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E
a voz chamou-me do céu. "Dovi" – disse ela, num
tom estranhamente mecânico – "onde você pensa que
vai? Volte agora mesmo para a Hutchinson River Parkway!"
Na verdade, a voz não vinha do céu. Tampouco me chamava
pelo primeiro nome. Mas a parte sobre o "tom estranhamente mecânico"
é totalmente verdadeira.
Para ir do meu escritório no Brooklyn a uma reunião em Rye
Brook, New York, eu coloquei meu sistema de navegação GPS
do carro para funcionar. A reunião foi bem-sucedida, e foi somente
na volta que olhei para cima e notei a saída para o Boulevard Frances
Lewis.
Zomicks, uma panificadora casher certificada, está localizada a
pouca distância do Boulevard Francis Lewis. Desesperado para povoar
meu estômago deserto, peguei a saída pela direita. Foi então
que aconteceu. O sistema de navegação do veículo,
que tinha apoiado minha progressão ao longo do itinerário
lógico até o meu destino, ficou totalmente fora de controle.
A tela do computador miniatura, que antes exibia um mapa digital, agora
estava piscando a palavra "recalcular". Então as ordens
começaram a vir mais rápidas e furiosas. Primeiro foi: "Vire
à esquerda na esquina!" Quando ignorei o comando, veio: "Daqui
a oitocentos metros, vire à direita!" Finalmente, com um ar
de urgência, veio a instrução: "Se possível,
faça um retorno em U!"
Meus pensamentos voltaram aos meus dias na yeshivá. Havia aquela
passagem enigmática na Ética dos Pais. Falava de uma voz
celestial brotando do Monte Horeb (Sinai), implorando às almas
errantes que retornassem a D’us. "De que adianta esta voz celestial"
– pergunta o Báal Shem Tov – "se na verdade não
a ouvimos aqui na terra?" O Báal Shem Tov explica que embora
a voz não seja fisicamente audível, o espírito do
homem a sente, e muitas almas perdidas já retornaram por força
de seu chamado poderoso.
Embora eu estivesse propenso a confiar na autenticidade deste ensinamento
de Torá, o cenário inteiro me parecia um tanto exagerado.
Quero dizer, D’us realmente monitora cada movimento que fazemos,
a ponto de registrar até o menor erro? A nossa desobediência
à ordem Divina é levada tão a sério a ponto
de causar uma confusão no céu? E finalmente, poderiam aqueles
chiados do outro mundo serem registrados fielmente aqui na terra?
Uma entrada na direção errada trouxe-me a resposta às
minhas dúvidas. Em algum ponto entre a Hutchinson River Parkway
e a Panificadora Zomick, ficou claro que um satélite remoto estava
sintonizado com a minha estação precisa. Um movimento errado
de minha parte foi o suficiente para provocar um grito do espaço
exterior, com este detetive espacial me fazendo voltar ao caminho da verdade.
Uma nova tecnologia reforçou uma realidade antiga. Se um satélite
feito pelo homem pode simultaneamente dirigir centenas de milhares de
veículos, por que D’us não pode dirigir os muitos
homens que Ele fez?
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