Chabad na Grécia  
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Há alguns meses a Grécia não era um lugar bom para se visitar. Rebeldes enchiam as ruas, turbas violentas e furiosas com queixas do governo destruíam propriedades, promoviam incêndios, lutavam contra a polícia e o caos imperava.

Os turistas passaram a abominar o local, viagens, reservas de hotéis e passagens de avião foram canceladas, mas para Rabino Yoel Kaplan, o representante Chabad em Salonica, a Grécia era apenas mais um desafio.

Rabi Kaplan vicejava com o que era fora do comum. Sua casa, como todas as centenas de Casas de Chabad em todo o mundo, estava aberta ao público 24 horas por dia, 7 dias por semana, na esperança de ajudar judeus e o Judaísmo… e aquilo exigia que se esperasse o inesperado.

Nos dias de rebeliões não havia nada a se fazer ali. E mesmo semanas após os levantes os sinais do vandalismo estavam em toda parte e a tensão enchia o ar, mas o Rabino tentou voltar às suas atividades normais.

Não foi fácil; não havia turistas, certamente não turistas judeus, e após toda aquela violência parecia sábio ficar em casa por mais algumas semanas, mas o Rabino tinha um trabalho a fazer… deveria haver alguns judeus lá fora e então algumas tarefas estavam pressionando… como ir diariamente ao correio.

Porém mesmo algo tão aparentemente simples estava permeado de perigo. O correio estava localizado numa parte do centro da cidade que era um ponto de encontro para jovens, e tinha sido bastante atingido pela violência.

Houve dias em que ele pegou ruas secundárias para chegar lá e usou a entrada dos fundos, o que significava um grande desvio no caminho e perda de tempo, apenas para evitar problemas.

Porém um dia ele estava atrasado e esqueceu a preocupação com os problemas. Foi diretamente ao correio, mas quando se aproximava de seu destino começou a arrepender-se da decisão. Um grupo de cerca de dez sujeitos de aparência musculosa, alguns com braços tatuados, cabelo ao estilo punk e outros sinais bizarros o estavam encarando com ódio nos olhos.

Sua barba, chapéu preto, longo casaco negro e atitude completamente judaica eram como uma bandeira vermelha perante um touro enraivecido, e ele era um alvo certo para as frustações do grupo.

Ele deveria ter dado meia volta, tomado uma rota alternativa e evitado os rapazes, mas então algo lhe disse para simplesmente continuar caminhando.

De longe ele podia ouvir os xingamentos que dirigiam a ele primeiro em grego e depois em inglês, porque sabiam que ele falava inglês; todos eles antissemíticos.

Ele já presenciara antissemitismo grego antes. Geralmente ignorava aquilo, mas por algum motivo dessa vez olhou para lá, ergueu uma das mãos e, quando chegou mais perto, disse no tom mais amigável possível: “Olá, bom dia!”

“Alguém está falando com você?” replicou sarcasticamente o mais alto deles, enquanto os outros se preparavam para algum tipo de ação.

De repente o Rabino percebeu algo. Assim como Avraham, o primeiro judeu, há cerca de 4.000 anos estava sozinho em sua busca para trazer significado a um mundo hostil, mas confiou em D'us para protegê-lo (portanto rezou ao ‘Escudo de Avraham’) assim este mesmo ‘D'us de Avraham’ o protegeria agora.

Ele sorriu e disse: “Talvez vocês não estivessem falando comigo… mas certamente estão falando sobre meu povo.”

“Está certo, judeu!” O jovem respondeu com maldade, entremeada com termos que não merecem ser impressos. “É sobre a sua maldita nação de ladrões, mentirosos e trapaceiros que certamente estávamos falando. E continuaremos a falar até que vocês sejam exterminados, etc.”

O sorriso não desapareceu da face de Rabi Kaplan enquanto ele respondia calmamente: “Vocês parecem pessoas inteligentes. Não têm motivo para odiar a mim ou a qualquer outro judeu. Na verdade, se soubessem a verdade, tenho certeza de que não nos tratariam mal.”

Isso foi demais para o “líder”. Ele ficou pálido de fúria e fechou o punho, segurou-o na frente do rosto do Rabino e disse: “Sou um boxeador treinado. A menos que deseje experimentar alguns desses é melhor ir embora o mais depressa que puder, e não volte aqui!”

Rabino Kaplan percebeu que as coisas estavam a ponto de sair do controle, então voltou-se calmamente para os outros, abençoou-os calmamente com bom dia e boas notícias e continuou seu caminho até o correio.

Porém depois que terminou suas obrigações ali e saiu do prédio, algo lhe disse para não pegar um atalho na volta para casa, mas sim retornar pelo mesmo lugar onde já passara… no meio daquele grupo. Afinal, estava ali apenas para fazer o bem: o mesmo D'us que protegera Avraham o protegeria agora.

Porém dessa vez, quando passou pelos rapazes, algo inesperado aconteceu; eles estavam quietos. Novamente os abençoou com um bom dia e todos eles responderam: “O mesmo para você.”

Continuou caminhando e o “boxeador” que o tinha ameaçado antes aproximou-se e estendeu a mão. “Quero me desculpar por aquilo que dissemos antes. Pensamos a respeito e decidimos que você está certo. Na verdade nada sabemos sobre os judeus. Talvez tenhamos sido afetados pela mídia ou pelo que as pessoas dizem.”

O Rabino apertou-lhe a mão, sorriu e disse: “Desculpas aceitas. O fato é que vocês jamais deveriam julgar alguém antes de saber quem é e com certeza não deveriam odiar ninguém apenas por causa de suas opiniões. Aqui está,” disse Rabino Kaplan tirando um cartão da carteira e entregando-o ao “boxeador”. “Se quiser bater um papo e tomar um café… eu pago!”

Se o Rabino tivera dúvidas sobre falar com essas pessoas, todas se desvaneceram. Finalmente ele teria uma chance de dissipar parte do ódio nas ruas e talvez convencer alguns daqueles sujeitos a terem uma vida melhor.

Pouco dias depois recebeu um telefonema. “Ei, Rabino, meu nome é Alexandros – lembra de mim? Sou o sujeito para quem você deu seu cartão no outro dia. Falava a sério sobre aquela xícara de café? Nesse caso, estou do lado de fora de sua casa.”

Rabino Kaplan ficou agradavelmente surpreso e em alguns instantes estava apresentando Alexandros à sua esposa e filhos. Todos se sentaram e a conversa teve início. O visitante tinha boas perguntas e era um bom ouvinte, mas por fim, na terceira ou quarta xícara de café, quando veio à baila o assunto “Quem é judeu” e o Rabino explicou que somente alguém com mãe judia, ou que se converte genuinamente ao Judaísmo, é considerado judeu, Alexandros ficou sério e começou a fazer uns cálculos interessantes.

Ele anunciou que sua avó materna lhe dissera que certa vez ela tinha sido… judia.

Na verdade, fora uma judia observante mas na guerra, depois que seu marido e filhos foram assassinados pelos invasores alemães, ela acabou fugindo e se escondeu nas montanhas durante vários anos, e, algum tempo depois, deixou o Judaísmo e casou-se com um não-judeu. Ele entendia que se ela tinha deixado o Judaísmo não era mais uma judia. Porém o Rabino o esclareceu.

De qualquer forma, sua avó então teve uma filha que cresceu e casou-se com um grego ortodoxo religiosoo, e então tornou-se a mãe de Alexandros! Sua mãe.

Alexandros descobriu que ele próprio era judeu. Levou até o Rabino para visitar sua avó idosa. Ela concordou em colocar uma mezuzá em sua casa e ele concordou em colocar tefilin todos os dias. Isso ocorreu há apenas algumas semanas, e certamente, o melhor ainda está por vir.

       
   
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