptamente.
Fé versus tragédia
O conflito entre tragédia e fé não é novo.
Qualquer pessoa versada em História Judaica perceberá que
nosso povo passou pelas mais terríveis perseguições
e genocídio nas mãos de muitos opressores. O judeu crente
em 1940 sabia dos pogroms, das Cruzadas, da destruição dos
Templos; ele lia em voz alta na noite do Sêder: "Em cada geração
eles se erguem para nos destruir", e mesmo assim isso não
abalava a sua fé. O anti-semitismo não era novo.
O mesmo método pelo qual o judeu de 1940 conhecia o passado e ainda
mantinha sua fé pôde ser empregado depois do Holocausto.
A questão filosófica de "O Juiz da terra não
fará justiça?" aplica-se tanto ao sofrimento aparentemente
sem sentido de um indivíduo quanto àquele de seis milhões
de pessoas. Se isso pudesse ser tratado numa base individual antes do
Holocausto, seria tratado da mesma maneira depois. A diferença
está na quantidade, mas a qualidade da questão permanece
a mesma.
Na verdade, porém, a Solução Final de Hitler era
de certa forma novidade, no sentido em que poucas pessoas acreditavam
que no século 20, quando a civilização tinha atingido
seu ápice intelectual e ético, tal genocídio fosse
concebível. O consenso público, apoiado pela mídia,
reassegurou-nos que não poderíamos mais voltar à
Idade Média. No entanto, os filósofos e poetas de Berlim,
com sua fina educação e alta sociedade, se transformaram
nos maiores assassinos do mundo. O Holocausto não foi perpetrado
somente por monstros, foi uma conivência com uma nação
inteira, chegando a quase cem milhões de indivíduos.
O
mundo ficou em silêncio. Alguém poderia acrescentar, não
apenas em silêncio, mas completamente passivo, às vezes se
sentindo bem com o que estava acontecendo, e feliz por não serem
eles, mas outros, que estavam cometendo aquelas atrocidades.
Pelo menos a história do Holocausto demonstra claramente que o
homem não pode confiar em seu próprio intelecto e nos seus
sentimentos para ter integridade e justiça. Aqueles com os diplomas
mais altos e graus universitários freqüentemente foram cúmplices,
se não diretamente perpetradores, de assassinato a sangue frio.
O homem deve ser responsável. A ordem "Não matarás"
deve ter primazia sobre "Eu sou o Eterno teu D’us".
Os grandes religiosos questionaram?
A questão "O Juiz de toda a terra não fará justiça?"
(Bereshit 18:25) pode ser autêntica e ter seu peso apenas quando
brota do coração dolorido de alguém que acredita
profundamente. O primeiro a fazer esta pergunta foi nosso Patriarca Avraham,
ele próprio um homem de grande fé e pai de todos os que
crêem. Quando Avraham ouviu que deveria oferecer seu amado filho
Yitschac em sacrifício, ele não questionou. "E Avraham
se levantou cedo pela manhã" – ele levantou-se para
fazer a vontade de D’us com entusiasmo.
O primeiro a fazer a pergunta "Por que os justos sofrem e os perversos
prosperam?" foi ninguém menos que Moshê – o mesmo
que nos tirou do Egito, abriu o mar, subiu ao Sinai, ouviu os mandamentos
"Eu sou o Eterno teu D’us, Não terás outros deuses
perante Mim" – também questionou. ("outros deuses
também pode ser uma referência ao intelecto e entendimento
humanos, quando são feitos de árbitros definitivos de assuntos
éticos de um homem.)
O Talmud (Menachot 29b) relata que foi mostrado a Moshê como o grande
Rabi Akiva sofreria uma morte tortuosa nas mãos dos Romanos. Quando
Moshê os viu pentear a carne de Rabi Akiva com ancinhos de ferro
ele exclamou: "Isso é Torá e esta é a recompensa?!"
A resposta que veio do Alto foi: "Silêncio, assim desperta
o pensamento (de D’us)".
O problema com a pergunta de Moshê não foi que ele verbalizou
um pensamento e foi depois silenciado. Foi o conteúdo da pergunta
de Moshê que foi silenciado. Isso é perturbador, pois a resposta
a esta pergunta foi superficialmente nenhuma resposta. Moshê pediu
uma racionalização e recebeu uma ordem. Porém de
maneira alguma vemos que a questão enfraqueceu a fé de Moshê.
Pelo contrário, é somente a fé que permitiu aos grandes
superar suas tribulações e sofrimentos.
Yirmiyáhu, que perguntou: "Por que os perversos têm
sucesso no que fazem?" exortava continuamente o povo a restaurar
sua fé em D’us. Job sofreu horrivelmente e foi zombado pelos
amigos. Ele questionou, mas jamais perdeu a fé.
Não é surpresa que todos os notáveis que questionaram
tenham permanecido fiéis. A questão em si está baseada
num desejo fundamental por justiça. A premissa da fé é
que existe justiça e que no fim a justiça é feita.
Esta idéia de justiça brota de uma fonte sobre-humana que
se coloca acima do limitado intelecto e entendimento humanos. Portanto,
quando a justiça não é vista sendo feita, a questão
abala não somente o intelecto, mas o próprio âmago
daquele que questiona. No entanto, após um breve instante de sofrimento
e protesto, o questionador percebe que está tentando entender o
que é impossível de entender, captar com o intelecto aquilo
que é mais elevado que o intelecto. Ele logo percebe que esta reação
não é cabível e, enquanto sofre, se recolhe ao conhecimento
de que embora não possa compreender neste momento o que está
acontecendo, em última análise o Supremo Juiz executará
a justiça. Através do questionamento e expressão
de sua dor, sua fé é restaurada e fortalecida.
O Juiz de Bilhões
Uma reflexão sobre o fato de que D’us julga todos os homens
o tempo todo revela que o Juiz sobre Quem falamos é sobre-humano.
O fato de não compreender os Seus caminhos não serve para
desqualificá-Lo, mas sim surge de nossa incapacidade de entender
a Sua infinita sabedoria.
Olhe, por exemplo, o que acontece nos tribunais atualmente. Quantas pessoas
inocentes são encarceradas devido às falhas do sistema judicial
e seus juízes. Quantos culpados caminham livremente pelas ruas.
Os juízes e seus funcionários reclamam de excesso de trabalho
e a legislação coloca restrições em suas horas
de trabalho. Em contraste, o Juiz de toda a terra trabalha 24 horas por
dia, lidando com mais de seis bilhões de pessoas na face da terra.
O homem pode ter a ousadia de questionar ou sequer entender?
Um homem primitivo num teatro de operações
Em última análise, o ser humano entende que sua percepção
é finita.
Imagine pegar um homem primitivo e de alguma forma transportá-lo
a uma moderna sala de operações para ver uma cirurgia de
coração. Primeiro ele vê homens com máscaras
entrando na sala. Estão todos vestidos de verde e usando luvas.
Em seguida uma pessoa adormecida numa cama rolante é levada até
a sala e um dos homens vestidos de verde coloca uma máscara sobre
seu rosto. Outro homem remove o lençol e pede um bisturi. O homem
primitivo assiste horrorizado quando o cirurgião faz o corte.
Com seu conhecimento zero da medicina moderna, o homem chega à
terrível conclusão de que está testemunhando um assassinato
a sangue frio. De onde ele vem, não é assim que as pessoas
são mortas. Elas morrem honrosamente em combate, não assassinadas
enquanto dormem! Tudo parece errado para ele. Seu senso de justiça
é despertado, e ele protesta.
Tente explicar àquele homem que a operação que ele
vê é, na verdade, um salvamento, que dará nova vida
ao paciente. Impossível – o homem não tem a menor
idéia de higiene, que dirá das modernas técnicas
de cirurgia. Levará meses, talvez anos, para que ele possa compreender.
Num certo nível, somos todos homens primitivos na sala de operações
de D’us. Nosso entendimento da operação é limitado
e com freqüência acusamos o Cirurgião Chefe sem compreender
que todas as operações são feitas para o bem do paciente.
D’us é o supremo bem. Ele é bom e Sua natureza é
fazer o bem. Mesmo dentro da dor e do sofrimento existe algo de bom, embora
possa estar obscurecido para o sofredor. Nossa fé nos leva a crer
que o Cirurgião sabe o que está fazendo.
O Holocausto foi um castigo?
Existem aqueles que desejam sugerir que o Holocausto foi uma punição
pelos pecados daquela geração. O Rebe rejeita esta opinião.
Ele declarou (Sefer HaSichot 5751 vol. 1 pág. 233): A destruição
de seis milhões de judeus de maneira tão horrível
que superou a crueldade de todas as gerações anteriores
não poderia ser uma punição pelos pecados. Mesmo
o próprio Satã não conseguiria encontrar pecados
em número suficiente para garantir tamanho genocídio!
Não
há absolutamente uma explicação racional para o Holocausto,
exceto pelo fato de que foi um decreto Divino, pois o que aconteceu está
acima do entendimento humano – mas definitivamente não foi
por causa de punição pelo pecado.
Pelo contrário: todos aqueles que foram assassinados no Holocausto
são chamados "Kedoshim" – sagrados – pois
foram mortos em santificação do Nome de D’us. Como
eram judeus, é somente D’us que irá vingar o seu sangue.
Como dizemos no Shabat na prece Av Harachamim: "As sagradas comunidades
que deram a vida pela santificação do Nome Divino…
e vinga o sangue derramado de Teus servos, como está escrito na
Torá de Moshê… pois ele vingará o sangue de
Seus servos… E nas Sagradas Escrituras está escrito…
Que seja conhecido entre as nações, perante os nossos olhos,
a retribuição do sangue derramado de Teus servos."
D’us descreve aqueles que foram santificados como Seus servos e
promete vingar o sangue deles.
Tão alto é o grau espiritual dos Kedoshim – mesmo
desconsiderando seu status em cumprimento de mitsvot – que os Rabis
dizem sobre eles: "Nenhuma criação pode substituí-los."
Muito mais, então, aqueles que morreram no Holocausto, dos quais
muitos, como se sabe, estavam entre os mais ilustres eruditos de Torá
e judeus religiosos.
É inconcebível que o Holocausto seja considerado como um
exemplo de punição pelos pecados, especialmente quando endereçando
esta geração, que como foi mencionado antes é "um
facho arrancado do fogo" do Holocausto.
Em resumo, pode-se apenas aplicar as palavras de Yeshayáhu: "Meus
pensamentos não são seus pensamentos e Meus caminhos não
são os seus caminhos, diz o Eterno." (Yeshayáhu 55:8)
A dimensão da alma
O Judaísmo acredita na existência da alma. Esta alma desce
dos reinos celestiais para habitar o corpo durante setenta ou oitenta
anos, após os quais retorna ao seu Criador. A alma existe antes
de entrar no corpo e existe depois de deixar o corpo. Rabi Shneur Zalman
de Liadi, no Tanya, descreve a alma como "uma parte de D’us
acima", uma centelha de Divindade que habita o corpo para criar uma
morada para o Todo Poderoso no mundo. A filosofia chassídica explica
longamente o propósito da descida da alma e o propósito
da criação.
Deixando de lado qualquer filosofia profunda, até o ser mais simples
entende que o corpo é corpóreo e físico, ao passo
que a alma é etérea e espiritual. Ele entende ainda que
a espada, fogo e água podem ter um efeito sobre o corpo, mas não
sobre a alma. Lanças e pedras podem ferir os ossos físicos,
mas não podem tocar a alma. Fica então óbvio que
as câmaras de gás e crematórios afetaram somente os
corpos daqueles mártires, mas não suas almas.
Além disso, é lógico considerar a alma como o principal
componente do complexo corpo-e-alma.
Assim como todos concordam que a cabeça é mais importante
que o pé, também os pensamentos e sentimentos são
mais importantes que a carne.
Baseado nestas duas premissas, que são lógicas e podem ser
facilmente entendidas, fica claro que o Holocausto somente conseguiu separar
corpo e alma, mas não destruiu alma. Pelo contrário, a alma
continua vivendo depois que o corpo foi destruído.
Imagine se alguém olhasse e visse alguém chorando no quarto.
Seria lógico concluir que a pessoa no quarto tinha passado a vida
toda chorando? De modo contrário, se alguém olhasse num
quarto e visse alguém rindo, seria correto presumir que esta pessoa
passou a vida toda rindo? Estas conclusões seriam ridículas.
Todos sabemos que a vida de uma pessoa varia constantemente, com momentos
de riso e lágrimas.
O mesmo se aplica àqueles no Holocausto. O número exato
de anos que viveram neste mundo deve ser visualizado no contexto da continuidade
da alma. Embora eles tenham vivido tantos anos fisicamente – alguns
mais que os outros e, no caso das crianças e bebês, somente
por um tempo muito breve – em termos da escala de tempo da alma,
que vive por milhares de anos, isso é apenas um breve momento!
Sim, quando olhamos para o Holocausto vemos um intenso momento de destruição,
mas deveríamos concluir que este estado é aquele da alma?
Não temos relatos em primeira mão da situação
sobre as almas do Holocausto no Mundo Vindouro, no entanto a Torá
nos diz que a posição daqueles que morreram santificando
o Nome de D’us é realmente grande. Isso podemos deduzir do
seguinte episódio:
É mencionado no livro Maguid Meisharim (Parashat Tetsavê)
que Rabi Yossef Caro, autor do Código da Lei Judaica, estava designado
a dar sua vida pela santificação do Nome de D’us,
mas por algum motivo isso foi comutado e ele não mereceu morrer
dessa forma. Ele continuou vivendo para se tornar a autoridade haláchica
principal de sua geração e escreveu o grande Código
da Lei Judaica, que ainda seguimos atualmente. E mesmo assim esta imensa
realização é considerada secundária ao martírio
pela santificação do Nome de D’us. Vemos então
que o martírio – e todos aqueles que pereceram no Holocausto
foram mártires, pois morreram por serem judeus – tem méritos
da mais alta ordem.
Não há dúvidas para o judeu que crê que embora
o momento de Kidush Hashem (santificação do Nome de D’us)
fosse horrível em termos de dor e sofrimento físico, isso
não afetou a alma e, pelo contrário, foi apenas um breve
momento na vida da alma, pelo qual ela atingiu eterna elevação.
É freqüentemente explicado e enfatizado na Torá que
a vida nessa terra é apenas uma preparação para a
vida futura e duradoura no Mundo Vindouro. A Mishná (Avot 4:21)
declara: "Este mundo é apenas um vestíbulo para o mundo
futuro; prepare-se no vestíbulo para poder entrar no salão
de banquete." Se, durante o tempo em que a pessoa está no
vestíbulo houve um período de sofrimento por meio do qual
haverá um ganho infinito no "salão de banquete",
isso certamente valerá a pena. É impossível descrever
as alegrias da vida da alma no Mundo Vindouro pois, mesmo neste mundo
enquanto a alma está conectada ao corpo, sua vida está num
plano infinitamente mais elevado; quanto mais então quando a alma
não é mais distraída pelo corpo. O sofrimento no
vestíbulo", que nada mais é que um corredor para o
"salão de banquete", é afinal temporário,
e o ganho é eterno.
Além disso, um dos fundamentos de nossa fé é a da
ressurreição dos mortos. Não há qualquer dúvida
que todos os Kedoshim do Holocausto se erguerão na ressurreição.
Os muitos anos lindos e abundantes após a ressurreição
certamente bastarão para lhes dar a plena recompensa neste mundo
por tudo que realizaram e merecem.
Submissão ou prece
Se o Holocausto foi um decreto Divino, por que vemos os grandes líderes
judeus nos exortando a rompermos os portões do Céu com prece
para anular qualquer decreto mau? Certamente deveríamos apenas
nos submeter à sabedoria Divina e não objetar?
O Rebe Anterior, que ele próprio viveu durante o Holocausto, proclamou
que todos devem suplicar e chorar perante o Rei Todo Poderoso para anular
o cruel decreto da destruição. Mas de que vale chorar se
esta foi a Divina vontade?
Além disso, a Mishná em Avot (4:17) ensina: "Uma hora
de arrependimento e boas ações neste mundo é melhor
que toda a vida no Mundo Vindouro; e uma hora de felicidade no Mundo Vindouro
é melhor que toda a vida neste mundo." Isso significa que
se pudermos acrescentar a soma total de prazeres mundanos, isso não
equivaleria a uma hora no Mundo Vindouro. A felicidade espiritual e as
recompensas no Mundo Vindouro são incompreensíveis e superam
qualquer prazer deste mundo. E mesmo assim, D’us criou este mundo
como propósito da Criação, nas palavras do Tanya:
"Para criar uma morada para D’us neste mundo." Conclui-se
que uma hora de cumprimento de nosso propósito neste mundo –
envolvidos em arrependimento e boas ações – é
melhor que todas as recompensas espirituais no Mundo Vindouro.
Se este é o caso, o que justifica levar tantos judeus deste mundo,
removendo sua oportunidade de levar uma vida de Torá e mitsvot?
Que recompensa espiritual da alma iguala uma hora de arrependimento e
boas ações neste mundo?
Além disso, há a lei de Pikuach Nefesh (salvar uma vida).
Esta lei declara que deve ser feito tudo para salvar uma vida, mesmo que
seja por mais um momento extra. O dia mais sagrado, Yom Kipur, pode ser
profanado para salvar uma vida. A lei vai mais longe, declarando que até
o Sumo Sacerdote, quando desempenhando o serviço no Santo dos Santos
deve sair para salvar uma vida humana. Não apenas isso é
permitido, como é obrigatório!
Se a vida humana é tão preciosa, tanto sob o ponto de vista
haláchico quanto filosófico, por que D’us agiu assim?
Por que o Holocausto aconteceu, varrendo seus milhões tão
impiedosamente?
Mencionamos antes que até o maior dos crentes questionou. Podemos
reapresentar suas dúvidas da seguinte maneira:
Eles acreditavam firmemente num D’us Infinito e Onipotente, e eles
entenderam que tudo que D’us faz é para o bem, porém
eles sentiram que como D’us não é limitado, e o Cirurgião
Chefe pode tratar o paciente de diversas maneiras, por que a operação
ocorreu de modo tão drástico? D’us não poderia
ter encontrado outra maneira de tratar o paciente? Não havia como
evitar todo aquele sofrimento? Sim, talvez precisamos da operação
– por algum motivo que D’us entende melhor – mas por
que Ele escolheu estas técnicas de cirurgia?
O rompimento dos Portais do Céu com prece foi para desviar o meio
pelo qual o resultado da operação seria conseguido. A súplica
era: por favor, consiga o resultado desejado usando um método mais
agradável. Por que um remédio tão amargo?
Além disso, como foi mencionado acima, após o ataque inicial
de dor, eles concluíram e pronunciaram: "O Eterno é
justo em todos os Seus caminhos."
Memoriais ou ações
Jamais devemos nos esquecer do que aconteceu. Lembrar o que Amalek nos
fez é um mandamento positivo. Nossa geração deve
sempre ser lembrada e estar ciente dos eventos e conseqüências
do Holocausto. Particularmente os grandes atos de Kidush Hashem, não
apenas daqueles que se ergueram para lutar mas também os que perseveraram
em manter a Torá sob circunstâncias impossíveis.
No entanto, além de lembrar, há uma reação
ao Holocausto igual ou até mais importante. Quando o faraó
do Egito tentou nos destruir, a Torá nos disse: "Mas na mesma
proporção em que eles os afligiram, assim eles deveriam
aumentar e se espalhar."
A verdadeira resposta para a Solução Final é construir
uma verdadeira vida e lar judaicos. Hitler procurou nos aniquilar; devemos
reagir construindo um mundo judeu mais comprometido e numeroso. De fato,
ficar repisando demais um evento trágico, e especialmente os efeitos
devastadores do Holocausto, pode esgotar a energia da pessoa e levar ao
pessimismo. Estes podem afetar negativamente a reconstrução
do Judaísmo e do povo judeu, o que exige elementos de Bitachon
(confiança) e Simchá (júbilo).
Uma fascinante nota histórica
Três dos mais trágicos períodos do povo judeu foram:
a destruição do Primeiro Templo, a destruição
do Segundo Templo e na Idade Média, as Cruzadas. Logo após
cada um destes três períodos testemunhamos um crescimento
fenomenal no desenvolvimento da Tradição Oral.
Depois da destruição do Primeiro Templo, viveram os Homens
da Grande Assembléia, que acrescentaram muitas injunções
rabínicas e instituições. Após o Segundo Templo
veio a escrita da Mishná e Talmud, e na Idade Média, o período
dos Rishonim, que acrescentaram comentários detalhados aos textos
antigos. Este mesmo padrão se repetiu na era pós-Holocausto,
na qual houve um explosivo crescimento no estudo de Torá e em incontáveis
obras judaicas.
Não devemos dar aos nossos inimigos a solução final.
Devemos intensificar nosso estudo de Torá e cumprimento das mitsvot,
pois em última análise a ação é o principal.
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