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A Pensei que eles dissessem: "Você jamais trabalhará
nessa cidade outra vez!" somente em filmes antigos.
Pouco depois que eu comecei a guardar o Shabat, consegui meu primeiro
emprego como escritor na equipe de uma sit-com, seriado de TV. Era o programa
classificado em 99º do horário nobre de 1999. Não que isso
tenha algo a ver com a história, mas pensei que fosse interessante.
Não houve muito a fazer na primeira semana, e estávamos
em agosto, quando o sol se põe relativamente tarde, portanto terminamos
o trabalho antes de haver qualquer conflito. A segunda semana foi diferente.
A sexta-feira estava passando e terminamos bem a tempo de eu conseguir
chegar em casa para o acendimento das velas. Eu morava perto do estúdio,
portanto se me desvencilhasse logo, conseguiria chegar em casa no último
instante.
Em
muitos aspectos, este foi o momento mais crítico de minha
vida. Eu tinha sido extraordinariamente abençoado. Conquistara
minha meta de estudar em Harvard, escrever para o Lampoon, e achar
um emprego em Hollywood. Porém apesar disso tudo, faltava
alguma coisa.
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Era uma
daquelas reuniões que eu desejava desesperadamente que terminasse.
Porém, a cada vez que eu estava para encerrar, alguém levantava
outra questão. E depois outra. Eu estava sentado em frente a uma
janela enorme, observando o sol ficar cada vez mais baixo no céu.
Finalmente, chegou um ponto no qual se eu não saísse imediatamente,
não conseguiria chegar a tempo.
Eu não sabia o que dizer ou fazer. Como nunca passara pela experiência
de guardar o Shabat no local de trabalho, não tinha pensado em
discutir o assunto com os Produtores Executivos. O que eu sabia muito
bem era que, alguns minutos antes do pôr-do-sol não era a
hora de fazer um discurso sobre as minhas crenças religiosas. Em
outras palavras, eu estava encalacrado. Portanto, fiz a única coisa
que me ocorreu. Levantei-me e, sem qualquer cerimônia, saí.
Eles devem ter pensado que eu estava indo ao banheiro. Mas não
voltei à sala.
Correndo até o carro, lembro-me de ter pensado que para um dia
de repouso, este estava provocando bastante ansiedade. Eu precisava conversar
com os Produtores Executivos, explicar minha situação, e
esperar que eles me apoiassem.
Após o fim de semana, fui procurá-los juntamente com meu
colega, e perguntei se eu poderia sair umas horas mais cedo na sexta-feira
para que eu pudesse guardar o Shabat. "Não", disseram
eles. Então perguntaram se eu ainda insistia naquilo, porque se
o fizesse, eles iriam me substituir. Em outras palavras: trabalhe no Shabat,
ou será demitido.
Quando cheguei em casa, telefonei para meu agente. Ele perguntou-me o
que eu pretendia fazer. Eu disse a ele que não iria trabalhar no
Shabat. Ele respondeu que se fosse assim, então eu não trabalharia
mais na televisão.
Este foi um momento surpreendente. Os magnatas de Hollywood são
famosos por dizerem "Você jamais trabalhará nessa cidade
outra vez!" – mas eu pensei que isso só acontecesse
nos filmes antigos. Ora, aqui estava eu, e não apenas alguém
estava realmente dizendo aquilo – como estavam dizendo aquilo para
mim!
No dia seguinte eu disse ao meu parceiro que não iria trabalhar.
Ele entendeu, mas disse-me que tentaria continuar no programa sem mim.
Não o culpei. Afinal, ele nem sequer era judeu. Não somente
aquilo, mas as pessoas ficam anos tentando trabalhar nos seriados para
TV. Era uma grande chance para ele também, e ele tinha todo o direito
de ver aonde aquilo iria levar.
Em muitos aspectos, este foi o momento mais crítico de minha vida.
Eu tinha sido extraordinariamente abençoado. Conquistara minha
meta de estudar em Harvard, escrever para o Lampoon, e achar um emprego
em Hollywood. Porém apesar disso tudo, faltava alguma coisa.
Sobre isso, eu ouvira um ensinamento que durante anos pensara ter vindo
de um grande mestre chassídico do Século Dezenove. Depois
descobri que era de um motoqueiro tatuado em recuperação.
Não somente isso não desmerece a frase, como creio mesmo
que a torna ainda mais interessante de ser relatada.
Ele disse: "Todos nós somos criados com um buraco no formato
de D'us dentro de nós." Tentamos preenchê-lo com conquistas
na carreira, drogas, relacionamentos, dinheiro, mas nenhuma dessas coisas
o preenche exceto D'us, exatamente porque é um buraco no formato
de D'us.
A sociedade moderna cinicamente vê a religião como uma muleta,
mas nada poderia estar mais longe da verdade. A busca da espiritualidade
é a expressão de um anseio embutido em nós pelo próprio
D'us. Para alguns, aquela voz interior se torna mais alta durante as horas
de tragédia. Para outros, eu incluído, fica mais clara nos
tempos de fartura. Ela diz: Todas essas oportunidades são ótimas
– mas deve haver algo mais na vida!
Eu não tinha mais a certeza de que escalar cegamente a escada do
sucesso fosse me levar a lugares cada vez melhores. Eu precisava saber
onde o "sucesso" estava me levando, e talvez ainda mais importante,
onde ele me faria parar. Percebi então que se eu não pudesse
levar minha alma junto comigo na jornada, então não importa
o quão longe eu fosse, chegaria a um beco sem saída.
A pressão
definitivamente estava aumentando. Eu estava a ponto de perder meu emprego,
meu parceiro, e fora informado que não trabalharia mais na televisão.
Mas apesar disso, de alguma forma consegui permanecer calmo. Talvez eu
não trabalhasse no campo que escolhera, mas em meu coração,
sabia que nada de mal adviria de guardar o Shabat.
Percebi
então que se eu não pudesse levar minha alma junto
comigo na jornada, então não importa o quão
longe eu fosse, chegaria a um beco sem saída.
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Meus
agentes puseram-se em campo, falaram com o chefe do estúdio e com
os Produtores Executivos. Para minha surpresa, por trás de portas
fechadas, todas as partes se mostraram realmente respeitosas e amigáveis.
Agora,
antes de aceitar um trabalho, sempre converso sobre o Shabat. Apesar dos
estereótipos que as pessoas têm sobre a indústria
do entretenimento, tenho me impressionado pela maneira positiva pela qual
tanto judeus quanto não-judeus reagem da mesma maneira.
O Judaísmo ensina que quando você está passando por
uma provação, faz qualquer coisa para sair dela. Mas se
você passa por aquilo com sucesso, não trocaria a experiência
por nada. D'us deu-me um grande presente. Ele poderia ter tornado o processo
todo fácil para mim. Mas em vez disso, Ele me deu a oportunidade
de ficar firme naquilo que acredito. Talvez por este motivo, este para
mim continua sendo o momento de que mais me orgulho na vida.
Desde então, a vida nunca mais foi a mesma. Quando chega o pôr-do-sol
da sexta-feira, não importa o que esteja acontecendo, o quando
estou ocupado, tudo desaparece e a única coisa que permanece é
o Shabat. O sagrado Shabat.
Biografia do
autor:
David Sacks vive com sua esposa e filhos em Los Angeles, onde escreve e
produz para a televisão. Entre os shows que está escrevendo
estão “Os Simpsons”, “Third Rock from the Sun”,
e “Malcolm in the Middle”. Ele é fundador da Jewish Impact
Films, e conferencista veterano do The Happy Minyan of Los Angeles, um grupo
dedicado a aproximar pessoas da espiritualidade judaica. Suas palestras
estão disponíveis no site http://www.613.org/sacks.html
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