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O que fazer quando a
responsabilidade de um filho vira um desafio?
Respeitar nossos pais parece ficar mais difícil à medida
que ficamos mais velhos. Quando éramos pequenos, na verdade não
tínhamos muita opção. Éramos totalmente dependentes
deles. Então ficamos adolescentes. Nada fácil cumprir o
Quinto Mandamento: “Honrar pai e mãe” é muito
mais fácil de dizer que de cumprir para um adolescente a quem a
autonomia está no auge.
Porém, parece-me que fica ainda mais complicado quando nos tornamos
adultos maduros. O que acontece quando um dos pais está agindo
de maneira desagradável? O que fazer se eles estão se tornando
irritantes, rabugentos e difíceis de lidar? Ficar velho e se esquecer
das coisas não é bonito. E pode transformar a responsabilidade
de um filho em desafio.
Uma eterna dívida de gratidão
Talvez seja por isso que a Torá nos diz: Ish imo ve Aviv tira’u
– “Um homem deve respeitar seu pai e sua mãe.”
Ish significa “um homem”, ou um adulto. Em outras palavras,
a Torá está nos dizendo claramente: mesmo quando você
é adulto, ainda tem a obrigação moral de demonstrar
respeito e reverência aos seus pais. Não importa que você
seja o executivo mais ocupado do mundo, ou que sua agenda social esteja
repleta de eventos importantes. Você ainda é um filho. Aquela
pessoa ajudou a trazer você ao mundo, alimentou você, vestiu-o,
trocou suas fraldas e o educou. A sua dívida de gratidão
é para a vida toda.
O falecido Rabino Yirmiye Aloy, de abençoada memória, contou
uma história interessante de quando ele estava visitando os Estados
Unidos e foi ver alguns velhos amigos que estavam morando num lar para
idosos. Perguntou a eles se seus filhos os visitavam regularmente. Um
senhor idoso respondeu com uma citação do Livro dos Salmos
(68:20): Baruch Hashem yom yom – “Bendito seja D'us dia após
dia.”
Rabino Aloy ficou muito impressionado.
“Todo dia seus filhos vêm visitá-lo? Isso é
fantástico!”
“Não, Rabino, você não entende,” explicou
o homem. “Yom, yom, dois dias por ano – Dia das Mães
e Dia dos Pais!”
Não há dúvidas de que há tempos em que a melhor
coisa para pessoas mais idosas é uma instituição
onde sejam bem cuidados, O mínimo que podemos fazer por eles é
visitá-los regularmente.
E quanto mais as pessoas puderem ser independentes, melhor. Mas, sem tentar
lançar culpa sobre ninguém, deixe-me partilhar um exemplo
que eu próprio vivenciei quando era jovem e estava crescendo no
Brookly, Nova York.
Minha avó faleceu, e meu avô, Rabino Yochanan Gordon, de
abençoada memória, foi morar conosco. Eu tinha o privilégio
de ser seu companheiro de quarto, durante doze anos. Às vezes,
eu o ajudava com a contabilidade do fundo guemilut chessed que ele controlava
de casa. Esse fundo da comunidade estava distribuindo mais de um milhão
de dólares em empréstimos sem juros anualmente. Lembro-me
também de ajudá-lo a cortar as unhas dos pés, que
eram difíceis para ele alcançar.
Porém, muito mais do que eu o ajudava, era ele que me ajudava.
Era um modelo para mim. Embora usasse um chapéu rabínico
e uma barba longa, nunca pregava. Sua presença e sua personalidade
eram uma mensagem para mim, um adolescente confuso procurando um caminho
na vida. Sem sua silenciosa inspiração, eu provavelmente
nunca teria me tornado rabino. Ele nem sequer soube que profunda influência
teve em minha vida. Mas, embora possa ser verdade que pessoas idosas possam
ser difíceis – lembro-me de meu Zeide sendo impaciente e
irritável às vezes também – a recompensa supera
muito os sacrifícios.
Há algo mais que devemos lembrar para o final de nossas vidas:
a maneira pela qual tratamos nossos pais provavelmente será a maneira
que nossos filhos irão nos tratar.
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